Euan Marshall
Jacobin
Tradução / Seria difícil imaginar companheiros de cama mais estranhos do que Ronaldinho e Jair Bolsonaro. Ronaldinho tornou-se um ícone global na década de 2000, sua maneira despreocupada no campo dispensando um enorme talento que o fez o melhor jogador do mundo antes da emergência de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo. Ele era o filho de um trabalhador de estaleiro que morreu quando ele só tinha 8 anos e cresceu na pobreza em Porto Alegre. Bolsonaro, ao contrário, é o campeão dos ricos do Brasil — um político bombástico de extrema direita que fez sua carreira direcionando insultos a mulheres, homossexuais e minorias étnicas.
No entanto, no mundo cada vez mais bizarro da política brasileira, os dois foram vistos juntos. Em dezembro, Ronaldinho encontrou Bolsonaro e foi fotografado segurando seu livro — um endosso para sua campanha presidencial que atraiu manchetes pelo Brasil. Nos dias seguintes, houve rumores de que ele seria um possível candidato ao senado pelo partido Patriota, de Bolsonaro, embora ambas as partes digam que isso ainda não foi acordado.
O pano de fundo dessa história improvável é a turbulência produzida pelo golpe parlamentar de 2016 contra a presidente brasileira, Dilma Rousseff. Para a direita, sua remoção deveria reivindicar o antipetismo, uma crença fanática de que o Partido dos Trabalhadores (PT) de Dilma era a raiz dos problemas de corrupção do Brasil. A onda de alegações de corrupção que se seguiram à remoção de Dilma, envolvendo até mesmo seu sucessor historicamente impopular, fez pouco para dar credibilidade àquela tese.
Para a esquerda do país, o episódio estava cheio de injustiça — acusações falsas de má gestão orçamentária, tratadas como corrupção por uma imprensa hostil, usadas para depôr uma líder eleita. Mas também mostrou o quanto a popularidade da esquerda tinha diminuído nos treze anos em que o PT esteve no poder, sem o próprio partido nem outras forças da esquerda capazes de montar uma oposição ao golpe.
A saga contribuiu grandemente para a desilusão com o sistema político do país. No início deste ano, uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas mostrou que 83% desaprovavam o governo, 78% os partidos políticos e o mesmo número políticos em geral. 55% disseram que não votariam no mesmo candidato que votaram nas últimas eleições. Isso preparou o cenário para uma perigosa nova política na política brasileira — o crescimento da anti-política e do populismo de extrema-direita.
Direita crescendo
Até agora, Jair Bolsonaro tem sido o beneficiário mais proeminente dessa tendência. Um ex-capitão do exército durante a ditadura no Brasil e deputado pela sétima vez, ele fez uma carreira cortejando controvérsia com comentários intolerantes. Notoriamente, em 2003, ele disse a uma deputada do PT que ela não merecia ser estuprada quando ela falou do uso de estupros pela ditadura contra presas políticas. Isso foi complementado ao longo dos anos por incidentes em que ele descreveu as mulheres políticas como “putas” e “sapatões”, declarou que preferia ver seu filho morto do que gay e disse que ativistas negros eram “animais” que deveriam “voltar para o zoológico”.
Mais recentemente, ele dedicou seu voto de 2016 pelo impeachment de Dilma a Carlos Brilhante Ustra, coronel que encabeçou o programa de tortura durante a ditadura militar do país. Dilma, uma ex-guerrilheira marxista, foi uma das vítimas do programa — um fato que Bolsonaro conhecia muito bem, referindo ao coronel como “a fonte do medo de Dilma”.
Apesar da sua falta de programa político, Bolsonaro está ganhando terreno antes das eleições presidenciais de 2018. Nas últimas pesquisas de opinião do Datafolha, ele aparece em segundo lugar atrás do ex-presidente Lula, atraindo entre 17 e 18% dos votos. Com a clara possibilidade de Lula não ser elegível — a depender de sua condenação por corrupção ser confirmada por um tribunal de apelação neste mês — Bolsonaro pode entrar na corrida como favorito. Sem Lula, ele lidera o cenário com uma votação entre 21 e 22%.
A base de Bolsonaro é bem definida — homens jovens com origens de classe média e alta, com maior concentração entre evangélicos, brancos e pessoas do sudeste. Mas sua estreiteza também é provável que seja um obstáculo para sua progressão em qualquer corrida presidencial: três vezes mais homens que mulheres o escolhem como seu candidato preferido, enquanto Lula tem quatro vezes mais apoio entre os pobres.
Isso não deve ser surpreendente para um candidato que se revela no autoritarismo. Bolsonaro não só justifica a história da ditadura no país, ele promete soluções brutais aos problemas de segurança atuais do Brasil. Em 2016, houve 61.619 mortes violentas registradas no país, maior número já registrado. A resposta de Bolsonaro a isso foi propor uma escalada da violência policial, dizendo que os oficiais receberiam “medalhas, não julgamentos” por matarem criminosos. Ele também disse que a polícia deveria ter “carta branca para matar” e, mais recentemente, que “um policial que não mata não é um policial”.
