18 de março de 2020

Entre em greve pela sua saúde e segurança

Now isn’t the time to blindly follow orders from bosses. To make sure our response to coronavirus is safe and just, workers need to take on-the-job action like sick-outs and strikes — as New York City educators have over the past week.

Ryan Bruckhenthal

Jacobin

Dawn breaks over Manhattan as the city struggles to contain the number of coronavirus cases on March 18, 2020 in New York City. Spencer Platt / Getty

Tradução / Estamos no meio da pior crise de saúde pública de nossas vidas. Muitos de nós provavelmente gostaríamos de ficar em posição fetal e contar com algum grupo de especialistas para encontrar e aplicar as medidas apropriadas de resposta ao coronavírus.

Mas a verdade é que, assim como nos tempos de normalidade, durante a pandemia os trabalhadores precisam lutar para conquistar uma resposta justa. O que é exatamente o que os educadores, estudantes e pais em Nova York fizeram recentemente, mostrando que uma classe trabalhadora organizada pode se colocar à altura do desafio colocado.

Com tantas indústrias não essenciais permanecendo abertas e tantos trabalhadores colocados em risco, não há tempo a perder. Os educadores reagiram e venceram em Nova York, salvando inúmeras vidas. Outros trabalhadores podem fazer o mesmo.

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Enquanto distritos, cidades e estados de todo o país fecharam, na semana passada, escolas, empresas e espaços públicos para tentar conter a propagação da pandemia do coronavírus, Nova York e o prefeito Bill de Blasio não seguiram esse exemplo. Isso significa que programaram que as cerca de 1.400 escolas públicas de Nova York permaneceriam abertas, com mais de um milhão de estudantes e quase 100.000 educadores sendo expostos ao risco de contrair e espalhar o vírus para suas famílias, amigos e vizinhos.

As escolas públicas de Nova York e os seus funcionários mantêm a cidade funcionando. Dada nossa fraca rede de proteção social, os funcionários da escola têm a tarefa de fornecer os serviços de toda uma rede de proteção social – alimentação, assistência médica, acompanhamento de saúde mental e creche aos filhos da classe trabalhadora. De Blasio reconheceu o papel crucial das escolas públicas e educadores de Nova York em sua justificativa inicial para manter as escolas abertas: quem – perguntou o prefeito – cuidaria dos filhos dos profissionais de saúde enquanto eles estivessem na linha de frente da luta contra esta pandemia?

Mas, dada a clara ameaça que a inação representava para milhões de estudantes, funcionários e suas famílias, os educadores de toda a cidade começaram a tomar a situação em suas mãos. No campus de Grace Dodge, no Bronx, na última quinta-feira, um membro da equipe teve resultado positivo para o Covid-19, mas os funcionários ainda foram orientados a comparecer à escola no dia seguinte. O teste, feito no educador pelo Hospital Montefiore, não foi oficialmente reconhecido pelo Departamento de Saúde e, portanto, a escola não tinha obrigação legal de fechar.

Educadores, estudantes e pais entraram em ação para proteger uns aos outros. Os funcionários se organizaram coletivamente para todos faltarem na sexta-feira, enquanto os estudantes se organizaram simultaneamente nas redes sociais e seguiram o exemplo.

Da mesma forma, na Stuyvesant High School , em Manhattan, os educadores começaram a falar sobre entrar em ação já na tarde da última quarta-feira; na quinta-feira de manhã, educadores em todo o prédio discutiam uma “falta por doença” em massa. Ellen Schweitzer, professora de estudos sociais e representante sindical de base, observou que “conforme os professores conversavam entre si, eles perceberam a gravidade da situação e o poder que precisavam exercer na ausência de liderança do prefeito”.

Schweitzer disse que, assim que os educadores começaram a aumentar a expectativa de tomar uma ação em seus departamentos, ficaram mais confiantes. Os educadores e os membros do sindicato se comunicaram por e-mails, reuniões e quando chegaram no trabalho na quinta-feira de manhã. Na sexta-feira, houve um movimento em toda a escola com alunos e pais apoiando uma “falta por doença” coletiva.

Enquanto os educadores organizavam ações e respostas em cada uma de suas escolas, ativistas sindicais do trabalho de base do Movement of Rank and File Educators (MORE/Movimento de educadores no trabalho de base), um grupo de justiça social dentro do sindicato de educadores de Nova York, a Federação Única de Professores (UFT), procurou consolidar o sentimento generalizado em forma de organização por toda a cidade.

Conforme os educadores do Grace Dodge Campus e Stuyvesant começaram a compartilhar suas histórias com colegas de trabalho e amigos, os ativistas do MORE entraram em cena para fornecer uma plataforma para compartilhar essas histórias e dicas para educadores e escolas que queriam agir. O que começou em poucas escolas rapidamente se transformou em uma campanha coordenada que ia além dos limites dos bairros, por fora da direção do sindicato, para que houvesse uma “falta por doença” coletiva em toda a cidade.

