26 de outubro de 2018

Por que voto no Professor

Fico sempre do lado da democracia e contra o ódio, mas Haddad também é melhor em outras áreas

Nelson Barbosa


O candidato Fernando Haddad (PT). Créditos: Nelson Almeida/AFP Photo

Neste domingo (28), escolheremos entre Haddad e Bolsonaro para presidente.

De um lado, temos a defesa da social-democracia e do diálogo por um Professor Universitário. Do outro, o louvor ao autoritarismo e à repressão por um Ex-Capitão do Exército.

Fico sempre do lado da democracia e contra quem incita o ódio, mas Haddad também é muito melhor em outras áreas, vejamos algumas.

Na tributação, os dois candidatos prometem (equivocadamente) zerar o Imposto de Renda de quem ganha até cinco salários mínimos. Trata-se de um exagero, mas cada lado tem diferenças importantes.

O Professor diz que compensará essa desoneração aumentando a tributação sobre os mais ricos, de modo que no final possa ocorrer até alta de receita. Em contraste, o Ex-Capitão quer desonerar mais os super-ricos, adotando uma alíquota única de 20%, um grande erro.

Ainda nos impostos, o Professor se compromete a simplificar tributos indiretos e rever benefícios tributários, consenso entre a maioria dos economistas.

Do outro lado não há clareza, pois assessores do Ex-Capitão sinalizaram e recuaram sobre a criação de uma super-CPMF, em conjunto com uma megadesoneração da folha que pode quebrar a Previdência.

Como no Brasil foram governos de direita que aumentaram a carga tributária de modo permanente, podemos esperar um tarifaço sobre os mais pobres em caso de vitória do Ex-Capitão, outro erro.

Passando ao gasto público, o Professor já disse que continuará alinhando as regras de aposentadoria entre os setores público e privado, como fizeram os governos do PT.

Em contraste, o Ex-Capitão indicou que preservará os privilégios adquiridos pelo núcleo militar-judicial-policial do Estado. As demais categorias, especialmente na educação e saúde, provavelmente ficarão à míngua em um eventual governo PSL.

Nos salários e emprego, o Professor se compromete a rever a reforma trabalhista, dando mais poder aos sindicatos, e continuar aumentando o salário mínimo.

O Ex-Capitão foi na direção contrária, prometendo flexibilizar ainda mais a legislação trabalhista e sendo ambíguo no salário mínimo.

Dado que o candidato do PSL já disse que o Brasil deveria voltar à situação dos anos 1970, só posso concluir que sua proposta trabalhista é arrocho salarial permanente, como aconteceu na ditadura militar.

No desenvolvimento sustentável, o Professor já deu exemplos de preocupação ambiental quando prefeito de São Paulo. Podemos esperar mais medidas de desenvolvimento verde no seu governo.

O Ex-Capitão está no polo oposto, pois deseja acabar com o Ministério do Meio Ambiente, e seus assessores já sinalizaram que o Ibama só “enche o saco” e que pode haver mais desmatamento na Amazônia (uma equipe de exterminadores do futuro).

E, na transparência, o Professor se comprometeu com a independência dos órgãos de controle e o combate à corrupção, como fizeram os governos do PT.

O Ex-Capitão não falou muito sobre isso, ou sobre qualquer coisa, mas novamente seus generais assessores já indicaram que desejam agilizar e simplificar processos em um “balcão único”, como era, adivinhe, nos anos 1970!

Nesse quadro é fácil escolher, sobretudo porque o Professor defende a restauração do Estado democrático de Direito, mais investimento em educação e saúde, retomada do crescimento econômico com sustentabilidade ambiental e redução de desigualdades sociais (só crescimento não basta).

Por isso e pelo respeito aos direitos civis, mesmo de quem discorda da minha opinião, votarei novamente Haddad Presidente.

Sobre o autor


Professor da FGV-SP, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Guia essencial para a Jacobin

A Jacobin tem divulgado conteúdo socialista em ritmo acelerado desde 2010. Eis aqui um guia prático para algumas das obras mais importantes ...