Bolsonaro também conseguiu construir uma reputação como incorruptível, um dos poucos políticos em destaque não afetados pelos escândalos dos anos recentes. Isso, porém, pode refletir mais seu apelido, “o mito”, do que a realidade, dadas as dúvidas sobre seu envolvimento com um projeto de mineração de ouro durante seu período nas forças armadas.
Seu programa político não é mais substantivo, oferecendo poucas soluções para uma economia brasileira que mergulhou na recessão por vários anos. A plataforma de política frágil que apresentou a Bloomberg em outubro teve como objetivo evidenciar sua crescente sofisticação nessa área — mas em vez disso levou a revista de negócios a chamar atenção ao seu “entendimento superficial” de economia. Apesar da sua falta de detalhes, seus contornos amplos foram claros: Bolsonaro apoiaria a privatização, aumentaria o envolvimento dos EUA na economia brasileira e continuaria a reforma da previdência.
Mas obter essa mensagem pelos meios tradicionais vai ser difícil. Devido ao seu tamanho minúsculo, o partido Patriota de Bolsonaro vai receber um tempo muito pequeno na televisão. Como resultado, sua campanha vai depender muito de uma forte presença nas redes sociais. A página oficial de Bolsonaro no Facebook tem um total de 4,8 milhões de curtidas, em comparação com 3 milhões de Lula, e teve 93,4 milhões de interações para as 66,4 milhões de Lula desde 2014.
Esse perfil é complementado por seus seguidores enfurecidos e fiéis, conhecidos como Bolsominions. Ecoando sua demagogia e sua abordagem agressiva ao discurso político, esses seguidores são organizados em grandes grupos no Facebook, muitas vezes com centenas de milhares de membros, e provavelmente desempenharão um papel significativo na campanha de 2018. De acordo com o pesquisador acadêmico Peterson Fernandes, que recentemente escreveu sobre o tempo que ele passou monitorando os grupos, eles são mobilizados rotineiramente contra notícias e personalidades que criticam Bolsonaro.
É com a influência dessa campanha de redes sociais em mente que Bolsonaro cortejou o endosso das celebridades — um caminho que o levou a Ronaldinho.
Futebol e a extrema-direita
É difícil descrever quão bom foi Ronaldinho para pessoas que nunca o viram jogar. Sua habilidade, criatividade e alegria para o futebol hipnotizaram fãs durante seu auge em meados dos anos 2000. Jogando no Barcelona, Ronaldinho era o melhor do mundo, um fato que mesmo seus mais ferozes rivais não puderam negar.
Em novembro de 2005, Ronaldinho marcou dois gols, quando o Barcelona acabou com o Real Madrid no Santiago Bernabéu. Sua performance foi tão espetacular que, depois de marcar seu segundo gol, quando passou bailando pela defesa adversária antes de chutar em curva para o gol, recebeu uma ovação de pé dos torcedores do Real Madrid.
No entanto, apesar de seu incrível talento, que lhe rendeu duas vezes o título de melhor Jogador do Mundo pela FIFA (2004-05), entre outros, sua fraqueza sempre foi sua falta de dedicação. Ronaldinho Gaúcho gostava de jogar futebol, mas não de ser um jogador profissional.
Essa atitude teve seu preço quando demonstrou um desinteresse em voltar à forma depois de sofrer uma série de lesões musculares durante sua última temporada com o Barcelona. Perdeu cruciais força de velocidade e explosão, sendo então transferido para o clube italiano AC Milan em 2008.
Lá, ganhou peso por conta do estilo de vida, pelo qual passou a ser conhecido, e perdeu seu lugar na equipe do Milan. Mais tarde, teve momentos de brilho no Flamengo e Atlético Mineiro, onde ainda mostrou alguns momentos de genialidade, mas lutou para permanecer em forma e consistente. Sua última boa temporada foi em 2013, quando ajudou o Atlético Mineiro a vencer a Copa Libertadores, a competição entre clubes mais prestigiada da América do Sul.
Mas, apesar de seu sucesso, permanece um porém em sua carreira: Ronaldinho Gaúcho foi um jogador muito especial e trouxe muita alegria para milhões de torcedores, mas poderia ter sido muito melhor.
Mas se sua carreira acabou em desencanto, não foi nada comparada à sua primeira incursão na política. Ao longo de sua carreira como jogador, Ronaldinho nunca discutiu a política, dando sempre a impressão de que nunca tinha dado muita importância ao assunto. Embora nunca tenha sido associado à esquerda brasileira, seu estilo de vida e atitudes em relação ao jogo pareciam mais adequados aos futebolistas boêmios e muitas vezes esquerdistas da história de seu país do que os da extrema direita.
Principalmente dada sua formação. Nascido pobre na favela de Vila Nova, na zona sul de Porto Alegre, uma região onde apenas 17,7% da população se declara não branca – em comparação com 52,5% em todo o país –, Ronaldinho cresceu em um barraco com seus pais e irmão mais velho.
