Bruno Boghossian
Folha de S.Paulo
O presidente Jair Bolsonaro (PL), à esq., e o ex-presidente Lula (PT) durante debate na TV Globo - 29.set.22/Reprodução/TV Globo |
Os dados que indicam uma flutuação de eleitores nos dias antes do primeiro turno não favoreceram o esforço de Lula (PT) para encerrar a disputa neste domingo (2). O Datafolha captou alguns sinais de mudança às vésperas da votação, mas em direções que mantêm o placar final do petista no mesmo lugar.
O primeiro foco da equipe de Lula eram os apoiadores de Ciro Gomes (PDT), alvos preferenciais dos apelos por um voto útil. De fato, alguns eleitores do pedetista parecem ter balançado, mas sem beneficiar o ex-presidente de maneira significativa.
Ciro variou para baixo nos segmentos em que Lula é mais forte —o Nordeste (menos quatro pontos) e a fatia de baixa renda (menos dois pontos). O petista, no entanto, não conseguiu crescer nesses grupos.
O movimento sugere que os poucos votos em migração às portas do primeiro turno podem se distribuir entre mais de uma candidatura, o que dificulta a formação da onda que Lula precisa para chegar à vitória.
No caso dos apoiadores de Simone Tebet (MDB), a resistência ao petista pode se manter firme. Ao superar Ciro numericamente, apesar do empate técnico, ela chega ao dia da eleição com um argumento extra para a fidelização de seu eleitorado. Ainda que o espaço para variações seja cada vez mais limitado, o Datafolha mostra que uma parcela não desprezível de eleitores ainda admite trocar de candidato.
Os apoiadores de Ciro e Simone estão mais convencidos, mas 41% dos eleitores do pedetista e 37% dos eleitores da emedebista dizem que podem mudar de ideia. Converter o voto desses grupos será difícil porque eles já resistiram a uma pressão forte pelo voto útil.
A incerteza sobre a vitória do petista no primeiro turno ainda pode ativar fatores adicionais de decisão do voto, como a rejeição às demais candidaturas. A nova pesquisa mostra que os eleitores de Ciro e Simone consolidaram a percepção que têm dos líderes na pesquisa.
Entre os eleitores de Ciro, 54% dizem não votar em Lula de jeito nenhum, e 65% se recusam a votar em Bolsonaro. No grupo que apoia Simone, 57% rejeitam o petista, e 72% negam voto no atual presidente.
Os índices de rejeição a Lula e Bolsonaro nessas fatias são altos, mas se a rejeição for um elemento determinante para encerrar a eleição no domingo, o atual presidente sai no prejuízo. O alto grau de estabilidade da campanha, concentrada em dois nomes conhecidos, permitiu que ambos consolidassem suas posições nos grandes blocos da população –deixando margem menor a reviravoltas significativas.
Lula manteve um domínio do eleitorado de baixa renda desde o primeiro semestre. Em maio, marcava 56% dos votos totais na faixa mais pobre da população, que representa metade dos votos em disputa.
Nem a ampliação do Auxílio Brasil e a promessa de Bolsonaro de criar novos bônus reverteram esse quadro. Lula encerra a campanha do primeiro turno com 57% no grupo que recebe menos de dois salários mínimos por mês, contra 26% do presidente. O petista também conseguiu manter números favoráveis em duas regiões que se tornaram os principais pilares de sua candidatura: o Nordeste e o Sudeste.
Lula tem hoje 62% dos votos totais no Nordeste, com uma vantagem considerável sobre Bolsonaro (23%). No Sudeste, principal campo de batalha, o petista tem 44% contra 37% do presidente. Somados, esses territórios abrigam sete de cada dez eleitores que vão às urnas neste domingo.
Já Bolsonaro manteve fôlego graças a dois momentos principais da disputa. O primeiro foi o esvaziamento das raias à direita, com a saída de Sergio Moro (União Brasil) da corrida e a eliminação de candidatos como João Doria (PSDB). Com menos concorrência, o presidente recuperou terrenos que costumam ser ocupados por essa frequência política: ele subiu de 30% para 40% entre eleitores com curso superior, de 30% para 41% no Sul e de 34% para 41% na faixa de renda média.
O segundo fator de recuperação de Bolsonaro foram movimentos calculados por sua própria campanha. Os eleitores de renda média ampliaram sua aproximação com a candidatura do presidente na esteira de uma melhora de condições da economia, notadamente a redução dos preços dos combustíveis.
A jogada mais eficaz se deu entre os evangélicos, parcela na qual ele passou de 39% em maio para 50%.
O grande problema do presidente é que ele parece próximo de um teto nos grupos mais alinhados à sua candidatura. A classe média e os evangélicos são segmentos numerosos, mas não o suficiente para compensar a desvantagem que ele apresenta em relação a Lula entre os mais pobres e os católicos.
Mesmo que Bolsonaro consiga forçar uma ida ao segundo turno, o petista ainda largaria como favorito.
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