Maurício Santoro
Doutor em ciência política (Iuperj), é professor do Departamento de Relações Internacionais da Uerj
Folha de S.Paulo
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o empresário Josué Gomes da Silva, presidente da Fiesp - Marlene Bergamo - 12.set.22/Folhapress |
No último dia 9 de agosto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e fez sua fala pública mais crítica com relação à China, afirmando que a nação asiática está "ocupando o Brasil" e tirando o espaço da indústria brasileira.
A retórica do candidato à Presidência é bastante diferente da diplomacia de seu governo, marcada pela aproximação com a China, com a criação do grupo Brics e com grande aumento do comércio bilateral. Como explicar a mudança do discurso? O que representa para a política externa um eventual terceiro mandato de Lula?
O ex-presidente tenta se aproximar dos empresários, em meio ao favoritismo para vencer as eleições de outubro, mas com um discurso vago sobre política econômica e preocupações do mercado financeiro com gastos públicos. Ressaltando a desindustrialização e apontando a China como culpada, Lula acena com medidas protecionistas para um grupo que constantemente se queixa da concorrência chinesa e pede apoio governamental e mais defesa comercial.
Tais reclamações são particularmente fortes em setores como têxteis, calçados e brinquedos. O presidente da Fiesp é o empresário têxtil Josué Gomes da Silva. Seu falecido pai, José Alencar, foi vice de Lula e o maior crítico da China dentro dos governos petistas. Alencar foi decisivo para a decisão de não reconhecer o país asiático como economia de mercado, o que adicionaria restrições às medidas de defesa contra a concorrência desleal chinesa.
A indústria brasileira é pouco competitiva internacionalmente por diversas razões, como baixa qualificação da mão de obra, infraestrutura ruim e peso do modelo de desenvolvimento que o país adotou no século 20, baseado em alta proteção industrial contra produtos estrangeiros.
A China é o sintoma, não a causa, dessa competitividade deficiente. Mas, tal como no Brasil, políticos de muitos países a apontam como bode expiatório de problemas estruturais da economia e a usam como isca para mobilizar apoio eleitoral. Nos últimos anos, preocupações geopolíticas com a dependência ocidental dos chineses nas crises da pandemia e da guerra com a Ucrânia levaram a mais debates sobre retomada da política industrial e retirada de investimentos da China e da Rússia.
Um terceiro mandato presidencial de Lula se daria nesse contexto, que oferece oportunidades ao Brasil de se posicionar para receber investidores que procuram nações com relações estáveis com o Ocidente, nas quais não haja riscos de guerra ou fechamentos autoritários.
Ao mesmo tempo, o gigante asiático é desde 2009 o maior parceiro comercial brasileiro, destino de mais de um terço das exportações nacionais (em especial minério de ferro, soja e petróleo) e um investidor significativo em infraestrutura, sobretudo energia elétrica.
A política industrial no Brasil precisa levar em conta os erros do passado e a nova realidade da inserção internacional do país, com seus fortes vínculos econômicos tanto com a China quanto com os Estados Unidos e a Europa.
A retórica do candidato à Presidência é bastante diferente da diplomacia de seu governo, marcada pela aproximação com a China, com a criação do grupo Brics e com grande aumento do comércio bilateral. Como explicar a mudança do discurso? O que representa para a política externa um eventual terceiro mandato de Lula?
O ex-presidente tenta se aproximar dos empresários, em meio ao favoritismo para vencer as eleições de outubro, mas com um discurso vago sobre política econômica e preocupações do mercado financeiro com gastos públicos. Ressaltando a desindustrialização e apontando a China como culpada, Lula acena com medidas protecionistas para um grupo que constantemente se queixa da concorrência chinesa e pede apoio governamental e mais defesa comercial.
Tais reclamações são particularmente fortes em setores como têxteis, calçados e brinquedos. O presidente da Fiesp é o empresário têxtil Josué Gomes da Silva. Seu falecido pai, José Alencar, foi vice de Lula e o maior crítico da China dentro dos governos petistas. Alencar foi decisivo para a decisão de não reconhecer o país asiático como economia de mercado, o que adicionaria restrições às medidas de defesa contra a concorrência desleal chinesa.
A indústria brasileira é pouco competitiva internacionalmente por diversas razões, como baixa qualificação da mão de obra, infraestrutura ruim e peso do modelo de desenvolvimento que o país adotou no século 20, baseado em alta proteção industrial contra produtos estrangeiros.
A China é o sintoma, não a causa, dessa competitividade deficiente. Mas, tal como no Brasil, políticos de muitos países a apontam como bode expiatório de problemas estruturais da economia e a usam como isca para mobilizar apoio eleitoral. Nos últimos anos, preocupações geopolíticas com a dependência ocidental dos chineses nas crises da pandemia e da guerra com a Ucrânia levaram a mais debates sobre retomada da política industrial e retirada de investimentos da China e da Rússia.
Um terceiro mandato presidencial de Lula se daria nesse contexto, que oferece oportunidades ao Brasil de se posicionar para receber investidores que procuram nações com relações estáveis com o Ocidente, nas quais não haja riscos de guerra ou fechamentos autoritários.
Ao mesmo tempo, o gigante asiático é desde 2009 o maior parceiro comercial brasileiro, destino de mais de um terço das exportações nacionais (em especial minério de ferro, soja e petróleo) e um investidor significativo em infraestrutura, sobretudo energia elétrica.
A política industrial no Brasil precisa levar em conta os erros do passado e a nova realidade da inserção internacional do país, com seus fortes vínculos econômicos tanto com a China quanto com os Estados Unidos e a Europa.
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