Seu pai tinha dois empregos: como trabalhador braçal nos estaleiros navais de Porto Alegre e, à noite, como guarda de segurança do estádio do Grêmio, onde Ronaldinho assinou seu primeiro contrato profissional em 1998. O pai morreu em um acidente quando Ronaldinho tinha apenas oito anos.
Mas sua infância pobre não é o único aspecto que faz de Ronaldinho um improvável aliado de Bolsonaro. Como a maioria dos grandes jogadores brasileiros, é negro e sofreu, inclusive, abuso racista ao longo de sua carreira.
Em 2014, após assinar com o clube mexicano Querétaro, o político local Carlos Manuel Treviño Núñez provocou controvérsias ao chamar Ronaldinho de “macaco”. Quando no Barcelona, ameaçou sair de campo, quando seu companheiro de equipe, o camaronês Samuel Eto’o, foi alvo de insultos racistas por parte dos fãs adversários.
Bolsonaro tem uma longa história de incendiários comentários racistas. Em abril, durante uma palestra no clube social judaico A Hebraica no Rio de Janeiro, comentou uma visita que fez a um quilombo, afirmando que “a pessoa negra mais leve pesava sete arrobas”, uma unidade de peso usada historicamente para os escravos. E continuou dizendo que os quilombolas “não servem nem pra procriar” e que o governo estava desperdiçando dinheiro ajudando essas comunidades.
Em 2011, Bolsonaro apareceu em horário nobre como convidado do programa CQC, protagonizado por Marcelo Tas na TV Bandeirantes. Ao discutir a política de cotas raciais nas universidades públicas brasileiras, declarou que “não viajaria em um avião pilotado por um cotista, nem se deixaria operar por um médico cotista”. Posteriormente, argumentou que a Fundação Nacional Indígena estava roubando terras dos brancos para “entregar aos negros e aos índios “.
Ronaldinho está longe de ser o primeiro jogador de futebol brasileiro a endossar a demagogia de Bolsonaro. Felipe Melo, anteriormente da seleção brasileira e atualmente jogando no Palmeiras, postou um vídeo nas mídias sociais no Dia Internacional dos Trabalhadores em 2017, elogiando o candidato de extrema-direita.
“Deus abençoe todos os trabalhadores e pau nos vagabundos! Bolsonaro neles!”, rosnou Melo, em um tom digno de sua personalidade agressiva e muitas vezes violenta no campo. Dias depois, outro ex-jogador da seleção brasileira, Jadson, do rival Corinthians, juntou-se a Melo em apoio ao candidato patriota, afirmando que “viu algumas das entrevistas [do Bolsonaro] no YouTube e ele parece ser uma boa pessoa”. E continuou dizendo que, se Bolsonaro fosse candidato à presidência, votaria nele, citando, como justificativa, “a luta do candidato para preservar os valores familiares”.
O apoio de Melo e Jadson a Bolsonaro pode ser explicado pelo fato de que ambos são cristãos evangélicos, um segmento da população que dá significativo apoio à Bolsonaro. Embora se defina como católico, Bolsonaro viajou recentemente para Israel, onde foi batizado no rio Jordão por um pastor evangélico. Desde então, fez do fundamentalismo cristão parte fundamental de sua plataforma política, na tentativa de obter apoio de um grupo que, há décadas, busca controle sobre a presidência do país para defender sua “herança judaico-cristã”.
Deixados para trás
Antes de serem representados pelos apoiadores de Bolsonaro, Palmeiras e Corinthians tinham uma história bem diferente. Ambos nasceram em áreas da classe trabalhadora e foram fundados por imigrantes. Em 1945, os dois rivais organizaram um amistoso para arrecadar fundos para o Partido Comunista Brasileiro, com as equipes entrando em campo atrás dos símbolos icônicos do martelo e da foice.
Esse episódio reflete mais precisamente uma tradição do futebol brasileiro que, na maior parte de sua história, esteve firmemente ligado à esquerda. Na década de 80, um grupo de jogadores do Corinthians formou a famosa Democracia do Corinthians, liderada pelo meio de campo Sócrates. O movimento se apoiava na ideia de que todos no Corinthians deveriam ter uma opinião nos assuntos do clube, desde o presidente até os jogadores e a equipe de treinadores. Essa era, na verdade, uma resposta à maneira tradicionalmente autoritária na administração dos times de futebol brasileiros na época. Mais importante ainda: serviu de desafio à ditadura militar e a uma lição de democracia.
Antes ainda, durante o governo Médici, conhecido como os anos do “Milagre Econômico e da Tortura Oficial” (1968-1974), outro jogador rebelde famoso, Afonsinho, ajudou a desafiar o regime, fazendo campanha contra as relações arcaicas entre os clubes de futebol e seus jogadores. Na época, os clubes brasileiros possuíam licenças para cada membro de sua equipe, tirando a liberdade dos jogadores na assinatura dos contratos, tratando-os, essencialmente, como uma propriedade do clube. Em 1970, Afonsinho foi desempoderado pelo Botafogo, onde atuou como representante de seus companheiros de equipe, exigindo que seus salários fossem pagos em dia. Foi emprestado ao pequeno clube Olaria, período que se formou em medicina.
