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4 de maio de 2024

A desigualdade global disparou desde a pandemia

Nos últimos quatro anos, os detentores de capital obtiveram lucros consideráveis à custa da classe trabalhadora e do Sul Global. Os ricos podem ter se recuperado da pandemia — mas os pobres do mundo ainda sofrem os seus efeitos econômicos.

Max Lawson


A desigualdade entre o mundo rico e o Sul Global está aumentando pela primeira vez em três décadas. (Getty Images)

Tradução / O bilionário Warren Buffett uma vez disse: “Há uma guerra de classes, é verdade, mas é a minha classe, a classe rica, que está fazendo a guerra, e nós estamos vencendo”. Uma nova análise divulgada pela Oxfam esta semana para o Dia Internacional dos Trabalhadores mostra concretamente que, desde 2020, a classe rica, como Buffett a chama, está ganhando muito.

Os pagamentos de dividendos globais aos acionistas ricos cresceram, em média, catorze vezes mais rápido do que o salário dos trabalhadores em trinta e um países, que juntos representam 81% do PIB global, entre 2020 e 2023. Os dividendos corporativos globais estão a caminho de bater o recorde histórico de 1,66 bilhões de dólares atingido no ano passado. Já os pagamentos aos acionistas ricos aumentaram 45% em termos reais entre 2020 e 2023, enquanto os salários dos trabalhadores aumentaram apenas 3%. Os 1% mais ricos, simplesmente por possuírem ações, embolsaram, em média, 9.000 dólares em dividendos em 2023 — um trabalhador médio demoraria oito meses para ganhar este valor em salários.

Isto é importante porque, enquanto os retornos sobre o capital aumentarem mais rapidamente do que os rendimentos do trabalho, a crise da desigualdade aumentará. No centro da nossa economia está uma luta constante entre os proprietários — ou capital, como é conhecido na economia — e os trabalhadores, ou trabalho.

A medida do progresso, ou da falta dele, é a medida em que os benefícios de todas essas bilhões de horas de trabalho diário se revertem a favor dos trabalhadores e das suas famílias, gerando uma maior igualdade, ou a medida em que os benefícios se revertem a favor dos proprietários do capital, gerando uma maior desigualdade.

Para a maioria das pessoas no nosso planeta, os anos desde 2020 têm sido incrivelmente difíceis. A pandemia foi um golpe enorme; milhões de pessoas foram perdidas devido à doença e outras milhões foram lançadas na miséria enquanto o mundo parava. O aumento acentuado no custo dos alimentos e de outros bens essenciais que se seguiu em 2021 se tornou uma nova e difícil realidade para muitas famílias em todo o mundo, que tentam comprar óleo, pão ou farinha sem saber quantas refeições terão que pular no dia. Penso nos meus amigos em Malawi, por exemplo, onde vivi, que lutam todos os dias para se manterem à tona, ou nas milhões de pessoas do Reino Unido que dependem dos bancos de alimentos para matar a fome. Mundialmente, a pobreza ainda é mais elevada do que em 2019. A desigualdade entre o mundo rico e o Sul Global está aumentando pela primeira vez em três décadas.

Mas para os mais ricos da nossa sociedade, os detentores de capital, os anos desde 2020 têm sido realmente bons. Os bilionários, que são cerca de três mil em todo o mundo, são alguns dos maiores acionistas. Sete em cada dez das maiores empresas do mundo têm um CEO bilionário ou um bilionário como principal acionista. Durante a última década, a riqueza dos bilionários aumentava cerca de 7% ao ano. Desde 2020, acelerou para 11,5% ao ano.

O termo “acionistas” tem um toque democrático, mas isso é evidentemente falso. Na verdade, são as pessoas mais ricas do mundo que detêm a maior proporção de ações e de todos os ativos financeiros. Uma pesquisa realizada em vinte e quatro países da OCDE revelou que os 10% das famílias detêm 85% do total dos ativos de propriedade de capital — incluindo ações de empresas, fundos de investimento e outros negócios — enquanto os 40% mais pobres detêm apenas 4%. Nos Estados Unidos, o 1% mais rico detém 44,6%, enquanto os 50% mais pobres detêm apenas 1%.

Os ricos não são apenas ricos; são predominantemente homens e são predominantemente brancos. Nos Estados Unidos, 89% das ações são detidas por brancos, 1,1% por negros e 0,5% por hispânicos. Do mesmo modo, mundialmente, apenas uma em cada três empresas é propriedade de mulheres. Portanto, estes retornos elevados para os acionistas estão basicamente aumentando os rendimentos e a riqueza no topo.

