23 de novembro de 2014

Le Journal e Le Club: Mediapart

Tariq Ali

London Review of Books


Tradução / Há algumas semanas, caminhei da Bastille à rue Saint-Antoine, em Paris, pensando em como as últimas décadas se vingaram tão rápido do seu passado. O espetáculo que hoje obscurece qualquer outro na França é o colapso da civilização política cujas fundações remontam a 1789. A França radical – sua intelligentsia, seus partidos políticos, seu cinema e sua imprensa – sofre um processo de neoliberalização. O editorial manifesto de Jean-Marie Colombani sobre o 11 de Setembro de 2001 no Le Monde – “Nous sommes tous Américains” (“Somos todos americanos”) – acabou por ser uma profecia. Será possível que a memória histórica do país seja em breve apagada e os célebres anos 1789, 1793, 1815, 1830, 1848, 1871, 1936 e 1968 deturpados ou esquecidos?

Os novos liberais, os historiadores François Furet e Pierre Nora, os políticos Jospin e Hollande, prepararam bem o terreno para a direita francesa. Manuel Valls, atual primeiro ministro socialista, expõe sua admiração por Tony Blair e está mano a mano com a Frente Nacional de Marine Le Pen no quesito humilhar minorias. Há algo mais que uma França de Vichy no ar, só que com muçulmanos e ciganos no lugar dos judeus.

Quantos passantes sabem que o monumento no centro da place de la Bastille homenageia os mártires da Revolução de Julho de 1830? O rei insistira em levar a cabo ordenanças impopulares, dissolvendo a recém-eleita Câmara dos Deputados, retirando os votos da classe média e suspendendo a liberdade de imprensa. Erigiram-se as barricadas. Carlos X, como outros nobres da sua linhagem que procuram asilo, fugiu para Londres, deixando para trás os corpos de mais de duzentos cidadãos, mortos na luta pela liberdade de imprensa.

Hoje a imprensa francesa está em maus lençóis. Le Figaro não é tão tendencioso como o Telegraph, mas está quase lá. Os jornais corporativistas Le Monde e Libération estão em declínio. É verdade que o Le Monde Diplomatique ainda circula todo mês, porém ao que depender de estatísticas e políticas globais, é muito ilustre e muito enfadonho para causar qualquer impacto relevante na política francesa.

O desafio à imprensa veio de um site chamado Mediapart: , lançado em 2008 para denunciar a corrupção incrustada nas instituições da Quinta República Francesa e nos partidos políticos. Ideia de Edwy Plenel, ex-editor do Le Monde, e três colegas experientes – François Bonnet (o editor), Gérard Desportes e Laurent Mauduit –, donos de uma vasta experiência e, mais importante, de uma boa lista de contatos. Com o jornalista Fabrice Arfi, eles exibem uma investigação meticulosa e completa similar a do jornalista britânico Paul Foot, na antiga revista Private Eye.

O Mediapart funciona com um modelo de assinatura: por seu primeiro euro, você pode ter acesso ao site por 15 dias; depois, custa nove euros por mês. Em 2011, o site lucrou 500 mil euros mesmo sem anúncios; 95% da receita do site vêm de seus assinantes. Há duas páginas principais: Le Journal, com matérias dos jornalistas, e Le Club, o blog dos assinantes que comentam e interagem com os editores. Todo dia há edições às 9h, 13h e 19h, em versões em inglês e espanhol. French Leaks, um site do Mediapart, é o Wikileaks do país.

O Mediapart começou durante o mandato de Sarkozy: o escândalo Bettencourt, envelopes abarrotados de euros sendo entregues diretamente a Sarkozy e Eric Woerth, seu então ministro do orçamento. Depois houve o dinheiro que Sarkozy recebeu de Gaddafi (que queria sua reeleição), e o encobrimento do caso Karachi, quando onze engenheiros franceses foram mortos (provavelmente pelo ISI), porque a propina da venda dos submarinos franceses não tinha sido paga por inteiro para os poderosos do Paquistão. O Mediapart não parou com Sarkozy. O governo socialista, eleito em 2012, foi submetido a rigoroso escrutínio e os resultados impressionam. Jérôme Cahuzac, um cirurgião plástico, rei dos transplantes de cabelo e ministro adjunto da economia, conclamou a população a economizar. O Mediapart revelou que ele tinha mais de um milhão de euros numa conta secreta na Suíça. Cahuzac mentiu à Hollande, ao parlamento francês e à mídia. O Mediapart insistiu, agora com o apoio do resto da imprensa. Ele foi finalmente demitido.

Os escritórios do Mediapart, na rue Saint-Antoine,comportam uma equipe de 33 jornalistas. Funcionam como um jornal diário sans papier. Com 100 mil assinantes (e 2,5 milhões de visitas por mês), o Mediapart gosta de dizer que eles têm metade da circulação do Le Monde e do Le Figaro juntas. E os jornalistas são pagos de forma adequada. O site não depende do trabalho barato de estagiários. “Nós lutamos”, assim me disse Planel. “O Mediapart é produto de uma dupla crise: a crise econômica da velha imprensa e a crise da democracia da França em especial, mas que também acho que acontece em todo continente europeu.”

