1 de fevereiro de 2018

O verdadeiro impasse da nova república

O futuro da democracia brasileira não está com Lula, mas com os oprimidos do Brasil.

Plínio de Arruda Sampaio Jr.

Jacobin

Polícia durante uma greve geral em São Paulo, Brasil, em 28 de abril de 2017. Mídia NINJA / Flickr

A condenação de Lula foi mais um ato da crise terminal da democracia brasileira. No entanto, a narrativa de que Lula é vítima de uma conspiração entre o imperialismo norte-americano e setores do Judiciário e que uma "eleição sem Lula é um golpe" não ajuda a entender a grave crise institucional que sacode a vida nacional. Mesmo reconhecendo que a justiça brasileira opera de acordo com a norma "Para amigos, tudo; para os inimigos, a Lei", como no resto do aparato estatal, a participação de Lula na eleição de 2018 não teria o poder de resgatar a legitimidade de um sistema político podre. O jubileu da corrupção não pode moralizar um processo eleitoral estruturalmente falho.

A corrupção generalizada que afeta todos os partidos de ordem é apenas um aspecto da grave crise que abala a Nova República do Brasil. As Jornadas de Junho de 2013 foram uma outra expressão dessa crise, revelada pela vontade dos jovens que saíram às ruas contra a agenda de ajuste do grande capital, que já havia começado durante os governos do PT. Para os oprimidos, a crise da Nova República se manifesta na impermeabilidade do Estado às demandas populares. Para os de cima, a crise é revelada pela necessidade de purgar as escassas conquistas democráticas do povo brasileiro e redefinir a hierarquia de comando entre os capitalistas.

A resposta da burguesia a essa crise assumiu a forma de uma cruzada moralista contra a corrupção. As investigações judiciais provaram o que todos sabiam: a corrupção é um elemento estrutural do capitalismo brasileiro e os políticos funcionam como agentes de interesses privados no aparato estatal.

Os chamados “paladinos da moralização” nunca chegam à raiz do problema, uma vez que a cruzada moralista serve apenas para preparar o caminho para uma “modernização” a serviço do capital. É por isso que a corrupção é reduzida a uma questão moral de um fórum individual e se limita a casos específicos, com investigações seletivas, e isenta seu maior culpado: o grande capital.

No entanto, mesmo que essa cruzada esteja historicamente condenada, é provável que sua agonia seja lenta, arrastando-se indefinidamente. Há uma coalizão que une o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) de centro-direita e o próprio Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) de Michel Temer em torno do interesse comum de anistiar a corrupção e evitar a instabilidade política que pode comprometer a continuidade do ajuste neoliberal e intensificar a luta de classes.

A condenação de Lula não contribuirá para a moralização da política, assim como a presença de Lula na eleição de 2018 nada faz para impedir a crise terminal da Nova República. Estamos no pântano. Associar a defesa da democracia à defesa de Lula é um sofisma que só beneficia o próprio Lula. Lula faz parte do problema. O futuro da democracia depende de tumultos maciços dos trabalhadores em toda a nação.

A sociedade brasileira, ao passar por um processo de reversão neocolonial, polariza-se entre projetos inconciliáveis: a reciclagem da contrarrevolução cristalizada em 1964, que hoje tem a face de uma regressão à civilização do século XIX; e a revolução dos pobres e oprimidos latente nas placas tectônicas que mobilizam a história do Brasil. Colocado em perspectiva da longue durée, a escolha real é entre socialismo ou barbárie.

Colaborador

Plínio de Arruda Sampaio Jr é professor de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Brasil, e pré-candidato presidencial pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).

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