1 de julho de 2019

Imperialismo tardio

Cinquenta anos depois de A era do imperialismo de Harry Magdoff

John Bellamy Foster


Monthly Review Press

Tradução / O trabalho mais influente sobre o imperialismo continua a ser o estudo clássico de V. I. Lenine de há um século atrás, Imperialismo: o estádio mais recente do capitalismo (mais conhecido pelo título dado após sua primeira publicação, Imperialismo: o estádio supremo do capitalismo) (1). Lenine emprega o termo imperialismo moderno ou simplesmente imperialismo para se referir à era do capital concentrado, durante a qual o mundo inteiro estava sendo desmembrado pelos principais Estados e suas corporações, distinguindo o estádio imperialista do colonialismo/imperialismo dos estádios capitalistas precedentes, mercantilista e de livre concorrência. “A política colonial e o imperialismo”, insistiu Lenine, “existiam antes deste último estádio [imperialista] do capitalismo, e mesmo antes do capitalismo” (2).

O novo estádio imperialista, começando no último quartel do século XIX e estendendo-se até o século XX, era visto como um produto do crescimento de firmas capitalistas gigantescas com poder de monopólio, da estreita conexão forjada entre essas corporações e os Estados-nação em que surgiram e a resultante luta pelo controle das populações e recursos do mundo - levando à competição intercapitalista e à guerra. “Se fosse necessário dar a mais breve definição possível de imperialismo [como uma “etapa especial”]”, escreveu Lenine, “teríamos de dizer que o imperialismo é o estádio de monopólio do capitalismo” (3).

A análise geral do imperialismo feita por Lenine pertencia a um grupo de teorias complementares, na tradição marxiana, que incluía obras como Capital finaneiro de Rudolf Hilferding (1910), A acumulação do capital de Rosa Luxemburgo (1913) e Imperialismo e a economia mundial de Nikolai Bukharine (1915) (4). Ainda assim, a análise de Lenine foi incomparável na sua capacidade para capturar as condições dominantes do mundo até à Segunda Guerra Mundial, incluindo a explicação das próprias guerras mundiais. Um ponto forte na sua análise foi o seu caráter concreto e histórico, divorciado de fórmulas teóricas rígidas. Abrangia fenómenos tão variados como o crescimento do monopólio e do capital financeiro, a “divisão do mundo entre os trusts internacionais”, a exportação de capital, a corrida pela energia e matérias-primas, a luta de classes, a rivalidade geopolítica na luta pelo território económico e pelas esferas de influência, o surgimento de uma aristocracia operária no núcleo capitalista central e a disputa pela hegemonia global e regional (5).

Enquanto enfatiza a competição intercapitalista, Lenine também aponta para a hierarquia dos Estados-nação, que serviu para dividir as potências centrais das nações mais pobres da periferia, que caíram dentro de suas órbitas imperiais. A sua análise foi além do colonialismo para discutir o neocolonialismo em relação à América Latina. Na década de 1920, atento às lutas revolucionárias ocorridas no México, Turquia, Pérsia, China e Índia, Lenine foi pioneiro ao estender a sua análise à consideração de todas as “colónias e países oprimidos pelo imperialismo” e a todos os “países dependentes”, dando aso à revolução na periferia contra o "imperialismo internacional" (6).

No entanto, a história, na conceção marxista, é uma dialética de continuidade e mudança. Na década de 1960, a análise de Lenine, apesar da sua abrangência, precisava de atualização. Na era após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos da América emergiram com uma hegemonia quase absoluta sobre a economia capitalista mundial. Ao mesmo tempo, o mundo assistiu à maior onda revolucionária da história, associada à rotura com o colonialismo, à ascensão do neocolonialismo e ao surgimento de uma esfera rival de sociedade pós-revolucionárias, incluindo estados com aspirações socialistas (7). Nesta atmosfera alterada, correspondente à Guerra Fria, os Estados Unidos da América e seus aliados apresentaram uma nova ideologia de crescimento económico, desenvolvimento, ajuda e modernização, dentro da estrutura ideológica capitalista. Um exército de intelectuais liberais e socialdemocratas, incluindo figuras como Mark Blaug, Benjamin J. Cohen, Robert W. Tucker e Barrington Moore Jr., foi recrutado nos anos 1960 e 1970 para negar a existência do imperialismo económico, se não do imperialismo em geral, alvejando nas suas análises várias figuras da esquerda, em particular nos Estados Unidos da América, incluindo Paul Baran, Paul Sweezy, William Appleman Williams e Harry Magdoff (8).

Mesmo no centro do intenso debate sobre o imperialismo dos E.U.A., nos anos 1960 e 1970, no contexto da Guerra do Vietname, esteve a obra de Magdoff The Age of Imperialism: The Economics of U.S. Foreign Policy (A Era do Imperialismo: A economia da política externa dos E.U.A.) (1969), escrita pouco mais de cinquenta anos depois do grande trabalho de Lenine. Em conjunto com a coleção de ensaios históricos e teóricos de Magdoff do final dos anos 1960 e 1970 - Imperialism: From the Colonial Age to the Present (Imperialismo: da era colonial ao presente) (1978) - A Era do Imperialismo apresenta-se como a análise económica, histórica e teórica mais integrada do imperialismo dos E.U.A., no seu auge, na chamada idade de ouro do capitalismo monopolista (9).

Magdoff, mais do que qualquer outro autor da época, modelou a dialética da continuidade e da mudança na análise marxista do imperialismo, ligando sua obra à análise anterior de Lenine. Como outros grandes teóricos marxistas do imperialismo de meados do século XX até hoje, como Baran, Sweezy e Samir Amin, ele continuou a enfatizar a concentração e centralização do capital, juntamente com a ascensão de empresas monopolistas, como a chave para compreender o imperialismo no final do século XX e alvores do século XXI. Além disso, Magdoff trabalhou a partir da complexidade e da natureza multifacetada da abordagem original de Lenine, tentando replicar isso para uma era posterior.

Magdoff havia concebido as estatísticas de medida da produtividade (ainda hoje usadas pelo Departamento do Trabalho dos E.U.A.) para o Projeto Nacional de Pesquisa sobre Oportunidades de Reemprego e Desenvolvimento Tecnológico, durante o New Deal da Administração Roosevelt, na década de 1930. Ele foi uma figura fundamental na organização da indústria de guerra dos E.U.A. na Segunda Guerra Mundial, como chefe da Divisão de Requisições da Comissão Nacional de Assessoria em Defesa Nacional e pelo seu papel no Conselho de Produção de Guerra, onde foi encarregado de planear e controlar as indústrias de maquinaria. Posteriormente, chefiou a Divisão de Análise de Negócios Correntes do Departamento de Comércio, onde supervisionou o Mapa de Negócios Correntes do governo dos E.U.A., tendo atuado como consultor económico do Secretário de Comércio dos E.U.A. (e ex-vice-presidente dos E.U.A.), Henry Wallace. Esta extraordinária experiência na construção e análise das estatísticas económicas dos E.U.A. e no planeamento de guerra, significou que Magdoff estava bem equipado para fornecer demonstrações empíricas definitivas do imperialismo económico por parte das empresas norte-americanas e do Estado norte-americano, juntamente com sua relação com as dimensões mais amplas do imperialismo mundial (10).

No tratamento de Magdoff, o imperialismo não podia ser visto no mesmo alto nível de abstração às vezes usado para a análise da lógica do capital. Em vez disso, uma abordagem razoável do imperialismo exigia atenção para com o funcionamento interno do capitalismo global, informado por abstração teórica, mas finalmente confirmado e tornado significativo a um nível concreto, histórico (11). Isso se adequava ao método do próprio Karl Marx, que desenvolveu a sua crítica da Economia Política por meio de sucessivas aproximações que vão do abstrato para o concreto. Assim, Marx começou sua crítica em O Capital (originalmente previsto como volume 1 numa obra em seis volumes), representando o nível mais abstrato de análise, pretendendo completá-lo com um volume 5 sobre Comércio Internacional e um volume 6 sobre A Economia Mundial e as Crises - isto é, em termos da análise concreta do que hoje seria chamado de sistema mundial imperialista. No entanto, ele nunca foi além do volume 1 do plano original, que se transformou nos três volumes de O Capital (12).

O imperialismo, argumentava Magdoff, era inerentemente complexo e mutante em suas configurações, refletindo as forças centrípetas e centrífugas que governavam o sistema. No que se refere ao imperialismo norte-americano, ele deveria ser interpretado de tal forma que fosse revelada a “unidade essencial” entre os objetivos/tendências económicos, políticos e estratégico-militares. O papel das empresas multinacionais no exterior não pode ser separado do papel das bases militares norte-americanas espalhadas pelo planeta ou da necessidade de controlar o petróleo e outros recursos estratégicos. Magdoff estava no seu melhor ao refutar aqueles que tentaram alegar: (1) que o investimento direto no estrangeiro e o comércio eram de pouca importância económica para os Estados Unidos (ele demonstrou que o investimento direto no estrangeiro havia subido de cerca de 10% dos lucros empresariais não financeiros nos E.U.A. em 1950, para cerca de 22% em 1964); (2) que a economia dos E.U.A. não dependia de petróleo ou outras matérias-primas localizadas no exterior e não tinha interesses geopolíticos inerentes; e (3) que os lucros dos E.U.A. foram apenas marginalmente acrescentados pelo excedente extraído da periferia do sistema mundial (13). O facto de que os outros grandes países capitalistas aderiram à hegemonia dos E.U.A. não significa que a competição intercapitalista tivesse desaparecido completamente ou não ressurgisse o futuro. Respondendo àqueles que questionaram se “o imperialismo era realmente necessário” aos Estados Unidos, Magdoff explicou que “o imperialismo é o modo de vida do capitalismo” (14).

