Paulo Feldmann
Folha de S.Paulo
É fato conhecido o Brasil ser um dos países com a distribuição de renda mais desigual do mundo. Praticamente em todos os rankings figuramos entre os dez piores, ao lado de países africanos bem pobres. Mas o que agora começa a ser desnudado é que essa desigualdade é agravada em diversas capitais brasileiras.
São Paulo, por exemplo, além de ser a maior cidade da América Latina, é também a mais rica. Nela estão a sede de quase todos os bancos, assim como as principais indústrias e as maiores empresas da área de tecnologia. Dos 206 bilionários existentes em nosso país, um terço mora na cidade de São Paulo.
Pelo Mapa da Desigualdade, editado pela Rede Nossa São Paulo, ficamos sabendo que a expectativa de vida dos habitantes da cidade depende do bairro onde moram: enquanto os moradores de Moema atingem os 81 anos de idade, quem mora em Cidade Tiradentes vive muito menos —a expectativa de longevidade é de apenas 57 anos. Os dados da própria prefeitura paulistana mostram que apenas o 1% de moradores mais ricos da cidade possui 45% do valor total dos imóveis existentes. E, segundo o IBGE, os 10% mais ricos possuem uma renda média 23 vezes maior que os 40% mais pobres.
São inúmeras as causas que explicam essa desigualdade crônica, e não há como resolvê-la sem mudanças radicais em nosso sistema tributário —que hoje onera, proporcionalmente, muito mais o cidadão pobre.
Folha de S.Paulo
O professor Paulo Feldmann, da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária - Universidade de São Paulo). Reinaldo Canato/Folhapress |
É fato conhecido o Brasil ser um dos países com a distribuição de renda mais desigual do mundo. Praticamente em todos os rankings figuramos entre os dez piores, ao lado de países africanos bem pobres. Mas o que agora começa a ser desnudado é que essa desigualdade é agravada em diversas capitais brasileiras.
São Paulo, por exemplo, além de ser a maior cidade da América Latina, é também a mais rica. Nela estão a sede de quase todos os bancos, assim como as principais indústrias e as maiores empresas da área de tecnologia. Dos 206 bilionários existentes em nosso país, um terço mora na cidade de São Paulo.
Infelizmente, a região metropolitana da capital paulista apresenta uma outra face completamente diferente, onde as coisas não correm tão bem. Segundo o IBGE, ela abriga mais de 700 mil pessoas em situação de pobreza extrema. São pessoas que gastam em média 4,5 horas por dia se movimentando no trânsito, cujo rendimento mensal é todo consumido em alimentação, moradia e transporte.
Pelo Mapa da Desigualdade, editado pela Rede Nossa São Paulo, ficamos sabendo que a expectativa de vida dos habitantes da cidade depende do bairro onde moram: enquanto os moradores de Moema atingem os 81 anos de idade, quem mora em Cidade Tiradentes vive muito menos —a expectativa de longevidade é de apenas 57 anos. Os dados da própria prefeitura paulistana mostram que apenas o 1% de moradores mais ricos da cidade possui 45% do valor total dos imóveis existentes. E, segundo o IBGE, os 10% mais ricos possuem uma renda média 23 vezes maior que os 40% mais pobres.
São inúmeras as causas que explicam essa desigualdade crônica, e não há como resolvê-la sem mudanças radicais em nosso sistema tributário —que hoje onera, proporcionalmente, muito mais o cidadão pobre.
Isso acontece por que, diferentemente da maioria dos países, o imposto sobre a renda não é o principal imposto do Brasil, mas sim os que incidem sobre produtos e serviços, como o ICMS ou ISS. Além disso não temos imposto sobre riqueza, e o imposto sobre herança é ridiculamente baixo quando comparado com outros países.
As soluções estão em sua maioria no âmbito federal, mas existem medidas que estão ao alcance dos municípios, como coibir a especulação imobiliária e prover moradia barata à população carente, o que deveria ser prioridade máxima dos prefeitos. O IPTU não é nem justo nem progressivo de fato, pelo menos em São Paulo. A cidade que tem o 3° maior orçamento do país —R$ 70 bilhões— deveria contar com um banco municipal para conduzir projetos destinados à população carente.
O tema da desigualdade é tão atual que foi destaque no fórum econômico em Davos. Em outubro teremos eleições para a escolha de novos prefeitos em todas cidades brasileiras. Os eleitores merecem que nesta campanha eleitoral haja uma profunda discussão sobre as raízes dessa desigualdade e quais são as possíveis soluções para a mesma.
Sobre o autor
Professor de economia da USP e ex-presidente da Eletropaulo (1995-96, governo Covas)
As soluções estão em sua maioria no âmbito federal, mas existem medidas que estão ao alcance dos municípios, como coibir a especulação imobiliária e prover moradia barata à população carente, o que deveria ser prioridade máxima dos prefeitos. O IPTU não é nem justo nem progressivo de fato, pelo menos em São Paulo. A cidade que tem o 3° maior orçamento do país —R$ 70 bilhões— deveria contar com um banco municipal para conduzir projetos destinados à população carente.
O tema da desigualdade é tão atual que foi destaque no fórum econômico em Davos. Em outubro teremos eleições para a escolha de novos prefeitos em todas cidades brasileiras. Os eleitores merecem que nesta campanha eleitoral haja uma profunda discussão sobre as raízes dessa desigualdade e quais são as possíveis soluções para a mesma.
Sobre o autor
Professor de economia da USP e ex-presidente da Eletropaulo (1995-96, governo Covas)
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