Como podemos resolver isto? Tributar muito mais os super-ricos seria um ótimo começo; as notícias são boas, porque o Brasil, que este ano preside o grupo G20 das economias mais poderosas do mundo, colocou pela primeira vez na agenda formal a necessidade de aumentar os impostos. Ao mesmo tempo, o Presidente Joe Biden voltou a dizer que apoia um novo imposto sobre os bilionários.

Mas, em última análise, os impostos consistem em resolver um problema depois que ele se torna um. O essencial é garantir que a economia não crie, em primeiro lugar, uma desigualdade tão grande. Uma forma extremamente importante de fazer isso é pender a balança de novo a favor dos trabalhadores. Os frutos do trabalho devem ser desfrutados pelos trabalhadores e não por aqueles que, como disse John Stuart Mill, “enriquecem enquanto dormem, sem trabalhar, arriscar ou economizar”. Isto só acontecerá com um aumento da organização e do poder dos trabalhadores.

Quando o poder dos trabalhadores era elevado, a desigualdade era baixa e, como salientou o Fundo Monetário Internacional, o declínio da adesão aos sindicatos contribuiu diretamente para o aumento dos rendimentos do topo.

Perante isto, o ressurgimento das greves e o aumento do poder e da voz dos trabalhadores que temos visto nos últimos anos é maravilhoso. Ainda é uma fração do que é necessário para fazer pender a balança, mas toda uma nova geração de trabalhadores está vendo o poder da organização. O apoio da Geração Z aos sindicatos é o mais elevado de qualquer geração. Dos trabalhadores do setor automóvel nos Estados Unidos aos trabalhadores do setor do vestuário em Bangladesh, vemos trabalhadores lutando contra os proprietários e lutando por um mundo mais justo e igualitário.

Os trabalhadores de todo o mundo precisam agarrar a balança e puxá-la para si; isto, por sua vez, criará a política e a economia de uma nova era de igualdade.

Republicado do Tribune.

Colaborador

Max Lawson é chefe de política de desigualdade da Oxfam International.

10 de outubro de 2022

Os ricos estão queimando o planeta

Pesquisas mostram repetidamente que a expansão da desigualdade está intimamente ligada à destruição do planeta. Não podemos salvar o mundo sem enfrentar os ricos.

Max Lawson

Jacobin

A Terra não tem dinheiro para pagar os ricos. (Getty Images)

Tradução / França, 2018. O país está paralisado por uma enorme série de protestos contra as medidas do Presidente Emmanuel Macron para aumentar a tributação verde sobre os combustíveis, ao mesmo tempo em que acaba com o imposto sobre a fortuna para os super-ricos. Os manifestantes ficam conhecidos como os “coletes amarelos”.

Tamanha é a fúria que o presidente é obrigado a reverter o aumento do imposto sobre os combustíveis. A formulação de políticas climáticas mais cegas em relação às classes sociais resulta em um fracasso espetacular.

Com a Europa paralisada pelos altos preços do gás e energia neste inverno, há quem diga que esta é uma oportunidade para acelerar uma transição verde, uma espécie de tratamento de choque para nos “acostumarmos” de alguma forma a preços elevados de energia e sermos forçados a consumir menos.

Dado o sofrimento que esses aumentos dramáticos de preços estão causando às pessoas pobres em todo o continente, forçando muitas a escolher entre aquecimento e alimentação, esses sentimentos de autopenitência parecem brutais para mim. Suspeito que são raramente expressos por aqueles que terão dificuldades para pagar suas contas de aquecimento.

Além disso, penso que essa ideia é politicamente insensata. Só poderemos alcançar a transformação drástica em nossas economias necessária para deter as mudanças climáticas se toda a sociedade concordar e acreditar que é a coisa certa a fazer. Não pode ser imposto às pessoas como uma dose de óleo de fígado de bacalhau.

Existe um enorme risco de que a ação climática seja associada a uma elite patronal e liberal, sendo ridicularizada pelos populistas de direita em todos os lugares, acelerando nosso planeta em direção ao desastre.

Na raiz disso está a falha em ver adequadamente as mudanças climáticas como uma questão de classe social. As mudanças climáticas quase sempre são vistas em termos de diferentes nações, o mundo rico versus o mundo em desenvolvimento. Se as emissões pessoais são consideradas, elas são invariavelmente médias per capita para cada nação.