Para Magdoff, escrevendo no final dos anos 1960 e início dos anos 1970, as principais mudanças na estrutura do imperialismo desde o tempo de Lenine - além da descolonização e da ascensão da hegemonia dos E.U.A. - estavam relacionadas com o desenvolvimento do capital monopolista: (1) o surgimento do complexo militar-industrial; (2) o surgimento de empresas multinacionais (incluindo bancos multinacionais) e sua crescente penetração na periferia; e (3) "a prioridade dos interesses da indústria multinacional militar nos assuntos do Estado". Essa descrição, observou ele, aplicava-se antes de tudo aos próprios Estados Unidos, mas refletia relações que também se materializavam entre potências imperiais rivais. Em essência, ele estava apontando para uma tendência dentro do sistema em direção à formação de um capitalismo monopolista mais generalizado, começando nos Estados Unidos da América, mas dominando um pouco por todo o globo. Um elemento-chave em A Era do Imperialismo de Magdoff foi seu capítulo sobre o crescimento da "Rede Financeira", investigando todo o fenómeno dos bancos e finanças multinacionais em geral - um tratamento que ele haveria de levar mais adiante, no início dos anos 1990, em Globalization: To What End? (Globalização: para que fim?), que incluiu a sua análise sobre "A Globalização das Finanças" (15).

Será aqui defendido que a globalização da produção (e das finanças) - que surgiu juntamente com o neoliberalismo a partir da estagnação económica de meados da década de 1970 e depois acelerou com o desaparecimento das sociedades do tipo soviético e a reintegração da China no sistema capitalista mundial - gerou um capitalismo monopolista mais generalizado, teorizado por pensadores como Magdoff, Baran, Sweezy e Amin. Isso introduziu o que pode ser chamado de imperialismo tardio.

O imperialismo tardio refere-se ao período atual de capital monopolista-financeiro e de estagnação, onde se observa um declínio da hegemonia dos E.U.A. e crescentes conflitos mundiais, acompanhados por ameaças crescentes às bases ecológicas da civilização e da própria vida. Estão no seu centro as relações hierárquicas extremas que governam a economia capitalista mundial no século XXI, cada vez mais dominada por empresas megamultinacionais e um punhado de estados no centro do sistema mundial. Assim como agora é comum referirmo-nos a capitalismo tardio em reconhecimento do fim dos tempos ocasionado por simultâneos deslocamentos económicos e ecológicos, também é necessário falar hoje de imperialismo tardio, refletindo as dimensões e as contradições globais desse sistema, que atravessam todas as outras divisões, colocando uma “falha global” no desenvolvimento histórico humano: uma crise epocal que levanta a questão de “ruína ou revolução” (16).

A persistente falha de muitos, na esquerda, particularmente nos países capitalistas avançados, em reconhecer estes desenvolvimentos é em grande parte o resultado de um crescente abandono da teoria do imperialismo, substituída por conceções mais reificadas relacionadas à globalização, vistas como dissolventes das antigas hierarquias imperiais. Isto é tanto mais o caso quanto uma série de quadros alternativos são agora oferecidos, sugerindo: (1) o papel progressista e auto-aniquilador do imperialismo; (2) a mudança das hegemonias dentro do sistema mundial, concebido como substituto da teoria do imperialismo; (3) um Império “desterritorializado” (sem Estado, sem fronteiras); (4) um imperialismo político abstrato liderado pelos Estados Unidos ou o governo de organizações supranacionais, sem relação com as forças económicas; (5) o surgimento do transnacionalismo como uma entidade em si, em grande parte independente dos estados e da geografia; e (6) a suposta reversão do domínio imperialista. Portanto, antes de examinar o fenómeno histórico do imperialismo tardio, é necessário ver alguns desses equívocos predominantes na esquerda dos próprios países imperiais, resultantes de uma recusa em aceitar as complexas e multifacetadas realidades estruturais do imperialismo tardio no século XXI.

A esquerda ocidental e a negação do imperialismo

A questão do abandono da crítica do imperialismo em grande parte da esquerda ocidental foi dramaticamente levantada por Prabhat Patnaik, no seu artigo na Monthly Review de novembro de 1990, intitulado “Whatever Happened to Imperialism?” (O que raio aconteceu com o imperialismo?) Escrevendo duas décadas após The Age of Imperialism de Magdoff e um pouco mais do que uma década depois de Imperialism: From the Colonial Age to the Present, Patnaik, economista da Universidade Jawaharlal Nehru, em Nova Delhi, observou:

“Um forasteiro não pode deixar de notar uma notável transformação que ocorreu no discurso marxista nos Estados Unidos, na última década: quase ninguém fala mais sobre o imperialismo. Em 1974, saí de Cambridge, na Inglaterra, onde lecionava economia, e agora voltei para o Ocidente, desta vez para os Estados Unidos, depois de 15 anos. Quando parti, o imperialismo ocupava talvez o lugar mais proeminente em qualquer discussão marxista, e em nenhum lugar foi escrito e discutido mais sobre esse assunto do que nos Estados Unidos da América - tanto assim que muitos marxistas europeus acusaram o marxismo norte-americano de estar contaminado por “terceiro-mundismo”... Os marxistas em todos os lugares olhavam para os Estados Unidos em busca de literatura sobre o imperialismo... 
Isso não é mais o caso hoje, obviamente. Marxistas mais jovens [nos Estados Unidos] parecem confusos quando o termo é mencionado. Questões candentes do dia… são discutidas, mas sem qualquer referência ao imperialismo. Indignação radical pela invasão do Panamá ou a intervenção militar em Nicarágua e El Salvador não fazem parte de proposições teóricas sobre o imperialismo. E o tema praticamente desapareceu das páginas de revistas marxistas, especialmente as de uma safra posterior. 
Curiosamente, isso não sucede porque alguém tenha teorizado contra o conceito. O silêncio sobre o imperialismo não é o resultado de algum debate intenso em que as escalas se inclinaram decisivamente em favor de um dos lados; não é um silêncio teoricamente autoconsciente. Também não se pode afirmar que o mundo mudou tanto, na última década e meia, que falar do imperialismo se tornou um anacronismo óbvio” (17).

Na época, Patnaik atribuiu a mudança nas perspetivas da esquerda nos Estados Unidos à ausência de uma grande guerra, como a Guerra do Vietname, no período 1975-90. Mas de igual importância na década de 1980 e início dos anos 1990, governando o estado de espírito nos círculos radicais, foi a situação económica em evolução, com a economia dos E.U.A., juntamente com a dos outros países capitalistas avançados, experimentando uma estagnação económica mais profunda, em contraste com o crescimento mais rápido de algumas partes da Ásia. Nessa base instável, a tese da dependência, do “desenvolvimento do subdesenvolvimento”, tornada famosa especialmente por André Gunder Frank, escrevendo na Monthly Review, foi designada como errónea, mesmo por muitos à esquerda - apesar do facto de que a distância em termos de rendimento nacional entre os principais países imperiais e o mundo em desenvolvimento, como um todo, ter continuado a aumentar, com a parcela da renda mundial recebida pelos 20% mais ricos do mundo (divididos em Estados-nação) a subir de 66% em 1965 para 83% em 1990 (18).

O teórico marxista Bill Warren argumentou, já em 1973, em “Imperialism and Capitalist Industrialization” (Imperialismo e industrialização capitalista), artigo publicado na New Left Review, que a dependência nos países pobres estava em "declínio irreversível" devido a "um grande salto" no desenvolvimento capitalista no terceiro mundo. De acordo com Warren, Marx, em artigos como “The British Rule in India” (O domínio britânico na Índia), viu o colonialismo/imperialismo como desempenhando um papel construtivo nos países subdesenvolvidos. Mais tarde, isso foi “invertido” por Lenine, no seu Imperialismo, o que representou uma “reviravolta” na teoria marxista, dando origem à teoria da dependência. Os problemas de desenvolvimento enfrentados pelos países mais pobres, argumentou Warren, não eram principalmente externos, como descrito pelos dependistas, mas podiam ser atribuídos a “contradições internas”. Essa perspetiva, embora não generalizada nos anos 1970, quando Warren a introduziu pela primeira vez, veio a ganhar influência considerável dentro da esquerda ocidental, em 1980, quando foi publicado o seu livro póstumo Imperialism: Pioneer of Capitalism (Imperialismo: pioneiro do capitalismo) (19).