Sabendo que seria necessária uma ação coletiva para deslocar o prefeito e a cidade, o MORE convocou uma chamada de organização em toda a cidade no último sábado, na qual mais de 400 educadores de escolas de Nova York participaram para se preparar para a falta coletiva. Além disso, uma rede crescente de “Educadores com Bernie”, que havia se formado nos últimos meses, rapidamente entrou em cena, espalhando notícias da ação em mais escolas por toda a cidade de Nova York.

Em poucas horas, as notícias se tornaram virais, com professores e educadores fazendo planos específicos para suas escolas e meios de comunicação cobrindo o movimento pela cidade e pelo país. Alguns educadores temiam que realizar esse tipo de ação no trabalho violaria a Lei de Taylor do estado, que proíbe greves dos trabalhadores do setor público, mas os organizadores e lideranças dos educadores sustentaram que a ameaça à saúde e segurança de seus colegas de trabalho e estudantes tornava a ação legal e moralmente justificada.

A direção da UFT entendeu que os educadores estavam prontos para agir para fechar o maior distrito escolar do país e começaram a fazer exigências mais agressivas ao prefeito. Como observa a declaração do MORE sobre a “falta por doença” do último domingo, “Na sexta-feira à noite, o presidente (da UFT) Mulgrew havia dito que ele e o prefeito ‘respeitosamente concordaram em discordar’ sobre o fechamento. No sábado, ele denunciou a irresponsabilidade do prefeito e no domingo ameaçou processar o Departamento de Educação por condições inseguras de trabalho”.

Os membros do sindicato e os educadores ativistas viram uma crise em desenvolvimento e rapidamente avançaram para liderar o sindicato. A direção sindical, o Conselho da Cidade de Nova York e o governador do Estado de Nova York por fim pediram que a cidade de Nova York fechasse suas escolas. Mas a perspectiva de ações em massa de educadores, como “faltas por doença” e paralisações em massa por fora da direção do sindicato, certamente venceu a queda de braço com o prefeito.

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No fim de semana passado não ocorreu uma atuação no local de trabalho ou uma luta sindical típica – os educadores agora fazem parte de uma mobilização geral para manter intacto o sistema escolar de Nova York e prestar serviços a um milhão de jovens em meio a uma crise econômica e pandêmica.

Ativistas das “faltas por doença” e o MORE sabiam que simplesmente fechar escolas não seria uma opção. Como as escolas públicas servem como a principal rede de proteção social para os nova-iorquinos da classe trabalhadora, a cidade precisaria elaborar planos de contingência.

“Nossa sociedade depende da escola”, disse Rosie Frascella, professora de inglês e estudos sociais e líder do núcleo da UFT no International HS em Prospect Heights. “Nós fornecemos comida, serviços para saúde mental e física, conhecimento e comunidade para nossos alunos.”

É por isso que os educadores se organizaram em torno das demandas da cidade para fornecer comida, abrigo e serviços aos estudantes e famílias que seriam os mais atingidos pela crise. O sindicato 1199SEIU manifestou sua solidariedade, exigindo que as escolas da cidade fechassem e exigindo uma política de creches que permitisse que os profissionais de saúde da linha de frente permanecessem em seus postos.

A batalha foi vencida neste fim de semana em Nova York, mas a vitória não é totalmente animadora, já que a cidade, o país e o mundo mergulham mais profundamente na crise. Educadores de toda a cidade estão indo às escolas nesta semana para se prepararem para o “aprendizado virtual” durante o próximo período. Mesmo no campus de Grace Dodge, onde o teste positivo para o Covid-19 levou à quarentena de vários funcionários que potencialmente entraram em contato com o vírus, os funcionários foram instruídos a comparecer ao trabalho a partir de terça-feira à noite.

Podemos não ser capazes de parar completamente esta pandemia no momento, mas uma classe trabalhadora organizada tem o poder de garantir duas coisas. Primeiro, essas ações são realizadas para conter a propagação do vírus, especialmente quando elas vão contra a busca do capital pelo lucro. E segundo, para garantir que todos os membros de nossa sociedade recebam os recursos necessários para passar por este momento e se preparar para o que vier depois, o que muito provavelmente será uma outra crise. Apenas uma intervenção de massas e um estado de bem-estar robusto poderão fornecer isso na escala necessária.

Os trabalhadores da educação salvaram inúmeras vidas na cidade de Nova York neste fim de semana, e serão os trabalhadores que continuarão salvando vidas em todo o país e no mundo à medida que esta crise avançar. Não podemos nos dar ao luxo de parar de nos organizarmos em meio a esta pandemia.

Sobre o autor

Ryan Bruckenthal is a public school special education teacher in New York City. He is a union activist in the United Federation of Teachers and the Movement of Rank-and-File Educators in New York City.

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