1 de setembro de 2017

O significado do trabalho em uma sociedade sustentável

John Bellamy Foster

Monthly Review

Monthly Review Volume 69, Number 4 (September 2017)

Pros infernos essa vida tranquila. Eu quero trabalho.

William Shakespeare, Henry IV, Parte I, Ato II, Cena IV

Tradução / A natureza e o significado do trabalho, no que se refere a uma sociedade futura, dividiu profundamente os pensadores ecológicos, socialistas, utópicos e românticos desde a Revolução Industrial.1 Alguns teóricos radicais viram uma sociedade mais justa como meramente exigindo a racionalização das relações de trabalho atuais, acompanhada de aumento do tempo de lazer e distribuição mais equitativa. Outros se concentraram na necessidade de transcender todo o sistema de trabalho alienado e fazer do desenvolvimento de relações de trabalho criativas o elemento central de uma nova sociedade revolucionária. No que parece ser um esforço para contornar este conflito duradouro, as visões atuais de prosperidade sustentável, embora não neguem a necessidade do trabalho, muitas vezes o colocam em segundo plano, colocando sua ênfase em uma enorme expansão das horas de lazer.2 Aumento do tempo de não-trabalho parece um bem puro e é facilmente imaginável no contexto de uma sociedade sem crescimento. Em contraste, a própria questão do trabalho está repleta de dificuldades inerentes, visto que vai às raízes do atual sistema socioeconômico, sua divisão do trabalho e suas relações de classe. Ainda assim, nenhum mapeamento ecológico coerente de um futuro sustentável é concebível sem abordar a questão do homo faber, ou seja, o papel criativo, construtivo e histórico na transformação da natureza e, portanto, a relação social com a natureza, que distingue a humanidade como espécie.

Nas literaturas utópico-socialistas do final do século XIX, é possível distinguir duas grandes tendências em relação ao futuro do trabalho, representadas de um lado por Edward Bellamy, autor de Looking Backward (Olhando para Trás), do outro por William Morris, autor de News from Nowhere (Notícias de lugar nenhum). Bellamy, representando uma visão que nos é familiar hoje, viu uma mecanização aprimorada, juntamente com uma organização tecnocrática abrangente, como a base para o aumento do tempo de lazer, considerado o bem supremo. Em contraste, Morris, cuja análise derivou de Charles Fourier, John Ruskin e Karl Marx, enfatizou a centralidade do trabalho útil e agradável, exigindo a abolição da divisão capitalista do trabalho. Hoje, a visão mecanicista de Bellamy se assemelha mais às concepções populares de uma economia sustentável do que a visão mais radical de Morris. Assim, a noção de “liberação do trabalho” como a base da prosperidade sustentável foi fortemente avançada nos escritos de pensadores do primeiro estágio do ecossocialismo e do decrescimento, como André Gorz e Serge Latouche.3

Afirmo aqui que a ideia de liberação quase total do trabalho, em sua unilateralidade e incompletude, é, em última análise, incompatível com uma sociedade genuinamente sustentável. Depois de examinar primeiro a visão hegemônica do trabalho na história do pensamento ocidental, voltando aos gregos antigos, volto-me para uma consideração das idéias opostas de Marx e Adam Smith. Isso leva à questão de como os próprios pensadores socialistas e utópicos divergem na questão do trabalho, focando no contraste entre Bellamy e Morris. Tudo isso aponta para a conclusão de que o real potencial de qualquer futura sociedade sustentável está não tanto na ampliação do lazer, mas na capacidade de gerar um novo mundo de trabalho criativo e coletivo, controlado pelos produtores associados.
A ideologia hegemônica do trabalho e do lazer

A narrativa encontrada hoje em todos os livros de economia neoclássica retrata o trabalho em termos puramente negativos, como uma desutilidade ou sacrifício. Sociólogos e economistas costumam apresentar isso como um fenômeno trans-histórico, que se estende desde os gregos clássicos até o presente. Assim, o teórico cultural italiano Adriano Tilgher declarou em 1929: “Para os gregos, o trabalho era uma maldição e nada mais”, apoiando sua afirmação com citações de Sócrates, Platão, Xenofonte, Aristóteles, Cícero e outras figuras, juntos representando a perspectiva aristocrática na antiguidade.4

Com a ascensão do capitalismo, o trabalho era visto como um mal necessário que exigia coerção. Assim, em 1776, no alvorecer da Revolução Industrial, Adam Smith em A Riqueza das Nações definiu o trabalho como um sacrifício, que exigia o dispêndio de “labuta e atribulações… de nosso próprio corpo”. O trabalhador deve “sempre renunciar … seu conforto, sua liberdade e sua felicidade.”5 Alguns anos antes, em 1770, apareceu um tratado anônimo intitulado Essay on Trade and Commerce (Ensaio sobre Negócios e Comércio), escrito por uma figura (mais tarde acreditou-se ser J. Cunningham) a quem Marx descreveu como “o representante mais fanático da burguesia do século XVIII.” Ele defendeu a proposição de que para quebrar o espírito de independência e ociosidade dos trabalhadores ingleses, “casas de trabalho” ideais deveriam ser estabelecidas prendendo os pobres, transformando-as em “casas de terror, onde eles deveriam trabalhar quatorze horas por dia de tal forma que quando o tempo da refeição fosse deduzido, deveriam permanecer doze horas de trabalho inteiras e completas.” Pontos de vista semelhantes foram promovidos nas décadas subsequentes por Thomas Robert Malthus, levando à Nova Lei dos Pobres de 1834.6

A ideologia econômica neoclássica hoje trata a questão do trabalho como um compromisso entre lazer e trabalho, minimizando sua própria designação mais geral do trabalho como uma desutilidade a fim de apresentá-lo como uma escolha financeira pessoal, e não como resultado de coerção.7 Continua sendo verdade, como observou o economista alemão Steffen Rätzel em 2009, que no fundo o “trabalho”, na teoria neoclássica, “é visto como um mal necessário para criar renda para o consumo” (grifo de Foster).8

