Igor Gielow
Folha de S.Paulo
Jerusalém - O segundo ataque na história da República Islâmica do Irã a Israel diz mais sobre a necessidade de a teocracia dar uma resposta doméstica à lavada tática que está levando do Estado judeu do que sobre uma escalada real do conflito no Oriente Médio.
O que não significa que Tel Aviv não usará o ensejo para golpear o que vê como risco existencial em Teerã: o programa nuclear dos aiatolás, capaz segundo a Agência Internacional de Energia Atômica de produzir rapidamente uma bomba atômica.
O que não significa que Tel Aviv não usará o ensejo para golpear o que vê como risco existencial em Teerã: o programa nuclear dos aiatolás, capaz segundo a Agência Internacional de Energia Atômica de produzir rapidamente uma bomba atômica.
Mísseis iranianos e interceptações israelenses sobre o céu de Jerusalém - Menahem Kahana/AFP |
No ataque de abril, Binyamin Netanyahu havia dado um recado aos iranianos ao apenas alvejar uma área próxima das centrais de pesquisa de Isfahan. Agora, talvez a história seja outra —ou não, dada a fragilidade do novo governo de Masoud Pezeshkian.
Com o 7 de Outubro do Hamas falhando em levar a uma operação frontal no norte pelo Hezbollah, surgiram dúvidas acerca das capacidades e da disposição dos libaneses, maior ativo dos iranianos. O pé no freio, ironicamente, estava em Teerã, que comanda a rede de rivais de Israel e dos EUA na região.
Afetada por crises social e econômica, a teocracia viu o presidente Ebrahim Raisi, sucessor presumido do líder supremo, morrer num estranho acidente de helicóptero em maio.
Isso explicava o dilema do Irã, que foi encurralado pela velocidade com que Israel apertou o torniquete no pescoço do seu maior ativo regional.
Ao sair da retórica e voltar a atacar Israel com mísseis na noite desta terça-feira (1º), arrisca-se a ver o peso de Tel Aviv e de Washington combinados contra si.
No mais, o violento ataque que despedaçou a cúpula do Hezbollah, a começar pelo homem que tornou o grupo fundamentalista libanês numa potência regional, é uma vitória tática indiscutível para Israel e uma redenção parcial para o premiê.
Há quase um ano, o premiê viu sua política de tentar dividir os palestinos estrangulando a Autoridade Palestina na Cisjordânia e abrindo cofres seus e do Qatar para o Hamas render o mais horrendo ataque a Israel na história.
Agora, pode falar com certa hipérbole, mas não sem motivos, que está conduzindo o Oriente Médio a uma nova configuração. Em vez da reconciliação buscada há 30 anos por Yitzhak Rabin, a paz de Netanyahu é forjada a fogo.
O premiê continua sendo uma figura amplamente odiada, em especial por seu fracasso na questão dos reféns. Mas ganhou pontos, não menos devido à percepção de que o Hezbollah teria de ser confrontado alguma hora.
Isso não torna esses ganhos permanentes, por óbvio. Em termos puramente militares, Israel parece extremamente cauteloso em relação à sua invasão do Líbano. Há motivos históricos para isso, dado que é um filme antigo que se vê nas telas de celular hoje.
Em 1978, Tel Aviv invadiu o sul do Líbano até a o rio Litani para expulsar as forças da OLP (Organização para a Libertação da Palestina) que de lá operavam ataques contra Israel. Alguém falou Hezbollah? Pois então, o grupo xiita nem era nascido e a questão já estava colocada.
Bem-sucedido, apesar de reveses como um massacre de represália perto de Tel Aviv, o governo israelense acabou saindo e deixando a segurança na mão de um aliado, o Exército do Sul do Líbano, formado por milícias cristãs que lutavam na guerra civil do país árabe.
O cenário, com se vê, era mais matizado ainda do que agora, mas alguns elementos subsistem. A Unifil, a impotente força da ONU para o sul libanês, foi formada naquele ano para em tese estabiliza a região.
Quatro anos depois, ainda atrás de Yasser Arafat e os seus, atacou novamente, chegando desta vez até Beirute. Entre idas e vindas, ficou 18 anos em solo libanês, vendo nascer no processo o Hezbollah por meio do Irã, que em 1979 virou uma república fundamentalista islâmica e passou a exportar seu modelo.