Um distanciamento bastante diferente das teorias clássicas do imperialismo apareceu no posfácio da edição de 1983 de The Geometry of Imperialism (A geometria do imperialismo), de Giovanni Arrighi. Um dos principais teóricos dos sistemas-mundo, de inspiração marxista, Arrighi acabou por abandonar a teoria do imperialismo, que ele já não considerava relevante, substituindo-a por uma conceção mais limitada de lutas pela hegemonia mundial. O modelo do sistema-mundo capitalista com suas hegemonias cambiantes foi visto por Arrighi como um adequado substituto para a noção mais complexa de imperialismo. O declínio do Estado-nação na esteira da globalização fez com que as antigas teorias do imperialismo se tornassem "obsoletas", e a teoria do capitalismo monopolista também era vista como datada. O que restou foi um sistema-mundo e os empurrões na luta pela hegemonia (20).

No entanto, as mais amplas rejeições de esquerda da crítica marxista do imperialismo aguardaram pela chegada do presente século. No ano 2000, Michael Hardt e Antonio Negri publicaram Empire (Império), argumentando que o imperialismo era agora uma coisa do passado - com a Guerra do Vietname representando “o momento final da tendência imperialista” – tendo acabado por ser substituído por uma nova ordem constitucional global desterritorializada e mercado mundial, modelados a partir das relações político-económicas dos E.U.A., numa versão de esquerda do "fim da história" de Francis Fukuyama. O imperialismo hierárquico de antigamente, argumentam Hardt e Negri, foi sucedido pelo "espaço suave do mercado mundial capitalista" - uma visão que antecipou por cinco anos a afirmação do especialista neoliberal em globalização Thomas L. Friedman de que “o mundo é plano”. Portanto, “não era mais possível”, escreveram eles, “demarcar grandes áreas geográficas como centro e periferia, norte e sul”. Esta transcendência do imperialismo em favor da soberania do Império, sem fronteiras, sem pátria, baseado num mercado mundial que consiste em meras relações em rede sem centro nem periferia, era vista como emergindo da lógica interna do próprio capitalismo. "O imperialismo", afirmaram Hardt e Negri, "na verdade cria uma camisa de forças para o capital", cuja lógica interna, em última análise, requer um "espaço suave" ou um mundo plano, no qual possa operar (21).

Tais ideias dificilmente podem ser consideradas novas, exceto dentro dos círculos marxianos. O que foi inovador foi o uso de uma terminologia marxiana e pós-moderna para impulsionar pontos de vista promovidos dentro do aparelho da política externa dos Estados Unidos da América, o que resultou em o trabalho de Hardt e Negri ser altamente elogiado pelo New York Times, revista Time, Foreign Affairs e outras publicações da corrente dominante. Foi isso que levou Ellen Meiksins Wood a se referir ao Império de Hardt e Negri como, na verdade, "um manifesto em nome do capital global" (22).

A rejeição, por Hardt e Negri, de qualquer continuidade com as teorias marxistas clássicas do imperialismo, abriu o caminho para várias abordagens à esquerda, às vezes perspicazes, mas unidimensionais, convergindo com a ideologia dominante. Em The Making of Global Capitalism (A construção do capitalismo global), em 2013, Leo Panitch e Sam Gindin enfatizaram a capacidade do Estado norte-americano, principalmente através de ações do Departamento do Tesouro e do Federal Reserve Board, de criar um “mundo à sua própria imagem”, subordinando o capital europeu a sua influência. O argumento, inspirado em parte pela crítica de Peter Gowan ao "Regime Dólar-Wall Street", embora informativo, era quase exclusivamente político, subestimando sistematicamente a dimensão económica do imperialismo, incluindo o capital financeiro, as empresas multinacionais, a contínua rivalidade internacional e as condições em deterioração do mundo subdesenvolvido. Panitch e Gindin, deste modo, forneceram uma análise do império norte-americano muito mais compaginada com as visões dominantes, em oposição às conceções clássicas do imperialismo, com as suas numerosas dimensões críticas. Em The Making of Global Capitalism, a estrutura conhecida, composta por países imperialistas no centro e países dependentes da periferia, deu lugar a “redes de produção transnacional, bem como de finanças”, girando em torno do “lugar central do capitalismo norte-americano no capitalismo global”. O que assim foi transmitido foi a imagem de uma ordem hegemónica mundial estável dos E.U.A., enraizada num consenso de Washington-Wall Street, aparentemente destinada a continuar indefinidamente - uma imagem espelhada da visão predominante nos círculos de política externa dos E.U.A., mas agora emanando da esquerda. Nessa interpretação, o capitalismo global surgido do “Império Americano” e administrado pelo Estado norte-americano incorporou inteiramente a análise mais complexa e multifacetada e, ao mesmo tempo, mais concreta, do imperialismo, oferecida por pensadores como Lenine, Luxemburgo, Magdoff e Amin (23).

Se Panitch e Gindin enfatizaram a ascensão do império político, largamente dispensando o que John Hobson chamou de “raiz económica do imperialismo”, o teórico da transnacionalização William I. Robinson foi na direção oposta, argumentando que o capital na era da globalização engoliu completamente. Estados-nação, criando uma nova ordem transnacional dominada por empresas multinacionais flutuantes, dando origem a uma "classe capitalista transnacional" e ao "Estado transnacional". Em A Theory of Global Capitalism (Uma teoria do capitalismo global), de 2004, Robinson declarou que "a globalização envolve uma superação do Estado-nação como princípio organizador da vida social sob o capitalismo” (24).

Em 2018, em “Beyond the Theory of Imperialism” (um capítulo no seu livro Into the Tempest), Robinson rompeu com as teorias clássicas do imperialismo: “As relações de classe do capitalismo global estão agora tão profundamente internalizadas em cada Estado-nação que a imagem clássica do imperialismo como uma relação de dominação externa está ultrapassada” e deve ser abandonada, juntamente com noções como centro, periferia e extração de excedente. “O fim do alargamento extensivo do capitalismo é o fim da era imperialista do capitalismo mundial... Não é o imperialismo, no antigo sentido, quer de capitais nacionais rivais”, quer da dominação “por Estados centrais de regiões pré-capitalistas” que é necessário, mas “uma teoria da expansão capitalista” como um processo especificamente transnacional e supranacional caracterizado pela mudança na sua “dinâmica espacial” (25).

Enquanto isso, o geógrafo marxista David Harvey saltou para além de todas essas perspetivas, alegando, em 2017, que os fluxos de capital mudaram tanto de direção que “a drenagem histórica de riqueza do Oriente para o Ocidente, subsistente por mais de dois séculos… foi em grande parte revertida nos últimos trinta anos” (ênfase adicionada). Ele admitiu: "Eu não acho a categoria do imperialismo assim tão convincente". O imperialismo era um conceito que não se encontrava em Marx, mas que era principalmente atribuível a Lenine. A própria noção de “periferias” globais era considerada como pouco clara, quanto às suas fronteiras, enquanto a noção de Arrighi de “hegemonias cambiantes” poderia ser vista como desalojando vantajosamente teorias marxistas anteriores do imperialismo (26).

No seu livro New Imperialism (Novo Imperialismo), de 2003 - um trabalho que ele agora diz não ter tido como objetivo promover o conceito de imperialismo, mas sim combater as tentativas neoconservadoras de adotar o termo - Harvey elogiou a representação feita por Hardt e Negri de “uma configuração descentralizada do império que tinha muitas qualidades novas e pós-modernas”. O seu livro acabou defendendo um novo “Imperialismo do New Deal”, visto como um imperialismo mais progressista, sob um Consenso de Washington mais esclarecido, substituindo a atual ordem global neoliberal/neoconservadora. Para Harvey, a esquerda deveria ser castigada pela sua "recepção fria" à noção de Warren sobre o caráter progressista do imperialismo (27).

Se a posição de Harvey sobre o imperialismo ao longo dos anos tem sido algo incoerente, a sua atual rejeição da noção de sistema mundial imperialista em nome de uma visão supostamente mais dinâmica, focada em configurações espaciais em constante mudança, que “reverteram” as relações tradicionais centro-periferia, não poderia ser mais clara em suas implicações. Referindo-se às tendências contemporâneas da globalização, ele explica que “não faria sequer sentido tentar colocar tudo isto em algum conceito universal do imperialismo”. Toda a análise marxista do imperialismo tornou-se uma “camisa de forças” teórica (28). Em conformidade com Arrighi, ele descarta a “geografia rígida do núcleo e da periferia... em favor de uma análise mais aberta e fluida” (29). Nesse processo, entretanto, torna-se necessário romper com toda a crítica histórico-materialista do imperialismo. Na sua obra de 2014 The Seventeen Contradictions of Capitalism (As dezassete contradições do capitalismo), o imperialismo nem sequer garante a sua inclusão entre a sua lista de dois dígitos de contradições do capitalismo. O seu capítulo sobre “Desenvolvimentos geográficos desiguais e a produção do espaço” não menciona sequer uma vez o imperialismo, nem centro e periferia. A única referência direta ao Imperialismo de Lenine visa minimizar o papel estrutural do capital monopolista, que Lenine associara ao imperialismo (30).

