Salem H. Nasser
Folha de S.Paulo
Seria então Mohamad Mursi um novo Mubarak?
Enquanto alguns fazem essa pergunta, poucos talvez se lembrem que, quando assumiu o cargo, havia uma expectativa generalizada de que fosse um presidente desprovido de reais poderes.
Poucos dias antes de sua posse, os militares haviam emitido decretos limitando as prerrogativas do presidente, dissolvendo o Parlamento e reservando para si poderes legislativos e responsabilidade pela política externa.
De um modo que surpreendeu muitos, em alguns lances, o presidente egípcio tomou medidas que golpeavam o poder dos militares e pareciam confirmar apostas da Irmandade Muçulmana de que tinha condições de ganhar o braço de ferro no Egito.
Os dois momentos em que Mursi se mostrou mais ousado no esforço de afirmar seu poder foram, primeiro, a mudança na cúpula das Forças Armadas, em agosto, e, recentemente, um decreto que colocava seus atos ao abrigo do controle do Judiciário.
Nas duas ocasiões, a afirmação dos poderes do presidente se seguiu a eventos que aumentavam o seu prestígio. No primeiro caso, as demissões dos militares vieram depois de uma campanha militar no Sinai, em resposta a um ataque contra guardas egípcios. No segundo, o decreto veio depois que o Egito mediou a trégua entre Hamas e Israel, ao fim dos mais recentes embates em Gaza.
A assunção de novos poderes, neste momento, está intimamente ligada à tentativa de aprovar uma nova Constituição por referendo popular.
Aos olhos de muitos, o que parece ser uma virada autoritária do presidente quanto à nova Constituição levanta dúvida sobre o futuro de países árabes pósrevoltas, em que partidos islâmicos vão assumindo o poder.
Há aqueles, no entanto, que defendem as ações da nova liderança egípcia como medidas de proteção do que se adquiriu com as revoltas contra a interferência do que resta do regime anterior.
Perguntamse alguns se a virada aparentemente antidemocrática no Egito não deveria arrefecer os ânimos com que se incentivam revoltas em lugares como a Síria. Mas esta não é a boa pergunta.
A incógnita a que o Egito ainda não respondeu diz respeito à sua atitude em relação ao jogo de poder na região e mais especialmente em relação a Israel.
Antes da democracia, é esta resposta que determina quem apoia e quem se opõe a esta ou àquela revolta.
SALEM H. NASSER é coordenador do Centro de Direito Global da Direito GV
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