Essa concepção de trabalho, que deriva muito de seu poder da alienação que caracteriza a sociedade capitalista, tem sido desafiada continuamente por pensadores radicais. Essas perspectivas não são universais nem eternas, nem o trabalho deve ser considerado simplesmente como uma desutilidade — embora as condições da sociedade contemporânea tendam a torná-lo uma e, portanto, exigem coerção.9

Na verdade, o mito de que os antigos pensadores gregos em geral eram contra o trabalho, representando uma continuidade histórica com a ideologia dominante de hoje, foi refutado pelo classicista marxista e filósofo da ciência Benjamin Farrington em seu estudo de 1947 Head and Hand in Ancient Greece (Cabeça e Mão na Grécia Antiga). Farrington mostrou que tais pontos de vista, embora bastante comuns entre as facções aristocráticas representadas por Sócrates, Platão e Aristóteles, foram contestados pelos filósofos pré-socráticos e contraditos pelo contexto histórico mais amplo da filosofia, ciência e medicina gregas, que se originaram nas tradições de conhecimento artesanal prático. “A iluminação central dos Milesianos”, a fonte da filosofia grega, escreveu Farrington, “foi a noção de que todo o universo funciona da mesma maneira que os pequenos pedaços dele que estão sob o controle do homem.” Assim, “toda técnica humana” desenvolvida no processo de trabalho, como as dos cozinheiros, oleiros, ferreiros e agricultores, era avaliada não apenas em termos de seus fins práticos, mas também pelo que tinha a dizer sobre a natureza das coisas. Nos tempos helenísticos, os epicuristas, e mais tarde Lucrécio, levaram adiante essa visão materialista, teorizando o reino da natureza com base na experiência derivada do trabalho manual humano. Tudo isso evidencia o enorme respeito que se confere ao trabalho e, em particular, ao trabalho artesanal.10

Os materialistas da antiguidade construíram suas ideias em torno de um conhecimento íntimo do trabalho e do respeito pelas percepções que ele proporcionava sobre o mundo — em nítido contraste com os idealistas, que, representando o desdém aristocrático pelo trabalho manual, promoviam mitos celestiais e ideais anti-trabalho. Essa visão pode ser percebida em uma declaração atribuída a Sócrates por Xenofonte: “As chamadas artes mecânicas carregam um estigma social e são justamente desonradas em nossas cidades” (Oec. 4.2). Nada poderia estar mais longe da visão de mundo dos materialistas gregos, que viam o trabalho como a personificação das relações orgânicas e dialéticas entre a natureza e a sociedade.11

A concepção possessiva-individualista do trabalho de Smith, representando a visão burguesa posterior, foi também fortemente questionada por pensadores socialistas. Escrevendo em 1857–58, Marx declarou:

No suor de tua testa tu deverás trabalhar! foi a maldição de Jeová sobre Adão. E isso é trabalho para Smith, uma maldição. “Tranquilidade” aparece como o estado adequado, idêntico a “liberdade” e “felicidade”. Parece muito longe da mente de Smith que o indivíduo, “em seu estado normal de saúde, força, atividade, habilidade, facilidade”, também precise de uma parte normal de trabalho e da suspensão da tranquilidade… Ele está certo, é claro, que em suas formas históricas como trabalho escravo, trabalho servil e trabalho assalariado, o trabalho sempre aparece como repulsivo, sempre como trabalho externo forçado; e o não-trabalho, em contraste, como “liberdade e felicidade.” … [Em tais formações sociais] o trabalho … ainda não criou as condições subjetivas e objetivas por si mesmo … nas quais o trabalho se torna um trabalho atraente, a autorrealização do indivíduo. … A. Smith, a propósito, tem apenas os escravos do capital em mente.12

Aqui, Marx argumentou que a ideia de Smith de liberdade como “não-trabalho”, longe de ser uma verdade imutável, era o produto de condições históricas específicas, associadas ao trabalho assalariado explorado. “O trabalho torna-se um trabalho atraente”, para Marx, apenas em circunstâncias não alienadas, quando não é mais uma mercadoria. Isso requer novas e mais elevadas formas de produção social sob o controle dos produtores associados. Tudo isso tem suas raízes, é claro, na poderosa crítica inicial de Marx ao trabalho alienado em seus Manuscritos Econômicos e Filosóficos de 1844.13 Para Marx, os seres humanos eram fundamentalmente seres corpóreos. Remover a humanidade de suas relações materiais, separando radicalmente o trabalho mental do manual, era garantir a alienação humana.14

Utopismo socialista: Bellamy e Morris

Ainda que se pudesse esperar que os socialistas rejeitassem a visão hegemônica das relações de trabalho associadas ao capitalismo, a extensão em que isso se traduziu em visões das relações de trabalho que se diferenciavam fundamentalmente daquela do status quo variou dentro da própria literatura socialista. Embora pouco lido hoje, Looking Backward de Bellamy, publicado em 1888, foi o livro mais popular de seu tempo depois de A Cabana do Pai Tomás e Ben-Hur, vendendo milhões de cópias e sendo traduzido para mais de vinte idiomas. Erich Fromm observou que, em 1935, “três personalidades notáveis, Charles Beard, John Dewey e Edward Weeks”, cada um classificou separadamente o romance de Bellamy como perdendo apenas para O Capital de Marx entre os livros mais influentes do meio século anterior.15

O romance utópico de Bellamy apareceu em um período de rápida expansão econômica, industrialização e concentração de capital nos Estados Unidos. O protagonista, Julian West, acorda em Boston no ano 2000 para descobrir uma sociedade inteiramente transformada segundo as linhas socialistas.16 As tendências de construção de trustes da Era Dourada levaram à criação de uma empresa monopolística gigante, que foi então nacionalizada, trazendo a economia para o controle total do estado. O resultado foi uma sociedade altamente organizada e igualitária. Todos os indivíduos eram obrigados a ingressar no exército de trabalhadores aos vinte e um anos, passar três anos trabalhando como um trabalhador comum e, então, avançar para alguma ocupação qualificada, com o trabalho obrigatório terminando aos quarenta e cinco anos. Todo cidadão, ao longo de sua vida, poderia esperar ser transformado em um homem ou mulher do lazer. Na opinião de Bellamy, o trabalho ainda era concebido como uma dor, não um prazer, e o objetivo era, em última análise, transcendê-lo.

