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11 de março de 2023

Estou meio Beethoven, diz Angela Ro Ro, aflita com perda de audição após tortura

Aos 73, cantora pede orações para preservar carreira, segue rotina de shows e quer finalizar livro prometido desde anos 80

Danilo Thomaz
Jornalista, colaborador da Folha e correspondente do podcast português Fumaça; mestrando em ciência política (UFF)

Folha de S.Paulo

[RESUMO] Após pedir ajuda a fãs durante a pandemia, Angela Ro Ro abrandou os problemas financeiros ao retomar shows para pequenas plateias, mas vive aflita com a surdez progressiva do ouvido esquerdo. Aos 73 anos, depois de muitos sucessos e alguns escândalos que eclipsaram em parte uma carreira que eletrizou a música brasileira, ela só quer viver em paz, "louca careta", com sua arte.

*

Um temor recorrente passa pelos ouvidos da cantora e compositora Angela Ro Ro. Não se trata de uma nota errada ou mesmo de um verso esquecido de canção, entre as tantas de sua autoria ou de outros nomes da música nacional e estrangeira que gravou em mais de quatro décadas de carreira.

Aos 73 anos, Ro Ro tem se mostrado mais e mais aflita com a possibilidade de perder a audição do ouvido esquerdo. "Tá um pouquinho Beethoven", diz a artista, que hoje passa parte do tempo no Rio, onde se hospeda na casa de amigos, e parte no sítio em Saquarema (RJ). Ela enfrentou recentemente o período mais difícil de sua carreira.

Em março de 2020, no início da pandemia, viu-se sem trabalhos, sem shows, sem meios de arcar com seus compromissos financeiros. Definindo-se a si mesma como uma "louca careta", Ro Ro expôs sua situação para o público, que veio a seu socorro. Depois, conseguiu uma produtora, que a colocou no circuito das lives, como a do Sesc, amainando em parte a situação financeira.


A cantora e compositora Angela Ro Ro - Divulgação/Alexandre Moreira

Três anos depois, vive das apresentações que faz aqui e ali em casas como o Manouche, no Rio. Retornou a uma rotina semelhante ao pré-pandemia —inclusive em termos de buscar uma vida saudável e mais próxima à natureza, um desejo que sempre carregou consigo.

Carrega, no entanto, essa ansiedade em relação à audição. "Sem ela não vou poder fazer minha arte, que é meu amor", diz a cantora, que pede orações para resolver seu problema.

Ro Ro conta que tudo começou em uma noite de dezembro de 1984. Ela telefonou a um restaurante que ficava no final da praia do Pontal, no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio. O bairro, à época, era ainda uma região mais natural que urbana, de difícil acesso.

Fazia calor. A pessoa que a atendeu pediu que fosse buscar sua refeição, arroz de lula com brócolis, dali a 30 minutos. Ro Ro foi vestida com um quimono sobre o biquíni. Na volta, foi parada no caminho por uma viatura.

Conta que policiais tentaram liberá-la mediante suborno, que ela não aceitou, seguindo o conselho do pai, policial federal. Diz que tentaram plantar droga em seu carro, mas não conseguiram. Então, a sequestraram.

Primeiro, a colocaram na viatura. Depois, a jogaram numa vala. Na sequência, foi transferida para outro carro. Quando viu, estava em uma sala cheia de cadáveres em gavetas, no Instituto Médico Legal, na avenida Mem de Sá, na Lapa.

"Eu falei: ‘Não tenho medo de gente morta, tenho medo de vocês’. Eu não sabia o que eles queriam. 'Querem me matar ou querem me estuprar?’ Uma coisa meio incoerente, né?"

A ditadura agonizava naquele período, mas ainda havia momentos de terror. Ro Ro foi espancada e torturada com o "telefone", como é conhecido o método de agressões na altura dos ouvidos. "O cara pegou duas placas de metal, daquelas que penduram o raio-x, e me bateu várias vezes com ela nas duas orelhas", relembra.

Durante a agressão, desmaiou. "Eu não tinha envolvimento nenhum com política, não era filiada a partido nenhum, nada disso, entendeu? A única coisa política em que eu estava envolvida era com o arroz de lula e brócolis. Só pode ter sido o brócolis", brinca. "Nunca comi a quentinha, me pegaram antes e me fizeram um trapo." Dali nasceram os primeiros sinais de sequelas na audição e de perda de visão no olho direito.


Angela Ro Ro em foto postada no Instagram - @Angela Ro Ro no Instagram

Àquela altura, a relação tensa da cantora com as forças policiais do Rio já datava de alguns anos e sempre acabava nos jornais, mas a fronteira entre os fatos e a ficção nunca ficou muito clara.