Imperialismo tardio

Não há dúvida de que o capitalismo mundial mudou no século decorrido desde a Primeira Guerra Mundial, quando Lenine desenvolveu a sua crítica ao estádio imperialista. No entanto, isso tem que ser visto no contexto de uma dialética histórica que abrange continuidade assim como mudança. O imperialismo é tanto uma categoria histórica quanto uma categoria teórica. Se há meio século atrás, ainda era possível referirmo-nos, como o fez Magdoff, à “era do imperialismo”, chegando ele ao ponto de ver esse tempo como a “idade de ouro do imperialismo”, hoje estamos claramente numa era de imperialismo tardio, associada com: capital monopolista-financeiro generalizado; a globalização da produção; novas formas de extração de excedente da periferia para o centro; e desafios económicos, militares e ambientais definidores de época. As crises que enfrentam o sistema e a sociedade humana como um todo são agora tão severas que estão criando novas fissuras no Estado, tanto nas economias capitalistas avançadas quanto nas emergentes, com um rápido crescimento de tendências protofascistas e neofascistas, por um lado, e o reavivamento do socialismo, por outro.

Reconhecer a continuidade com as fases iniciais do imperialismo é tão crucial para a nossa compreensão do presente quanto a nossa consciência das características distintivas da fase atual. Cada fase histórica do imperialismo depende de diferentes meios de exploração e expropriação para alimentar a acumulação à escala mundial. Os países imperialistas, no centro do sistema, tentam invariavelmente reestruturar o trabalho na periferia capitalista (ou nas áreas externas pré-capitalistas) para reforçar o poder e a acumulação no centro do sistema. Ao mesmo tempo, as nações do núcleo central estão frequentemente em competição umas com as outras por esferas globais de influência. O início da era colonial no estádio mercantilista do capitalismo, durante os séculos XVI e XVII, centrou-se não na livre troca, mas no “lucro na expropriação”, juntamente com a “extirpação, escravização e sepultamento nas minas da população indígena” das Américas e de grande parte da África e da Ásia (31).

Na era colonial de meados a finais do século XIX, no estádio de livre competição sob a hegemonia britânica, o livre comércio operava no centro da economia mundial, mas isso ia de mãos dadas com o colonialismo em grande parte do mundo, onde a troca desigual, o roubo e a pilhagem predominaram. Em 1875, Robert Arthur Talbot Gascoyne-Cecil, o terceiro marquês de Salisbury, então secretário de Estado da Índia Britânica, declarou: “Como a Índia deve ser sangrada, o sangramento deve ser feito judiciosamente” (32). Sangrada foi, sem dúvida, mas não “judiciosamente”. Como Utsa Patnaik demonstrou em detalhe, o valor atualizado do “escoadouro” de excedente da Índia para a Grã-Bretanha, de 1765 a 1938, avaliado de forma “altamente subestimada”, montará a uns 9,2 milhões de milhões (“trillion”) de libras, o que deve ser comparado com um produto interno bruto (PIB) de 2,1 milhões de milhões de libras para o Reino Unido em 2018 (33).

O capitalismo colonial do século XIX evoluiu, no final do século, para o que Lenine denominou como estádio imperialista, caracterizado pela ascensão do capital monopolista em todas as grandes potências, o declínio da hegemonia britânica e a crescente tensão sobre a divisão do mundo inteiro entre as principais potências capitalistas. Essas condições levaram a duas guerras mundiais entre os pretendentes rivais à hegemonia sobre o território económico. Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos da América emergiram com a hegemonia mundial dentro do mundo capitalista, num contexto que também incluiu uma Guerra Fria com o mundo rival de orientação socialista. Embora promovendo uma ideologia de livre comércio e desenvolvimento, a hegemonia dos E.U.A. implementou um sistema de neocolonialismo imposto por empresas multinacionais, a dominação do US$dólar e uma cadeia de bases militares de abrangência mundial – a partir das quais numerosas intervenções militares e guerras regionais haveriam de ser lançadas. Isso foi acompanhado pelo desvio de uma grande parte do excedente económico do Sul global.

Com a ascensão do capital financeiro monopolista, o mundo entrou numa nova fase do imperialismo, o imperialismo tardio, em lugar de uma superação das relações imperiais. O imperialismo tardio, como vimos, representa uma época na qual as contradições globais do sistema se revelam de formas cada vez mais agudas e nas quais todo o planeta como um lugar de habitação humana está agora em risco - com os efeitos catastróficos caindo desproporcionalmente sobre os mais vulneráveis membros da população mundial. Tudo isso está fadado a gerar um enorme conflito geopolítico, à medida que o fracasso do capitalismo como sociedade se torna evidente.

Nada disso foi uma surpresa completa para os analistas mais astutos da globalização. Em 1992, Magdoff escreveu que,

“contrariamente às expectativas generalizadas, fontes de tensão entre as principais potências capitalistas aumentaram lado a lado com sua crescente interdependência. Nem a expansão geográfica do capital reduziu as contradições entre países ricos e pobres. Embora um punhado de países do terceiro mundo, beneficiando do processo de globalização, tenha feito progressos assinaláveis na industrialização e no comércio, o fosso global entre as nações centrais e periféricas continuou a aumentar… O processo de globalização produziu muito que é novo na economia e política do mundo, mas não mudou as formas básicas de funcionamento do capitalismo. Nem ajudou as causas da paz ou da prosperidade” (34).

De fato, há algo de profundamente irónico na crescente rejeição da crítica teórica do imperialismo no presente contexto global. Como o marxista argentino Atilio Borón observou em 2002, em “Imperio” & imperialismo, o imperialismo hoje reflete essas “características fundamentais”, com respeito à concentração e centralização do capital em escala global, retratadas pelos teóricos marxistas clássicos do imperialismo, mas em formas mais desenvolvidas:

“Esta nova etapa [do imperialismo no sentido leninista] é caracterizada, agora ainda mais do que no passado, pela concentração do capital, a preponderante predominância de monopólios, o papel cada vez mais importante desempenhado pelo capital financeiro, a exportação de capital e a divisão do mundo em “esferas de influência”. A aceleração da globalização que ocorreu no último quartel do século passado, em vez de enfraquecer ou dissolver as estruturas imperialistas da economia mundial, ampliou as assimetrias estruturais que definem a inserção dos diferentes países nela. Enquanto que um punhado de nações capitalistas desenvolvidas aumentou a sua capacidade de controlar, pelo menos parcialmente, os processos produtivos ao nível global, a financeirização da economia internacional e a crescente circulação de bens e serviços, a grande maioria dos países testemunhou o crescimento da sua dependência externa e o alargamento do fosso que os separava já do centro. A globalização, enfim, consolidou a dominação imperialista e aprofundou a submissão dos capitalismos periféricos, que se tornaram cada vez mais incapazes de controlar os seus processos económicos internos, mesmo que marginalmente” (35).

A nova fase do imperialismo que surgiu no final do século XX e início do século XXI foi descrita por Amin e vários autores associados à Monthly Review como um sistema de capital monopolista-financeiro global ou um capitalismo de “monopólios generalizados” (36). Nesse sistema imperialista mais integrado, quinhentas corporações respondem por quase 40% da receita mundial, enquanto a maioria das outras empresas na economia mundial está enredada nas teias dessas empresas gigantescas, existindo como suas simples subcontratantes (37). Produção e circulação são agora organizadas na forma de cadeias mercantis globais, servindo para destacar os diferentes papéis de centro e periferia dentro dessas mesmas cadeias. Isso está de acordo com a perequação laboral global (“global labor arbitrage”), que serve para promover a intensificada exploração/expropriação da mão-de-obra no Sul global, levando à captura de grande parte desse valor extra pelo Norte. O aumento do controlo imperialista sobre as finanças e as comunicações globais são partes inerentes deste processo, sem as quais a globalização da produção não seria possível (38).

As passadas décadas de 1970 e 1980 viram o crescimento da globalização neoliberal, que buscou com sucesso considerável subordinar estados, particularmente no Sul global, às regras de um mercado mundial onde, por definição, o centro financeiro governa. O imperialismo tardio pode assim ser visto também como o período em que a estagnação económica, a financeirização e a crise ecológica planetária emergiram como fissuras irreversíveis, inseparáveis do próprio sistema de acumulação capitalista-monopolista e encontrando a sua justificação ideológica no neoliberalismo.

Uma característica distintiva da produção e finança globalizadas no século atual é a exploração sistemática dos baixos custos unitários do trabalho no Sul, um produto do facto de que os salários são mantidos em níveis muito inferiores aos do Norte devido a: (1) o enorme exército de reserva global localizado principalmente no Sul; (2) restrições à circulação de trabalhadores entre países, e particularmente dos países pobres para os ricos; e (3) a força das pressões imperialistas do passado e do presente (39). Como explicou, em 2015, o economista Tony Norfield, ex-diretor executivo e dirigente da estratégia cambial de um grande banco europeu, no artigo "T-Shirt Economics: Labour in the Imperialist World Economy”, (A economia das camisetas: O trabalho na economia mundial imperialista):

“todos sabem que os trabalhadores dos países capitalistas desenvolvidos recebem mais do que os dos países mais pobres. No entanto, a divergência nos salários médios pode ser surpreendente: não apenas mais 20% ou 50%, mas multiplicado por um fator de 2, 5, 10 ou 20, entre os países mais pobres e os países mais ricos. A teoria económica dominante explica isto - e justifica-o - argumentando que os trabalhadores nos países ricos são mais produtivos do que nos mais pobres, porque os primeiros são mais instruídos e qualificados, trabalhando com níveis mais elevados de tecnologia. No entanto, esta explicação não se coaduna bem com a realidade de que muitos trabalhadores da indústria transformadora nos países pobres são empregados, direta ou indiretamente, por grandes empresas, trabalhando com tecnologia que é muitas vezes comparável à do país mais rico” (40).

