1 de setembro de 2025

Ele enfrentou Trump. Agora vem seu maior desafio.

Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, os riscos antes das eleições do ano que vem não poderiam ser maiores.

Andre Pagliarini
Andre Pagliarini é especialista em política brasileira e autor de "Lula: um presidente do povo e a luta pelo futuro do Brasil".

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva do Brasil em agosto. Evaristo Sa/Agence France-Presse — Getty Images

O presidente Trump parece estar de olho na América Latina. Desde os dias mais sombrios da Guerra Fria, Washington não adotava uma política de tamanha hostilidade em relação aos seus vizinhos do sul. No entanto, um país emergiu como alvo especial da ira de Trump: o Brasil. Em julho, ele ameaçou impor tarifas de 50% a menos que as autoridades suspendessem o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de conspirar contra a democracia após sua derrota em 2022, e anulassem uma decisão da Suprema Corte sobre conteúdo de mídia social.

O atual presidente do país, Luiz Inácio Lula da Silva, recusou-se categoricamente. Em vez disso, cheio de justa indignação, assumiu o manto nacionalista e se apresentou como defensor da soberania brasileira contra a mão pesada de Washington. "Em nenhum momento", disse ele ao The Times, "o Brasil negociará como se fosse um país pequeno contra um país grande". As tarifas exorbitantes foram devidamente impostas, embora algumas isenções tenham suavizado o golpe. No entanto, a recusa de Lula em ser intimidado e a insistência para que o Brasil desempenhe um papel independente no cenário mundial lhe renderam um aumento no apoio em casa.

Ele vai precisar. No ano que vem, aos 80 anos, buscará um quarto mandato sem precedentes quando os brasileiros forem às urnas. A eleição não decidirá apenas o destino do governo ou o legado de Lula. Determinará se o Brasil, a quarta maior democracia do mundo, se juntará ao coro autoritário que reverbera por todo o Hemisfério Ocidental. Para Lula e seu país, os riscos não poderiam ser maiores. O presidente brasileiro pode ter enfrentado Trump, mas seu maior desafio ainda está por vir.

Durante grande parte de seu terceiro mandato, Lula lutou com resultados medianos nas pesquisas. Apesar do baixo desemprego, a inflação tem sido um problema persistente. Também houve um sentimento entre uma parcela considerável do eleitorado de que suas prioridades em política externa, como uma tentativa antecipada de intermediar um acordo entre a Rússia e a Ucrânia, bem como suas críticas incisivas ao governo israelense, eram quixotescas e improdutivas.

Mas as coisas estão melhorando. A maioria aprova sua conduta no cenário mundial, e muitos apoiam sua condução da disputa com Trump. Pesquisas recentes também o mostram superando todos os concorrentes testados para 2026, incluindo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, um bolsonarista ferrenho visto como o mais formidável concorrente de Lula. O humor público também mudou: mais brasileiros dizem temer um retorno de Bolsonaro do que se preocupar com a permanência de Lula no poder.

O presidente agora é menos um titular em declínio do que um favorito resiliente. A melhora da confiança do consumidor explica parte disso, mas o panorama político mais amplo é igualmente importante. Com Bolsonaro impedido de exercer o cargo até 2030, seu filho se mudou para os Estados Unidos para fazer lobby na Casa Branca em tempo integral. Seus esforços parecem ter dado resultado. Mas a tentativa do governo Trump de coagir o Brasil a retirar acusações que podem levar iminentemente a uma longa pena de prisão para Bolsonaro saiu pela culatra. Apesar dos esforços da família Bolsonaro para culpar Lula, mais brasileiros os culpam pelas tarifas onerosas de Trump.

O vento pode estar a favor de Lula, mas ainda existem desafios consideráveis. Por exemplo, a coalizão que o levou de volta ao cargo há três anos é extremamente frágil. Seu partido sozinho não consegue garantir a maioria no sistema político fragmentado de hoje. A vitória no ano que vem exigirá a formação de uma ampla aliança que vá da centro-esquerda aos conservadores pragmáticos, o mesmo bloco desajeitado que sustentou seu retorno em 2022. Isso significa atender constantemente a governadores, líderes do Congresso e grupos empresariais de centro, que a atual safra de candidatos da oposição também está cortejando. Será que Lula conseguirá convencer os centristas de que a democracia está nas urnas, mesmo que Bolsonaro não esteja?

Resta saber também como se desenrolará o ataque comercial de Trump ao Brasil. Graças a um esforço concentrado para diversificar seus parceiros comerciais, o Brasil depende muito menos do mercado americano do que antes. Ainda assim, há uma linha tênue entre a defesa dos interesses nacionais com princípios e a postura política diante de uma calamidade. Lula insiste que está perfeitamente disposto a conversar com Trump e apresentou um plano de contingência para ajudar com as consequências. Por enquanto, isso está indo bem. Mas se as tarifas se mostrarem duradouras e mais dolorosas do que o esperado, sua abordagem inflexível pode ser irritante.

A direita, por sua vez, está longe de estar acabada. Bolsonaro pode estar prejudicado por problemas legais, mas o bolsonarismo — uma mistura nociva de conspiração, ressentimento, fervor religioso e nostalgia pela ordem militar — não é tão facilmente contido. Enquanto 39% dos eleitores em uma pesquisa recente se identificaram com o partido de Lula, 37% apoiaram Bolsonaro. O herdeiro mais confiável continua sendo o governador de São Paulo, Sr. Freitas, um tecnocrata que deve sua carreira política ao ex-presidente. Nas pesquisas competitivas, ele precisa decidir se vai se voltar para o centro na disputa do próximo ano ou se comprometerá cada vez mais fielmente com o movimento reacionário de Bolsonaro.

Se esse dilema estratégico definir a campanha da oposição, a de Lula dependerá de ele conseguir manter a economia estável o suficiente para neutralizar os ataques à sua gestão e enquadrar a eleição como um referendo sobre a própria democracia. Ele já começou a fazer isso, apresentando-se como um baluarte contra a interferência estrangeira e a recaída autoritária. Se conseguir fazer com que 2026 seja o momento de decidir se o Brasil continuará como uma sociedade independente e pluralista ou se recairá em um padrão de erosão democrática que se submete aos interesses dos Estados Unidos, ele terá boas chances.

Lula sempre prosperou com poucas chances. Ele ascendeu da pobreza à presidência, voltou da prisão para derrotar um presidente pela primeira vez na história pós-ditadura do Brasil e sobreviveu a todos os obituários escritos sobre sua carreira política. No entanto, a eleição que se avizinha pode ser seu maior desafio até agora. Trump e seus aliados certamente buscarão influenciar a disputa de alguma forma, colocando à prova as famosas habilidades de campanha do presidente brasileiro.

Lula é, sem dúvida, uma figura lendária do passado do país. Agora, ele precisa convencer os eleitores de que também pode liderá-lo para o futuro.

Andre Pagliarini (@apagliar) é professor assistente de história e estudos internacionais na Universidade Estadual da Louisiana, membro do Escritório do Brasil em Washington e especialista não residente do Instituto Quincy para a Arte de Governar Responsável. Ele é autor do livro "Lula: A People’s President and the Fight for Brazil’s Future", a ser lançado em breve.

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