Morris, então a principal força por trás da Liga Socialista com sede em Londres, escreveu uma resenha altamente crítica do livro de Bellamy, focando em suas descrições de trabalho e lazer. Em seguida, em 1890, publicou seu próprio romance utópico socialista, News from Nowhere, que apresentava uma visão nitidamente contrastante do trabalho em uma sociedade superior. Morris, nas palavras de E.P. Thompson, “era um utópico comunista, com toda a força da tradição romântica transformada por trás de si.”17 As principais influências em sua compreensão do papel do trabalho na sociedade foram Fourier, Ruskin e Marx, todos eles haviam criticado, embora por perspectivas políticas nitidamente distintas, a divisão do trabalho e as relações de trabalho distorcidas e alienadas sob o capitalismo. De Fourier, Morris tirou a ideia de que o trabalho pode ser estruturado de forma a ser agradável.18 De Ruskin, ele adotou a ideia de que as artes decorativas e a arquitetura do final da era medieval apontavam para as diferentes condições em que os artesãos viveram e trabalharam, permitindo-lhes canalizar livremente seus pensamentos espontâneos, crenças e estética em tudo o que faziam. Como escreveu Thompson, “Ruskin … foi o primeiro a declarar que o ‘prazer [dos homens] em seu trabalho pelo qual eles fazem seu pão’ está na própria base da sociedade, e a relacionar isso à toda a sua crítica às artes.”19 De Marx, Morris adotou a crítica histórico-materialista da exploração do trabalho que está na raiz do nexo monetário da sociedade de classes capitalista.

A síntese resultante levou à famosa proposição de Morris de que “A arte é a expressão do homem de sua alegria no trabalho”. O trabalho criativo, argumentou ele, é essencial para os seres humanos, que devem “ou estar fazendo algo, ou fingindo que o fazem”. Olhando para a conexão histórica entre arte e trabalho nos tempos pré-industriais, Morris afirmou que “todos os homens que deixaram para trás qualquer sinal de sua existência praticaram a arte”. Sempre houve um “prazer sensorial definido” no trabalho enquanto arte, e na arte enquanto trabalho não alienado; e esse prazer aumentava “na proporção da liberdade e individualidade do trabalho”. O objetivo principal da sociedade deve ser a maximização do prazer no trabalho, no processo de satisfação das necessidades humanas genuínas. Foi “a falta desse prazer no trabalho diário” sob o capitalismo, Morris observou, “que tornou nossas cidades e habitações insultos sórdidos e hediondos à beleza da terra que eles desfiguram, e todos os acessórios da vida significam trivialidade, feiúra.”20

Morris lamentou o trabalho desperdiçado dedicado a produzir quantidades infinitas de mercadorias inúteis, como “arame farpado, armas de 100 toneladas e painéis de publicidade para desfigurar os campos verdes ao longo das ferrovias e assim por diante”. Ele também criticou “mercadorias adulteradas”, vendo-as como nada mais que o desperdício de vidas humanas e a consequente poluição do ambiente natural e social.21

Os exemplos de Morris foram bem escolhidos. “Arame farpado” e “armas de 100 toneladas” eram metonímias para a guerra imperial britânica e a produção de armas. (Hoje os Estados Unidos gastam mais de um trilhão de dólares por ano em gastos militares reais — em oposição aos reconhecidos.)22 Por “painéis de publicidade”, ele quis dizer todo o fenômeno do marketing. (Hoje, mais de um trilhão de dólares por ano é gasto em marketing nos Estados Unidos.)23 Com sua referência à “mercadorias adulteradas”, ele estava enfatizando todo o problema da adulteração de alimentos, ou o desenvolvimento de aditivos principalmente para fins de vendas e redução de custos, bem como a produção de diversos produtos de má qualidade, caracterizados pelo que hoje é chamado de obsolescência programada. (Hoje, a penetração do esforço de vendas na produção afeta quase todas as mercadorias.)24

Na opinião de Morris, a produção de bens socialmente não reprodutivos e prejudiciais era ao mesmo tempo um desperdício de trabalho humano.25 Ele escreveu: “Mas pense, eu imploro, no produto da Inglaterra, a oficina do mundo, e você não ficará confuso, como eu, ao pensar na massa de coisas que nenhum homem são poderia desejar, mas que nosso trabalho inútil faz — e vende?”26

Ao criticar essa produção por seu desperdício, falta de valor estético e alienação do trabalho, Morris não estava atacando a produção do maquinário em si, mas sim insistindo que a produção deveria ser organizada de tal forma que o ser humano não fosse reduzido, como dissera Marx, a um “apêndice de uma máquina”. Como disse o próprio Morris, o trabalhador foi degradado na sociedade capitalista industrial a “nem mesmo uma máquina, mas uma porção média daquela grande e quase milagrosa máquina … a fábrica.”27

Em palavras semelhantes à discussão de Marx sobre o trabalho alienado nos Manuscritos Econômicos e Filosóficos de 1844, Morris declarou em sua palestra de 1888 “Art and Its Producers”(Arte e seus produtores): “o interesse da” vida do operário “é divorciado do objeto de seu trabalho.”

o trabalho [do proletário] tornou-se “emprego”, que é apenas a oportunidade de ganhar a vida segundo a vontade de outra pessoa. Qualquer interesse ainda vinculado à produção de mercadorias sob este sistema abandonou inteiramente o trabalhador comum, se conectando apenas aos organizadores de seu trabalho; e esse interesse comumente pouco tem a ver com a produção de mercadorias, como coisas para serem manuseadas, olhadas… usadas, em suma, mas simplesmente como marcadores no grande jogo do mercado mundial.28

Para Morris, a visão de Bellamy era “a visão moderna não misturada, não histórica e não artística”. Apresentava o ideal do “profissional de classe média” que, na utópica Boston de Looking Backward, tornava-se disponível a todos depois de alguns anos de trabalho normal. “A impressão que ele [Bellamy] produz é a de um enorme exército permanente, rigidamente treinado, compelido por algum destino misterioso a uma ansiedade incessante pela produção de mercadorias que satisfaçam todos os caprichos, por mais supérfluos e absurdos, que possam surgir entre eles.”