De gramas de maconha encontradas em seu carro após um grave acidente em Copacabana até brigas com figuras mais ou menos conhecidas do Rio e da cena musical, muito se falou de Ro Ro. "O grande escândalo sou eu", disse a canção de Caetano Veloso composta para ela, que dá nome ao seu terceiro álbum, "Escândalo!" (1981).

Em vários casos, a PM era a única testemunha e seu relato era a única prova. Por mais que os jornais dessem a Ro Ro o espaço para dar sua versão, ficava o dito pelo não dito, em um jogo de ambiguidade que foi compondo uma persona que, por vezes, remetia à da cantora Maysa (1936-1977). Como se Ro Ro, também cantora e compositora de músicas de amores sofridos, fosse a sua versão anos 1980.

Os escândalos pessoais e a personagem autoirônica acabaram por abafar a artista bem formada, culta, dotada de referências e consciente de sua criação, que movimentou o cenário musical brasileiro em um de seus períodos mais efervescentes, do final dos anos 1970 ao início dos 1980, e que segue até hoje criando e recriando a si mesma.

"Sou uma moça sem recato"

Tudo começou com o xilofone. Depois veio o acordeão. Na sequência um piano de montar, dado pelo patrão do pai, o engenheiro e policial federal Ayênio. De 1957 a 1964, quando tinha 15 anos, foram aulas diárias. "Não aprendi até hoje, mas a minha vida inteira, desde os 5 anos, é direcionada à música", conta Ro Ro.

A música popular entrou na sua vida no ginásio, por meio de um professor, amigo de sua turma da rua, em Ipanema. "A gente tocava muitas coisas, como Cartola, o João de Barro. O repertório de Bethânia. Noel Rosa. Já estava nítido aí um despertar da cantora."

Em 1969, enquanto a repressão recrudescia pós-AI-5, foi morar em uma comunidade hippie na rua Saint-Romain, em Copacabana. Ali, descobriu novas influências. De lá, a convite do cineasta Glauber Rocha, embarcou para Roma. E deu início a um périplo pelo Velho Mundo.

Em 1971, na capital francesa, Ro Ro encontrou-se com "o pessoal do Caetano", em seu período no exílio. Gil a convidou para passar na casa dele, em Londres. Ro Ro pegou o telefone, o endereço e, no final de semana, ligou e avisou: "Eu tô aqui na esquina".

Foi tão bem recebida que entrou para o projeto do disco "Transa" (1972), de Caetano, do qual faziam parte nomes como Jards Macalé e Gal Costa. Colaborou na faixa "Nostalgia", interpretada por Gal.

"Toquei minha gaitinha. Quando eu ouvi, falei encantada, Poxa vida, nem precisava da minha gaita, porque a Gal, perfeita do jeito que sempre foi, gravou uma introdução fazendo uma gaita com a voz. Suprema, sublime. Nem me lembro se saiu o crédito [Ro Ro é citada], mas me pagaram. Achei tão engraçado pagarem por uma coisa que eu faria de graça."

De volta ao Rio, começou a cantar em boates como o Flag, o 706 e o Mikonos. Em 1976, o produtor e jornalista Nelson Motta a convidou para se apresentar no festival "Saquarema, Sol e Surf", na cidade onde hoje Ro Ro vive a maior parte do seu tempo.

Ro Ro apresentou na ocasião dois hits de Janis Joplin: "Mercedes Benz" e "Me and Bobby McGee". Devido ao mau tempo, o festival quase levou o produtor à falência. Era o início, contudo, de uma bela parceria, que mudou o destino pessoal e musical de Ro Ro.

"Me acalmo danando"

Foram três anos de luta até que a coletânea de canções fosse prensada, encartada e distribuída nas lojas de discos. "Eu era a rainha do tape, de tantas fitas gravadas e distribuídas. Cheguei até a pensar que estavam esperando que eu morresse de cirrose para lançar tudo um álbum triplo", disse em uma entrevista ao jornal O Globo.

Chegou a pedir a Nelson Motta que a gravasse antes que fosse tarde. "Grava comigo antes que eu acabe." Nelsinho, como é conhecido, tentou encontrar meios de financiar o projeto. "Angela estava se acabando mesmo, perdida na noite, mas transformando em música e letra a sua ‘saison en enfer’", ele escreveu na época em O Globo. "Seu visual era uma caricatura malvada do que ela era."

Ro Ro, muito antes de Cazuza, ao ver a cara da morte e descobrir que ela estava vida, decidiu dar meia volta enquanto era tempo. Fez análise, emagreceu, tentou parar de beber e enfrentou a insegurança que tinha em assumir-se artista. "Se quisesse me destruir teria conseguido", declarou.

Nelsinho começou a anunciar o lançamento de seu primeiro LP em 1978, na coluna musical que mantinha no Globo. "A turbulenta Angela Ro Ro, cantora, pianista e compositora de grandes méritos e digna das melhores expectativas, grava agora o seu primeiro disco. Pode ser uma das boas e vitalizantes surpresas do ano. Delírio no Baixo Leblon."