22 de novembro de 2014

Os nossos amigos em Riade

Os Estados Unidos são aliados da Arábia Saudita não apesar da ordem política autoritária do país, mas por causa disso.

Toby C. Jones

Jacobin

Tradução / Na quarta-feira passada, um tribunal penal na Arábia Saudita condenou à morte o clérigo xiita xeque Nimr al-Nimr, um dos mais visíveis dissidentes políticos do reino. As autoridades sauditas justificaram o veredito em termos de segurança nacional. Declarado culpado por vagas acusações de sedição, Al-Nimr foi julgado num tribunal criado para julgar casos de terrorismo.

Como é frequentemente o caso na Arábia Saudita, o que é considerado a regra da lei e segurança nacional é geralmente o teatro do absurdo. O veredito da execução, que podia ser comutado para uma sentença de prisão prolongada, é o produto de um sistema baseado na exclusão política, um sistema que sacrifica os seres humanos de modo a manter a autoridade centralizada e o privilégio da elite.

Al-Nimr foi preso e posteriormente condenado não por ser um perigo para a sociedade saudita, mas porque há muito tem sido um crítico da opressão, ativista contra a discriminação sectária e tem conduzido protestos exigindo reformas da ordem política injusta. Al-Nimr tem sido uma figura proeminente no apoio ao que tem sido um movimento de protesto em grande parte não visto, mas, no entanto, persistente nas comunidades predominantemente xiitas da Arábia Saudita oriental.

Desde 2011, pouco depois de cidadãos terem se mobilizado contra o Al-Khalifa no vizinho Barém, os xiitas sauditas também vieram para as ruas. Como resposta, as autoridades tomaram medidas enérgicas criminalizando um vasto campo de ativistas, policiando de forma agressiva as comunidades xiitas e perseguindo, prendendo ou matando montes de ativistas.

Al-Nimr só coloca uma ameaça para o próprio regime. A repressão de Estado, sob a capa de um discurso de segurança e sedição, é um fraco esforço para mistificar este facto fundamental. Feitas as apostas de exprimir raiva contra o regime, especialmente pela comunidade xiita, é digno de nota que os protestos de rua continuaram diariamente desde que foi conhecida a sentença contra Al-Nimr.

Claro que mesmo observadores ocasionais da política da Arábia Saudita não ficam surpreendidos com a decisão de executar um proeminente clérigo xiita. Com efeito, o reino é largamente conhecido por ser um centro de extremismo religoso e sectarismo. E é bem verdade que o anti-xiismo tem história na Arábia Saudita.

Os xiitas, que perfazem 15 por cento da população saudita, têm sido, historicamente, apontados, quer pelos zelotas religiosos quer pelo governo central, como um regime imperial. A comunidade tem enfrentado discriminação e exclusão sistemáticas desde a expansão imperial de Al-Saud da Arábia Central desde o início do século XX.

Mas as patologias sectárias, mesmo na Arábia Saudita, têm histórias particulares. E estão longe de estar tão disseminadas como poderíamos pensar. É certo que o sentimento discriminatório se tornou mais entranhado na última geração, mas as piores variedades de anti-xiismo, sobretudo as que defendem a violência e apoiam a regionalização de uma guerra sunita-xiita são uma minoria pequena, mas poderosa.

O anti-xiismo hoje não é tanto o produto de uma interpretação retrógrada ou ortodoxa do Islão – largamente rotulada de Wahabismo – como é a convergência de várias forças políticas, sendo a mais importante de todas, um estado vulnerável.

Confrontados com uma quantidade de ameaças internas e externas – o desejo de influência no Golfo por parte do Irão; a ascensão do poder xiita no Iraque pós-invasão; a revolta no Barém, o estado satélite da Arábia Saudita; e, sobretudo, o surgimento de uma série de desafios domésticos à autoridade saudita desde 2003, inclusive a crítica à enorme corrupção do Estado e à ausência de direitos políticos – os líderes de Riade responderam fomentando o anti-xiismo discriminatório. Em vez de alargar a participação ou de acabar com as desigualdades, o impulso do regime foi o de continuar a política da escalada sectária.

Visto desta forma, o veredicto contra Al-Nimr não é tanto sobre segurança nacional ou um reflexo do sentimento profundamente conservador anti-xiita, mas um sinal da vulnerabilidade do regime.

É tentador dizer que, ao ameaçar executar Al-Nimr, o Estado pretende dissuadir outros dissidentes xiitas de desafiarem a sua autoridade. Certamente que isto é verdade. Mas o regime está também a atirar isco para os piores reaccionários no seu seio, numa prática de diversão e legitimando politicamente as formas agressivas e virulentas de sectarismo que se têm estabelecido na região. O efeito óbvio é que o anti-xiismo, dentro e fora do país, ganhou e continuará a ganhar maior aceitação como ganhou com a subida do Estado Islâmico no Iraque e na Síria (ISIS). De forma mais subtil, o gambito saudita baseia-se também numa clara compreensão que outras potenciais formas de desacordo – contra acusações de corrupção ou frustração por o que é um estado securitário forte - podem ser desviadas ou afastadas ateando o anti-xiismo e sacrificando corpos xiitas.

