Uirá Machado
Folha de S.Paulo
"Um golaço" para a direita na América Latina. É assim que o historiador argentino Ernesto Bohoslavsky avalia a eleição de Javier Milei, que superou Sergio Massa por 56% a 44%.
"Ele tem vinculações abertas com o trumpismo e o bolsonarismo, representa a ilusão da direita latino-americana e ganhou de lavada, sem esconder o que pensa para parecer moderado", diz Bohoslavsky, que é professor da Universidade Nacional de General Sarmiento (Buenos Aires).
Javier Milei, presidente eleito da Argentina, em discurso após a vitória no segundo turno - Luis Robayo - 19.nov.23/AFP |
Especialista em história das direitas na Argentina, no Brasil e no Chile, ele afirma que Milei é uma novidade enorme para seu campo político, tanto pelo tamanho de seu sucesso nas urnas quanto pela falta de papas nas línguas.
Ele cita como contra-exemplo o caso do direitista Mauricio Macri, que governou o país de 2015 a 2019, interrompendo os 12 anos de gestão dos peronistas Nestor e Cristina Kirchner.
"Macri tinha alguma ambiguidade ideológica, indicou que as pessoas não iriam perder direitos. Milei foi muito claro, muito transparente sobre privatizações, sobre as pessoas pagarem por educação universitária. É uma vitória não só eleitoral mas também ideológica. Ele não usou a roupa alheia."
Daí a imaginar que Milei possa ter impacto na atuação da direita em outros países, contudo, vai uma distância que Bohoslavsky não sabe se será percorrida.
Para o historiador, ainda que a vitória seja um estímulo para um campo político abalado pela recente derrota de Jair Bolsonaro (PL) no Brasil, o novo presidente precisará se ocupar dos problemas domésticos –inflação e dívida à frente— antes de se envolver na arena internacional.
Além do mais, as promessas de Milei na relação com os demais países são pouco factíveis para um país que precisa de dinheiro. Romper com a China e o Brasil seria, na visão de Bohoslavsky, um preço excessivo para o povo argentino.
"E tenho a impressão de que uma parte das pessoas votou em Milei apesar de suas ideias. Ou seja, pensando que ele não vai fazer o que prometeu fazer", afirma o professor.
No fundo, diz, Milei "recebeu o apoio de pessoas que achavam que ele era preferível, mas não o preferido". Como comparação, diz que Bolsonaro também se beneficiou de muito antipetismo, para além de seus eleitores mais convictos.
Nesta segunda, o presidente eleito da Argentina reiterou alguns de seus discursos de campanha. Fazendo jus a seu mote ultraliberal, confirmou que pretende privatizar "tudo o que possa estar nas mãos do setor privado", além de fechar o Banco Central e extinguindo pastas como Cultura, Mulheres e Ciência e Tecnologia.
Bohoslavsky considera que Milei pisa em terreno pantanoso ao politizar temas como a ditadura, uma novidade na Argentina, dada a quantidade de assassinatos cometidos durante o regime militar.
"Não sei se isso contribui para unificar o voto ou é uma fonte de potencial divisão. Claramente não afastou eleitores mais moderados na campanha", diz o historiador. "Mas pode ser pelo predomínio da raiva [dirigida a quem está no poder] como emoção a guiar o comportamento."
Massa, o candidato derrotado no segundo turno, é o atual ministro da Fazenda de um país cuja inflação acumulada em 12 meses atingiu 142,7% em outubro, o maior valor desde 1991.
Ele cita como contra-exemplo o caso do direitista Mauricio Macri, que governou o país de 2015 a 2019, interrompendo os 12 anos de gestão dos peronistas Nestor e Cristina Kirchner.
"Macri tinha alguma ambiguidade ideológica, indicou que as pessoas não iriam perder direitos. Milei foi muito claro, muito transparente sobre privatizações, sobre as pessoas pagarem por educação universitária. É uma vitória não só eleitoral mas também ideológica. Ele não usou a roupa alheia."
Daí a imaginar que Milei possa ter impacto na atuação da direita em outros países, contudo, vai uma distância que Bohoslavsky não sabe se será percorrida.
Para o historiador, ainda que a vitória seja um estímulo para um campo político abalado pela recente derrota de Jair Bolsonaro (PL) no Brasil, o novo presidente precisará se ocupar dos problemas domésticos –inflação e dívida à frente— antes de se envolver na arena internacional.
Além do mais, as promessas de Milei na relação com os demais países são pouco factíveis para um país que precisa de dinheiro. Romper com a China e o Brasil seria, na visão de Bohoslavsky, um preço excessivo para o povo argentino.
"E tenho a impressão de que uma parte das pessoas votou em Milei apesar de suas ideias. Ou seja, pensando que ele não vai fazer o que prometeu fazer", afirma o professor.
No fundo, diz, Milei "recebeu o apoio de pessoas que achavam que ele era preferível, mas não o preferido". Como comparação, diz que Bolsonaro também se beneficiou de muito antipetismo, para além de seus eleitores mais convictos.
Nesta segunda, o presidente eleito da Argentina reiterou alguns de seus discursos de campanha. Fazendo jus a seu mote ultraliberal, confirmou que pretende privatizar "tudo o que possa estar nas mãos do setor privado", além de fechar o Banco Central e extinguindo pastas como Cultura, Mulheres e Ciência e Tecnologia.
Bohoslavsky considera que Milei pisa em terreno pantanoso ao politizar temas como a ditadura, uma novidade na Argentina, dada a quantidade de assassinatos cometidos durante o regime militar.
"Não sei se isso contribui para unificar o voto ou é uma fonte de potencial divisão. Claramente não afastou eleitores mais moderados na campanha", diz o historiador. "Mas pode ser pelo predomínio da raiva [dirigida a quem está no poder] como emoção a guiar o comportamento."
Massa, o candidato derrotado no segundo turno, é o atual ministro da Fazenda de um país cuja inflação acumulada em 12 meses atingiu 142,7% em outubro, o maior valor desde 1991.
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