O grupo, formado em 1982 no vale do Bekaa pelos minoritários xiitas libaneses com a mão do Irã por trás, era um grupo lateral nessa história até a chegada de Hassan Nasrallah ao poder, cortesia do assassinato de seu antecessor por um míssil israelense em 1992.
O fracasso do acordo de retirada israelense em 2000, com o Hezbollah tornando o sul libanês numa base de lançamento de mísseis e foguetes contra Israel, ajudou a formar o quadro atual. No meio do caminho, em 2006, a guerra entre os rivais encerrada em empate levantou a moral dos extremistas —até agora.
Com o 7 de Outubro do Hamas falhando em levar a uma operação frontal no norte pelo Hezbollah, surgiram dúvidas acerca das capacidades e da disposição dos libaneses, maior ativo dos iranianos. O pé no freio, ironicamente, estava em Teerã, que comanda a rede de rivais de Israel e dos EUA na região.
Afetada por crises social e econômica, a teocracia viu o presidente Ebrahim Raisi, sucessor presumido do líder supremo, morrer num estranho acidente de helicóptero em maio.
Isso explicava o dilema do Irã, que foi encurralado pela velocidade com que Israel apertou o torniquete no pescoço do seu maior ativo regional.
Ao sair da retórica e voltar a atacar Israel com mísseis na noite desta terça-feira (1º), arrisca-se a ver o peso de Tel Aviv e de Washington combinados contra si.
No mais, o violento ataque que despedaçou a cúpula do Hezbollah, a começar pelo homem que tornou o grupo fundamentalista libanês numa potência regional, é uma vitória tática indiscutível para Israel e uma redenção parcial para o premiê.
Há quase um ano, o premiê viu sua política de tentar dividir os palestinos estrangulando a Autoridade Palestina na Cisjordânia e abrindo cofres seus e do Qatar para o Hamas render o mais horrendo ataque a Israel na história.
Agora, pode falar com certa hipérbole, mas não sem motivos, que está conduzindo o Oriente Médio a uma nova configuração. Em vez da reconciliação buscada há 30 anos por Yitzhak Rabin, a paz de Netanyahu é forjada a fogo.
O premiê continua sendo uma figura amplamente odiada, em especial por seu fracasso na questão dos reféns. Mas ganhou pontos, não menos devido à percepção de que o Hezbollah teria de ser confrontado alguma hora.
Isso não torna esses ganhos permanentes, por óbvio. Em termos puramente militares, Israel parece extremamente cauteloso em relação à sua invasão do Líbano. Há motivos históricos para isso, dado que é um filme antigo que se vê nas telas de celular hoje.
Em 1978, Tel Aviv invadiu o sul do Líbano até a o rio Litani para expulsar as forças da OLP (Organização para a Libertação da Palestina) que de lá operavam ataques contra Israel. Alguém falou Hezbollah? Pois então, o grupo xiita nem era nascido e a questão já estava colocada.
Bem-sucedido, apesar de reveses como um massacre de represália perto de Tel Aviv, o governo israelense acabou saindo e deixando a segurança na mão de um aliado, o Exército do Sul do Líbano, formado por milícias cristãs que lutavam na guerra civil do país árabe.
O cenário, com se vê, era mais matizado ainda do que agora, mas alguns elementos subsistem. A Unifil, a impotente força da ONU para o sul libanês, foi formada naquele ano para em tese estabiliza a região.
Quatro anos depois, ainda atrás de Yasser Arafat e os seus, atacou novamente, chegando desta vez até Beirute. Entre idas e vindas, ficou 18 anos em solo libanês, vendo nascer no processo o Hezbollah por meio do Irã, que em 1979 virou uma república fundamentalista islâmica e passou a exportar seu modelo.
O grupo, formado em 1982 no vale do Bekaa pelos minoritários xiitas libaneses com a mão do Irã por trás, era um grupo lateral nessa história até a chegada de Hassan Nasrallah ao poder, cortesia do assassinato de seu antecessor por um míssil israelense em 1992.
O fracasso do acordo de retirada israelense em 2000, com o Hezbollah tornando o sul libanês numa base de lançamento de mísseis e foguetes contra Israel, ajudou a formar o quadro atual. No meio do caminho, em 2006, a guerra entre os rivais encerrada em empate levantou a moral dos extremistas —até agora.
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