A sectarização da política saudita é também política e económica e ligada à “relação especial” do reino com os Estados Unidos. Desde a rebelião no Barém, em 2011, os Estados Unidos continuaram a apoiar os regimes árabes autocráticos no Golfo em vez da democracia e dos direitos humanos. As justificações incluem prioridades em torno da “segurança”, a necessidade de conter o Irão e assegurar que o petróleo circula do Golfo para os mercados globais.

Com estas prioridades em mente, é muito improvável que os funcionários americanos façam grande coisa para desafiar Riade quanto ao veredicto sobre Al-Nimr ou alterar o seu comportamento sectário no geral. Os críticos instaram os Estados Unidos para repensarem os seus laços estratégicos com Riade. Mas fazendo tal, isso obrigaria a confrontar não só as contradições na política americana, especialmente dado que está próximo de um estado saudita que apoiou a escalada do ISIS mesmo que indirectamente, mesmo quando agora reclama estar comprometido com a destruição do estado islâmico.

De qualquer modo, a falta de vontade dos Estados Unidos de confrontar o papel da Arábia Saudita no ascenso do ISIS, à parte os comentários do secretário de estado John Kerry que pareciam reconhecer isto, dá campo ao comportamento contraditório do reino. Quaisquer que sejam os limites do poder americano, a realidade é que Washington nunca pressionou significativamente os sauditas acerca da sua cumplicidade na propagação do sectarismo ou do terrorismo anti-xiita pós 2003.

Para além destas contradições, é importante manter à vista o papel que o governo dos Estados Unidos e que o capital americano desempenharam no aumento da autocracia e das políticas discriminatórias na Arábia Saudita, em primeiro lugar.

Al-Nimr é oriundo de uma pequena aldeia chamada Awamiyya na província oriental da Arábia Saudita, um sítio com forte influência americana. É na parte oriental que vive quase toda a comunidade xiita do reino e onde quase todo o petróleo está situado. Para um regime preocupado com ameaças internas, os desafios xiitas ao poder têm significado, não só pelo seu conteúdo, mas também por causa da sua localização. O governo dos Estados Unidos e o capital americano sabem tudo isto muito bem.

Embora os interesses políticos e empresariais americanos se tenham rendido ao controlo directo dos recursos de petróleo da Arábia Saudita no começo dos anos 80, eles estiveram presentes na província oriental, no interior e em torno das comunidades xiitas, desde finais dos anos 30 e ao longo de grande parte do século XX.

Receosa da mão-de-obra saudita politicamente mobilizada em meados do século XX, a Arabian American Oil Company (que era conhecida por empregar funcionários da CIA) coordenou-se intimamente com os líderes sauditas entre 1940 e 1970 na construção de uma ordem política centralizada e discriminatória, antidemocrática e anti-operária destinada a criar corpos disciplinados e dóceis num local onde havia grande falta de legitimidade política. A verdadeira ordem política que as autoridades sauditas aspiram sustentar por meio de julgamentos espectáculo e penas capitais é o legado desta cooperação do século XX.

Os políticos americanos já não pensam em termos dos interesses de uma companhia petrolífera americana que controla o petróleo saudita. Mas os seus interesses económicos e políticos práticos mudaram muito pouco. Desde finais dos anos 70, estas ligações proliferaram, sobretudo através da venda de armas e do entrelaçar do complexo industrial bélico americano com a riqueza do petróleo saudita. Não há maior máquina para reciclar os petrodólares sauditas e do golfo árabe do que massivos e caros sistemas de armamento. Estas vendas estão largamente justificadas com a linguagem da segurança e invocando ameaças regionais como Saddam Hussein e qualquer que seja o regime que vigore em Teerão. A realidade, no entanto, é que elas são extremamente lucrativas.

Embora na última década tenham, por vezes, surgido ressentimentos com a política americana, Riade permanece comprometido na sua relação com Washington. O contrário também é verdade. Os políticos americanos continuam a ver a Arábia Saudita como indispensável não porque tenha mostrado vontade de mudar ou desenvolver uma ordem política mais inclusiva e tolerante, mas antes pelo contrário.

Reclamar democracia na Arábia Saudita ou simplesmente uma abordagem mais crítica ao modo como a política doméstica de Riade desafia a catástrofe regional seria abrir-se à possibilidade de um governo que não subordinasse os interesses dos seus cidadãos às necessidades energéticas americanas. Mas esse é um risco que o governo e o capital dos Estados Unidos não têm intenção de correr.

15 de novembro de 2014

Servir ao povo

A falta de moradia não é um acidente. É o resultado de um sistema econômico brutal e de políticas governamentais conscientes.