Ao retornar ao Botafogo, Afonsinho apareceu no primeiro dia de treinamento com cabelos longos, encaracolados e barba desalinhada. Marcado como “subversivo” por seu aspecto “comunista”, foi impedido de jogar para o time e, como o Botafogo possuía sua licença, Afonsinho não tinha permissão de se transferir para outro clube.
Afonsinho levou sua luta ao tribunal, da qual saiu vencedor, conquistando o controle de sua própria licença e liderando uma revolução entre seus pares. Politicamente ativo desde jovem, Afonsinho quase assumiu a luta armada em 1968, após o estudante de dezoito anos, Edson Luis Souto, ter sido assassinado nas mãos da polícia militar no Rio de Janeiro.
O grande time de 1970 – com Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivelino – foi treinado antes da Copa do Mundo por João Saldanha, militante do Partido Comunista. Saldanha substituiu Vicente Feola, depois que o time não conseguiu progredir da fase de grupos da Copa do Mundo de 1966, e levou-os a um recorde perfeito de qualificação, com vinte e três gols marcados e apenas dois sofridos.
Recrutado pelo Partido Comunista durante o levante de 1935, Saldanha continuaria a desempenhar um papel importante no movimento sindical do país, principalmente durante a Greve dos 300 mil em 1953. Durante seu tempo como treinador da fabulosa Seleção do Brasil, lutou para limitar a influência da ditadura sobre a associação de futebol do país – uma campanha que o levou a ser retirado do comando da seleção na véspera da Copa do Mundo em 1970.
Mais recentemente, o antigo meio de campo do Lyon, Juninho Pernambucano, apontou para Bolsonaro e seus seguidores. Encontrando-se sob cerco por compartilhar um post no Twitter, quando mostrou sua preocupação com a trajetória da direita no Brasil, Juninho disse não querer ser seguido por Bolsominions, afirmando que preferia interagir com pessoas com mais “qualidades humanas”. Acabou, em seguida, entrando em uma discussão com o filho de Bolsonaro, que Juninho acusou de preconceituoso e desrespeito à igualdade.
Mas Juninho representa uma rara voz próspera entre essa geração de futebolistas brasileiros. Mais conhecido por sua incursão na política está o atacante Romário, que teve seu auge no futebol dos anos 90, e mais recentemente se tornou deputado e depois senador.
Apesar de suas proeminentes e valiosas campanhas contra a corrupção no futebol, seus partidos escolhidos – o Partido Socialista e Podemos (PODE) – são mais uma variedade de partidos de centro estilo Blairite (uma referência aos apoiadores e às ideias políticas do ex-primeiro ministro britânico Tony Blair). Romário também apoiou o golpe contra Dilma, assim como a maioria dos futebolistas brasileiros pesquisados em 2016.
Na eleição presidencial de 2014, Neymar e o atacante aposentado Ronaldo apoiaram o candidato centrista Aécio Neves, do PSDB. A transição das raízes de esquerda do esporte brasileiro para uma disposição mais elitista provavelmente reflete sua ascensão a uma indústria de multi-trilhões de dólares em todo o mundo, com todas as recompensas que traz para os jogadores brasileiros. O fato é que os futebolistas famosos ndo Brasil são homens muito ricos que vivem em grandes cidades, segmentos da população mais propensos a se oporem à política de esquerda. A pesquisa mais recente do Datafolha mostra Lula com 16% entre os muito ricos, menos de metade da votação do ex-presidente entre a população em geral. Sem surpresa, Jair Bolsonaro lidera a pesquisa nesse segmento com 24%.
Ainda não está claro até onde vai essa jornada de Ronaldinho com Bolsonaro. Desde que se aposentou do futebol profissional em 2015, Ronaldinho saltou de um projeto para outro, nunca se mantendo por muito tempo em nenhum deles. Jogou para dezenas de clubes nas Américas em amistosos, tentou o ramo da música, jogou na liga indiana de futebol de salão, que abandonou após duas partidas, e foi pioneiro no novo esporte estilo “teqball”, uma mistura de tênis de mesa com técnica de futebol-vôlei (Futevôlei).
Em abril de 2017, em entrevista à revista de futebol britânico “FourFourTwo”, Ronaldinho foi perguntado se tinha alguma ambição de entrar para a política. Com seu marcante sorriso cheio de dentes, respondeu: “De forma alguma. Quero fazer mais pelo Futevôlei para torná-lo um esporte olímpico “.
Se ele decidir voltar atrás e concorrer para o Senado, Ronaldinho entrará em uma corrida difícil. A notícia do Globo sugeriu que ele sairia por Minas Gerais, onde competiria com Dilma Rousseff e Aécio Neves. A julgar pelo seu recente condicionamento físico, provavelmente é uma corrida que ele driblará.
Sobre o autor
Euan Marshall é um jornalista escocês que vive em São Paulo. É co-autor de "A to Zico: An Alphabet of Brazilian Football".
