Patrick Wilcken
Times Literary Supplement
Embora a temperatura política tenha diminuído desde a última eleição presidencial do Brasil em 2022, as energias que ameaçavam destruir o país ainda fervem abaixo da superfície. As figuras dominantes da história política recente — o atual presidente Luiz Inácio "Lula" da Silva e seu antecessor Jair Bolsonaro — agora representam dois Brasis, com perspectivas e concepções diametralmente opostas da história e identidade do país.
Em contraste com a história relativamente indefinida de Bolsonaro, Lula viveu muitas vidas durante seus setenta e oito anos, abrangendo pobreza infantil, desemprego, vários períodos na prisão, a perda de duas esposas (uma com seu filho ainda não nascido), câncer de garganta, décadas de derrota e decepção política e — extraordinariamente — dois mandatos e meio (e contando) como presidente do Brasil. Na primeira parte de uma biografia de dois volumes, traduzida por Brian Mier, o jornalista brasileiro Fernando Morais une a história da prisão de Lula e do tempo na prisão em 2018-19 com as reminiscências de seu tema de sua infância de pobreza e anos de formação como líder sindical. (A luta de Lula pela presidência nas décadas de 1980 e 1990 e seus mandatos presidenciais no século XXI serão abordados no segundo volume.) Com base em extensas entrevistas com Lula, este é um retrato comovente que, embora simpático — Morais critica repetidamente o desdém da elite, o preconceito da mídia e a guerra jurídica politicamente motivada que Lula sofreu — parece emocionalmente verdadeiro.
Lula nasceu em 1945 no sertão seco e árido do estado de Pernambuco, no nordeste do Brasil, uma região tão devastada pela seca e pela pobreza que, em meados do século XX, a expectativa de vida era de trinta e cinco anos e três quartos da população eram analfabetos. Isso incluía o pai errático e muitas vezes violento de Lula, Aristides (“ele não conseguia nem ler a letra ‘O’”), que andava por aí com um jornal debaixo do braço para esconder o fato.
Em 1952, a mãe de Lula, Dona Lindu, juntou-se a Aristides no estado de São Paulo, onde ele havia encontrado trabalho transportando sacos de café no cais de Santos. Ela viajou por treze dias e noites ao longo de uma trilha de 2.500 quilômetros de estradas de terra na caçamba de um caminhão com seus sete filhos, incluindo Lula, então com sete anos. A família inicialmente vivia na penúria na cidade costeira de Guarujá. Mas a violência de Aristides fez com que Dona Lindu fugisse com seus filhos pequenos, primeiro para um barraco e depois para São Paulo. Lá, eles alugaram um quarto e uma cozinha atrás de um bar. “Sete ou oito pessoas dormiam em camas dobráveis na cozinha”, ...
Nesta resenha
LULA
A biography
Translated by Brian Mier
320pp. Verso. £25.
Fernando Morais
BOLSONARISMO
The global origins and future of Brazil’s far right
252pp. Rutgers University Press. £60 (US $72.95).
Fernando Brancoli
Embora a temperatura política tenha diminuído desde a última eleição presidencial do Brasil em 2022, as energias que ameaçavam destruir o país ainda fervem abaixo da superfície. As figuras dominantes da história política recente — o atual presidente Luiz Inácio "Lula" da Silva e seu antecessor Jair Bolsonaro — agora representam dois Brasis, com perspectivas e concepções diametralmente opostas da história e identidade do país.
Em contraste com a história relativamente indefinida de Bolsonaro, Lula viveu muitas vidas durante seus setenta e oito anos, abrangendo pobreza infantil, desemprego, vários períodos na prisão, a perda de duas esposas (uma com seu filho ainda não nascido), câncer de garganta, décadas de derrota e decepção política e — extraordinariamente — dois mandatos e meio (e contando) como presidente do Brasil. Na primeira parte de uma biografia de dois volumes, traduzida por Brian Mier, o jornalista brasileiro Fernando Morais une a história da prisão de Lula e do tempo na prisão em 2018-19 com as reminiscências de seu tema de sua infância de pobreza e anos de formação como líder sindical. (A luta de Lula pela presidência nas décadas de 1980 e 1990 e seus mandatos presidenciais no século XXI serão abordados no segundo volume.) Com base em extensas entrevistas com Lula, este é um retrato comovente que, embora simpático — Morais critica repetidamente o desdém da elite, o preconceito da mídia e a guerra jurídica politicamente motivada que Lula sofreu — parece emocionalmente verdadeiro.
Lula nasceu em 1945 no sertão seco e árido do estado de Pernambuco, no nordeste do Brasil, uma região tão devastada pela seca e pela pobreza que, em meados do século XX, a expectativa de vida era de trinta e cinco anos e três quartos da população eram analfabetos. Isso incluía o pai errático e muitas vezes violento de Lula, Aristides (“ele não conseguia nem ler a letra ‘O’”), que andava por aí com um jornal debaixo do braço para esconder o fato.
Em 1952, a mãe de Lula, Dona Lindu, juntou-se a Aristides no estado de São Paulo, onde ele havia encontrado trabalho transportando sacos de café no cais de Santos. Ela viajou por treze dias e noites ao longo de uma trilha de 2.500 quilômetros de estradas de terra na caçamba de um caminhão com seus sete filhos, incluindo Lula, então com sete anos. A família inicialmente vivia na penúria na cidade costeira de Guarujá. Mas a violência de Aristides fez com que Dona Lindu fugisse com seus filhos pequenos, primeiro para um barraco e depois para São Paulo. Lá, eles alugaram um quarto e uma cozinha atrás de um bar. “Sete ou oito pessoas dormiam em camas dobráveis na cozinha”, ...
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