Ari Paul

Jacobin

Garry Knight / Flickr

Tradução / Arnold Abbott, de noventa anos, tem ganhado as manchetes após ser preso por estar organizando atos de alimentação para moradores de rua em espaço público na sua cidade. O prefeito da cidade, Jack Seiler, acredita que o mais apropriado para o idoso seria uma sentença dequatro meses, ele conta aos repórteres que Abbott ‘’decidiu que esses indivíduos não deveria ter nenhuma interação com o governo, que eles deveriam ser simplesmente alimentados nos parques públicos. Nós discordamos.’’

Além da natureza ‘’Davi e Golias’’ do caso, os absurdos de tal injunção são inúmeros. Não seria uma clara Primeira Emenda da liberdade para as pessoas convocar? Poderia um estado que se diz democrático realmente evitar atos de caridade? E como o estado decide quem é sem-teto? Por exemplo, poderia um couch-surfer ser considerado sem abrigo e assim, sob essa lógica grotesca, ser um risco para a segurança pública?

Embora possa ser fácil de descartar isso como mais uma ocorrência estranha no famoso ‘’Sunshine State’’, Florida não se reduz a mais um estado insensível dos EUA. Ao redor do país os municípios tem implementado uma variedade de métodos e estatutos para perseguir e criminalizar aqueles que não possuem abrigo: a proibição da mendicância, estabelecendo ‘’qualidade de vida’’, confiscando bens pessoais, jogando ao leu construções em expansão (o que soa um tanto desencorajador), e até mesmo matar um homem por ter acampado no deserto.

O objetivo, claro, é empurrar esses ‘’incoveniente’’ para a periferia ao invés de resolver o problema subjacente. E o problema é de fato terrível: a falta de moradia está em ascensão a nível nacional.

Aproximadamente cinquenta mil pessoas estão sem moradia na cidade de Nova Iorque. O número dos sem-teto em Washington DC deverá aumentar 16% nesse inverno. E em Massachusetts o número disparou em 40% desde 2007. (Uma exceção surpreendente é Utah, onde um governo republicano começou simplesmente a fornecer moradia para os sem abrigo.) Na maioria das vezes, o número das pessoas sem teto aumenta quando pessoas ricas passam a possuir certas áreas, suas riquezas deslocam os locatários que, eventualmente, não podem mais alugar qualquer lugar.

A situação na florida não tem sido nada mais do que esclarecedora. Ela mostra como a miséria não somente é produzida por acidentes e erros do mecanismo do mercado, mas também por uma politica precisamente fria do estado. Austeridade não é um triunfo dos valores de mercado sobre o tão chamado ‘’grande governo’’, mas sim um desvio dos recursos do estado que deveriam prestar serviços as pessoas que passam por necessidade, ao invés disso essas forças atuam contra essas pessoas. Vale-refeição são cortados, no entanto, subvenções federais para os departamentos de polícia continuam fluindo.

Muitas vezes, alguns esquerdistas coíbem-se da ideia de caridade com o fundamento de que se trata de uma suspensão temporária do sofrimento causado pela desigualdade estrutural, um desperdício de tempo e energia e, que seria mais adequado se, de fato, houvesse atitudes que fizessem a sociedade mais justa e igualitária. Caridade também viria a introduzir relações de subordinação: ao invés de afirmar seus direitos à moradia e comida, os que são marginalizados aceitam a caridade alheia.

O assalto da austeridade sobre a caridade é, no entanto, um lembrete de que ela pode ser um ato subversivo. Alivia-se o sofrimento daqueles do lado perdedor do capitalismo, enganando a ‘’ordem natural’’ do Darwinismo Social, Também pode fortalecer os lados entre ativistas e aqueles que procuram por justiça. No entanto, caridade pode ser um meio para se se organizar contra políticas que garantem a desigualdade.

Na verdade, isso é o que motivou parte dos protestos do Occupy Wall Street, especialmente durante as consequências do furacão Sandy. Enquanto algumas pessoas viram os trabalhos de assistências como um provedor de serviços fragmentados, a ideologia do movimento centralizou-se no conceito de oferecer ajuda aos afetados pelo furacão, enquanto o estado falhava em prover assistência.

Um dos objetivos foi criar novos tipos de solidariedade, uma oportunidade para os movimentos que em sua maioria possuía integrantes brancos para se juntar a uma causa comum com comunidades negras de baixa renda, no entanto, outros objetivos eram mais a de acordo com uma visão de organização socialista radical – usando caridade para mostrar o modo como as prioridades do estado estão amarradas às vontades da elite.

Em certo sentido, Abbott, está mostrando um estado que usa a violência contra aqueles que fazem caridade ao invés de resolver um sistema que cria falta de moradia. E as noticias de Ft. Lauderdale não é somente um incidente isolado, como a Rádio Pública Nacional informou, tais leis anti-caridade estão apenas se tornando mais prevalecentes. Os trabalhadores de caridade que estão com mais frequência sendo presos não irão somente provar para o mundo que o capitalismo tem criado crises de falta de moradia, mas que tamanho sofrimento é cuidadosamente e fortemente imposto ao público pelo governo que serve aos poderosos.

