23 de março de 2013

Problema nas contas é sintoma da fragilização da indústria

Pedro Rossi, Bruno de Conti, André Biancarelli


A piora nos dados do balanço de pagamentos neste início de 2013 merece ser analisada com atenção.

Certamente o aumento no deficit em transações correntes acende um sinal de alerta, mas de um modo diferente daquele mais comum na história do Brasil.

Em vários episódios o desenvolvimento esbarrou na restrição externa e foi interrompido por uma crise no balanço de pagamentos.

Não é essa a principal preocupação na atual conjuntura econômica e são diversos os fatores que apontam nessa direção.

Em primeiro lugar, o estoque de reservas internacionais, hoje em torno de R$ 377 bilhões, seria suficiente para sustentar mais de 50 meses de deficit em transações correntes como o de fevereiro.

Do ponto de vista dos fluxos, as perspectivas de receitas futuras com as exportações líquidas do pré-sal e a abundância e a estabilidade dos investimentos diretos estrangeiros também contribuem para que a restrição externa não esteja na pauta das preocupações emergenciais.

Do ponto de vista do financiamento externo, a situação da economia brasileira segue confortável.

Entretanto, os recordes negativos das contas-correntes apontam para problemas inerentes ao atual modelo de desenvolvimento brasileiro e que merecem ser destacados.
Em particular, a luz amarela se acende quando o foco recai sobre a evolução da balança comercial.

Os resultados verificados, por outro lado, são reflexo do crescimento da concorrência internacional por mercados de exportação e do posicionamento brasileiro nesse cenário.

Além do impacto evidente sobre a demanda internacional, a crise em curso faz com que a maioria dos países centrais procure ajustar suas contas de transações correntes e é inevitável que esse ajuste recaia sobre as nações emergentes.

Enquanto alguns emergentes --notadamente a China-- mantêm um crescimento robusto e redirecionam seus superavit comerciais para outras regiões, nosso país paga o preço de uma baixa competitividade industrial.

Nesses termos, o aumento do deficit brasileiro nos últimos anos é um sintoma da fragilização do setor produtivo brasileiro e, em especial, do setor industrial.

Portanto, os problemas externos da economia brasileira se apresentam mais como um desafio de longo do que de curto prazo.

Medidas favoráveis ao aumento da competitividade industrial brasileira --câmbio, desonerações etc.-- já foram tomadas e seus efeitos não são imediatos.

Se o fantasma da crise externa assusta menos que em outras conjunturas, o da regressão estrutural continua na agenda de preocupações.

Sobre os autores

Pedro Rossi, Bruno de Conti, André Biancarelli são professores do Instituto de Economia da Unicamp

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