Em nítido contraste, Morris declarou que “o ideal do futuro não aponta para a diminuição da energia do homem pela redução do trabalho ao mínimo, mas sim à redução da dor do trabalho ao mínimo, tão pequena que cessará de ser dor.” Não havia barreiras para o trabalho ser criativo e artístico, desde que a produção não fosse determinada por um conceito estreito de produtividade voltado para os lucros capitalistas. A utopia de Bellamy, com seu sufocante “semi fatalismo econômico”, preocupava-se “desnecessariamente” em encontrar “algum incentivo ao trabalho para substituir o medo da fome, que é atualmente o nosso único, ao passo que não se pode repetir o suficiente que o verdadeiro incentivo para o trabalho útil e feliz deve ser o prazer no próprio trabalho.”29

News from Nowhere apresentou a própria visão utópica de Morris. Um homem chamado William — chamado William Guest por aqueles que ele encontra — acorda de um sonho (embora seja intencionalmente ambíguo se ele ainda está sonhando) para se encontrar em Londres no início do século XXII, cerca de um século e meio depois de uma erupção revolucionária na década de 1950 que levou à criação de uma sociedade socialista comunal.30 Na utopia de Nowhere, a tecnologia é usada para reduzir o trabalho tedioso, mas não para descentrar o trabalho em geral. A produção visa, em vez disso, necessidades genuínas e produção artística. Existem novas formas de energia menos destrutivas e a poluição foi erradicada. Os trabalhadores, após a Grande Mudança, permaneceram a princípio amarrados à visão mecanicista do trabalho, mas eventualmente, “sob o disfarce de prazer que não era para ser trabalho, o trabalho que era prazer começou a eliminar a labuta mecânica…. As máquinas não podiam produzir obras de arte e…as obras de arte eram cada vez mais solicitadas.” A arte e a ciência mostraram-se “inesgotáveis”, assim como as possibilidades da criatividade humana por meio do trabalho significativo, substituindo assim a produção capitalista anterior de “uma vasta quantidade de coisas inúteis” 31.

Hoje, a visão de Morris sem dúvida parecerá a alguns como uma “crítica artística” curiosa e moralizante do capitalismo. Pensadores como Luc Boltanski e Éve Chiapello veem a derrota dessa crítica, representada por figuras tão diversas como Morris e Charles Baudelaire, como um dos principais resultados da flexibilidade e inovação pós-fordistas do final do século XX. O “novo espírito do capitalismo”, argumentam eles, envolve a integração generalizada de formas artísticas na produção capitalista.

O ponto fraco da análise de Boltanski e Chiapello reside precisamente em sua fusão de aparências superficiais com o cerne do sistema. Eles, portanto, são vítimas do fetichismo da mercadoria em suas formas mais novas e elegantes, falhando em reconhecer a extensão em que a “crítica artística” e a “crítica social” estão inextricavelmente conectadas e intransponíveis dentro do sistema capitalista. Após a crise do capitalismo global de 2008–09, as críticas artísticas e sociais clássicas da alienação e exploração representadas por Marx e Morris parecem mais relevantes do que nunca.32

Uma força particular da visão de trabalho de Morris em News from Nowhere está em sua descrição da relativa igualdade de gênero no local de trabalho. Em um capítulo intitulado “The Obstinate Refusers”, que fornece o único exemplo de um mestre artesão realmente trabalhando em todo o romance utópico de Morris, essa posição é ocupada por uma mulher, a Senhora Philippa, uma escultora de pedra ou pedreira. Embora o capataz seja homem, é Philippa quem determina quando e de que forma o trabalho será realizado. Sua filha também é escultora de pedras, enquanto um jovem serve a refeição. O trabalho na sociedade de Nowhere, portanto, não é mais estritamente relacionado ao gênero (embora Morris tenha construído contradições em sua análise a esse respeito, descrevendo um mundo ainda em processo de mudança).33

Como Marx, Morris uniu sua análise da possibilidade de trabalho criativo e não alienado à questões ecológicas, reconhecendo que a degradação das relações de trabalho humanas e da natureza estavam inseparavelmente conectadas. Para Marx, a propriedade da terra era semelhante e tão irracional quanto a propriedade dos seres humanos, levando à escravidão e exploração de ambos. Da mesma forma, para Morris, na sociedade capitalista — como Clara expressa em News from Nowhere — as pessoas procuravam “fazer da ‘natureza’ sua escrava, visto que pensavam que a ‘natureza’ era algo fora delas”.34 Morris já argumentava em seus dias que a produção de carvão deveria ser reduzida à metade, tanto por causa do trabalho devastador e destruidor da saúde que exigia, quanto pela poluição massiva que gerava. Uma sociedade mais racional, argumentou ele, poderia permitir cortes profundos na produção de carvão e, ao mesmo tempo, ir além na satisfação das necessidades humanas, permitindo novos campos de desenvolvimento humano.35

A crítica da divisão do trabalho

Marx e Morris argumentaram que a repulsa pelo trabalho na sociedade burguesa era um produto da organização alienada do trabalho, uma visão que combinava as críticas estéticas e político-econômicas do capitalismo. Desde as primeiras civilizações humanas, e mesmo antes, as divisões do trabalho se desenvolveram entre os gêneros, entre a cidade e o campo, e entre o trabalho mental e o manual. O capitalismo havia ampliado e aprofundado essa divisão desigual, dando-lhe uma forma ainda mais alienada ao divorciar os trabalhadores dos meios de produção e impor um regime de trabalho rigidamente hierárquico que não só dividia os trabalhadores nas tarefas que desempenhavam, mas também fragmentava o indivíduo. Essa divisão detalhada do trabalho era a base de toda a ordem de classe do capital. Portanto, derrubar o regime do capital significava antes de mais nada transcender o estranhamento do trabalho e criar uma sociedade profundamente igualitária baseada na organização coletiva do trabalho pelos produtores associados.