Antes de estrear em disco ela já tinha prestígio como compositora. Uma letra de sua autoria, "Não Há Cabeça", foi para o álbum de estreia de cantora Marina Lima, "Simples como Fogo" (1979). As duas haviam se conhecido no Arpoador por meio de uma prima de Marina, assim que esta voltou dos Estados Unidos decidida a investir na carreira musical.

Na mesma época, Maria Bethânia também gravou uma canção de Ro Ro, "Gota de Sangue", no disco "Mel" (1979). "Essa canção é linda demais, imediatamente me tocou e eu quis fazer. Dentro do repertório da Angela, ela [essa música] tem uma diferença, ela tem uma novidade, ela tem quase que uma conversa teatral", relembra a cantora.

Bethânia ainda se recorda de quando interpretou a música, somente voz e piano, no Canecão, no Rio. "Tenho grandes lembranças. Tinha uma recuada de proscênio. E eu me lembro de que cantava encostada a essa cauda do piano com uma luz focada só ali no pianista e em mim. Realmente foi um grande momento do show. E eu terminava a canção, ‘beba comigo essa gota de sangue final’, e tinha em cima do piano uma taça de champanhe, e eu brindava com a plateia esse momento. Realmente foi lindo para mim."

Na gravação em estúdio de "Gota de Sangue", Ro Ro ficou tão nervosa diante de Bethânia que mal conseguia encontrar os pedais do piano. "Angela tocando… Adoro o piano dela. Gosto do jeito dela. A intimidade que ela tem com suas canções, me lembro da emoção de nós duas. Muito comovente cantar essa canção com Angela, sua autora, e com o piano dela", conta Bethânia.

"Angela é uma das maiores compositoras da geração dela. Tive a sorte de cantar suas lindas canções, lindíssimas. Tenho a alegria de ser contemporânea dela, tenho a alegria de ainda ouvi-la cantar, tocar, ainda perfeitamente. Me alegra muito o coração. Sou fã da Angela."

Em maio de 1979, Ro Ro apresentou-se no Teatro Ipanema. Esperava uma pequena plateia e deparou-se com um teatro lotado. Em julho, entra, finalmente, no estúdio "em clima de terror". Em novembro chega às lojas seu primeiro disco, "Angela Ro Ro".

Foi uma estreia de arromba. O disco reúne algumas das principais músicas de sua carreira, como "Amor, Meu Grande Amor", que foi para a trilha da novela das oito "Água Viva" (1980), de Gilberto Braga; "Agito e Uso", cujo título original, censurado, era "Desacato à Autoridade"; além de "Cheirando a Amor", "Mares de Espanha", "Balada da arrasada" e outras que valeriam muitas carreiras.

A cantora Angela Ro Ro - Bob Wolfenson

No ano seguinte, "Só nos Resta Viver", seu segundo LP, repetiu o êxito e a repercussão na imprensa. Como é comum em sua carreira, ao sucesso seguiu-se um caso controverso que acabou na polícia.

"Um mundo atento a não perdoar"

Na manhã de 29 de abril de 1981, Ro Ro foi detida por PMs na frente da casa da cantora Zizi Possi, no Vidigal, zona sul do Rio. Afirmou ter sido agredida por policiais e tê-los agredido verbalmente ao ser pega pelo braço.

Na época, a imprensa noticiou que Ro Ro foi ao apartamento de Zizi, com quem teve um caso, buscar seus pertences e que ambas discutiram. Zizi chamou a polícia, mas teria sido agredida por Ro Ro antes de os policiais chegarem.

"Zizi foi agredida com socos na altura do peito e vários pontapés. Ao chegarem no local, os cabos Isaias e Coracy tentaram imediatamente conter a agressora mas, antes de o conseguirem, também foram agredidos", registrou a Folha.

Levada ao Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto, fugiu do local, onde seria submetida a exame de embriaguez. Apresentou-se depois na delegacia, acompanhada por dois advogados. O exame deu negativo, conforme divulgado à época.

Jornais registraram que Ro Ro, na delegacia, gritava: "Eu sou de briga e toda vez que for necessário vou brigar pra valer. Não tenho medo de polícia".

Após pagar fiança, foi liberada e voltou ao Hotel Sheraton, onde estava vivendo. Procurou por Nelson Motta. "Ouvindo e sentindo aquela mulher que eu sempre senti forte, tive certeza de sua fragilidade e delicadeza (que também pode ser um atributo dos fortes)", escreveu ele em sua coluna no Globo.

Ao amigo, Ro Ro negou que tivesse batido em Zizi. Negou que tivesse bebido, negou que tivesse batido nos PMs —neste caso, não por falta de vontade.

