Sylvia Colombo
Folha de S.Paulo
O agora ex-presidente do Chile Sebatián Piñera, à dir., beija símbolo do poder presidencial na cerimônia de posse de Gabriel Boric, em Valparaíso - Javier Torres/AFP |
Emocionados, o agora ex-presidente Sebastián Piñera e o recém-empossado, Gabriel Boric, realizaram na manhã desta sexta-feira (11) a passagem de comando da Presidência do Chile.
Como é tradição no país, o novo líder recebeu das mãos do presidente do Senado, Álvaro Elizalde, sua faixa presidencial —cada chefe do Executivo tem a sua, e a de Boric foi confeccionada por um sindicato têxtil formado apenas por mulheres. Piñera retirou a dele e ambos se abraçaram sob aplausos.
Como é tradição no país, o novo líder recebeu das mãos do presidente do Senado, Álvaro Elizalde, sua faixa presidencial —cada chefe do Executivo tem a sua, e a de Boric foi confeccionada por um sindicato têxtil formado apenas por mulheres. Piñera retirou a dele e ambos se abraçaram sob aplausos.
"Diante do povo e dos povos do Chile, prometo dar o melhor de nós pelo bem do país", afirmou Boric ao assumir o mandato, na cerimônia que durou cerca de 40 minutos, em Valparaíso, onde fica o Congresso.
O presidente mais jovem da América Latina, com 36 anos, ouviu os juramentos de seus ministros e depois disse, brevemente: "Estou muito feliz de ter diante de mim um gabinete com mais mulheres que homens".
Diferentemente de outros anos, havia menos convidados na cerimônia, cerca de 500 pessoas, devido às restrições impostas pela Covid-19.
Depois da execução do hino nacional, Boric, de máscara, abraçou muitos dos presentes, entre os quais os presidentes de Argentina, Alberto Fernández; Paraguai, Mario Abdo Benítez; Bolívia, Luis Arce; Uruguai, Luis Lacalle Pou; e Equador, Guillermo Lasso.
A cerimônia também contou com a presença de aliados na defesa dos direitos humanos, além de líderes de ONGs e de povos originários. Outra convidada, a escritora Isabel Allende, filha do primo de Salvador Allende, presidente derrubado pelo golpe militar de 1973 no país, foi abraçada carinhosamente pelo novo presidente, que fez o mesmo com Dilma Rousseff, ex-presidente do Brasil.
O atual líder brasileiro, Jair Bolsonaro, não compareceu ao evento e enviou o vice Hamilton Mourão em seu lugar. Durante toda a campanha e depois da vitória de Boric, Bolsonaro fez críticas ao candidato e à escolha dos chilenos, por ser um nome de esquerda. Assim, sua ausência na cerimônia já era esperada.
Boric não usou gravata, em um sinal de como será o tom de seu governo. No retrato oficial, que será distribuído a instituições de governo e embaixadas pelo mundo, o líder chileno aparece da mesma forma.
Pela primeira vez, a foto foi realizada tendo como fundo o oceano Pacífico. Boric, nascido em Punta Arenas, cidade litorânea na Patagônia, com frequência faz questão de celebrar sua origem, que inclusive está marcada nas tatuagens que carrega. Durante a cerimônia, o presidente também usou um broche com uma árvore que simboliza a região de Magalhães.
Boric fez seu primeiro discurso como presidente do Chile no balcão principal do Palácio de la Moneda (sede do governo), após receber as honras militares, prometendo priorizar "pensões e aposentadorias dignas, garantir que os estudantes não se endividem mais, que os povos originários sejam reconhecidos e que não deixemos de buscar os desaparecidos durante a ditadura".
Emocionado depois de fazer a caminhada de entrada entre os apoiadores, tirando selfies com crianças e lendo cartazes em sua homenagem, Boric afirmou que entre suas prioridades estão "a recuperação econômica" e a "redistribuição da pobreza". Havia bandeiras do Chile, dos povos indígenas mapuche e da região de Magalhães.
Boric também disse que será duro com o narcotráfico e com a delinquência, e que dará atenção às regiões que estão em estado de exceção no norte e no sul do país. "Mas nunca nos esqueçamos, por favor, que todos são seres humanos", referindo-se tanto a imigrantes ilegais que vêm causando conflitos com os moradores locais, no norte, como aos mapuche, "com quem temos dívidas históricas".
O presidente eleito pediu que o plebiscito que definirá a implementação ou não de uma nova Constituição seja "um grande momento de encontro". Foi interrompido várias vezes com frases de apoio como "o povo, unido, jamais será vencido", e "Gabriel, amigo, o povo está contigo".
Parafraseou algumas das últimas palavras de Salvador Allende em seu último discurso antes de morrer, afirmando que "seguiremos caminhando pelas grandes alamedas por onde anda o homem livre para construir uma sociedade melhor".
Uma das primeiras medidas anunciadas pelo novo governo, antes mesmo do discurso de posse, foi o cancelamento de 139 processos em que se aplicaria a Lei de Segurança de Estado contra indivíduos acusados de "incitar violência" nos atos de outubro de 2019.