A produção das multinacionais estrangeiras (ou subcontratada por elas) nos países pobres depende da mesma tecnologia (ou quase) utilizada nas economias ricas, conduzindo a níveis comparáveis de produtividade. O resultado, combinado com salários extremamente baixos, é que os custos unitários do trabalho na manufatura nas chamadas economias emergentes da China, Índia, Indonésia e México, em 2014, eram apenas 46, 37, 62 e 43%, respetivamente, dos níveis dos E.U.A. (41). Isso gera margens de lucro bruto muito acrescidas para as multinacionais localizadas no Norte. O custo total de produção (refletido no preço de exportação) de uma camiseta produzida em 2010 por meio de um subcontratado no Bangladesh que trabalhava para a empresa sueca Hennes & Mauritz (H&M) foi de 27% do preço final de venda na Europa, com os trabalhadores do Bangladesh recebendo uma mera ninharia pelo seu trabalho. Um trabalhador da fábrica recebeu €1,36 por um dia de dez a doze horas (42). A margem de lucro bruto num iPhone montado na China em 2009 foi superior a 64 por cento (43). A ampliação das margens de lucro bruto associada à perequação laboral global (“global labor arbitrage”) levou a uma rápida globalização da produção, com a participação mundial do emprego industrial localizada em economias em desenvolvimento (incluindo economias emergentes) aumentando de 52 por cento em 1980 para 83 por cento em 2012 (44).

Hoje, uma parcela grande e em rápido crescimento da produção é deslocalizada para a periferia na forma de contratos de controlo à distância (“arms-length contracting”) ou por aquilo que é conhecido como modos de produção não-equitativos (como leasing, licenciamento, franchising e contratos de serviços de gestão), constituindo uma espécie de meio-termo entre o investimento estrangeiro direto das multinacionais e o comércio real. Em 2010, os modos de produção não-equitativos geraram mais de 2 milhões de milhões (“trillion”) de dólares em vendas (45).

Ainda assim, nem toda a produção da cadeia de valor que explora os baixos custos unitários do trabalho no Sul global assume a forma de subcontratação ou de modos de produção não equitativos. Muito disto ocorre sob a forma de investimento direto estrangeiro mais tradicional por parte das multinacionais. Só em 2013, as receitas dos E.U.A. provenientes de investimentos no estrangeiro em empresas estrangeiras, ações, títulos, etc., ascenderam a 773,4 mil milhões (“billion”) de dólares, enquanto os pagamentos norte-americanos sobre as suas responsabilidades pelos investimentos que os estrangeiros fizeram nos Estados Unidos totalizaram apenas 564,9 mil milhões de dólares, resultando num ganho líquido de cerca de 209 mil milhões de dólares (equivalente a cerca de 35 por cento do investimento privado nacional líquido total dos E.U.A. nesse ano). Isso só veio acelerar os problemas de absorção de capital excedente (46). Como Baran e Sweezy escreveram em 1966, no seu livro Monopoly Capital, "o investimento estrangeiro, longe de ser uma saída para o excedente gerado internamente, é um dispositivo muito eficiente para transferir o excedente gerado no exterior para o país investidor. Sob estas circunstâncias, é óbvio que o investimento estrangeiro agrava mais do que ajuda a resolver o problema da absorção de excedentes" (47).

Outros fatores também entram na transferência de valor dos países em desenvolvimento, incluindo a fuga de capitais do Sul global, estimada em mais de US$1,7 milhões de milhões (“trillion”) de dólares em 2012 (48). De facto, cada forma de transação financeira entre o Norte e o Sul global inclui um elemento daquilo que Marx chamou de "lucro por expropriação" ou simples roubo, refletindo as relações desiguais de poder (49). Como escreve Norfield, a finança "é um meio de os países ricos retirarem dinheiro do resto da economia mundia" (50). Um relatório de 2015 do Centro de Economia Aplicada da Escola Norueguesa de Economia e da organização Global Financial Integrity, com sede nos Estados Unidos, estima que as transferências líquidas de recursos, muitas delas ilícitas, dos países em desenvolvimento (independentemente das transferências ocultas associadas a trocas desiguais) ascenderam a US$2 milhões de milhões (“trillion”) em 2012 - aumentando para US$3 milhões de milhões se forem incluídas estimativas das falsificações de autofaturação (51).

Diversos estudos foram realizados para estimar a extensão das transferências ocultas de valor devidas a relações de troca desiguais entre o Sul e o Norte, em que este último recebe "mais trabalho em troca de menos" (52). Uma abordagem pioneira do economista canadiano Gernot Köhler, utilizou dados de paridade de poder de compra (PPC) para mostrar como o trabalho incorporado em produtos de exportação do Sul global - dada a diferença entre as taxas de câmbio nominais e reais - não conseguiu refletir o valor que esse trabalho teria em termos de poder de compra local na economia emergente. Nas palavras de Jason Hickel em The Divide:

“O método de Köhler é calcular a diferença entre as taxas de câmbio nominais e as taxas de câmbio reais (ou seja, corrigidas pelo poder de compra) para os bens comercializados. Por exemplo, imagine uma taxa de câmbio nominal entre o dólar norte-americano e a rupia indiana de 1:50. Agora imagine que a Índia envia R1.000 de bens para os E.U.A., e recebe $20 em troca. Isso seria uma troca perfeitamente igual. Ou pelo menos assim parece. O problema é que a taxa de câmbio nominal não é exatamente precisa. Na Índia, R50 pode comprar muito mais do que o equivalente a US$1 em bens. Por exemplo, talvez possam comprar mais perto de US$2. Assim, a taxa de câmbio real, em termos de poder de compra, é de 1:25. Isto significa que quando a Índia enviou bens no valor de R1.000 para os E.U.A., foi realmente o equivalente a enviar bens no valor de US$40, em termos do valor que R1.000 poderia comprar na Índia. E ainda assim, a Índia recebeu apenas US$20 em troca, o que em termos reais vale apenas R500. Ou seja, por causa da distorção entre as taxas de câmbio reais e nominais, a Índia enviou US$20 (R500) mais do que recebeu. Uma maneira de pensar nisso é que os bens de exportação da Índia valem mais do que o preço que recebem no mercado mundial. Outra forma é que a mão-de-obra da Índia é mal paga em relação ao valor que produz” (53).

Os resultados empíricos de Köhler, baseados na PPC, podem assim ser vistos como uma medida aproximada da transferência de valor gerado no Sul (países não pertencentes à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico [OCDE]), mas creditados aos países do Norte (OCDE), através do que os economistas chamam de troca desigual. Desta forma, ele foi capaz de estimar que tais transferências de valor ascenderam, só em 1995, a US$1,75 milhões de milhões (“trillion”) de dólares, representando perdas equivalentes a quase um quarto do PIB total não-OCDE (54). Embora estas estimativas empíricas sejam questionáveis em vários aspetos, pode haver poucas dúvidas sobre a realidade subjacente ou a ordem de grandeza da "renda imperialista" (55).

Como John Smith argumenta, "os vastos fluxos de valor S-N” associados a trocas desiguais são "invisibilizados nas estatísticas do PIB, do comércio e dos fluxos financeiros", precisamente porque o valor gerado no Sul é "capturado" no Norte. Todas as fontes de rendimento, sejam salários, lucros, rendas ou juros, decorrentes das enormes margens de lucro bruto na produção do Sul são simplesmente contabilizadas como valor acrescentado no Norte global, contribuindo para o PIB do Norte (56).

Os enormes lucros da deslocalização e de outros meios de captura global de valor exacerbam ainda mais os problemas de absorção do capital excedente. Grande parte dessa renda imperialista acaba colocada em paraísos fiscais e se torna um meio de acumular riqueza financeira concentrada num pequeno número de corporações e indivíduos ricos, estando em grande parte desconectada do processo contínuo e cada vez mais problemático de produção, investimento e crescimento, nos Estados Unidos da América e noutras nações imperialistas (57). Isso então piora o problema geral da estagnação, caracterizado por excesso de capacidade, subemprego, crescimento lento, desigualdade crescente e bolhas e crises financeiras periódicas.

Amin argumentou que a renda imperialista tinha dois componentes distintos. O primeiro era a renda derivada da exploração imperialista do trabalho do Sul. O segundo era a drenagem dos recursos naturais do Sul - e as violações da sua soberania com isto relacionadas - pelas empresas multinacionais e pelos Estados imperialistas. Embora a primeira forma de renda imperialista fosse, pelo menos em princípio, mensurável, em termos de valor, a segunda forma de renda, uma vez que dizia respeito a valores de uso (e à apropriação pelo capital de dádivas gratuitas da natureza), em vez de valores de troca, não o era (58). No entanto, insistiu ele, Marx, tinha também fornecido meios de perceber as contradições ecológicas e o imperialismo ecológico.