A crítica da divisão do trabalho sob o capitalismo não foi um elemento menor para Morris, da mesma forma que para Marx. Numa tradução livre da edição francesa de O Capital, Morris escreveu: “‘Não é apenas o trabalho que é dividido, subdividido e repartido entre vários homens: é o próprio homem que é cortado e metamorfoseado em uma mola automática de uma operação exclusiva. ‘Karl Marx.”36 Morris, que se queixou da “degradação do operador em máquina”, viu isso como a essência da crítica socialista (e romântica) do processo de trabalho capitalista.37

Essas questões foram trazidas à tona mais uma vez no final do século XX em Labor and Monopoly Capital: The Degradation of Work in the Twentieth Century (Trabalho e capital monopolista: A degradação do trabalho no século XX) de Harry Braverman, de 1974. Braverman documentou como o surgimento da gestão científica sob o capitalismo monopolista, conforme exibido no trabalho de Frederick Winslow Taylor Principles of Scientific Management (Princípios de Gestão Científica), transformou a subsunção formal do trabalho ao capital em um processo material real.38 A centralização do conhecimento e o controle do o processo de trabalho dentro da administração permitiu uma expansão enorme da divisão detalhada do trabalho e, assim, aumentou os lucros do capital. O que Braverman chamou de “degradação geral do trabalho sob o capitalismo monopolista” capturou a base material da crescente alienação e desqualificação da vida profissional para a vasta maioria da população.

No entanto, a evolução da tecnologia e das capacidades humanas apontou para novas possibilidades revolucionárias que estavam mais em sintonia com Marx do que Smith. Como Braverman escreveu:

A tecnologia moderna, de fato, tem uma tendência poderosa de quebrar antigas divisões de trabalho através da reunificação dos processos de produção… O processo reunificado em que a execução de todas as etapas [por exemplo, no caso de fabricação de alfinetes de Smith] é embutida no mecanismo de trabalho de uma única máquina, parece agora torná-lo adequado para um coletivo de produtores associados, dos quais nenhum precisa passar a vida inteira em uma única função e todos podem participar da engenharia, projeto, melhoria, reparo e operação dessas máquinas cada vez mais produtivas. Tal sistema não acarretaria perda de produção e representaria a reunificação do ofício em um corpo de trabalhadores muito superior aos antigos artesãos. Os trabalhadores agora podem se tornar mestres da tecnologia de seu processo em nível de engenharia e podem repartir entre si de forma equitativa as várias tarefas relacionadas com esta forma de produção que se tornou tão fácil e automática.39

Para Braverman, portanto, o desenvolvimento da tecnologia e do conhecimento e capacidades humanas, juntamente com a automação, permitiram uma relação mais plena e criativa com o processo de trabalho no futuro, rompendo com a divisão de trabalho extremamente detalhada que caracterizava um sistema capitalista voltado apenas para a lucratividade. Novas aberturas existiam para o trabalho não alienado e a arte no trabalho, recuperando em um nível mais alto o que havia sido perdido com o fim do artesão. Mas isso exigia uma mudança social radical.

Um aspecto fundamental do argumento de Braverman foi a crítica ao próprio marxismo, na forma como ele se desenvolveu na União Soviética, onde ambientes de trabalho degradados semelhantes aos do capitalismo surgiram, mas sem a coerção do desemprego, resultando em problemas crônicos de produtividade. V. I. Lenin, ele apontou, havia defendido a adoção de aspectos da gestão científica de Taylor na indústria soviética, alegando que ela combinava “a brutalidade refinada da exploração burguesa e uma série das maiores realizações científicas no campo.” Os planejadores soviéticos subsequentes ignoraram os elementos mais críticos do argumento de Lenin e implementaram o taylorismo não modificado, em um reflexo direto dos métodos mais cruéis da gestão do trabalho capitalista.

Na URSS e na esquerda em geral, a crítica de Marx (e de Morris) ao processo de trabalho capitalista foi, portanto, em grande parte esquecida, e o horizonte de progresso reduzido a melhorias relativamente pequenas nas condições de trabalho, algum grau de “controle dos trabalhadores” e planejamento centralizado. “A semelhança entre as práticas capitalistas tradicionais e as práticas soviéticas”, escreveu Braverman, “encoraja fortemente a conclusão de que não há outra maneira pela qual a indústria moderna possa ser organizada” — uma conclusão, no entanto, que ia contra o potencial real para o desenvolvimento de capacidades e necessidades humanas embutido na tecnologia moderna.40 A alienação e a degradação do trabalho não eram inerentes às relações de trabalho modernas, mas foram impostas por prioridades de lucro e crescimento que haviam sido parcialmente replicadas na União Soviética, minando a promessa libertadora original da sociedade soviética.

Um mundo de trabalho criativo

O exposto acima sugere que a essência de uma futura sociedade socialista sustentável deve estar localizada no processo de trabalho — nos termos de Marx, o metabolismo da sociedade e da natureza. Visões de um futuro pós-capitalista que gira em torno da expansão do tempo de lazer e da prosperidade geral, sem abordar a necessidade de trabalho significativo, estão fadadas ao fracasso.

Ainda assim, hoje, a maioria das representações de uma futura sociedade sustentável considera o trabalho e a produção como econômica e tecnologicamente determinados, ou simplesmente substituídos pela automação, e enfocam a maximização do lazer como o objetivo mais elevado da sociedade, muitas vezes juntamente com garantias de renda básica.41 Isso pode ser visto em obras de teóricos como Latouche e Gorz. O primeiro define “decrescimento”, do qual ele é um dos principais proponentes, como uma formação social “além da sociedade baseada no trabalho”. Descartando os argumentos da esquerda para o desenvolvimento de uma sociedade na qual o trabalho assume um papel mais criativo como “propaganda pró-trabalho”, Latouche defende uma sociedade em que “o lazer e a diversão são tão valorizados quanto o trabalho.”42

A análise ecossocialista inicial de Gorz adota uma postura semelhante. Em, Paths to Paradise — On the Liberation from Work (Os Caminhos do Paraíso — Sobre a libertação do trabalho), de 1983, ele retorna à noção aristocrática de Aristóteles de que a vida é mais gratificante fora do reino mundano do trabalho. Gorz prevê uma grande redução no tempo de trabalho — “o fim da sociedade do trabalho” — com os funcionários trabalhando apenas mil horas anuais ao longo de vinte anos de emprego. A ideia de Gorz de redução do trabalho formal, tornada inevitável em uma sociedade futura, é de fato a de uma sociedade em que todos são pequeno-burgueses — um presente da “revolução microeletrônica” e da automação.