Ronaldinho no Carnaval do Rio de Janeiro em 27 de fevereiro de 2017. Raphael Dias / Getty |
Tradução / Seria difícil imaginar companheiros de cama mais estranhos do que Ronaldinho e Jair Bolsonaro. Ronaldinho tornou-se um ícone global na década de 2000, sua maneira despreocupada no campo dispensando um enorme talento que o fez o melhor jogador do mundo antes da emergência de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo. Ele era o filho de um trabalhador de estaleiro que morreu quando ele só tinha 8 anos e cresceu na pobreza em Porto Alegre. Bolsonaro, ao contrário, é o campeão dos ricos do Brasil — um político bombástico de extrema direita que fez sua carreira direcionando insultos a mulheres, homossexuais e minorias étnicas.
No entanto, no mundo cada vez mais bizarro da política brasileira, os dois foram vistos juntos. Em dezembro, Ronaldinho encontrou Bolsonaro e foi fotografado segurando seu livro — um endosso para sua campanha presidencial que atraiu manchetes pelo Brasil. Nos dias seguintes, houve rumores de que ele seria um possível candidato ao senado pelo partido Patriota, de Bolsonaro, embora ambas as partes digam que isso ainda não foi acordado.
O pano de fundo dessa história improvável é a turbulência produzida pelo golpe parlamentar de 2016 contra a presidente brasileira, Dilma Rousseff. Para a direita, sua remoção deveria reivindicar o antipetismo, uma crença fanática de que o Partido dos Trabalhadores (PT) de Dilma era a raiz dos problemas de corrupção do Brasil. A onda de alegações de corrupção que se seguiram à remoção de Dilma, envolvendo até mesmo seu sucessor historicamente impopular, fez pouco para dar credibilidade àquela tese.
Para a esquerda do país, o episódio estava cheio de injustiça — acusações falsas de má gestão orçamentária, tratadas como corrupção por uma imprensa hostil, usadas para depôr uma líder eleita. Mas também mostrou o quanto a popularidade da esquerda tinha diminuído nos treze anos em que o PT esteve no poder, sem o próprio partido nem outras forças da esquerda capazes de montar uma oposição ao golpe.
A saga contribuiu grandemente para a desilusão com o sistema político do país. No início deste ano, uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas mostrou que 83% desaprovavam o governo, 78% os partidos políticos e o mesmo número políticos em geral. 55% disseram que não votariam no mesmo candidato que votaram nas últimas eleições. Isso preparou o cenário para uma perigosa nova política na política brasileira — o crescimento da anti-política e do populismo de extrema-direita.
Direita crescendo
Até agora, Jair Bolsonaro tem sido o beneficiário mais proeminente dessa tendência. Um ex-capitão do exército durante a ditadura no Brasil e deputado pela sétima vez, ele fez uma carreira cortejando controvérsia com comentários intolerantes. Notoriamente, em 2003, ele disse a uma deputada do PT que ela não merecia ser estuprada quando ela falou do uso de estupros pela ditadura contra presas políticas. Isso foi complementado ao longo dos anos por incidentes em que ele descreveu as mulheres políticas como “putas” e “sapatões”, declarou que preferia ver seu filho morto do que gay e disse que ativistas negros eram “animais” que deveriam “voltar para o zoológico”.
Mais recentemente, ele dedicou seu voto de 2016 pelo impeachment de Dilma a Carlos Brilhante Ustra, coronel que encabeçou o programa de tortura durante a ditadura militar do país. Dilma, uma ex-guerrilheira marxista, foi uma das vítimas do programa — um fato que Bolsonaro conhecia muito bem, referindo ao coronel como “a fonte do medo de Dilma”.
Apesar da sua falta de programa político, Bolsonaro está ganhando terreno antes das eleições presidenciais de 2018. Nas últimas pesquisas de opinião do Datafolha, ele aparece em segundo lugar atrás do ex-presidente Lula, atraindo entre 17 e 18% dos votos. Com a clara possibilidade de Lula não ser elegível — a depender de sua condenação por corrupção ser confirmada por um tribunal de apelação neste mês — Bolsonaro pode entrar na corrida como favorito. Sem Lula, ele lidera o cenário com uma votação entre 21 e 22%.
A base de Bolsonaro é bem definida — homens jovens com origens de classe média e alta, com maior concentração entre evangélicos, brancos e pessoas do sudeste. Mas sua estreiteza também é provável que seja um obstáculo para sua progressão em qualquer corrida presidencial: três vezes mais homens que mulheres o escolhem como seu candidato preferido, enquanto Lula tem quatro vezes mais apoio entre os pobres.
Isso não deve ser surpreendente para um candidato que se revela no autoritarismo. Bolsonaro não só justifica a história da ditadura no país, ele promete soluções brutais aos problemas de segurança atuais do Brasil. Em 2016, houve 61.619 mortes violentas registradas no país, maior número já registrado. A resposta de Bolsonaro a isso foi propor uma escalada da violência policial, dizendo que os oficiais receberiam “medalhas, não julgamentos” por matarem criminosos. Ele também disse que a polícia deveria ter “carta branca para matar” e, mais recentemente, que “um policial que não mata não é um policial”.
