6 de agosto de 2016

Estamos em um mundo de baixo crescimento. Como chegamos até aqui?

O crescimento econômico nas nações avançadas tem sido mais fraco por mais tempo do que na vida da maioria das pessoas.

Neil Irwin


Duas casas à venda em New Haven. O preço pedido da casa com varanda é de $ 249.000, em torno do preço médio de venda nos Estados Unidos. Se o G.D.P. e a renda tivessem crescido tão lentamente na segunda metade do século 20 quanto desde 2000, os americanos típicos poderiam comprar casas mais parecidas com a outra, à venda por $ 130.500. Crédito: Christopher Capozziello para The New York Times

Um fato central sobre a economia global está logo abaixo das notáveis manchetes do ano: o crescimento econômico nos países avançados esteve mais fraco durante mais tempo que nunca na vida da maioria das pessoas.

Os Estados Unidos estão gerando empregos, e a taxa de desemprego está baixa. Mas isso acontece apesar de uma tendência de crescimento muito menor, tanto nos EUA como em outros países avançados, do que foi registrado na maior parte da era pós-Segunda Guerra.

Essa tendência ajuda a explicar por que as rendas aumentaram tão devagar. Está por trás da gasolina barata e das taxas de juros ultrabaixas sobre a poupança. É crucial para compreender a ascensão do presidenciável republicano Donald J. Trump, o voto pelo ‘brexit’ (a saída do Reino Unido da União Europeia) e o crescimento de movimentos populistas em toda a Europa.

Esse crescimento lento ocorre há 15 anos. Nos EUA, o PIB (Produto Interno Bruto) per capita aumentou em média 2,2% ao ano de 1947 até 2000 — mas a partir de 2001 ele ficou em média em apenas 0,9%. As economias da Europa Ocidental e do Japão foram ainda pior.

E menos pessoas estão se beneficiando desse pequeno crescimento. Uma análise do Instituto Global McKinsey reveou que 81% da população dos EUA estão em uma faixa de renda que ficou estagnada ou declinou na última década. Eram 97% na Itália, 70% no Reino Unido e 63% na França.

A desaceleração se resume à oferta e demanda: a capacidade da economia global de produzir bens e serviços, e o desejo dos consumidores e empresas de comprá-los. O que é preocupante é que as fraquezas na oferta e demanda globais parecem estar se empurrando mutuamente em um círculo vicioso.

Parece que algo fundamental se rompeu na máquina do crescimento global.

A desaceleração tem dois componentes potenciais: as pessoas estão trabalhando menos horas, e menos produção está sendo gerada para cada hora trabalhada. Ambos contribuíram para o mau desempenho econômico.

Em 2000, o economista Robert J. Gordon, da Universidade Northwestern, no Estado americano de Illinois, afirmou que a internet não teria o mesmo impacto transformador na quantidade de produção econômica que surgiria de uma hora de trabalho humano quanto tiveram as inovações do século 20, como eletricidade e transporte aéreo.

“As pessoas diziam: ‘O crescimento da produtividade está explodindo, Gordon. Você errou; estamos em uma nova era’”, afirmou Gordon. Mas, conforme a produtividade desacelerou, “as pessoas começaram a levar cada vez mais a sério meu ponto de vista”.

Mas não é apenas que cada hora de trabalho produz menos que o projetado. Menos pessoas estão trabalhando por menos horas.

A baixa produtividade e menos trabalhadores são golpes para o lado da oferta da economia. Mas há evidências de que a escassez de demanda também é uma grande parte do problema.

Pense na economia de um carro; se você tentar acelerar muito além da velocidade de que ele é capaz, o carro não irá mais depressa, mas o motor ficará superaquecido. De maneira semelhante, se a saída voluntária de pessoas da força de trabalho e os ganhos abaixo do esperado dos avanços tecnológicos fossem toda a história por trás da desaceleração do crescimento, deveria haver evidências de que a economia está superaquecida, resultando em inflação.

Mas os bancos centrais globais estão mantendo os pés no acelerador econômico, e isso não está resultando em superaquecimento.

A distinção é importante para que haja alguma esperança de solucionar o problema. Se a questão for a falta de demanda, então um pouco mais de estímulo deveria ajudar. Se for totalmente pelo lado da oferta, o estímulo do governo não adiantará muito, e os políticos deveriam se concentrar em tornar as empresas mais criativas e atrair as pessoas de volta ao mercado de trabalho.

Mas e se forem ambos?

Larry Summers, um economista de Harvard, observou que o crescimento se manteve baixo e a inflação invisível depois da crise de 2008, apesar dos estímulos extraordinários dos bancos centrais. Mesmo antes da crise, o crescimento econômico tinha sido relativamente morno.

Em novembro de 2013, ele afirmou que a economia global havia, apenas talvez, se assentado em um estado de “estagnação secular”, em que havia demanda insuficiente, resultando em crescimento lento, baixa inflação e baixas taxas de juros.

Mas talvez não seja tão simples quanto oferta contra demanda. Talvez as pessoas tenham saído da força de trabalho porque suas capacidades e conexões se atrofiaram. Talvez a queda de produtividade seja causada em parte pelas empresas que não fazem investimentos de capital porque não acham que haverá demanda por seus produtos.

Summers pinta a coisa como uma inversão da “Lei de Say”, a ideia de que a oferta cria sua própria demanda; que no âmbito econômico as pessoas que fazem o trabalho para criar bens e serviços terão renda para comprar esses bens e serviços. Nesse caso, porém, como ele muitas vezes coloca, “a falta de demanda cria falta de oferta”.

Sua proposta de solução é que o governo expanda acentuadamente o investimento em informação, o que poderia produzir um salto de demanda, o que por sua vez poderia ajudar o lado da oferta -ajudando os trabalhadores a se religar à força de trabalho.

Há muito que não sabemos sobre o futuro econômico. O que sabemos é que se alguma coisa não mudar o século 21 será sombrio.

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