As relações de trabalho padrão, conforme concebidas em Paths to Paradise, seriam dominadas pela automação, e a redução resultante nas horas de trabalho permitiria que os empregos profissionais mais agradáveis ​​fossem divididos entre mais pessoas. No entanto, tudo isso fica em segundo plano em relação à promessa de um vasto aumento no tempo livre, permitindo que os indivíduos se envolvam em todos os tipos de atividades autônomas, retratadas como buscas de lazer individuais e produção doméstica, e não em termos de trabalho associado. O local de trabalho capitalista normal é essencialmente deixado para a administração científica taylorista, enquanto as questões mais complexas que cercam a automação e a degradação do trabalho são escassamente examinadas. A liberdade é vista como não-trabalho na forma de puro lazer, ou como produção doméstica ou informal. A visão socialista alternativa, que se concentra na transformação do próprio trabalho em uma sociedade futura, é categoricamente rejeitada como um dogma dos “discípulos da religião do trabalho”.43

No entanto, os tipos de automação total e robotização agora projetados para a sociedade capitalista avançada, que são frequentemente tratados como representando tendências teleológicas inevitáveis ​​- levando a discussões de “um mundo sem trabalho” — não se conciliam com a concepção de uma economia e estados estáveis, onde os seres humanos não seriam nem apêndices das máquinas nem seus servos.44 Tampouco o fatalismo dominante de hoje está suficientemente fundamentado em uma crítica das contradições capitalistas contemporâneas. Na economia política de hoje, pode-se argumentar, a produtividade não é muito baixa, mas muito alta. O mero desenvolvimento quantitativo — medido em produção ou crescimento do PIB — não é mais o principal desafio para atender às necessidades sociais. Em uma sociedade mais racional baseada na abundância, como Robert W. McChesney e John Nichols argumentam em People Get Ready (As pessoas se preparam), os aspectos qualitativos das condições de trabalho seriam enfatizados.45 As relações de trabalho seriam vistas como base da igualdade e sociabilidade, ao invés de desigualdade e associabilidade. Os empregos repetitivos e desqualificados seriam substituídos por formas de emprego ativo que enfatizam o desenvolvimento humano integral. O estoque comum de conhecimento da sociedade que constitui a tecnologia seria usado para a promoção do progresso social sustentável, e não para os lucros e a acumulação de poucos.

Os seres humanos não precisam apenas de trabalho criativo em seus papéis como indivíduos, mas também em seus papéis sociais, uma vez que o trabalho é constitutivo da própria sociedade. Um mundo em que a maioria das pessoas são removidas das atividades de trabalho, como retratado no romance futurista Player Piano (Piano Mecânico) de Kurt Vonnegut, seria pouco mais do que uma distopia.46 A cessação total do trabalho, como representada em muitos esquemas pós-trabalho, só poderia levar a uma espécie de alienação absoluta: o afastamento do cerne da “atividade vital”, que exige que os seres humanos sejam agentes transformadores que interagem com a natureza. Abolir o trabalho constituiria uma ruptura com a existência objetiva em sua forma mais significativa, ativa e criativa — uma ruptura com o próprio ser humano.47

O fracasso de algumas visões de uma prosperidade sustentável em confrontar todo o potencial do trabalho humano livremente associado só serve para minar as críticas, muitas vezes corajosas, do crescimento econômico que caracterizam as visões ecológicas radicais de hoje. A infeliz conseqüência é que muitos dos argumentos para uma sociedade próspera e sem crescimento têm mais em comum com Bellamy do que com Morris (ou Marx), uma vez que se concentram quase exclusivamente na expansão do lazer como não-trabalho, enquanto minimizam as possibilidades produtivas e criativas da humanidade. Na verdade, é impossível imaginar um futuro viável que não se concentre na metamorfose do próprio trabalho. Para Morris, como vimos, a arte e a ciência eram os dois domínios “inesgotáveis” da criatividade humana em que todas as pessoas podiam participar ativamente no contexto do trabalho humano associado.

Em uma provável sociedade socialista caracterizada pela prosperidade sustentável que reconhece os limites materiais como seu princípio essencial — de acordo com a noção de Epicuro de que “a riqueza, se os limites não são estabelecidos para ela, é imensa pobreza” — é crucial vislumbrar relações de trabalho completamente novas, socialmente e ecologicamente reprodutivas.48 A noção aceita de que a maximização do lazer, luxo e consumo é o objetivo principal do progresso humano, e que as pessoas se recusarão a produzir se não estiverem sujeitas à coerção e movidas pela ganância, perde muito de sua força na luz das contradições cada vez mais profundas de nossa sociedade super produtiva e excessivamente consumidora. A visão prevalecente vai contra o que conhecemos antropologicamente a respeito de muitas culturas pré-capitalistas e fica aquém de uma concepção realista da natureza humana variável, que leve em consideração a evolução histórica dos seres humanos como animais sociais. A motivação para criar e contribuir durante uma vida para a reprodução social da humanidade como um todo, juntamente com as normas mais elevadas impostas pelo trabalho coletivo, fornecem estímulos poderosos para a continuidade do desenvolvimento humano livre. A crise universal que marca nosso tempo necessita de uma época de mudança revolucionária intransigente; voltada para o aproveitamento da energia humana para o trabalho criativo e socialmente produtivo em um mundo de sustentabilidade ecológica e igualdade substancial. No final, não há outra maneira de conceber uma prosperidade verdadeiramente sustentável.