É nesse sentido que caridade pode tomar um papel transformador – não simplesmente apaziguando aqueles que necessitam, mas denunciando um sistema que vira as costas para os direitos básicos desses cidadãos. Combater superficialmente ordenanças ”anti-sem-abrigo” e apenas distribuir caridade não será o suficiente. Nós devemos nos organizar para a erradicação das faltas de moradia e da própria fome.

Sobre o autor


Ari Paul is a journalist in New York City who has covered politics for the Nation, VICE News, the Guardian, the Forward, the New York Observer, Al Jazeera America, and the Brooklyn Rail.

13 de novembro de 2014

Vítimas do capitalismo

O trabalho cada vez mais desumanizador causou uma epidemia de suicídios na França

Uma entrevista com
Patrick Ackermann

Katy Warner / Flickr

Tradução / No início deste ano, uma mulher com pouco mais de 50 anos que trabalhava como gerente na empresa de correios francesa foi encontrada enforcada em seu escritório em Paris. Apesar de nenhum bilhete suicida ter sido encontrado, a morte foi ligada ao anúncio de dois dias antes sobre a participação da empresa no "Horizon 2020", um plano de investimento da União Europeia, parte de uma série de reestruturações que irão mudar o status dos trabalhadores na empresa.

A tragédia é parte de uma epidemia de suicídios em grandes empresas francesas. Uma delas é a France Télécom (renomeada Orange em 2013), gigante das telecomunicações cujas "ondas de suicídio" coincidiram com a privatização e reestruturação da empresa.

Doze empregados da France Télécom se mataram em 2008, 19 em 2009, 27 em 2010 e seis em 2011. Apesar de um novo acordo sobre as condições de trabalho ter sido negociado com os sindicatos, os suicídios voltaram a ocorrer, com 11 casos em 2013 e dez desde o início de 2014.

Suicídios relacionados ao trabalho são um fenômeno internacional, como evidenciados pela enxurrada de mortes nas fábricas de produção da Foxconn no sul da China em 2010 ou pelo fenômeno do "karoshi", morte por excesso de trabalho, no Japão. A França se destaca pelo grande número destas ocorrências, pela cobertura da mídia sobre a questão e pelos intensos debates jurídicos e políticos que se seguiram. Com uma taxa de suicídios de 14,7 por 100.000 habitantes, a França também tem um dos índices mais altos da Europa, o dobro do Reino Unido e três vezes maior do que Espanha e Itália.

A conexão entre o suicídio e as condições de trabalho é extremamente difícil de ser estabelecida e é geralmente o resultado de longos processos judiciais realizados pela família da vítima contra a empresa. Mas na France Télécom algumas pessoas deixaram cartas, que depois foram publicadas na imprensa francesa, que culpavam o trabalho de forma explícita. Os chefes reagiram tentando individualizar as causas dos suicídios, atribuindo-as a problemas mentais ou emocionais dos indivíduos e desassociando-as de qualquer relação com o local de trabalho.

Uma nova estrutura sindical criada em 2007, o Observatório do Estresse e da Mobilidade Forçada (L’Observatoire du stress et des mobilités forcées), tem tido um papel crucial para o reconhecimento dos suicídios ligados ao trabalho como um fenômeno social na França. Frente à hostilidade das empresas e dos sindicatos tradicionais, o Observatório tem conseguido trazer a atenção pública aos suicídios.

Em entrevista, Patrick Ackermann, líder sindicalista no Solidaires Unitaires Démocratiques (SUD) e um dos fundadores do Observatório, comenta o trabalho que tem sido desenvolvido com relação aos suicídios.

Sarah Waters

You started working at France Télécom nearly thirty years ago. Can you tell me a little about what it has been like working for this company?

Patrick Ackermann

When I joined France Télécom in 1987 as a supervisor on the telephone lines, it was a cutting-edge, dynamic company with a young workforce who were driven by a sense of public service. We believed that we were part of a grand project to deliver fair and equal access to telephone services across the country.

As a public-sector company, we shared a distinctive working culture based on a sense of universal mission, of the general interest, and of egalitarianism. There was a sense of pride and patriotism in what we did and the workforce was marked by a strong sense of solidarity.

Like other telecommunications companies, we faced pressures from the European Union during the 1990s to privatize and open up our capital to financial markets. Because trade unions were very strong at France Télécom and because they resisted privatization, the French government delayed this process until much later than in other European countries.

The privatization of France Télécom began in 1996 when shares were placed on financial markets, although the state retained majority ownership until much later. Employees accepted this partial privatization on the grounds that they would retain their public service status as fonctionnaires, which meant they could keep certain benefits, including job security, and that they couldn’t be legally fired.