É verdade que todos nos países ricos precisam reduzir suas emissões de carbono, sejam ricos ou pobres. Mas as médias nacionais obscurecem tanto quanto informam. Felizmente, novas análises feitas por um grupo de pesquisadores examinando as emissões de carbono de diferentes grupos de renda — em particular, as emissões dos 10% mais ricos e dos 1% mais ricos — estão ganhando destaque.

Desigualdade nas emissões: o que os dados mostram?

Simplificando, a crise climática está sendo causada pela classe mais rica em cada país. São eles que estão nos conduzindo imprudentemente ao precipício do colapso planetário.

Uma análise da Oxfam em parceria com o Stockholm Environment Institute revelou o seguinte:

  • As emissões per capita de alguém que faz parte do 1% mais rico são 100 vezes maiores do que as de alguém que faz parte dos 50% mais pobres e 35 vezes maiores do que a meta estabelecida para 2030.
  • Desde 1990, os 5% mais ricos foram responsáveis por mais de um terço do crescimento das emissões totais. Os 1% mais ricos foram responsáveis por mais do que toda a metade mais pobre da população.
  • Para cerca de 20% da população humana – principalmente a classe trabalhadora e de baixa renda nos países ricos – as emissões per capita realmente diminuíram de 1990 a 2015.

Lucas Chancel e Thomas Piketty realizaram uma análise semelhante, que inclui o gráfico a seguir. É possível observar a queda nas emissões para aqueles que correspondem à distribuição global das classes trabalhadoras e de baixa renda nos países ricos. Suas emissões ainda são muito altas para estar conforme as metas climáticas, mas é notável que foram o único grupo cujas emissões diminuíram.

Fonte: Relatório de Desigualdade Mundial

Os 10% mais ricos são globalmente encontrados principalmente em países ricos, mas não exclusivamente. No entanto, a desigualdade nas emissões também é replicada em nível nacional em países ricos. Nacionalmente, as emissões dos 10% mais ricos são muito maiores do que as do restante da distribuição de renda, seja na França ou na Índia.

Outros estudos também começaram a examinar dados detalhados sobre as “pegadas de carbono” dos mais ricos. Um estudo que analisou as emissões de vinte dos bilionários mais ricos do mundo descobriu que cada um deles emitiu, em média, oito mil toneladas de dióxido de carbono.

Em comparação, o cidadão médio de um país rico emite cerca de seis toneladas — e a quantidade necessária para atingir a meta de segurança global de 1,5 grau Celsius é um pouco mais de duas toneladas por pessoa. Uma nova análise dos voos em jatos particulares dos super-ricos também revelou que celebridades e bilionários emitem mais carbono em minutos do que pessoas comuns em um ano.

A questão dos investimentos

Não apenas as emissões dos ricos são incrivelmente altas e crescentes, mas também a natureza de suas emissões é completamente diferente. Para as pessoas mais ricas, a maioria de suas emissões — até 70% — vem de seus investimentos. Isso reflete a desigualdade como um todo: para a maioria da sociedade, a renda provém do trabalho; para os mais ricos, provém do retorno sobre o capital.

As emissões de estilo de vida de um bilionário podem ser mil vezes maiores do que a média, mas suas emissões de investimento podem ser um milhão de vezes maiores. Estamos trabalhando em uma nova análise das emissões de investimento de bilionários que será publicada em novembro, antes da conferência da ONU sobre mudanças climáticas deste ano.

As pessoas próximas à base da escala de renda frequentemente não têm muita escolha em relação às suas emissões de carbono. Elas podem estar vivendo em habitações alugadas mal isoladas ou precisam dirigir para o trabalho por falta de transporte público adequado.

Como em todos os outros aspectos da vida, quanto mais rica é a pessoa, mais escolhas ela tem e mais possibilidade de mudar de vida — uma regra aplicada às emissões de consumo de estilo de vida, mas ainda mais às emissões de investimento. Você pode escolher onde investir seu dinheiro. O financiamento contínuo de combustíveis fósseis e indústrias poluentes pelos super-ricos, em minha opinião, é totalmente indefensável.

Bilhões devem ficar pobres para salvar o mundo?

Na Oxfam, nossa principal preocupação são aqueles que estão na metade mais pobre da sociedade, em todos os países, mas especialmente nos países do Sul Global. Queremos que todas as pessoas na Terra tenham não apenas o necessário para sobreviver, mas também para prosperar. Todos têm o direito à segurança, uma renda decente, uma boa casa, cuidados de saúde públicos gratuitos, escolas, transporte público e parques. Cada família deve ter uma geladeira e uma televisão. Todos devem ter acesso a um smartphone, a um computador e à internet.