Notas

1. Este ensaio é dedicado a Harry Magdoff e foi inspirado por seu artigo “The Meaning of Work,” Monthly Review 34, no. 5 (Outubro 1982): 1–15.
2. Para um importante livro sobre sustentabilidade ecológico-econômica que, no entanto, dedica apenas uma pequena parte de sua análise ao tema do trabalho, veja Tim Jackson, Prosperity without Growth (Londres: Earthscan, 2011).
3. Veja André Gorz, Paths to Paradise (Londres: Pluto, 1985); Serge Latouche, Farewell to Growth (Cambridge, Reino Unido: Polity, 2009). Pensadores ecossocialistas de primeiro estágio, como Gorz, tentaram combinar a análise de Green e a teoria socialista, com a primeira frequentemente substituindo a última. Em contraste, os ecossocialistas de segundo estágio ou marxistas ecológicos buscaram construir sobre os fundamentos ecológicos do materialismo histórico clássico. Sobre esta distinção, veja John Bellamy Foster e Paul Burkett, Marx and the Earth (Boston: Brill, 2016), 1–11.
4. Adriano Tilgher, Homo Faber (Chicago: Regnery, 1958), 3–10; Aristotle, The Politics (Oxford, Reino Unido: Oxford University Press, 1958).
5. Adam Smith, The Wealth of Nations (Nova York: Modern Library, 1937), 30–33.
6. Autor anônimo citado em Paul Lafargue, “The Right to Be Lazy” (1883), chapter 2, disponível em http://marxists.org; Karl Marx, Capital, vol. 1 (Londres: Penguin, 1976), 685, 789, 897.
7. David A. Spencer, The Political Economy of Work (London: Routledge, 2009), 70.
8. Steffen Rätzel, “Revisiting the Neoclassical Theory of Labor Supply — Disutility of Labor, Working Hours, and Happiness,” Otto von Guericke University Magdeburg, Faculty of Economics and Management Paper №5, 2, http://uni-magdeburg.de.
9. Rätzel, no estudo citado acima, demonstra que mesmo nas condições atuais, o trabalho não é simplesmente uma desutilidade, mas uma base para a felicidade humana. Parece óbvio que isso seria ainda mais verdadeiro em ambientes de trabalho não alienados.
10. Benjamin Farrington, Head and Hand in Ancient Greece (Londres: Watts, 1947), 1–9, 28–29. Veja também Ellen Meiksins Wood, Peasant-Citizen e Slave (Londres: Verso, 1998), 134–45.
11. Veja Foster e Burkett, Marx and the Earth, 65. As opiniões da sociedade grega sobre o trabalho foram profundamente afetadas pela existência da escravidão. No entanto, isso teve um impacto maior sobre a aristocracia, que era fortemente dependente do trabalho escravo, do que sobre demos, com suas bases em cidadãos livres, composta principalmente por artesãos e camponeses. Essas distinções de classe dentro da polis refletiam-se nas divisões entre as visões idealistas e materialistas. Veja Elllen Meiksins Wood e Neal Wood, Class Ideology and Ancient Political Theory (Oxford: Oxford University Press, 1978).
12. Karl Marx, Grundrissse (Londres: Penguin, 1973), 611–12. Marx estava aqui se referindo à mesma passagem de Smith citada acima.
13. Karl Marx, Early Writings (London: Penguin, 1974), 322–34.
14. Joseph Fracchia, “Organisms and Objectifications: A Historical-Materialist Inquiry Into the ‘Human and Animal’,” Monthly Review 68, no. 10 (Marçõ 2017): 1–16.
15. Erich Fromm, “Introduction,” in Edward Bellamy, Looking Backward (Nova York: New American Library, 1960), v. O primeiro volume de O capital só foi traduzido para o inglês em 1886 e, portanto, foi tratado como uma obra do meio século anterior.
16. Bellamy, Looking Backward; Magdoff, “The Meaning of Work,” 1–2.
17. E. P. Thompson, William Morris, Romantic to Revolutionary (Nova York: Pantheon, 1976), 792. 18. Para um excelente estudo da concepção de trabalho de Morris, veja Phil Katz, Thinking Hands: The Power of Labour in William Morris (Londres: Heatherington, 2005).
18. William Morris, News from Nowhere (Oxford, Reino Unido: Oxford University Press), 79; William Morris e Ernest Belfort Bax, Socialism: Its Growth and Outcome (London: Sonnenschein, 1893), 215; Jonathan Beecher, Charles Fourier (Berkeley, CA: University of California Press, 1986), 274–96.
19. Thompson, William Morris, 35–37; John Ruskin, The Stones of Venice, vol. 2 (Nova York: Collier, 1900), 163–65.
20. William Morris, Collected Works, vol. 23 (Nova York: Longmans, Green, 1910), 173; News from Nowhere and Selected Writings and Designs (London: Penguin, 1962), 140–43; Signs of Change (Londres: Longmans, Green, 1896),119.
21. May Morris, ed., William Morris: Artist, Writer, Socialist, vol. 2 (Cambridge, Reino Unido: Cambridge University Press, 1936), 478–79; William Morris, Signs of Change, 17.
22. Mark Strauss, “Ten Inventions that Inadvertently Transformed Warfare,” Smithsonian, September 18, 2010, http://smithsonianmag.com; John Bellamy Foster, Hannah Holleman, e Robert W. 23. McChesney, “The U.S. Imperial Triangle and Military Spending,” Monthly Review 60, no. 5 (Outubro 2008): 1–19.
23. Fred Magdoff e John Bellamy Foster, What Every Environmentalist Needs to Know about Capitalism (Nova York: Monthly Review Press, 2011), 46–53.
24. Sobre a análise de Marx sobre a adulteração de alimentos na Inglaterra do século XIX, que sem dúvida influenciou Morris, veja John Bellamy Foster, “Marx as a Food Theorist,” Monthly Review 68, no. 7 (Dezembro 2016): 2–8.
25. A crítica do desperdício econômico e ecológico e sua teorização em termos da reprodução social têm sido centrais para a economia política marxista, incluindo conceitos de valor de uso especificamente capitalista e valor de uso negativo. Veja por exemplo Paul A. Baran e Paul M. Sweezy, Monopoly Capital (New York: Monthly Review Press, 1966); Michael Kidron, Capitalism and Theory (London: Pluto, 1974); John Bellamy Foster, “The Ecology of Marxian Political Economy” Monthly Review 63, no. 4 (Setembro 2011): 1–16. Essas análises enquadram os resíduos não em termos éticos, mas sim em termos econômicos e ecológicos, como critérios de reprodução social. Uma arma nuclear, por exemplo, é um beco sem saída, sem contribuição direta para a reprodução social.