After privatization, company bosses engaged in a frenzied acquisition of telecommunications companies outside of France and as a result, the company accumulated massive debts. The dotcom crash led to a dramatic collapse in the value of its shares and created further financial woes for the company.

By 2001, France Télécom was designated as the most indebted company in the world, and Moody’s downgraded its shares to the status of junk bonds. This meant that when Didier Lombard took over as CEO in 2005, he had one overriding objective: to slash costs through massive lay-offs.

Twenty-two thousand jobs were to be shed in two years. Since 80 percent of workers were fonctionnaires and therefore unsackable, management resorted to more insidious psychological tactics to force them to leave the company. They engaged in what might be described as terror tactics that targeted individuals by every means possible.

Some employees received a barrage of e-mails from managers exhorting them to find work elsewhere. Others were forced to change jobs or move to new cities on a continuous basis as managers sought to destabilize their working life. Others were subject to interviews where they were criticized and humiliated in front of others.

Under French law, these methods are defined as harcèlement moral, or psychological harassment.

Você pode me falar sobre as circunstâncias em que o Observatório foi criado?

Patrick Ackermann

Sabíamos que havia um mal-estar generalizado entre muitos trabalhadores da France Télécom. Então aconteceram os primeiros suicídios em 2008. As vítimas eram de todos os escalões: gestores, técnicos, operadores de call-center e administradores. Entre estes, alguns membros do sindicato.

Pedimos para a gerência investigar a situação, mas eles se recusaram. A maioria dos outros sindicatos estavam relutantes em intervir na questão dos suicídios. Tivemos a ideia de criar um novo tipo de estrutura sindical que monitoraria os suicídios, providenciando evidências claras sobre o que estava acontecendo e usando isso para confrontar a chefia.

Foi uma luta para tirar a ideia do papel. Estávamos isolados, sem recursos e encarando grande hostilidade. Os outros sindicatos achavam inapropriado ou até mesmo grosseiro da nossa parte em querer registrar os suicídios dos trabalhadores. Acho que subestimaram completamente a dimensão social do problema.

Desde o início nos preocupamos em não focar em casos individuais, mas de olhar para as causas fundamentais e tratar a questão como um fenômeno social generalizado.

O que o Observatório fez para abordar a crise dos suicídios?

Queríamos investigar a causa dos suicídios, acumular evidência e publicar os nossos achados. Uma das nossas primeiras iniciativas foi enviar um questionário online para todos os empregados da France Télécom com o intuito de medir os níveis de estresse no trabalho.

Os resultados comprovaram níveis críticos de estresse entre os trabalhadores. Dois a cada três empregados sofriam de estresse relacionado ao trabalho e um a cada dois queriam deixar a empresa. Obviamente a chefia rejeitou esta evidência, mencionando um questionário anterior feito por eles mesmos entre os empregados, apesar desses resultados nunca terem sido divulgados.

Como vocês usaram a mídia e a opinião pública como uma ferramenta na campanha?

Para cada suicídio que acontecia, contatávamos a imprensa. No começo, apenas tabloides ou jornais direitistas como Le Figaro se interessaram. No entanto, pouco depois, a grande imprensa e a televisão começaram a prestar atenção.

Em julho de 2009 houve um caso de suicídio de um engenheiro de 51 anos que deixou uma carta que foi publicada pela imprensa. Sua carta culpava o trabalho explicitamente como o motivo de sua morte, e dizia: "Eu estou tirando a minha vida por causa do meu trabalho na France Télécom. É o único motivo". Ele também se referiu a uma "gestão através do terror" e ao estresse constante no trabalho. O suicídio desencadeou uma petição e uma manifestação dos funcionários de Marselha, onde ele trabalhava. A isso seguiu-se uma mobilização a nível nacional.

Uma série de programas televisivos tratou dos suicídios e o governo francês começou a se preocupar. O ministro do trabalho da época, Xavier Darcos, pediu que Didier Lombard, então CEO da France Télécom, organizasse uma entrevista coletiva como uma tentativa de acalmar a situação. Durante a coletiva, Lombard declarou: "Essa moda de suicídio precisa parar". Muitas pessoas ficaram chocadas com a sua insensibilidade.

Por que você acha que os sindicatos tiveram tanta dificuldade em lidar com os suicídios ligados ao trabalho?

O Observatório conseguiu articular o sofrimento das pessoas no espaço de trabalho que não é necessariamente ligado às condições materiais ou físicas, mas a uma sensação de angústia profundamente enraizada. Isso vem de formas de gestão que submetem os indivíduos a pressões psicológicas e destrói o relacionamento deles ou delas com o trabalho e com os demais. Os sindicatos têm dificuldade em abordar este tipo de sofrimento porque ele é invisível e intangível.

É interessante que, na France Télécom, muitas das vítimas tinham um perfil semelhante: a maioria era composta por homens na casa dos 50 anos de idade que trabalhavam na France Télécom há mais de 30 anos e foram pressionados pela chefia a juntarem-se à "linha de frente" da empresa, vendendo produtos e serviços no call center. Lá eles eram submetidos a vigilância intensa, eram punidos se chegavam alguns minutos atrasados e tinham de pedir permissão para irem ao banheiro.