Para alguns, o medo é de que, se alcançarmos isso e permitirmos que todos os 8 bilhões de nós tenhamos uma vida decente, rapidamente ultrapassaríamos a capacidade de sustentação natural de nosso planeta, não apenas em relação ao carbono, mas também em relação a outros limites planetários.

Esse modo de populações em crescimento no Sul Global é frequentemente usado para atribuir a culpa aos países em desenvolvimento: alguns argumentam que, embora a culpa pelas emissões de carbono possa ter sido historicamente dos países ricos, agora devemos nos preocupar com os bilhões de chineses e indianos.

O que a análise mostra categoricamente é que as centenas de milhões de pessoas que saíram da pobreza global nas últimas duas décadas são apenas uma pequena parte do aumento dramático das emissões. Na verdade, quase metade do crescimento rapidamente acelerado das emissões totais — e o aumento dos riscos e danos relacionados à crise climática — não ocorreu em benefício da metade mais pobre da população mundial. Apenas permitiu que os 10% mais ricos e já privilegiados aumentassem seu consumo e ampliassem suas pegadas de carbono.

É verdade que, se continuarmos nos níveis atuais de desigualdade, para proporcionar uma vida decente a todos, o crescimento global do PIB teria que aumentar muito além da capacidade de nosso planeta de sustentá-lo.

Nos últimos quarenta anos, a cada dólar de crescimento do PIB global, 46 centavos foram para os 10% mais ricos e apenas cerca de 9 centavos foram para a metade mais pobre da humanidade. A parcela mais pobre da humanidade recebeu menos de um centavo de cada dólar de crescimento da renda global. Essa distribuição é tão injusta e ineficiente que elevar toda a humanidade acima da linha de pobreza de US$ 5 por dia exigiria que a economia global fosse 173 vezes maior do que é hoje. Isso é uma impossibilidade ambiental.

Isso significa que os objetivos de sobrevivência planetária e uma vida decente para todos são incompatíveis? Que, para salvar nosso planeta, a maioria da humanidade deve permanecer para sempre pobre e faminta? Não necessariamente. Tudo depende do nível de desigualdade.

É bem notado que as pessoas em todo o mundo, quando questionadas sobre a desigualdade em seus países, subestimam consistentemente e em grande escala a extensão da divisão. E quando perguntados sobre o nível de “desigualdade justa” que preferem, embora isso varie entre as sociedades, a maioria sempre deseja que sua sociedade seja muito mais igual do que realmente é.

Um estudo recente publicado na revista Nature combinou essas preferências de desigualdade com as emissões de carbono necessárias para que todos na Terra tenham padrões de vida decentes. Eles descobriram que, se as sociedades em todo o mundo se apressassem realmente ao que seus cidadãos sentiam ser um nível de desigualdade “justo”, seria possível para toda a humanidade ter uma vida decente e permanecer nos limites de energia para evitar um aquecimento global de 1,5 grau Celsius.

A evidência é clara que as pessoas mais ricas em nossa sociedade são uma grande parte do problema, devido a seus estilos de vida de luxo insustentáveis e a seus investimentos que financiam a economia de combustíveis fósseis. Uma redução massiva da desigualdade é a única maneira de garantir que todos na Terra possam ter uma vida decente e garantir o futuro de nosso planeta.

Uma nova abordagem para combater o colapso climático

Examinar as emissões de diferentes grupos de renda e a natureza dessas emissões tem o potencial de transformar a formulação de políticas climáticas. Para manter qualquer nível de justiça, os mais ricos devem fazer os cortes mais significativos em suas emissões. Isso é válido tanto em países ricos quanto em países em desenvolvimento.

Isso significa, por exemplo, que não deveríamos ter um imposto de carbono fixo, mas sim um imposto de carbono progressivo: quanto mais carbono você usar, maior será o imposto que você paga. Investimentos poluentes devem ser submetidos a impostos punitivos adicionais, ou melhor ainda, simplesmente proibidos.

Bens de luxo e jatos particulares devem ser altamente tributados ou fortemente restritos. Cada ação nacional para combater as mudanças climáticas deve ser tomada progressivamente, de maneiras que façam com que os mais ricos e os maiores emissores arquem com a maioria dos custos e, por sua vez, contribuam para aumentar a igualdade, não a desigualdade.

Aumentos gerais de impostos sobre os mais ricos e sobre a riqueza, bem como outras medidas para reduzir rapidamente a desigualdade, também adquirem um novo imperativo climático. Nosso planeta simplesmente não pode mais sustentar os muito ricos.

Colaborador

Max Lawson é chefe de política de desigualdade da Oxfam International.

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