O imperialismo se envolve numa enorme luta pelo controlo dos recursos estratégicos. Estima-se que os militares dos E.U.A. gastam aproximadamente 16% de seu orçamento de base apenas na salvaguarda direta dos suprimentos globais de petróleo (59). Como Magdoff enfatizou, é difícil exagerar até que ponto os interesses militares e de recursos naturais estão inter-relacionados. A hegemonia militar desempenha um papel fundamental em todas as questões de asseguramento do território económico e dos recursos estratégicos.

As empresas multinacionais estão inextricavelmente ligadas ao poder financeiro e político-militar dos Estados em que estão baseadas, sem os quais não poderiam existir por um momento e dos quais depende a sua capacidade de se envolverem eficazmente na concorrência internacional. No caso das cem maiores empresas não financeiras do mundo, três quartos têm a sua sede em apenas seis países: Estados Unidos da América, Reino Unido, França, Alemanha, Japão e Suíça. Segundo Norfield,

“o que distingue uma empresa imperialista não é a sua dimensão ou sucesso competitivo, nem mesmo a sua importância global como grande produtora de bens ou serviços, embora seja frequentemente uma grande empresa, dadas as vantagens de que beneficia. O que a distingue é o apoio que recebe de um poderoso Estado-nação na economia mundial, e quaisquer vantagens que recebe porque está localizada e identificada com esse Estado imperialista. Da mesma forma, o que em termos económicos distingue um Estado imperialista é a sua capacidade de exercer poder na economia mundial em nome das suas empresas capitalistas «nacionais»” (60).

Tempos finais

O imperialismo hoje é mais agressivo e ilimitado nos seus objetivos do que nunca (61). No atual período de declínio da hegemonia norte-americana, bem como de declínio económico e ecológico, o regime do Dólar-Petróleo-Pentágono, apoiado por toda a tríade dos Estados Unidos/Canadá, Europa e Japão, está a exercer todo o seu poder militar e financeiro para obter vantagens geopolíticas e geoeconómicas (62). O objetivo é subordinar ainda mais os países que estão na base da hierarquia mundial, colocando obstáculos no caminho das economias emergentes e derrubando todos os Estados que violam as regras da ordem dominante. Os conflitos interculturais dentro da tríade continuam a existir, mas são atualmente suprimidos, não apenas devido à força esmagadora do poder dos E.U.A., mas também em resultado da necessidade percebida, no centro, de conter a China e a Rússia, que são vistas como graves ameaças à ordem imperial prevalecente. Na China e na Rússia, por diferentes mas relacionadas razões históricas, o capital monopolista-financeiro global carece de uma combinação dominante com os capitalistas nacionais em suas economias políticas, como existe nos outros países BRICS. Enquanto isso, a União Europeia está em desordem, experimentando tendências centrífugas - em lugar de centrípetas - decorrentes da estagnação económica e da instabilidade gerada pelo contragolpe imperial proveniente de regiões suas adjacentes, particularmente do Médio Oriente e do Norte de África.

Nestas circunstâncias, as cadeias de valor/fornecimento globais, juntamente com a energia, os recursos e as finanças, são cada vez mais encaradas em termos estratégico-militares. No centro dessa ordem mundial interligada e globalizada está a hegemonia instável exercida pela Fortaleza América sobre a Europa e o Japão. Os Estados Unidos da América estão hoje seguindo uma estratégia de domínio de espectro total, voltada não apenas para o domínio militar, mas também tecnológico, financeiro e até mesmo para o “domínio energético” global - contra um cenário de catástrofe planetária iminente e de desordem económica e política (63).

Nestas condições em deterioração, as tendências neofascistas reemergiram, mais uma vez, constituindo o recurso final de classe do capital monopolista-financeiro - uma aliança entre o grande capital e uma classe média-baixa reacionária, recentemente mobilizada (64). Mais e mais, o neoliberalismo está se fundindo com o neofascismo, desencadeando o racismo e o nacionalismo revanchista. Os movimentos pacifistas anti-imperialistas diminuíram na maior parte dos países capitalistas centrais, mesmo no contexto de um renascimento da esquerda, levantando mais uma vez a questão do imperialismo social (65).

Há um sentido, é claro, em que muito disto soa familiar. Como Magdoff observou,

“as forças centrífugas e centrípetas sempre coexistiram no centro do processo capitalista, com predominância ora de umas, ora de outras. Em resultado disso, os períodos de paz e harmonia alternaram-se com períodos de discórdia e violência. Geralmente, o mecanismo desta alternância envolve formas de luta tanto económicas como militares, com o poder mais forte a emergir vitorioso e a impor a aquiescência aos perdedores. Mas o desenvolvimento desigual logo toma conta e surge um período de luta renovada pela hegemonia” (66).

O imperialismo tardio, no entanto, representa um ponto final histórico para a ordem mundial capitalista, pressagiando uma catástrofe planetária ou um novo começo revolucionário. A presente emergência que vive o Sistema Terra dá nova urgência à antiga luta coletiva pela "liberdade em geral" (67). A luta humana mais ampla deve ser construída sobre a resistência revolucionária contínua dos trabalhadores e dos povos no Sul global, visando, antes de tudo, derrubar o imperialismo, como manifestação global do capitalismo. O trabalho nas nações centrais não pode ser livre, até que seja livre também o trabalho nas nações periféricas e o imperialismo seja abolido (68). Aquilo que Marx chamou de socialismo, uma sociedade de desenvolvimento humano sustentável, só pode ser construído numa base universal. Todas as relações estreitas, injustas e exploradoras devem desaparecer, e a humanidade deve finalmente confrontar, com sentidos sóbrios, as suas relações com a sua espécie e a sua unidade com a Terra (69).

Notas:

(1) V. I. Lenine, Imperialism: The Highest Stage of Capitalism (New York: International, 1939). Quando publicado em 1917, o título do panfleto de Lenine era Imperialismo: O Último Estádio do Capitalismo. Ver V. I. Lenine, Selected Works in Three Volumes (Moscow: Progress, 1977), pp. 640-41, 801. Enfatizando esse fato, Witold Kula, historiador polaco, escreveu, em 1963: "As diferenças metodológicas entre estas formulações são fundamentais. A determinação 'o mais novo [último] estádio' refere-se ao passado... enquanto que a determinação 'o estádio mais alto' diz algo mais, também sobre o futuro; que no futuro não haverá 'estádio mais alto' do que este". Kula citado em John Bellamy Foster e Henryk Szlajfer, Introdução a The Faltering Economy (New York: Monthly Review Press, 1984), p. 21. Consistente com isso, Lenine geralmente se refere, no texto mesmo do seu panfleto, ao imperialismo como a "última fase" ou o "último estádio" do capitalismo, em conformidade com o subtítulo de Capital Financeiro de Rudolf Hilferding: A última fase do capitalismo.

(2) Lenine, Imperialism, pp. 78, 81-82, 88, 92. Foi no seu artigo de outubro de 1916 "Imperialism and the Split in Socialism" que Lenine, pela primeira vez, colocou ênfase primária na conceção do imperialismo como o estádio mais alto, em oposição ao estágio mais novo ou mais recente, com base no que ele viu como o caráter "moribundo" do capitalismo no início do século XX. Isso ajuda a explicar a mudança posterior no título do seu panfleto, após a sua primeira publicação em 1917. V. I. Lenine, Collected Works, vol. 23 (Moscow: Progress, 1964), pp. 105-20. Em resposta a Lenine, Samir Amin escreveu que "o imperialismo não é um estádio, nem mesmo o estádio mais alto do capitalismo: desde o início é inerente à expansão do capitalismo". Samir Amin, "Imperialism and Globalization", Monthly Review, vol. 53, n.º 2 (junho de 2001), p. 6. Lenine, no entanto, usou o termo num duplo sentido, para se referir tanto ao imperialismo em geral, remontando ao início do capitalismo, como também (de uma forma mais focada) para se referir ao que era chamado, em seu tempo, de "novo imperialismo" ou estádio imperialista (monopolista) do capitalismo.

(3) Lenine, Imperialism, pp. 13-14, 85, 88, 91. Para aqueles que pensam que o Imperialismo de Lenine foi obra de um momento, é útil olhar para as mais de 700 páginas de notas, contendo extratos de 148 livros e 232 artigos em inglês, francês e alemão, que ele produziu em preparação para escrevê-lo. Ver V. I. Lenine, Collected Works, vol. 39 (Moscow: Progress, 1968), p. 20.

(4) Rudolf Hilferding, Finance Capital (Londres: Routledge, 1981); Rosa Luxemburg, The Accumulation of Capital (New York: Monthly Review Press, 1951), Nikolai Bukharin, Imperialism and World Economy (New York: Monthly Review Press, 1929). Embora, em muitos aspetos, complementar à análise posterior de Lenine, a ênfase de Luxemburgo no imperialismo como primordialmente destruição e assimilação de áreas externas pré-capitalistas enfraquece enormemente a sua teoria. Utsa e Prabhat Patnaik vêm o imperialismo "como uma relação duradoura sob o capitalismo". Utsa e Prabhat Patnaik, A Theory of Imperialism (New York: Columbia University Press, 2017), p. 87.