Estes técnicos perderam todo o senso de autoestima, autonomia e profissionalismo. Em vez de procurar beneficiar-se da experiência profissional deles, a empresa tentou apagar isso e reduzi-los a robôs falantes.

Até que ponto estes suicídios são uma maneira nova e extrema de protesto que reflete o colapso da tradicional mobilização coletiva?

Na France Télécom, os sindicatos foram consideravelmente enfraquecidos durante o período da privatização. A gestão procurou destruir as formas existentes de solidariedade entre os trabalhadores, incluindo a participação sindical. A mensagem passada era que cada trabalhador estava sozinho frente a chefia e tinha de carregar a responsabilidade pessoal pelos sucessos ou fracassos econômicos da empresa. A velha cultura de solidariedade e representação coletiva tinha de ser eliminada.

Os suicídios geralmente possuem uma dimensão social que procura alcançar fins estratégicos além da morte de uma pessoa. As cartas deixadas pelos indivíduos podem denunciar as condições de trabalho, apontar o dedo para os chefes ou pedir uma ampla mudança social. Em alguns casos, foi deixado um conjunto detalhado de documentos para permitir que outras pessoas preparem um processo legal contra a empresa. Esses são objetivos geralmente associados a protestos sociais.

O Observatório conseguiu mudar as coisas dentro da France Télécom e também num plano político mais amplo?

Sim, em 2010 os sindicatos e a gerência participaram de uma série de negociações para preparar um novo acordo sobre as condições de trabalho. Foi o próprio governo francês que insistiu que os executivos da France Télécom participassem dessas negociações.

Os novos acordos de trabalho determinam princípios para proteger o indivíduo do estresse excessivo e das pressões no trabalho. Estes princípios eram, na teoria, muito admiráveis, mas na prática o acordo nunca foi implementado e fez muito pouco em termos de mudanças concretas.

No nível nacional, o governo ajudou a formar, em 2013, um novo Observatório Nacional de Suicídios, que monitora os níveis de suicídios por todo o país e providencia recomendações políticas para o governo.

Um dos nossos principais sucessos foi processar legalmente os chefes da France Télécom. No fim de 2009, fizemos uma queixa oficial contra a France Télécom e iniciamos uma ação legal contra a empresa.

Como resultado, Didier Lombard foi colocado sob investigação judicial em relação aos 80 suicídios e tentativas de suicídio na empresa durante seu período como CEO. O vice CEO de Lombard e seu gerente de recursos humanos também estavam no banco de réus. O veredito do caso será anunciado em 2015.

Em março de 2014, o Observatório colocou a France Télécom em "alerta grave" depois de acontecerem dez suicídios na empresa desde o início do ano. Como você explica essa nova onda de suicídios?

É importante destacar, antes de tudo, que nem todos estes suicídios foram ligados às condições de trabalho. Eu também adicionaria que foram feitas algumas melhoras no trabalho.

A gerência não usa mais táticas psicológicas que focam no indivíduo. A empresa registra, agora, cada caso de suicídio e nos comunica, depois de se recusar por muitos anos a reconhecer que os suicídios no trabalho sequer aconteciam.

Ainda assim, a empresa ainda pratica uma política de demissões em massa que causa desespero entre os trabalhadores. Ela está realizando os maiores cortes de pessoal feitos por qualquer empresa francesa nas últimas duas décadas. Os objetivos econômicos ainda são buscados ao custo de vidas humanas.

Sobre o autor

Patrick Ackermann is trade union leader within the leftist Solidaires Unitaires Démocratiques (SUD) and one of the founders of the Observatory of Stress and Forced Mobility.

Sobre a entrevistadora

Sarah Waters is a senior lecturer in French studies at the University of Leeds.

1 de novembro de 2014

De Michael Brown a Assata Shakur, o estado racista da América persiste

Aqueles que resistem são tratados como terroristas - como em Ferguson este ano, e como eu e outros ativistas negros fomos nos anos 60 e 70.

Angela Davis

The Guardian

Manifestantes confrontam policiais após a absolvição de George Zimmerman pelo assassinato de Trayvon Martin. Photograph: Zhao Hanrong/Xinhua Press/Corbis

Tradução / Embora a violência racista do Estado seja um tema constante na história da população de descendência africana da América do Norte, ela se tornou digna de nota durante a administração do primeiro presidente afro-americano, cuja própria eleição foi amplamente interpretada como a proclamação do advento de uma nova era, pós-racial.

A simples persistência dos homicídios de jovens da população negra cometidos pela polícia contradiz a suposição de que constituiriam aberrações isoladas. Trayvon Martin, na Flórida, e Michael Brown, em Ferguson, Missouri, são apenas os casos mais conhecidos de um número incontável de pessoas negras assassinadas pela polícia ou por comitês de vigilância durante a administração Obama. E, por sua vez, representam um fluxo contínuo de violência racista, tanto oficial como extralegal, que vai das patrulhas de pessoas escravizadas e da Ku Klux Klan àspráticas contemporâneas de filtragem racial e aos comitês de vigilância atuais.

