Jair Bolsonaro em pronunciamento sobre combustíveis, ao lado do ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) - Gabriela Biló/Folhapress |
A disparada dos combustíveis se tornou uma ameaça eleitoral tão perigosa que fez Jair Bolsonaro (PL) assumir de vez uma batalha com a Petrobras. Na blitz governista feita sobre a empresa nos últimos dias, o presidente e seus aliados passaram a tratar a estatal como uma adversária política.
O novo aumento de preços anunciado pela empresa nesta sexta-feira (17) reforçou a percepção de que o governo está sem saída na busca de soluções para o ciclo de altas que tira o sono de Bolsonaro. Nem mesmo a intensa pressão feita por ministros e parlamentares foi capaz de frear a decisão da Petrobras.
O próprio Bolsonaro já vinha tratando a estatal como inimiga em discursos e entrevistas, mas o tom ficou mais explícito. Na véspera do aumento, o presidente disse que um reajuste de preços seria sinal de um "interesse político para atingir o governo federal".
O comportamento é parte de uma conhecida tática de Bolsonaro. Quando o governo está enfraquecido ou não é capaz de elaborar respostas eficazes para um problema, o presidente costuma fabricar uma rivalidade no terreno da política.
No caso da Petrobras, a solução foi empregada diante das frustrações do presidente com as iniciativas para amortecer a alta dos combustíveis e, principalmente, com sua incapacidade de construir um consenso dentro do governo para alterar a política de preços da companhia.
Ao tratar a estatal como antagonista, Bolsonaro acrescenta uma camada a seus esforços para se desvencilhar da responsabilidade pela alta de preços. Segundo essa visão, a empresa trabalha ativamente para impedir seu governo de controlar os efeitos da pandemia e da Guerra da Ucrânia sobre os combustíveis.
O ataque coordenado ao comando da Petrobras sugere que esse será o discurso oficial dos governistas. Assim que a cúpula da empresa liberou o aumento, o ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) disse que a estatal abandonou os brasileiros. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) afirmou que a companhia havia entrado em "estado de guerra" com o povo.
O centrão participa dessa operação porque tem interesse direto na reeleição de Bolsonaro —uma vez que os arranjos atuais favorecem (e muito) esses partidos. Mas o bloco também tem preocupações com a preservação de seu próprio capital político.
O mal-estar com a inflação costuma fazer com que o eleitor vá às urnas em busca de mudança. O centrão não sofreria muito com uma eventual derrota de Bolsonaro, mas teria um prejuízo grande se o aborrecimento generalizado engordasse bancadas de esquerda e punisse a coalizão de centro-direita que sustenta o bloco.
A reação conjunta também pode ser explicada pelo fato de que o novo aumento frustra os planos mais recentes do consórcio Bolsonaro-centrão. O reajuste anunciado agora limita os efeitos da redução esperada com a aprovação do teto para o ICMS cobrado sobre os combustíveis. O corte de impostos deve ser aplicado a partir da semana que vem, mas os novos preços da Petrobras já começam a valer no sábado (18).
O novo momento do embate com a Petrobras mostra que a caixa de ferramentas dos governistas vai ficando mais vazia. Depois do aumento, Lira falou na possibilidade de dobrar a taxação de lucros da estatal, revertendo o dinheiro arrecadado para um subsídio ao diesel dos caminhoneiros.
A proposta vale como arma política. A ameaça de aumentar a tributação da Petrobras é uma pressão mais do que óbvia para que o Conselho de Administração da empresa efetive a demissão do atual presidente, José Mauro Ferreira Coelho, e acelere a troca de comando da companhia.
Na batalha com a empresa, Bolsonaro também lançou a carta do risco de uma greve de caminhoneiros, nos moldes da paralisação de maio de 2018. Ele afirmou que "a Petrobras pode mergulhar o Brasil num caos", lançando preventivamente para a estatal a culpa por possíveis desarranjos da economia.
Ainda na lista de ameaças, Bolsonaro defendeu a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a direção da Petrobras.