Reclamou na época ter sido agredida pelos policiais e ter ficado com manchas roxas no corpo. Estava triste e indignada. O resultado do exame de corpo de delito de Zizi não chegou a ser divulgado à época. Procurada, a cantora não quis falar com a reportagem.

A história estendeu-se por meses na imprensa e até hoje machuca Ro Ro, que não menciona mais o nome de Zizi. "A pessoa, não vou citar o nome por educação, até hoje não veio a público dizer ‘ela nunca bateu em mim, ela nunca me agrediu’. A pessoa fica calada o resto da vida, e eu crucificada", diz.

A partir daí, Ro Ro passou a ser mais notícia por seus escândalos do que por suas notas musicais. Em agosto de 1981, Ro Ro bateu seu Puma em um Dodge em Copacabana e foi retirada, junto de um amigo, após o carro ter o teto cerrado. "Desta vez eu não estava embriagada", declarou na ocasião, com uma fratura no cotovelo direito. Os PMs, por sua vez, afirmaram ter encontrado 17 gramas de maconha no porta-malas do carro.

Três meses depois, ela foi a um show de Zizi e causou um tumulto que só parou com a chegada, mais uma vez, da polícia, mas sem maiores danos. Na sequência, Zizi entrou na justiça contra Ro Ro.

Em 1982, Ro Ro lançou o show "Escândalo", seu terceiro álbum, referência irônica à situação que vivia. Os amigos tentaram ajudar a promover o novo trabalho, mas a repercussão não foi a mesma dos álbuns anteriores, apesar da qualidade do disco. A jornalista Ana Maria Bahiana, no Globo, sintetizou: "[...] Um show estranho, em que Angela se embriagou e se destruiu gradativamente e dramaticamente diante do público"

Ro Ro precisava de um simples carinho.

"Amar é sofrer, eu ouço dizer, mas vou duvidar"

O compositor João Donato estava com uma sequência na cabeça: "Cansei de você, cansei de sofrer, cansei de chorar..." E procurou o parceiro Abel Silva, que deu a letra: "Amar é sofrer, eu ouço dizer, mas vou duvidar..." "Ele fez uma tradução da minha ideia", conta João Donato.

O empresário do Kid Abelha, Paulinho Lima, mostrou a canção, "Simples Carinho", para Ro Ro, que a gravou e a transformou na música-título de seu quarto álbum, lançado em 1982. "Eu gosto de ouvir até hoje ela cantando. É uma das minhas canções mais bonitas, tocava no rádio diariamente", diz Donato.

A Nova República não traria ares tão mais democráticos a Ro Ro. Logo após ser sequestrada e torturada pela polícia, lançou seu sexto álbum, "Eu Desatino" (1985), uma homenagem a uma de suas principais referências artísticas, a cantora Janis Joplin. "Moça feia, gente fina/ Calores de heroína, garganta puro aço/Moça linda, gente feia/ Que deu essa heroína diluída no seu braço", cantou em "Blue Janis".

A menção à droga, mesmo de maneira crítica dentro da música, incomodou a censura, que continuava vigente. A música não podia ser tocada nas rádios do país. Mesmo tendo colocado véu de santa na capa do disco anterior, "A Vida É Mesmo Assim" (1984), Ro Ro continuava a ser uma das suspeitas de sempre.

"Meu alvo é a paz"

Nos anos 1990, a cantora ingressou na Som Livre, então a gravadora dos sonhos de todos os intérpretes. A vida pessoal, no entanto, teve momentos difíceis —e uma nova brecha para mudanças.

Ro Ro perdeu o pai em 1997 e a mãe em 1999. Abalada, começou a se cuidar mais, perdeu peso —havia chegado aos 130 quilos— e deixou o cigarro.

Era o início de uma longa transformação que desembocou em um período de sua carreira pelo qual tem especial carinho: o ano de 2006, quando gravou, pela Indie Records ,o álbum "Compasso", com 13 composições suas inéditas, e um DVD com convidados no Circo Voador. Entre eles, a cantora Alcione, com quem interpretou uma versão de "Joana Francesa", de Chico Buarque.

A canção que dá título ao CD é uma espécie de acerto de contas de Ro Ro consigo mesma, embora ela não a veja com a mesma gravidade. "Imagino que você esteja se referindo ao verso 'deixo alegria e dor ao ir embora’. É uma letra de transformação. É uma transformação que já estava acontecendo há mais de três anos."

Um de seus planos futuros é um livro que vem prometendo desde o início da década de 1980. Muito se falou deste projeto, que já foi um livro de crônicas, de contos, sobre sua vida. O que será agora? Talvez algo dos versos de "Compasso": "marcas de amor, de luto, de espora".