Há mais de três décadas, Assata Shakur recebeu asilo político em Cuba, onde desde então vive, estuda e trabalha como integrante produtiva da sociedade. No início dos anos 1970, nos Estados Unidos, Assata foi falsamente acusada em diversas ocasiões e foi vilipendiada pela mídia, que a apresentava por meio de termos sexistas como “a ave-mãe” do Black Liberation Army [Exército de Libertação Negra], que por sua vez era retratado como grupo com insaciável propensão à violência. Incluída na lista de dez pessoasmais procuradas pelo FBI, ela foi acusada de assalto à mão armada, assalto a banco, sequestro, assassinato e tentativa de assassinato contra um policial. Embora tenha enfrentado dez processos judiciais diferentes e já tivesse sido declarada culpada pela mídia, todos exceto um desses julgamentos – o caso resultante de sua captura – terminaram em absolvição, impasse no corpo de jurados ou indeferimento. Sob circunstâncias bastante questionáveis, ela foi por fim condenada como cúmplice no assassinato de um policial da força estadual de Nova Jersey. 

Quatro décadas depois da campanhaoriginal contra ela, o FBI decidiu demonizá-la mais uma vez. No ano passado, no marco de quarenta anos do tiroteio na rodovia New Jersey Turnpike, durante o qual o policial da força estadual Werner Foerster foi assassinado, Assata foi incluída de maneira cerimoniosa na lista de dez terroristas mais procurados pelo FBI. Para muitas pessoas, essa medida do FBI foi bizarra e incompreensível, levando à pergunta óbvia: que interesse teria o FBI em apontar uma mulher negra de 66 anos, que tem vivido discretamente em Cuba pelas últimas três décadas e meia, como uma das terroristas mais perigosas domundo – dividindo espaço na lista com indivíduos cujas supostas ações provocaram ataques militares ao Iraque, ao Afeganistão e à Síria? 

Uma resposta parcial – talvez até determinante – a essa pergunta pode ser revelada quando se amplia o alcance da definição de “terror”, tanto no espaço quanto no tempo. Seguindo a denominação feita pelo governo do apartheid da África do Sul de Nelson Mandela e do Congresso Nacional Africano como “terroristas”, o termo foi abundantemente aplicado a ativistas pela libertação negra nos Estados Unidos no fim dos anos 1960 e no início dos anos 1970. 

A retórica da lei e da ordem do presidente Nixon implicava a classificação de grupos como o Partido Panteras Negras como terroristas, e eu mesma fui identificada dessa forma. Mas foi apenas quando George W. Bush declarou uma guerra global contra o terror, após o 11 de Setembro de 2001, que terroristas passaram a representar o inimigo universal da “democracia” ocidental. Envolver Assata Shakur retroativamente em uma suposta conspiração terrorista contemporânea é também colocar sob o abrigo da “violência terrorista” as pessoas quereceberam o legado de Assata e que se identificam com a luta permanente contra o racismo e o capitalismo. Além disso, o anticomunismo histórico direcionado a Cuba, onde Assata vive, tem sido articulado com o antiterrorismo de forma perigosa. O principal exemplo disso é o caso dos Cinco Cubanos.

Tal uso da guerra contra o terror para designar de modo amplo o projeto de democracia ocidental do século XXI tem servido como justificativa para o racismo contra pessoas muçulmanas; tem legitimado ainda mais a ocupação israelense da Palestina; tem redefinido a repressão a imigrantes; e tem levado indiretamente à militarização dos departamentos locais de polícia no país. Esses departamentos – inclusive em campi de universidades e faculdades – têm adquirido excedentes militares das guerras no Iraque e no Afeganistão por meio do Programa de Excedente de Bens do Departamento de Defesa. Por isso, em resposta ao recente assassinato de Michael Brown pela polícia, manifestantes que contestavam a violência policial racista enfrentaram policiais vestidos em uniformes de camuflagem, empunhando armas militares e dirigindo veículos blindados.

A resposta global ao assassinato de um adolescente negro em uma pequena cidade do Centro-Oeste dos Estados Unidos pela polícia sugere uma crescente conscientização quanto à persistência do racismo estadunidense em um momento em que ele supostamente estaria em declínio. O legado de Assata representa uma ordem para ampliar e aprofundar as lutas contra o racismo. Em sua autobiografia publicada neste ano, ao evocar a tradição de luta radical do povo negro, ela nos pede: “Levem-na adiante./ Transmitam-na às crianças./ Transmitam-na. Levem-na adiante.../ Até a liberdade!”.

Angela Davis é Professora Emérita Distinta, História da Consciência e Estudos Feministas, na Universidade da Califórnia, Santa Cruz. Ela escreveu o prefácio de Signs: An Autobiography

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