A briga política dificilmente levará novos votos para o campo de Bolsonaro —como o governo esperava ao trabalhar por uma redução dos preços dos combustíveis. Mas o embate ainda pode ajudar o presidente a amenizar o mau humor que uma fatia do eleitorado direcionaria a ele com o novo aumento.
O novo aumento de preços anunciado pela empresa nesta sexta-feira (17) reforçou a percepção de que o governo está sem saída na busca de soluções para o ciclo de altas que tira o sono de Bolsonaro. Nem mesmo a intensa pressão feita por ministros e parlamentares foi capaz de frear a decisão da Petrobras.
O próprio Bolsonaro já vinha tratando a estatal como inimiga em discursos e entrevistas, mas o tom ficou mais explícito. Na véspera do aumento, o presidente disse que um reajuste de preços seria sinal de um "interesse político para atingir o governo federal".
O comportamento é parte de uma conhecida tática de Bolsonaro. Quando o governo está enfraquecido ou não é capaz de elaborar respostas eficazes para um problema, o presidente costuma fabricar uma rivalidade no terreno da política.
No caso da Petrobras, a solução foi empregada diante das frustrações do presidente com as iniciativas para amortecer a alta dos combustíveis e, principalmente, com sua incapacidade de construir um consenso dentro do governo para alterar a política de preços da companhia.
Ao tratar a estatal como antagonista, Bolsonaro acrescenta uma camada a seus esforços para se desvencilhar da responsabilidade pela alta de preços. Segundo essa visão, a empresa trabalha ativamente para impedir seu governo de controlar os efeitos da pandemia e da Guerra da Ucrânia sobre os combustíveis.
O ataque coordenado ao comando da Petrobras sugere que esse será o discurso oficial dos governistas. Assim que a cúpula da empresa liberou o aumento, o ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) disse que a estatal abandonou os brasileiros. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) afirmou que a companhia havia entrado em "estado de guerra" com o povo.
O centrão participa dessa operação porque tem interesse direto na reeleição de Bolsonaro —uma vez que os arranjos atuais favorecem (e muito) esses partidos. Mas o bloco também tem preocupações com a preservação de seu próprio capital político.
O mal-estar com a inflação costuma fazer com que o eleitor vá às urnas em busca de mudança. O centrão não sofreria muito com uma eventual derrota de Bolsonaro, mas teria um prejuízo grande se o aborrecimento generalizado engordasse bancadas de esquerda e punisse a coalizão de centro-direita que sustenta o bloco.
A reação conjunta também pode ser explicada pelo fato de que o novo aumento frustra os planos mais recentes do consórcio Bolsonaro-centrão. O reajuste anunciado agora limita os efeitos da redução esperada com a aprovação do teto para o ICMS cobrado sobre os combustíveis. O corte de impostos deve ser aplicado a partir da semana que vem, mas os novos preços da Petrobras já começam a valer no sábado (18).
O novo momento do embate com a Petrobras mostra que a caixa de ferramentas dos governistas vai ficando mais vazia. Depois do aumento, Lira falou na possibilidade de dobrar a taxação de lucros da estatal, revertendo o dinheiro arrecadado para um subsídio ao diesel dos caminhoneiros.
A proposta vale como arma política. A ameaça de aumentar a tributação da Petrobras é uma pressão mais do que óbvia para que o Conselho de Administração da empresa efetive a demissão do atual presidente, José Mauro Ferreira Coelho, e acelere a troca de comando da companhia.
Na batalha com a empresa, Bolsonaro também lançou a carta do risco de uma greve de caminhoneiros, nos moldes da paralisação de maio de 2018. Ele afirmou que "a Petrobras pode mergulhar o Brasil num caos", lançando preventivamente para a estatal a culpa por possíveis desarranjos da economia.
Ainda na lista de ameaças, Bolsonaro defendeu a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a direção da Petrobras.
A briga política dificilmente levará novos votos para o campo de Bolsonaro —como o governo esperava ao trabalhar por uma redução dos preços dos combustíveis. Mas o embate ainda pode ajudar o presidente a amenizar o mau humor que uma fatia do eleitorado direcionaria a ele com o novo aumento.
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