30 de setembro de 2019

Uma crise grave e sem saída à vista

Com tantas contradições, solução será mais dolorida

João Pedro Stédile


Marlene Bergamo/Folhapress

O Brasil vive uma crise profunda. A estagnação da economia, decorrente da dependência do capitalismo mundial, impôs uma grave crise social. Mais desemprego, perda de direitos, precarização e achatamento salarial. Essa situação resultou na atual crise política, em que o governo não representa os interesses da maioria do povo e da nação.

O grande capital quer se proteger da crise e implementa diversas medidas para salvar as grandes empresas e o capital financeiro. Apropriação de bens da natureza (petróleo, minérios, energia, água e biodiversidade) para obter uma renda extraordinária. Corte dos direitos trabalhistas para aumentar sua taxa de lucro. Privatização de 133 empresas que dão muito lucro. Transformação do direito à educação e à saúde em mercadoria. Subordinação ainda maior do nosso destino ao capital dos Estados Unidos.

Para levar adiante esse plano, somente com um governo de extrema-direita. Para elegê-lo, tiveram que prender arbitrária e injustamente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), favorito na disputa.

Agora, vem à tona os crimes da dupla de Curitiba que usou o apoio da mídia à Operação Lava Jato para se locupletar com benefícios pessoais. E só conseguiram eleger o capitão com mentiras nas redes sociais, com apoio de robôs do exterior.

A situação do país está piorando, em todos os sentidos. Sem investimentos produtivos, a estagnação seguirá por muitos anos, segundo economistas de todas as correntes.

A concentração ainda maior da renda e da riqueza impede o aumento da demanda e do consumo. Apenas os seis maiores capitalistas do Brasil ganham mais do que a soma da renda de 120 milhões de brasileiros. Os bancos, por sua vez, nunca lucraram tanto.

A crise ambiental se aprofundou com as políticas de desmonte dos órgãos ambientais, os crimes dos madeireiros, a expansão do agronegócio e das mineradoras, especialmente na Amazônia.

Não há futuro com este governo e seu plano para tirar o grande capital da crise. A verdadeira saída é construir um programa de desenvolvimento baseado na reindustrialização, no controle dos bancos, no investimento na produção, na agricultura de alimentos e no mercado interno. As empresas públicas, como Petrobras, Eletrobras e Correios, devem ser defendidas para elevar os investimentos e sustentar um novo ciclo de crescimento, emprego e distribuição de renda.

Os militares que se diziam nacionalistas e defensores do povo estranhamente silenciam. Devem estar envergonhados do capitão que apoiaram. O Poder Judiciário, omisso ou conivente, deveria cumprir a Constituição Federal, agir imparcialmente e soltar Lula da prisão.

O povo precisa ir às ruas lutar por emprego, educação, saúde e em defesa da soberania nacional. Assim, será construída a unidade política de forças populares e setores empresariais que ainda queiram defender o país —e não apenas seus bolsos.

Ainda estamos longe de uma solução. A burguesia tem sido surda e burra. O governo é irresponsável e continua com maluquices. E o povo ainda não se mexeu.

No entanto, essas contradições vão se agravar. Quanto mais tempo demorar, mais dolorida será a solução.

Sobre o autor

Economista, coordenador do MST e da Frente Brasil Popular

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