Ministro recebe voto de confiança que estava em falta, mas precisa atravessar Planalto com plano para despesas
Bruno Boghossian
Lula (PT) cruzou um oceano antes de lançar uma boia na direção de Fernando Haddad (Fazenda). "Ele é extraordinário", disse o presidente, em Genebra. Foi um aceno sutil, mas capaz de dar ao ministro um voto público de confiança que parecia estar em falta nos últimos dias.
Haddad atravessou a semana com uma medida econômica importante barrada pelo Congresso, um crescimento do mau humor de empresários, um ceticismo em relação a seus planos para equilibrar as contas públicas e uma disputa de poder dentro do governo. Nos piores momentos, correram soltas especulações furadas sobre sua saída do cargo.
A declaração do presidente nesta quinta-feira (13) foi uma solução rápida e barata para aliviar ao menos parte do desgaste. Lula pode discordar de algumas ideias de Haddad, mas decidiu fazer um gesto miúdo para indicar que os dois continuam caminhando na mesma direção.
O presidente Lula (PT), com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante cerimônia no Palácio do Planalto no fim de maio - Pedro Ladeira/Folhapress |
É uma linha de crédito de curto prazo. Ainda que Haddad termine a semana com o respaldo público do presidente, as dúvidas em relação à disposição de Lula de abraçar algumas medidas de corte de despesas amanhecerão na mesa do ministro na próxima segunda-feira.
Haddad buscou seu próprio fôlego para atravessar essa próxima fase. Fez uma reunião imprevista com Simone Tebet (Planejamento) e anunciou, ao lado da ministra, que sua equipe intensificaria os trabalhos para revisar as despesas do governo. No Rio, Geraldo Alckmin (Desenvolvimento) fez coro e disse que o governo tem "compromisso fiscal".
A tabelinha Haddad-Tebet-Alckmin reflete uma tentativa de reverter uma imagem de isolamento do chefe da Fazenda, mas também uma jogada para resgatar um símbolo de equilíbrio de contas que foi vendido na transição de governo e acabou desgastado devido à influência limitada concedida aos ministros do Planejamento e do Desenvolvimento.
A escolha desses aliados para esse momento, além disso, é um sinal pouco discreto da distância entre Haddad e aquele que se tornou o personagem mais poderoso da equipe de Lula: o chefe da Casa Civil, Rui Costa.
Mais do que o alarido de partidos de esquerda contra uma política de redução de gastos, a resistência de Costa é considerada um dos principais obstáculos aos planos de Haddad. O ministro da Casa Civil é visto como a última e mais complicada barreira num eventual esforço para convencer Lula a usar a tesoura.
A atenção dada a esse cabo de guerra antecipa as incertezas em relação ao árbitro final: o próprio Lula.
Na véspera do elogio ao ministro, o presidente ainda repetia a fórmula que apresenta o equilíbrio das contas do governo sob a bandeira do aumento da arrecadação, com o objetivo de evitar o corte de investimentos.
Enquanto isso, Haddad já virava a página, admitindo a necessidade de um ajuste pelo lado das despesas. O ministro fez uma aposta alta ao lançar a ideia em público antes de obter um compromisso de Lula.
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