15 de outubro de 2022

Maria da Conceição Tavares marca debate econômico de JK ao TikTok

Referência nos estudos sobre crescimento, ela formou 3 gerações de economistas e virou meme na internet

Danilo Thomaz

Jornalista e mestrando em ciência política pela UFF (Universidade Federal Fluminense)

Folha de S.Paulo

[RESUMO] Maria da Conceição Tavares marcou o debate público brasileiro das últimas décadas, tanto por suas ideias quanto por sua figura teatral. Referência central nos estudos sobre crescimento e planejamento econômico, formou três gerações de economistas. No plano pessoal, sua postura inconformada, enérgica e desbocada inspirou até personagem de programa de humor. Aos 92, é redescoberta por novas gerações após virar meme na internet.

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Não poderia haver melhor momento para o Instituto de Economia da Unicamp, que começou a funcionar em agosto de 1968, comemorar seus 40 anos. Era 2009, e os países ricos estavam recolhendo os destroços do que havia restado da crise de 2008, fruto de quase três décadas de desregulação financeira.

Já o Brasil, que nunca embarcara com a mesma intensidade no que se convencionou chamar de neoliberalismo, via a economia se recuperar rapidamente com a ação dirigida estatal. Como, aliás, já vinha acontecendo naquele segundo governo Lula. Era a vitória política e ideológica da chamada Escola de Campinas, mais voltada à participação do Estado na economia.

Uma das principais formuladoras da tradição dessa escola estava na celebração da Unicamp: a economista Maria da Conceição Tavares. Convidada a falar no evento, não se limitou a ser mera espectadora enquanto não chegava o dia e a hora de sua palestra.

A economista Maria da Conceição Tavares - Folhapress

Se um convidado dizia algo de que discordava, rebatia, "não é assim!". Se alguém falasse uma besteira, dizia "é uma bobagem!". Se errasse, corrigia no mesmo instante: "Está errado!".

A única poupada de críticas foi a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. "Eu não gosto de brigar com mulher", a própria Conceição já dissera antes, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em 1995.

Fumante inveterada difícil de conter, Conceição sentou-se em uma cadeira na entrada do auditório, lugar reservado a ela pela organização do evento, onde poderia fumar sem incomodar a plateia, ouvir e, claro, intervir nos debates.

Até que chegou o momento de sua fala. Conceição começou citando o romance "O Retrato de Dorian Gray", do escritor irlandês Oscar Wilde. No clássico, um aristocrata faz um pacto demoníaco para ter a juventude eterna, enquanto um quadro com seu retrato envelhece.

A economista tinha o receio de que o Brasil terminasse como o aristocrata hedonista: horrorizado ao encarar o próprio retrato. No plano pessoal, seu receio era ter nascido em uma crise, na Europa, e morrer em outra, no Brasil —após toda uma vida contra a corrente.

NASCIMENTO E EXÍLIO

Maria da Conceição de Almeida Tavares nasceu em Anadia (Portugal) em 1930, a pouco mais de 50 km de Coimbra, mas cresceu e estudou em Lisboa. Mudou-se para o Brasil em fevereiro de 1954, junto do primeiro marido, Pedro Soares.

"Cheguei aqui e levei um susto. Porque o Getúlio morreu logo depois. Julguei que era uma democracia, vindo lá do Salazar, e me enganei", disse no Roda Viva.

Nesse instante, a então deputada federal pelo PT abriu um sorriso que contraiu os olhos, um dos raros momentos de suavidade em suas manifestações públicas. "Mas depois tivemos Juscelino, lembra? Aí íamos construir Brasília, uma democracia nos trópicos, o desenvolvimento."

O primeiro emprego de Conceição foi como estatística do Inic (Instituto Nacional de Imigração e Colonização), hoje Incra, onde deu-se conta da desigualdade no país.

Essa consciência a levou a estudar economia. Ingressou no curso em 1957, quando adotou a cidadania brasileira, na Universidade do Brasil, hoje UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro.

SUPERANDO O SUBDESENVOLVIMENTO

No ano seguinte, tornou-se analista matemática do que hoje se chama BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), à época presidido pelo economista Roberto Campos, um dos criadores e articuladores do Plano de Metas de JK, que buscava dar um salto no processo de desenvolvimento. Mas como era possível um liberal, como Campos, defender o planejamento estatal da economia?

Conceição, Campos, Celso Furtado, colegas de ambos no BNDES, e o sociólogo e ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, entre outros, são representantes de uma geração que tinha por objetivo compreender e superar a problemática do subdesenvolvimento nacional.

"Nós criamos a noção de desenvolvimento", afirma FHC à Folha. "Estávamos no mesmo clima que se respirava no Brasil. Então mesmo que não estivéssemos próximos [no terreno das ideias], nós ‘brigávamos’ pelo contexto de compreensão mútua. Eu li quase todos os textos que ela escreveu. Eu posso ter discordado dela mais de uma vez, mas tenho que reconhecer que ela foi uma grande idealista."