(5) Lenine, Imperialism, p. 89. No que diz respeito à aristocracia operária, Lenine insistiu que "uma camada superior privilegiada do proletariado nos países imperialistas vive parcialmente à custa de centenas de milhões nas [chamadas] nações incivilizadas" (Collected Works, vol. 23, p. 107). (Nota: Embora distinguindo entre nações civilizadas e incivilizadas, Lenine colocou aspas de citação em torno das primeiras e tratou-as, como habitualmente na tradição socialista, como um eufemismo para capitalismo.) Para a base histórica do tratamento de Lenine da aristocracia trabalhista, ver Eric Hobsbawm, "Lenin and the Aristocracy of Labor", in Lenin Today, Ed. Paul M. Sweezy e Harry Magdoff (New York: Monthly Review Press, 1970), pp. 47-56.

(6) V. I. Lenine, Selected Works in Three Volumes, vol. 3 (Moscow: Progress, 1975), pp. 246, 372-78. A análise do imperialismo de Lenine tem sido muitas vezes convertida numa teoria simplista de excessivo excedente nos Estados capitalistas avançados e da exportação de capital, enraizada no subconsumo. Esta interpretação excessivamente grosseira de Lenine é exemplificada pelo influente livro de Bill Warren, Imperialism: Pioneer of Capitalism (London: Verso, 1980), pp. 50-83. Para uma forte crítica desta visão simplista, ver Prabhat Patnaik, Whatever Happened to Imperialism and Other Essays (New Delhi: Tulika, 1995), pp. 80-101.

(7) L. S. Stavrianos, Global Rift (New York: William Morrow and Company, 1981), pp. 623-24.

(8) Mark Blaug, "The Economics of Imperialism," in Economic Imperialism, Ed. Kenneth E. Boulding e Tapan Mukerjee (Ann Arbor: University of Michigan Press, 1972), pp. 142-55; Benjamin J. Cohen, The Question of Imperialism (New York: Basic, 1973), pp. 99-141; Barrington Moore, Jr., The Causes of Human Misery (Boston: Beacon, 1972), pp. 117-32; Robert W. Tucker, The Radical Left and American Foreign Policy (Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1971).

(9) Harry Magdoff, The Age of Imperialism (New York: Monthly Review Press, 1969); Harry Magdoff, Imperialism: From the Colonial Age to the Present (New York: Monthly Review Press, 1978).

(10) Para uma indicação de quão mais hábil Magdoff era no uso de estatísticas económicas do que os seus críticos, ver "A Technical Note", em Imperialism, pp. 11-14.

(11) Magdoff, The Age of Imperialism, pp. 18-19.

(12) Ernest Mandel, introdução à sua planeada Critique of Political Economy, vol. 1, Karl Marx (London: Penguin, 1976), pp. 27-28; John Bellamy Foster, "The Imperialist World System", Monthly Review, vol. 59, n.º 1 (maio de 2007): pp. 1-16. Samir Amin via o seu trabalho como uma abordagem à gama de questões que Marx pretendia tratar nos volumes 5 e 6 de O Capital, mas não como Marx as teria abordado em meados do século XIX, mas sim em relação ao final do século XX e início do século XXI. Ver Samir Amin, Modern Imperialism, Monopoly Finance Capital and Marx's Law of Value (New York: Monthly Review Press, 2018), pp. 131-35.

(13) Magdoff, Imperialism, p. 239; Bernard Baruch, prefácio a The Revolution in World Trade and American Economic Policy, Samuel Lubell (New York: Harper, 1955), p. xi; Magdoff, The Age of Imperialism, p. 182.

(14) Magdoff, Imperialism, pp. 260-61.

(15) Magdoff, Imperialism, pp. 110-11; Magdoff, The Age of Imperialism, pp. 67-113; Harry Magdoff, Globalization: To What End? (Nova York: Monthly Review Press, 1992), pp. 17-25.

(16) Stavrianos, Global Rift. Sobre "ruína ou revolução", ver Karl Marx e Frederick Engels, Marx and Engels and the Irish Question (Moscow; Progress, 1971), p. 142.

(17) Prabhat Patnaik, "Whatever Happened to Imperialism?," Monthly Review vol. 42, n.º 6 (novembro de 1990): pp. 1-14.

(18) Andre Gunder Frank, "The Development of Underdevelopment", Monthly Review, vol. 18, n.º 4 (setembro de 1966): pp. 17-31; Harry Magdoff, "A Note on the Communist Manifesto," Monthly Review, vol. 50, n.º 1 (maio de 1998): pp. 11-13.

(19) Bill Warren, "Imperialism and Capitalist Industrialization," New Left Review n.º 181 (1973): pp. 4, 43, 48, 82; Warren, Imperialism: Pioneer of capitalism, p. 48. Warren, ao contrário de muitos teóricos marxistas posteriores, estava ciente do papel de Lenine na ascensão da teoria da dependência no Segundo Congresso da Internacional Comunista em 1919. Ver Warren, Imperialism: Pioneer of Capitalism, pp. 97-98; Research Unit for Political Economy, "On the History of Imperialism Theory," Monthly Review, vol. 59, n.º 7 (dezembro de 2007): pp. 42-50. A alegação de Warren de que Marx via o imperialismo como tendo um papel construtivo em relação à industrialização foi refutada em Kenzo Mohri, "Marx and 'Underdevelopment,'" Monthly Review, vol. 30, n.º 11 (abril de 1979): pp. 32-42; e Suniti Kumar Ghosh, "Marx on India," Monthly Review, vol. 35, n.º 8 (janeiro de 1984): pp. 39-53. Uma refutação mais recente, contando com alguns materiais novos, é Kevin Anderson, Marx at the Margins (Chicago: University of Chicago Press, 2016).

(20) Giovanni Arrighi, The Geometry of Imperialism (London: Verso, 1983), pp. 171-73; Giovanni Arrighi, "Lineages of Empire," in Debating Empire, Ed. Gopal Balakrishnan (Londres: Verso, 2003), p. 35. Em The Long Twentieth Century, Arrighi dispensou inteiramente a análise do capital monopolista e do poder monopolístico na evolução da moderna empresa societária gigante - abandonando assim a fase de monopólio do capitalismo que Lenine tinha identificado com o imperialismo - escolhendo antes a análise neoclássica de custos de transação como uma explicação adequada para o crescimento das empresas multinacionais. Giovanni Arrighi, The Long Twentieth Century (Londres: Verso, 1994), pp. 218-19, 239-43.

(21) Michael Hardt e Antonio Negri, Empire (Cambridge, MA: Harvard University Press, 2000), pp. 178, 234, 332-35; Thomas L. Friedman, The World Is Flat (New York: Farrar, Strauss, and Giroux, 2005); Francis Fukuyama, The End of History and the Last Man (New York: The Free Press, 1992).

(22) Ellen Meiksins Wood, "A Manifesto for Global Capitalism?," in Debating Empire, pp. 61-82; John Bellamy Foster, "Imperialism and 'Empire,'" Monthly Review, vol. 53, n.º 7 (dezembro de 2001): pp. 1-9.

(23) Leo Panitch e Sam Gindin, The Making of Global Capitalism (London: Verso, 2013), pp. 12, 26, 275; Tony Norfield, The City (London: Verso, 2017), pp. 14-17; Peter Gowan, The Global Gamble (London: Verso, 1999), pp. 19-38.

(24) William I. Robinson, A Theory of Global Capital (Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2004), pp. 44-49; John A. Hobson, Imperialism: A Study (Londres: James Nisbet and Company, 1902).

(25) William I. Robinson, Into the Tempest (Chicago: Haymarket, 2018), pp. 99-121. Sobre as fraquezas empíricas da tese do capital transnacional, ver "Transnational Capitalism or Collective Imperialism", Pambazuka News, 23 de março de 2011; Ha-Joon Chang, Things They Don't Tell You About Capitalism (New York: Bloomsbury, 2010), pp. 74-87; Ernesto Screpanti, Global Imperialism and the Great Crisis (New York: Monthly Review Press, 2014), pp. 57-58.

(26) David Harvey, "A Commentary on A Theory of Imperialism," in A Theory of Imperialism, Patnaik and Patnaik, pp. 169, 171; David Harvey, "Realities on the Ground: David Harvey Replies to John Smith," Review of African Political Economy blog, 5 de fevereiro de 2018; David Harvey, "Imperialism: Is It Still a Relevant Concept?," (contribuição para a discussão sobre esse tópico apresentada no Center for Public Scholarship, New School for Social Research, Nova Iorque, 1º de maio de 2017), disponível no YouTube. Nos seus trabalhos anteriores, Harvey era bastante solidário com a noção de imperialismo, como em seu artigo de 1975 sobre "The Geography of Capital Accumulation", reimpresso em David Harvey, Spaces of Capital (New York: Routledge, 2001), pp. 260-61. Ver também David Harvey, The Limits to Capital (1982; reimp., Londres: Verso, 2006), pp. 439-42.

(27) David Harvey, The New Imperialism (Oxford: Oxford University Press, 2003), pp. 7, 27, 163, 209-11; Harvey, "Imperialism: Is It Still a Relevant Concept?”

(28) Harvey, "Imperialism: Is It Still a Relevant Concept?"; Harvey, "A Commentary on A Theory of Imperialism", p. 169.