Bolsonaro também conseguiu construir uma reputação como incorruptível, um dos poucos políticos em destaque não afetados pelos escândalos dos anos recentes. Isso, porém, pode refletir mais seu apelido, “o mito”, do que a realidade, dadas as dúvidas sobre seu envolvimento com um projeto de mineração de ouro durante seu período nas forças armadas.
Seu programa político não é mais substantivo, oferecendo poucas soluções para uma economia brasileira que mergulhou na recessão por vários anos. A plataforma de política frágil que apresentou a Bloomberg em outubro teve como objetivo evidenciar sua crescente sofisticação nessa área — mas em vez disso levou a revista de negócios a chamar atenção ao seu “entendimento superficial” de economia. Apesar da sua falta de detalhes, seus contornos amplos foram claros: Bolsonaro apoiaria a privatização, aumentaria o envolvimento dos EUA na economia brasileira e continuaria a reforma da previdência.
Mas obter essa mensagem pelos meios tradicionais vai ser difícil. Devido ao seu tamanho minúsculo, o partido Patriota de Bolsonaro vai receber um tempo muito pequeno na televisão. Como resultado, sua campanha vai depender muito de uma forte presença nas redes sociais. A página oficial de Bolsonaro no Facebook tem um total de 4,8 milhões de curtidas, em comparação com 3 milhões de Lula, e teve 93,4 milhões de interações para as 66,4 milhões de Lula desde 2014.
Esse perfil é complementado por seus seguidores enfurecidos e fiéis, conhecidos como Bolsominions. Ecoando sua demagogia e sua abordagem agressiva ao discurso político, esses seguidores são organizados em grandes grupos no Facebook, muitas vezes com centenas de milhares de membros, e provavelmente desempenharão um papel significativo na campanha de 2018. De acordo com o pesquisador acadêmico Peterson Fernandes, que recentemente escreveu sobre o tempo que ele passou monitorando os grupos, eles são mobilizados rotineiramente contra notícias e personalidades que criticam Bolsonaro.
É com a influência dessa campanha de redes sociais em mente que Bolsonaro cortejou o endosso das celebridades — um caminho que o levou a Ronaldinho.
Futebol e a extrema-direita
É difícil descrever quão bom foi Ronaldinho para pessoas que nunca o viram jogar. Sua habilidade, criatividade e alegria para o futebol hipnotizaram fãs durante seu auge em meados dos anos 2000. Jogando no Barcelona, Ronaldinho era o melhor do mundo, um fato que mesmo seus mais ferozes rivais não puderam negar.
Em novembro de 2005, Ronaldinho marcou dois gols, quando o Barcelona acabou com o Real Madrid no Santiago Bernabéu. Sua performance foi tão espetacular que, depois de marcar seu segundo gol, quando passou bailando pela defesa adversária antes de chutar em curva para o gol, recebeu uma ovação de pé dos torcedores do Real Madrid.
No entanto, apesar de seu incrível talento, que lhe rendeu duas vezes o título de melhor Jogador do Mundo pela FIFA (2004-05), entre outros, sua fraqueza sempre foi sua falta de dedicação. Ronaldinho Gaúcho gostava de jogar futebol, mas não de ser um jogador profissional.
Essa atitude teve seu preço quando demonstrou um desinteresse em voltar à forma depois de sofrer uma série de lesões musculares durante sua última temporada com o Barcelona. Perdeu cruciais força de velocidade e explosão, sendo então transferido para o clube italiano AC Milan em 2008.
Lá, ganhou peso por conta do estilo de vida, pelo qual passou a ser conhecido, e perdeu seu lugar na equipe do Milan. Mais tarde, teve momentos de brilho no Flamengo e Atlético Mineiro, onde ainda mostrou alguns momentos de genialidade, mas lutou para permanecer em forma e consistente. Sua última boa temporada foi em 2013, quando ajudou o Atlético Mineiro a vencer a Copa Libertadores, a competição entre clubes mais prestigiada da América do Sul.
Mas, apesar de seu sucesso, permanece um porém em sua carreira: Ronaldinho Gaúcho foi um jogador muito especial e trouxe muita alegria para milhões de torcedores, mas poderia ter sido muito melhor.
Mas se sua carreira acabou em desencanto, não foi nada comparada à sua primeira incursão na política. Ao longo de sua carreira como jogador, Ronaldinho nunca discutiu a política, dando sempre a impressão de que nunca tinha dado muita importância ao assunto. Embora nunca tenha sido associado à esquerda brasileira, seu estilo de vida e atitudes em relação ao jogo pareciam mais adequados aos futebolistas boêmios e muitas vezes esquerdistas da história de seu país do que os da extrema direita.
Principalmente dada sua formação. Nascido pobre na favela de Vila Nova, na zona sul de Porto Alegre, uma região onde apenas 17,7% da população se declara não branca – em comparação com 52,5% em todo o país –, Ronaldinho cresceu em um barraco com seus pais e irmão mais velho.