DITADURA

O período ditatorial fez erodir os sonhos da geração que buscava um desenvolvimento em bases reformistas para o Brasil. "Virei brasileira achando que isso aqui seria uma democracia nos trópicos, e tome 21 anos de ditadura, tome concentração de renda, tome milagre econômico", disse, estalando os dedos, no Senado.

É deste período o ensaio "Além da Estagnação", presente no livro "Da Substituição de Importações ao Capitalismo Financeiro", que completa 50 anos, o mais importante de sua obra.

Escrito em parceria com o hoje senador José Serra (PSDB), o ensaio é considerado um dos marcos da obra da autora dentro de seu período na Cepal (Comissão Econômica para a América Latina), órgão que defendia a adoção do planejamento econômico e de medidas protecionistas pelo Estado.

No texto, Conceição e Serra contestam a tese de Furtado sobre a derrocada da economia brasileira em meados dos anos 1960, presente no artigo "Desenvolvimento e Estagnação na América Latina: um Enfoque Estruturalista".

"O ensaio ‘Além da Estagnação’ teve por contribuição principal mostrar como, infelizmente, o crescimento do período do chamado milagre se fazia de forma perversa, com concentração da renda. Ao contrário do que postulavam os estagnacionistas, estava sendo possível crescer concentrando a renda —e pior ainda, a concentração de renda alimentava um processo de crescimento acelerado", afirma o economista Ricardo Bielschowsky, autor de "Pensamento Econômico Brasileiro" e colega de Conceição na UFRJ.

"O Furtado foi o grande intérprete do subdesenvolvimento, e a Conceição, da dinâmica econômica", completa ele. "A obra dela pode ser dividida em dois grandes períodos: até as proximidades de 1980, na era desenvolvimentista, e depois dela. Ou seja, o primeiro gira em torno da presença do crescimento, e o segundo trata de elementos que causam sua ausência."

À época da publicação do ensaio, o Ministério da Fazenda era comandado pelo economista Delfim Netto. "Nossos pensamentos frequentemente diferiam, mas sempre considerei as suas críticas. Foi a inteligência mais barulhenta que conheci", afirma ele hoje.

Conceição considera o ex-ministro uma das melhores cabeças do país. Embora crítica da concentração de renda, reconhece que tanto Delfim quanto o segundo PND (Plano Nacional de Desenvolvimento), do governo Ernesto Geisel, conferiram certa pujança ao capitalismo brasileiro.

VIDA ACADÊMICA

De volta ao Rio, em 1972 —após um período no Chile, onde trabalhou no governo Allende—, Conceição reassumiu sua cadeira na UFRJ. Três meses depois, foi convidada pela Unicamp a coordenar a pós-graduação de economia da instituição.

"Zeferino Vaz [fundador da universidade] nos levou para lá", conta o economista Luiz Gonzaga Belluzzo. "[Ele dizia]: ‘São todos esquerdistas, mas são bons’."

A dupla de economistas se conheceu em 1966, quando Belluzzo era estudante e assistiu a uma palestra de Conceição. O reencontro, sete anos depois, marcou o início de uma amizade e uma troca intelectual que perdura até hoje. "Era um estímulo. Ela não briga com as pessoas, briga com as ideias, se empolga", conta ele.

Conceição passou a conciliar aulas na Unicamp e na UFRJ, onde fundou o IEI (Instituto de Economia Industrial), um dos centros mais vibrantes do pensamento econômico brasileiro nos anos 1970 e 1980.
Em sua trajetória acadêmica, a professora ajudou a formar três gerações de economistas. Entre eles, Serra, Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda de FHC, e a ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Em 1975, às vésperas de um embarque para Santiago, foi presa pela ditadura no Galeão. Passou alguns dias desaparecida.

Liberta por intervenção do então ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen, Conceição mandou-lhe a seguinte mensagem: "Olá, Mário, tudo bem? Nem vou agradecer porque você não fez nada mais do que sua obrigação".

REDEMOCRATIZAÇÃO E INFLAÇÃO

Em 1980, Conceição tornou-se membro da Executiva Nacional do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), ao qual havia se filiado em 1978. Tinha como seus principais interlocutores dentro da legenda Ulysses Guimarães, uma das lideranças civis da redemocratização, e Fernando Henrique.

"Foi uma influência muito grande, mas não era uma pessoa propriamente ligada ao partido, era muito mais por ideias. Era uma ligação, como tudo que estava acontecendo na época, conflituosa, mas havia uma grande identidade de ponto de vista, sobretudo no que concerne a um pensamento comprometido com a dinâmica da política brasileira", afirma o ex-presidente.

