24 de abril de 2014

Capitalismo e nazismo

Da próxima vez que alguém lhe disser que os nazistas eram anti-capitalistas, mostre-lhe isso.

Corey Robin


De Adam Tooze, do livro The Wages of Destruction: The Making and Breaking of the Nazi Economy.

Tradução / Alguns comentadores no meu blog afirmam que o gráfico acima nada nos diz sobre a relação entre nazistas e o capitalismo; que ele apenas nos diz que a economia melhorou sob o comando do nazismoAssim como aconteceu com os Estados Unidos no governo de Franklin Delano Roosevelt. Então, talvez o gráfico mostre apenas as melhorias gerais da economia na década de 1930 enquanto um crescimento compartilhado pelo mundo industrializado?

Para a minha sorte, Suresh Naidu, uma excepcional economista em Columbia, me forneceu os seguintes gráficos.

O primeiro, retirado da obra de Thomas Piketty, O capital no século XXI, compara a parte da renda nacional destinada ao capital tanto nos Estados Unidos quanto na Alemanha entre 1929 e 1938. Suresh afirma que, a grosso modo, essa parte ajuda a entender a taxa de retorno que o capital possuía nessa época e nesses países.

Resumindo a história: o capital estava indo melhor na Alemanha nazista do que sob o governo Roosevelt. E isso não era decorrente do retorno do crescimento da performance econômica num país, mas sim graças às políticas econômicas do regime estabelecido. Ou ao menos é o que me diz Suresh (e geralmente acadêmicos deveriam reconhecer os méritos das contribuições de seus amigos e leitores, mas admitir todos os erros para si: nesse caso, estou colocando tudo na conta de Suresh).


O segundo gráfico – que vem de um fascinante artigo de Thomas Ferguson e Hans-Joachim Voth chamado “Betting on Hitler: The value of political connections in Nazi Germany” – consegue rastrear a performance da bolsa de valores na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos, na França e na Alemanha entre janeiro de 1930 até novembro de 1933. Como vocês podem ver, nos primeiros meses em que Hitler esteve no poder, a performance das bolsas alemãs era bastante forte, superando todas as outras; é somente em julho que ela passa a ser rivalizada com a da Grã-Bretanha, a segunda mais competitiva.

De Thomas Ferguson e Hans-Joachim Voth, “Apostando em Hitler: O Valor das Conexões Políticas na Alemanha Nazista

No Twitter, Justin Paulson me mostrou este fascinante artigo do Journal of Economic Perspectives. Ele se chama “The coining of ‘privatization’ and Germany’s National Socialist Party”. Aparentemente, o primeiro uso da palavra ‘privatização’ (ou ‘reprivatização’) em língua inglesa ocorreu na década de 1930, no contexto em que se buscava explicar a política econômica do Terceiro Reich. De fato, a palavra inglesa (privatization) era uma tradução do termo alemão “reprivatisierung”, que recém tinha sido cunhado durante o regime nazista.

Depois que mandei esse artigo para ele, Phil Mirowski também me mandou o artigo de Germà Bell, “Against the mainstream: Nazi privatization in the 1930s”, da revista Economic History Review. Esse artigo também tem considerações interessantes, como essa em seu resumo:

“Na metade da década de 1930, o regime nazista transferiu patrimônio público para o setor privado. Ao fazer isso, eles foram contra a corrente política dominante da época nos países capitalistas ocidentais, sendo que nenhum deles reprivatizou empresas durante a década de 1930”.

Sobre o autor

Corey Robin é o autor de The Reactionary Mind: Conservatism from Edmund Burke to Sarah Palin e um editor contribuinte em Jacobin. 

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