26. Morris, Signs of Change, 148–49
27. Marx, O Capital, vol. 1, 799; William Morris, “Art and its Producers,” in Art and its Producers and The Arts and Crafts To-day (Londres: Longmans, 1901), 9–10.
28. Morris, “Art and its Producers,” 9–10. As reticências são do próprio Morris, destinadas a indicar uma pausa.
29. William Morris, Political Writings (Bristol: Thoemmes 1994), 419–25.
30. As datas fornecidas no texto deixam as coisas um tanto incertas. Morris mudou algumas das datas na versão serializada no Commonwealth, empurrando os eventos para o futuro. Por exemplo, a ponte, mencionada no capítulo 2, diz-se que foi construída em 1971 na versão Commonwealth, enquanto no livro data de 2003. Seguindo aqui as datas da edição de 1891, a Grande Mudança ocorre durante o início dos anos 1950 . A guerra civil começa em 1952 e parece ter acabado na época da “limpeza de casas” em 1955. William Guest é informado no início do texto que a ponte construída em 2003 era “não muito velha” para os padrões históricos. Hammond mais tarde se refere à nova época como tendo durado cerca de 150 anos, o que provavelmente a colocaria no início do século XX. Uma referência mais oblíqua a “duzentos anos atrás” parece referir-se ao período desde o final do século XIX ou início do século XX. Morris, News from Nowhere, 8, 14, 46, 69, 94, 184.
31. Morris, News from Nowhere, 40, 78–85, 140, 153–55.
32. Luc Boltanski e Éve Chiapello, The New Spirit of Capitalism (Londres: Verso, 2005), 38, 466–67, 535–36. Sobre as contradições históricas do fordismo e do pensamento pós-fordista, veja John Bellamy Foster, “The Fetish of Fordism,” Monthly Review 39, no. 10 (Março 1988), 1–13.
33. Morris, News from Nowhere, 148–51. A intenção feminista de Morris aqui é evidente no nome Philippa, um claro tributo a sua contemporânea Philippa Fawcett, uma matemática extremamente talentosa e defensora da igualdade das mulheres, a quem Morris admirava muito. William Morris, We Met Morris: Interviews with William Morris, 1895–96 (Reading, Reino Unido: Spire, 2005), 93–95. Como uma complexa obra de arte mimética, o romance utópico de Morris descreve uma sociedade que passou por uma grande mudança e ainda está mudando — uma mimese que se reflete não apenas na pré-história do capitalismo, mas também no passado, presente e potencial futuro de Nowhere. Isso é mais claro no tratamento que Morris dá ao gênero.
34. Morris, News from Nowhere, 154; Marx, Capital, vol. 3 (Londres: Penguin, 1981), 911.
35. Veja Morris, News from Nowhere, 59; John Bruce Glasier, William Morris and the Early Days of the Socialist Movement (Londres: Longmans, Green, 1921), 76, 81–82.
36. Thompson, William Morris, 37–38; Marx, O Capital, vol. 1, 481.
37. Ruskin, The Stones of Venice, vol. 2, 163; Thompson, William Morris, 37–38.
38. Harry Braverman, Labor and Monopoly Capital (Nova York: Monthly Review Press, 1998).
39. Braverman, Labor and Monopoly Capital, 320.
40. Braverman, Labor and Monopoly Capital, 8–11. A partir da década de 1930, a psicologia das relações humanas foi introduzida na administração, aparentemente para tornar o trabalho mais prazeroso e menos alienante, embora isso não envolvesse um afastamento fundamental da degradação objetiva do próprio trabalho. Braverman aborda isso em um capítulo intitulado “A habituação do trabalhador ao modo de produção capitalista”.
41. Muitas visões progressistas do futuro substituem a agência humana por um tipo de determinismo tecnológico. Veja por exemplo os argumentos em Paul Mason, Postcapitalism (Londres: Penguin, 2015).
42. Latouche, Farewell to Growth, 81–88.
43. Gorz, Paths to Paradise, 29–40, 53, 67, 117; Herbert Applebaum, The Concept of Work (Albany, NY: State University of New York Press, 1992), 561–65. Pode-se argumentar que a análise de Gorz do trabalho em seu posterior Capitalism, Socialism, Ecology é mais matizada. Mas em sua obra posterior, Gorz adota a noção de que a concepção clássica de trabalho é de “dor, aborrecimento e fadiga” e que a noção de trabalho como parte do processo criativo foi uma invenção do movimento operário no século XIX. Ele afirma: “A ideologia do trabalho, que defende que ‘trabalho é vida’ e exige que seja levado a sério e tratado como uma vocação, e a utopia concomitante de uma sociedade regida pelos produtores associados [concepção de Marx], favorece empregadores, consolidam as relações capitalistas de produção e dominação e legitimam os privilégios de uma elite do trabalho. “Capitalism, Socialism, Ecology (Londres: Verso, 1994), 53, 56.
44. Derek Thompson, “A World Without Work,” Atlantic, Julho–Agosto 2015.
45. Robert W. McChesney, e John Nichols, People Get Ready (Nova York: Nation, 2016), 96–114.
46. Kurt Vonnegut, Jr., Player Piano (Nova York: Simon and Schuster, 1952).
47. Marx, Early Writings, 327–29.
48. Brad Inwood e L. P. Gerson, eds., The Epicurus Reader (Indianapolis: Hackett, 1994), 37.

Este artigo é uma versão revisada de "The Meaning of Work in a Sustainable Society: A Marxian View", publicado em março de 2017 pelo Center for the Understanding of Sustainable Prosperity da University of Surrey.

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