Em 1986, Conceição ganhou destaque fora do meio acadêmico e político ao comentar com a voz embargada e lágrimas escorrendo, na TV Globo, o Plano Cruzado, que pretendia dar fim à inflação. "Eu estou muito contente de ver uma equipe econômica que redime este país, que dá uma contribuição política, que ajuda o governo a encontrar seu rumo."


Baseado no congelamento de preços, o Cruzado resultou de uma equipe que incluía Belluzzo e o economista André Lara Resende. O plano foi elaborado em sigilo, mas Conceição teve acesso a ele, por meio de Ulysses Guimarães, pouco antes de ser submetido à aprovação.
PLANO REAL

Em julho de 1994, Conceição despede-se de seus leitores da Folha, onde ajudava a balizar o debate econômico em suas colunas, para dar início a uma nova fase como política profissional, candidata a uma vaga na Câmara dos Deputados pelo PT do Rio. Havia se desligado do MDB em 1989, após a derrota de Ulysses nas eleições presidenciais.

Em 1994, Conceição era uma das principais críticas do Plano Real. Disse que se tratava de um "Cruzado dos ricos" e que criaria uma realidade paralela, na qual a classe média baixa e os pobres não poderiam medir as perdas sofridas. "Ela fez uma crítica equivocada", afirma Belluzzo.

Ao longo do governo FHC, ela opôs-se também à abertura econômica, à desproteção de setores produtivos nacionais e à financeirização da economia.

"Hoje eu acho que ela tinha razão. Houve uma financeirização em relação ao capital produtivo. A teoria macroeconômica do neoliberalismo era a posição hegemônica. Agora está começando a haver uma revisão", afirma o economista André Lara Resende, um dos pais do Real e ex-presidente do BNDES no governo FHC.

O economista tem sido voz dissonante e solitária contra essa hegemonia no debate econômico brasileiro, por meio de livros como "Consenso e Contrassenso - Por uma Economia não Dogmática".

Em 1995, Conceição partiu para Brasília como a segunda deputada federal mais votada do PT pelo Rio. Apesar do sucesso eleitoral, não guardou boas lembranças. "Foi uma estreia política formal triste. Foi a única vez que fui ao sacrifício político", declarou.

Uma vez no poder, FHC deu a si mesmo a missão de encerrar o legado estatal de Getúlio Vargas. Para isso, era necessário abrir a economia e diminuir o peso do Estado por meio de privatizações.

Dar fim a todo aquele aparato que os então deputados Conceição, Delfim e Roberto Campos —embora este último há muito já estivesse convertido em ardoroso pregador liberal e crítico do estatismo— ajudaram a construir décadas antes. "Roberto Campos e eu nos divertíamos com a grossa pancadaria que ela aplicava no ilustre Fernando Henrique Cardoso", conta Delfim.

Integrante da Comissão de Finanças e Tributação, ela tentou passar uma reforma tributária. "Não tive o menor sucesso. Nem eu, nem ninguém, como é óbvio", disse ela no Senado.

O fracasso foi estendido a outras comissões. "Perdi na de Energia. Doutor Roberto Campos estava lá. Chamava de ‘dinossauro’ a Petrobras. Perdi a paciência. Disse que era melhor ser dinossauro que ser lagartixa. Ele ficou aborrecido." A congressista explicou que não se referia a ele. Depois, complementou: "O senhor também, à sua maneira, é um dinossauro… rex".

Na audiência que votou o fim do monopólio da Petrobras na extração do petróleo, Conceição foi escolhida pelo PT para representar o partido. Vestida de preto, com uma fitinha verde e amarela, deu seu voto contrário. "Foi uma tristeza. Ali eu quase chorei."

"O FHC passou o que quis e o que não quis [no Congresso]. A Conceição viveu isso de dentro. Ela cumpriu um papel importante, era a professora da bancada do PT. A maior parte dos quadros do partido não tinha a menor noção de nada [do que estava em votação]", afirma a economista Gloria Maria Moraes da Costa, que foi aluna da deputada e coordenadora de sua campanha.

Uma das derrotas de Conceição foi a não aprovação de um imposto para grandes fortunas, de autoria de FHC quando senador (1983-1992). Hoje o ex-presidente diz que teria sido importante a aprovação desse projeto. "A grande fortuna no Brasil ficou intocável, e isso não é bom."

Embora a esquerda tenha convencionado referir-se ao governo FHC como um período neoliberal, é importante entender que havia tensões dentro da área econômica de sua gestão, simbolizadas pelos então ministros Pedro Malan, da Fazenda, e José Serra, do Planejamento.

O primeiro era mais voltado à abertura e à internacionalização da economia; o segundo, às ideias de proteção de determinados setores. "Isso [tratar o governo como neoliberal] é uma caricatura. Mas a caricatura guarda alguma relação com a realidade", afirma Lara Resende.

