11 de outubro de 2022

Otan mantém treino de guerra nuclear e desafia a Rússia

Adiamento daria "sinal errado" para Moscou, diz secretário-geral da entidade; G7 discute mais armas

Igor Gielow


Em meio ao agravamento da crise com a Rússia, decorrente da escalada de ataques de Moscou contra a  Ucrânia invadida em fevereiro, a Otan (aliança militar liderada pelos Estados Unidos) anunciou que manterá seu treinamento anual de guerra nuclear.

Nas últimas semanas, o presidente Vladimir Putin e outros membros de seu governo vêm aumentando o uso da retórica nuclear no conflito com o vizinho, sugerindo que ataques contra as áreas que o Kremlin anunciou ter anexado no fim de setembro poderiam constituir uma ameaça ao Estado russo —sendo assim cabível sua defesa com ogivas atômicas.

Caça-bombardeiro alemão Tornado, capaz de empregar bombas nuclear B61 americanas - Ralf Hirschberger - 31.mai.2016/AFP

Segundo o secretário-geral da Otan, o norueguês Jens Stoltenberg, se o exercício fosse cancelado, "estaríamos enviando o sinal errado para Moscou". É uma mudança de curso que acompanha Washington, a potência que dá as cartas aos outros 29 membros da aliança forjada em 1949 para dissuadir a União Soviética de invadir a Europa Ocidental.

No começo da guerra, o governo de Joe Biden cancelou um teste de rotina com um míssil intercontinental, do tipo que seria usado para tentar obliterar a Rússia, ou a China, numa guerra total. Depois, mudou de ideia e testou quatro de uma só vez.

Questionado sobre o risco de uma confrontação nuclear com a Rússia, Stoltenberg manteve o tom de desafio possível: "Estamos preparados para qualquer ameaça". Ele voltou a condenar as ameaças atômicas de Putin, de resto sendo feitas desde o começo da guerra sem a condenação da parceira de Guerra Fria 2.0 China, e os ataques maciços com mísseis da segunda-feira (10) contra a infraestrutura civil ucraniana.

O exercício da Otan é conhecido pelo nome de Steadfast Noon (meio-dia com firmeza), de forma informal —pelo padrão da aliança, que usa as iniciais em inglês das manobras, ele sugere um exercício do Supremo Comando Aliado na Europa (daí o "s") com forças nucleares (daí o "n", embora isso não esteja previsto no manual).

Nele, caças e bombardeiros com capacidade nuclear são mobilizados, com apoio de aviões-tanque e de vigilância, nas bases europeias com bombas táticas B61, de menor potência e semelhantes às que Moscou tem em grande quantidade. Há uma dessas na Alemanha, Holanda, Bélgica e Turquia, e duas na Itália.

Usualmente, o foco da ação se dá em território italiano, pela posição geográfica favorável a um ataque virtual contra a Rússia —a Turquia, que busca ser um ator mais neutro apesar de ser da Otan, evita tais manobras em seu solo. Há cerca de cem desses artefatos táticos na Europa, um quinto do que havia há dez anos.

Esse tipo de duelo retórico remonta a um dos períodos mais perigosos da Guerra Fria, quando uma sequência de exercícios da Otan foi vista no Kremlin como um prenúncio de um ataque nuclear preventivo. O ano era 1983, e documentos revelados ao longo dos anos mostram que o risco de um conflito acidental foi um dos mais altos da história.

Enquanto isso, o G7, grupo das sete economias mais desenvolvidas entre as democracias, se reúne a pedido de Kiev para discutir o aumento de envio de armas mais sofisticadas para deter os russos.

O Kremlin criticou particularmente a discussão sobre sistemas antiaéreos, dizendo que com isso o Ocidente apenas faz o conflito se prolongar, e o chanceler Serguei Lavrov voltou a dizer que os EUA estão diretamente envolvidos na guerra.

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