Seu pai tinha dois empregos: como trabalhador braçal nos estaleiros navais de Porto Alegre e, à noite, como guarda de segurança do estádio do Grêmio, onde Ronaldinho assinou seu primeiro contrato profissional em 1998. O pai morreu em um acidente quando Ronaldinho tinha apenas oito anos.
Mas sua infância pobre não é o único aspecto que faz de Ronaldinho um improvável aliado de Bolsonaro. Como a maioria dos grandes jogadores brasileiros, é negro e sofreu, inclusive, abuso racista ao longo de sua carreira.
Em 2014, após assinar com o clube mexicano Querétaro, o político local Carlos Manuel Treviño Núñez provocou controvérsias ao chamar Ronaldinho de “macaco”. Quando no Barcelona, ameaçou sair de campo, quando seu companheiro de equipe, o camaronês Samuel Eto’o, foi alvo de insultos racistas por parte dos fãs adversários.
Bolsonaro tem uma longa história de incendiários comentários racistas. Em abril, durante uma palestra no clube social judaico A Hebraica no Rio de Janeiro, comentou uma visita que fez a um quilombo, afirmando que “a pessoa negra mais leve pesava sete arrobas”, uma unidade de peso usada historicamente para os escravos. E continuou dizendo que os quilombolas “não servem nem pra procriar” e que o governo estava desperdiçando dinheiro ajudando essas comunidades.
Em 2011, Bolsonaro apareceu em horário nobre como convidado do programa CQC, protagonizado por Marcelo Tas na TV Bandeirantes. Ao discutir a política de cotas raciais nas universidades públicas brasileiras, declarou que “não viajaria em um avião pilotado por um cotista, nem se deixaria operar por um médico cotista”. Posteriormente, argumentou que a Fundação Nacional Indígena estava roubando terras dos brancos para “entregar aos negros e aos índios “.
Ronaldinho está longe de ser o primeiro jogador de futebol brasileiro a endossar a demagogia de Bolsonaro. Felipe Melo, anteriormente da seleção brasileira e atualmente jogando no Palmeiras, postou um vídeo nas mídias sociais no Dia Internacional dos Trabalhadores em 2017, elogiando o candidato de extrema-direita.
“Deus abençoe todos os trabalhadores e pau nos vagabundos! Bolsonaro neles!”, rosnou Melo, em um tom digno de sua personalidade agressiva e muitas vezes violenta no campo. Dias depois, outro ex-jogador da seleção brasileira, Jadson, do rival Corinthians, juntou-se a Melo em apoio ao candidato patriota, afirmando que “viu algumas das entrevistas [do Bolsonaro] no YouTube e ele parece ser uma boa pessoa”. E continuou dizendo que, se Bolsonaro fosse candidato à presidência, votaria nele, citando, como justificativa, “a luta do candidato para preservar os valores familiares”.
O apoio de Melo e Jadson a Bolsonaro pode ser explicado pelo fato de que ambos são cristãos evangélicos, um segmento da população que dá significativo apoio à Bolsonaro. Embora se defina como católico, Bolsonaro viajou recentemente para Israel, onde foi batizado no rio Jordão por um pastor evangélico. Desde então, fez do fundamentalismo cristão parte fundamental de sua plataforma política, na tentativa de obter apoio de um grupo que, há décadas, busca controle sobre a presidência do país para defender sua “herança judaico-cristã”.
Deixados para trás
Antes de serem representados pelos apoiadores de Bolsonaro, Palmeiras e Corinthians tinham uma história bem diferente. Ambos nasceram em áreas da classe trabalhadora e foram fundados por imigrantes. Em 1945, os dois rivais organizaram um amistoso para arrecadar fundos para o Partido Comunista Brasileiro, com as equipes entrando em campo atrás dos símbolos icônicos do martelo e da foice.
Esse episódio reflete mais precisamente uma tradição do futebol brasileiro que, na maior parte de sua história, esteve firmemente ligado à esquerda. Na década de 80, um grupo de jogadores do Corinthians formou a famosa Democracia do Corinthians, liderada pelo meio de campo Sócrates. O movimento se apoiava na ideia de que todos no Corinthians deveriam ter uma opinião nos assuntos do clube, desde o presidente até os jogadores e a equipe de treinadores. Essa era, na verdade, uma resposta à maneira tradicionalmente autoritária na administração dos times de futebol brasileiros na época. Mais importante ainda: serviu de desafio à ditadura militar e a uma lição de democracia.
Antes ainda, durante o governo Médici, conhecido como os anos do “Milagre Econômico e da Tortura Oficial” (1968-1974), outro jogador rebelde famoso, Afonsinho, ajudou a desafiar o regime, fazendo campanha contra as relações arcaicas entre os clubes de futebol e seus jogadores. Na época, os clubes brasileiros possuíam licenças para cada membro de sua equipe, tirando a liberdade dos jogadores na assinatura dos contratos, tratando-os, essencialmente, como uma propriedade do clube. Em 1970, Afonsinho foi desempoderado pelo Botafogo, onde atuou como representante de seus companheiros de equipe, exigindo que seus salários fossem pagos em dia. Foi emprestado ao pequeno clube Olaria, período que se formou em medicina.