"Os dois [Malan e Serra] mencionavam a Maria Conceição [nas reuniões]. Notei que ela era realmente muito influente", afirma FHC.

"Em algumas coisas, ela poderia ter alguma razão, mas, de qualquer maneira, o que nós fizemos era o que nós podíamos fazer. Naquele momento, era o que se aconselhava fazer, era o possível. E o resultado está aí, o Brasil cresceu."

O ex-presidente, em seus diários, afirma que a professora o tratou de "modo desabrido" durante a campanha eleitoral. Conta que, em jantar no qual Celso Furtado também estava presente, a tratou friamente, queixando-se de que ela não foi "nem desleal, foi atrevida, não tem o direito de dizer o que disse durante a campanha, uma mulher que me conhece a vida toda".

Questionado, FHC diz não se lembrar a que se referia. "Eu não me lembro, mas provavelmente porque apoiou algum adversário meu", afirma. "Eu não me lembro de ter rompido [com ela], muito menos de ter reatado [risos]. Não sou uma pessoa de guardar rancores."

LULA LÁ

Conceição celebrou muito a vitória de Lula em 2002. Afirmou, no início, que o governo tinha pouco "raio de manobra", em razão do endividamento do Estado e das altas taxas de juros. A "pax", todavia, durou pouco.

Em abril de 2003, em entrevista à Folha, soltou o verbo contra a opção do PT por políticas focalizadas na área social —ou seja, políticas que atingem determinados grupos—, em detrimento de programas universais.

"Tive de ouvir o dr. Delfim Netto defender a Constituinte de 1988, onde estão consagrados os direitos universais nas três áreas: saúde, assistência social e Previdência Social. Isso vinha sendo construído como políticas universais desde o tempo da ditadura; logo, não é um problema de ser conservador. É um problema de ser pateta ou de má-fé."

Suas críticas, porém, foram escasseando ao longo do governo Lula. Chegou aos 80 anos, em 2010, otimista, apesar do alerta feito um ano antes, no evento da Unicamp. "Espero não me equivocar, mas, se me equivocar, não estarei viva para ver."

Na eleição que opôs seus dois ex-alunos, Dilma e Serra, declarou apoio à primeira, que saiu vitoriosa. Ambos foram procurados pela reportagem em mais de uma ocasião, mas, mesmo manifestando interesse, não deram retorno.

EPÍLOGO

Em 2019, o Brasil parecia ter cumprido o vaticínio de Conceição de dez anos atrás: o país, que antes decolava na capa da revista The Economist e crescia com distribuição de renda em um mundo em recessão e aumento da desigualdade, acabava de entrar para a lista das democracias liberais em crise com o início do governo de Jair Bolsonaro (PL).

Uma união de militares, extrema direita e milicianos fez boa parte do Brasil achar feio o que era espelho.

Um pouco antes disso a participação de Conceição no debate público já começava a rarear, embora tenha se manifestado contra o impeachment de Dilma e a prisão de Lula.

Em 2019, ainda vivendo no bairro do Cosme Velho, no Rio, lançou sua última obra, "Maria da Conceição: Vida, Ideias, Teorias e Política", um compilado de ensaios.

No final de 2021, após uma fratura, Conceição mudou-se para Nova Friburgo (RJ). Aos 92 anos, ocupa seus dias com visitas de amigas economistas, do casal de filhos e de familiares, e telefonemas de Belluzzo. Desde a queda, sumiram com seu cigarro. Após 70 anos de vício, ela deixou de fumar. Por motivos de saúde, não pôde dar entrevista para esta reportagem.

Em uma das visitas, Conceição foi informada de que volta e meia se tornava um dos assuntos mais comentados na internet, por causa de trechos de suas aulas na Unicamp e da entrevista do Roda Viva veiculados no YouTube e em redes sociais.

Sua fala enérgica e sem pudores inspirou diversos memes, que tiveram o efeito imprevisto de formar uma nova geração de admiradores de sua obra. Antes da internet, no começo dos anos 1990, ela já havia inspirado uma personagem da "Escolinha do Professor Raimundo" (Globo), dona Maria da Recessão Colares, fumante, com sotaque português, que esbravejava sobre a economia do país.

Conceição, que nem sequer tem celular, divertiu-se ao saber que sua lição nas salas de aula, como o exemplo a seguir, ainda sobrevive.

"Nós não somos da elite dominante desse país. A não ser que vocês tenham alguma pretensão a ser. Eu não tenho. Então não é chá e simpatia. Isso é um curso rebelde! Nós perdemos! Nós somos derrotados! Se vocês não fossem derrotados, não vinham para esta universidade [Unicamp], iam pra USP, pra PUC [Rio]. Ou pra Harvard. Estamos lutando pela hegemonia? Imagine! Estamos lutando apenas pra não ficar malucos. Para não dizer besteira demais."

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