(29) Harvey, " Realities on the Ground."

(30) David Harvey, Seventeen Contradictions of Capitalism (Oxford: Oxford University Press, 2014), p. 135. Harvey diz que a "procura de rendimento", expressão usada por Joseph Stiglitz para se referir à tomada de riqueza em vez da sua criação, "não é nada mais do que uma forma educada e bastante neutra de se referir ao que eu chamo de 'acumulação por desapropriação'". (Harvey, Seventeen Contradictions of Capitalism, p. 133). Poder-se-ia dizer, por sua vez, que a "acumulação por desapropriação" é apenas uma forma educada e bastante neutra de se referir ao que Marx chamou de expropriação (ou lucro por expropriação).

(31) Karl Marx, Capital, vol. 1 (London: Penguin, 1976), p. 915. Sobre o conceito de Marx de "lucro por expropriação" (ou lucro por alienação), ver John Bellamy Foster e Brett Clark, "The Expropriation of Nature", Monthly Review, vol. 69, n.º 10 (Março de 2018): pp. 1-27.

(32) Marquês de Salisbury citado em Paul A. Baran, The Political Economy of Growth (New York: Monthly Review Press, 1957), p. 145.

(33) Utsa Patnaik, "Revisiting the 'Drain,' or Transfers from India to Britain in the Context of Global Diffusion of Capitalism," in Agrarian and Other Histories, Ed. Shubhra Chakrabarti e Utsa Patnaik (New Delhi: Tulika, 2017), p. 311.

(34) Magdoff, Globalization, pp. 4, 41.

(35) Atilio Borón, “Empire” and Imperialism (London: Zed Books, 2005), p. 3.

(36) Amin, Modern Imperialism, pp. 162, 193-95.

(37) John Bellamy Foster e Robert W. McChesney, The Endless Crisis (New York: Monthly Review Press, 2012), pp. 76-77.

(38) Intan Suwandi, R. Jamil Jonna, e John Bellamy Foster, "Global Commodity Chains and the New Imperialism," Monthly Review, vol. 70, n.º 10 (março de 2019): pp. 1-24.

(39) Sobre o exército de reserva global, ver Foster e McChesney, The Endless Crisis, pp. 125-54.

(40) Tony Norfield, "T-Shirt Economics: Labour in the Imperialist World Economy," in Struggle in a Time of Crisis, Ed. Nicolas Pons-Vignon e Mbuso Nkosi (Londres: Pluto, 2015), pp. 23-28; John Smith, Imperialism in the Twenty-First Century (New York: Monthly Review Press, 2016), pp. 13-16.

(41) Suwandi, Jonna e Foster, "Global Commodity Chains and the New Imperialism", pp. 14-15.

(42) Norfield, "T-Shirt Economics," pp. 25-26.

(43) Foster e McChesney, The Endless Crisis, pp. 140-41.

(44) Organização Internacional do Trabalho (OIT), Tabela 4a. Employment by Aggregate Sector (by Sex), in Key Indicators of the Labour Market (KILM), 8.ª edição (Genebra: Organização Internacional do Trabalho, 2014); "Economic Groups and Composition", Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD).

(45) Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), "Non-Equity Modes of International Production and Development", in World Investment Report, 2011 (Genebra: Nações Unidas, 2011), pp. 123, 132.

(46) Norfield, The City, pp. 9, 169; Federal Reserve Bank of St. Louis Economic Research, FRED, Net Domestic Investment: Private: Domestic Business, acessado em 18 de maio de 2019; Stephanie E. Curcuru e Charles P. Thomas, "The Return on U.S. Direct Investment at Home and Abroad", International Finance Discussion Papers, n.º 1057, Board of Governors of the Federal Reserve System, outubro de 2012.

(47) Paul A. Baran e Paul M. Sweezy, Monopoly Capital (New York: Monthly Review Press, 1966), pp. 107-08.

(48) Dev Kar e Guttorm Schjelderup, Financial Flows and Tax Havens (London: Global Financial Integrity, Norwegian School of Economics, 2015), p. 19; Jason Hickel, The Divide (New York: W. W. Norton, 2017), p. 27.

(49) Karl Marx e Frederick Engels, Collected Works, vol. 30 (New York: International, 1975), p. 59.

(50) Norfield, The City, p. 76.

(51) Kar e Schjelderup, Financial Flows and Tax Havens, pp. 15-17.

(52) Karl Marx, Capital, vol. 3 (London: Penguin, 1981), p. 345.

(53) Hickel, The Divide, pp. 290-91.

(54) Gernot Köhler, "The Structure of Global Money and World Tables of Unequal Exchange", Journal of World-System Research 4 (1998): pp. 145-68; Gernot Köhler, Global Keynesianism: Unequal Exchange and Global Exploitation (New York: Nova Science, 2002), pp. 43-100; Gernot Köhler, "Unequal Exchange 1965-1995," Novembro de 1988; Hickel, The Divide, pp. 290-91. Zak Cope, baseando-se em várias formas diferentes de calcular a transferência de valor via troca desigual, apresentou números para 2009 de 2,6-4,9 milhões de milhões (“trillion”) de dólares, dependendo do método utilizado. Zak Cope, Divided World Divided Class (Montreal: Kersplebedeb, 2012), p. 262.

(55) Amin, Modern Imperialism, pp. 223-25.

(56) John Smith, "Marx's Capital and the Global Crisis," in The Changing Face of Imperialism, Ed. Sunanda Sen e Maria Cristina Marcuzzo (London: Routledge, 2018), pp. 43-45; Imperialism in the Twenty-First Century, p. 252; Tony Norfield, "Imperialism, a Marxist Understanding", Socialist Economist, 22 de março de 2019. Sobre as questões mais amplas da captura de valores, ver Mariana Mazzucato, The Value of Everything (New York: PublicAffairs, 2018).

(57) O papel das "ilhas do tesouro", principalmente no Caribe, destaca a enorme importância do capital offshore nos paraísos fiscais. Ver Nicholas Shaxson, Treasure Islands (New York: Palgrave-Macmillan, 2011). Thomas Piketty também destacou a crescente lacuna entre investimento/crescimento (o papel tradicional do capital) e a acumulação de riqueza. Thomas Piketty, Capital in the Twenty-First Century (Cambridge, MA: Harvard University Press, 2014).

(58) Amin, Modern Imperialism, pp. 110-11.

(59) "The Military Cost of Defending the Global Oil Supply", Securing America's Future Energy, 21 de setembro de 2018.

(60) Norfield, The City, pp. 123, 126.

(61) Sobre a mudança para um imperialismo mais agressivo após o fim da União Soviética, ver John Bellamy Foster, Naked Imperialism (New York: Monthly Review Press, 2006).

(62) A geoeconomia representa o renascimento da guerra económica. Para a grande estratégia a esse respeito emanada do Conselho de Relações Exteriores, ver Robert D. Blackwill e Jennifer M. Harris, War by Other Means (Cambridge, MA: Harvard University Press, 2016).

(63) Donald Trump, "President Trump Vows to Usher in Golden Era of American Energy Dominance", 30 de junho de 2017.

(64) Ver John Bellamy Foster, Trump in the White House (New York: Monthly Review Press, 2017).

(65) Sobre a história do imperialismo social, ver Bernard Semmel, Imperialism and Social Reform (Garden City, NY: Doubleday, 1960).

(66) Magdoff, Globalization, pp. 4-5.

(67) Marx e Engels, Collected Works, vol. 1, p. 180.

(68) "Um movimento operário radical [no Norte] não pode tornar-se realidade a menos que se oponha firmemente às guerras imperiais, à produção e venda de armas, à infiltração dos militares nas economias locais e na vida quotidiana, ao patriotismo das bandeiras e dos hinos nacionais, ao mantra de que todos devemos apoiar as tropas. No Norte Global, o nacionalismo é uma doença que impede a solidariedade global das classes trabalhadoras, essencial para a libertação humana". Michael D. Yates, Can the Working Class Change the World? (New York: Monthly Review Press, 2018), p. 160.

(69) Karl Marx e Friedrich Engels, The Communist Manifesto (New York: Monthly Review Press, 1964), p. 7.

Sobre o autor

John Bellamy Foster (n. 1953) é professor de Sociologia na Universidade de Oregon (E.U.A.) e o atual diretor da revista marxista norte-americana Monthly Review. Discípulo de Paul Sweezy e continuador da escola de pensamento crítico por este fundada (com Paul Baran e Harry Magdoff), tem publicado numerosos livros sobre a crise ecológica e sua interseção com a economia política do capitalismo. Merecem destaque: The Vulnerable Planet: A Short Economic History of the Environment (1994), Marx’s Ecology: Materialism and Nature (2000), Ecology Against Capitalism (2002), The Ecological Revolution: Making Peace with the Planet (2009), The Ecological Rift: Capitalism's War on the Earth, com Brett Clark e Richard York (2010), What Every Environmentalist Needs To Know about Capitalism: A Citizen's Guide to Capitalism and the Environment, com Fred Magdoff (2011), The Endless Crisis, com R. W. McChesney (2012), The Theory of Monopoly Capitalism (2014) e Trump in the White House: Tragedy and Farce (2017).

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