Ao retornar ao Botafogo, Afonsinho apareceu no primeiro dia de treinamento com cabelos longos, encaracolados e barba desalinhada. Marcado como “subversivo” por seu aspecto “comunista”, foi impedido de jogar para o time e, como o Botafogo possuía sua licença, Afonsinho não tinha permissão de se transferir para outro clube.
Afonsinho levou sua luta ao tribunal, da qual saiu vencedor, conquistando o controle de sua própria licença e liderando uma revolução entre seus pares. Politicamente ativo desde jovem, Afonsinho quase assumiu a luta armada em 1968, após o estudante de dezoito anos, Edson Luis Souto, ter sido assassinado nas mãos da polícia militar no Rio de Janeiro.
O grande time de 1970 – com Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivelino – foi treinado antes da Copa do Mundo por João Saldanha, militante do Partido Comunista. Saldanha substituiu Vicente Feola, depois que o time não conseguiu progredir da fase de grupos da Copa do Mundo de 1966, e levou-os a um recorde perfeito de qualificação, com vinte e três gols marcados e apenas dois sofridos.
Recrutado pelo Partido Comunista durante o levante de 1935, Saldanha continuaria a desempenhar um papel importante no movimento sindical do país, principalmente durante a Greve dos 300 mil em 1953. Durante seu tempo como treinador da fabulosa Seleção do Brasil, lutou para limitar a influência da ditadura sobre a associação de futebol do país – uma campanha que o levou a ser retirado do comando da seleção na véspera da Copa do Mundo em 1970.
Mais recentemente, o antigo meio de campo do Lyon, Juninho Pernambucano, apontou para Bolsonaro e seus seguidores. Encontrando-se sob cerco por compartilhar um post no Twitter, quando mostrou sua preocupação com a trajetória da direita no Brasil, Juninho disse não querer ser seguido por Bolsominions, afirmando que preferia interagir com pessoas com mais “qualidades humanas”. Acabou, em seguida, entrando em uma discussão com o filho de Bolsonaro, que Juninho acusou de preconceituoso e desrespeito à igualdade.
Mas Juninho representa uma rara voz próspera entre essa geração de futebolistas brasileiros. Mais conhecido por sua incursão na política está o atacante Romário, que teve seu auge no futebol dos anos 90, e mais recentemente se tornou deputado e depois senador.
Apesar de suas proeminentes e valiosas campanhas contra a corrupção no futebol, seus partidos escolhidos – o Partido Socialista e Podemos (PODE) – são mais uma variedade de partidos de centro estilo Blairite (uma referência aos apoiadores e às ideias políticas do ex-primeiro ministro britânico Tony Blair). Romário também apoiou o golpe contra Dilma, assim como a maioria dos futebolistas brasileiros pesquisados em 2016.
Na eleição presidencial de 2014, Neymar e o atacante aposentado Ronaldo apoiaram o candidato centrista Aécio Neves, do PSDB. A transição das raízes de esquerda do esporte brasileiro para uma disposição mais elitista provavelmente reflete sua ascensão a uma indústria de multi-trilhões de dólares em todo o mundo, com todas as recompensas que traz para os jogadores brasileiros. O fato é que os futebolistas famosos ndo Brasil são homens muito ricos que vivem em grandes cidades, segmentos da população mais propensos a se oporem à política de esquerda. A pesquisa mais recente do Datafolha mostra Lula com 16% entre os muito ricos, menos de metade da votação do ex-presidente entre a população em geral. Sem surpresa, Jair Bolsonaro lidera a pesquisa nesse segmento com 24%.
Ainda não está claro até onde vai essa jornada de Ronaldinho com Bolsonaro. Desde que se aposentou do futebol profissional em 2015, Ronaldinho saltou de um projeto para outro, nunca se mantendo por muito tempo em nenhum deles. Jogou para dezenas de clubes nas Américas em amistosos, tentou o ramo da música, jogou na liga indiana de futebol de salão, que abandonou após duas partidas, e foi pioneiro no novo esporte estilo “teqball”, uma mistura de tênis de mesa com técnica de futebol-vôlei (Futevôlei).
Em abril de 2017, em entrevista à revista de futebol britânico “FourFourTwo”, Ronaldinho foi perguntado se tinha alguma ambição de entrar para a política. Com seu marcante sorriso cheio de dentes, respondeu: “De forma alguma. Quero fazer mais pelo Futevôlei para torná-lo um esporte olímpico “.
Se ele decidir voltar atrás e concorrer para o Senado, Ronaldinho entrará em uma corrida difícil. A notícia do Globo sugeriu que ele sairia por Minas Gerais, onde competiria com Dilma Rousseff e Aécio Neves. A julgar pelo seu recente condicionamento físico, provavelmente é uma corrida que ele driblará.
Sobre o autor
Euan Marshall é um jornalista escocês que vive em São Paulo. É co-autor de "A to Zico: An Alphabet of Brazilian Football".
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