A medida não libera imediatamente os presos durante as manifestações e nem se aplica a todos, mas é uma decisão que busca acalmar esta que é uma das principais arestas do governo Boric com a esquerda.
Não à toa, durante a cerimônia no Palácio de la Moneda, um grupo de manifestantes realizou protestos contra Boric pela libertação dos presos políticos nas manifestações de 2019. A polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar o ato no centro da capital.
A nova ministra do Interior, Izkia Siches, também anunciou a criação de um comitê de reparação para as vítimas de abusos de direitos humanos durante o período. Siches afirmou que, na nova gestão, a Lei de Segurança do Estado "não será utilizada para a perseguição injusta e desproporcional".
O presidente mais jovem da América Latina, com 36 anos, ouviu os juramentos de seus ministros e depois disse, brevemente: "Estou muito feliz de ter diante de mim um gabinete com mais mulheres que homens".
Diferentemente de outros anos, havia menos convidados na cerimônia, cerca de 500 pessoas, devido às restrições impostas pela Covid-19.
Depois da execução do hino nacional, Boric, de máscara, abraçou muitos dos presentes, entre os quais os presidentes de Argentina, Alberto Fernández; Paraguai, Mario Abdo Benítez; Bolívia, Luis Arce; Uruguai, Luis Lacalle Pou; e Equador, Guillermo Lasso.
A cerimônia também contou com a presença de aliados na defesa dos direitos humanos, além de líderes de ONGs e de povos originários. Outra convidada, a escritora Isabel Allende, filha do primo de Salvador Allende, presidente derrubado pelo golpe militar de 1973 no país, foi abraçada carinhosamente pelo novo presidente, que fez o mesmo com Dilma Rousseff, ex-presidente do Brasil.
O atual líder brasileiro, Jair Bolsonaro, não compareceu ao evento e enviou o vice Hamilton Mourão em seu lugar. Durante toda a campanha e depois da vitória de Boric, Bolsonaro fez críticas ao candidato e à escolha dos chilenos, por ser um nome de esquerda. Assim, sua ausência na cerimônia já era esperada.
Boric não usou gravata, em um sinal de como será o tom de seu governo. No retrato oficial, que será distribuído a instituições de governo e embaixadas pelo mundo, o líder chileno aparece da mesma forma.
Pela primeira vez, a foto foi realizada tendo como fundo o oceano Pacífico. Boric, nascido em Punta Arenas, cidade litorânea na Patagônia, com frequência faz questão de celebrar sua origem, que inclusive está marcada nas tatuagens que carrega. Durante a cerimônia, o presidente também usou um broche com uma árvore que simboliza a região de Magalhães.
Boric fez seu primeiro discurso como presidente do Chile no balcão principal do Palácio de la Moneda (sede do governo), após receber as honras militares, prometendo priorizar "pensões e aposentadorias dignas, garantir que os estudantes não se endividem mais, que os povos originários sejam reconhecidos e que não deixemos de buscar os desaparecidos durante a ditadura".
Emocionado depois de fazer a caminhada de entrada entre os apoiadores, tirando selfies com crianças e lendo cartazes em sua homenagem, Boric afirmou que entre suas prioridades estão "a recuperação econômica" e a "redistribuição da pobreza". Havia bandeiras do Chile, dos povos indígenas mapuche e da região de Magalhães.
Boric também disse que será duro com o narcotráfico e com a delinquência, e que dará atenção às regiões que estão em estado de exceção no norte e no sul do país. "Mas nunca nos esqueçamos, por favor, que todos são seres humanos", referindo-se tanto a imigrantes ilegais que vêm causando conflitos com os moradores locais, no norte, como aos mapuche, "com quem temos dívidas históricas".
O presidente eleito pediu que o plebiscito que definirá a implementação ou não de uma nova Constituição seja "um grande momento de encontro". Foi interrompido várias vezes com frases de apoio como "o povo, unido, jamais será vencido", e "Gabriel, amigo, o povo está contigo".
Parafraseou algumas das últimas palavras de Salvador Allende em seu último discurso antes de morrer, afirmando que "seguiremos caminhando pelas grandes alamedas por onde anda o homem livre para construir uma sociedade melhor".
Uma das primeiras medidas anunciadas pelo novo governo, antes mesmo do discurso de posse, foi o cancelamento de 139 processos em que se aplicaria a Lei de Segurança de Estado contra indivíduos acusados de "incitar violência" nos atos de outubro de 2019.
A medida não libera imediatamente os presos durante as manifestações e nem se aplica a todos, mas é uma decisão que busca acalmar esta que é uma das principais arestas do governo Boric com a esquerda.
Não à toa, durante a cerimônia no Palácio de la Moneda, um grupo de manifestantes realizou protestos contra Boric pela libertação dos presos políticos nas manifestações de 2019. A polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar o ato no centro da capital.
A nova ministra do Interior, Izkia Siches, também anunciou a criação de um comitê de reparação para as vítimas de abusos de direitos humanos durante o período. Siches afirmou que, na nova gestão, a Lei de Segurança do Estado "não será utilizada para a perseguição injusta e desproporcional".
Nenhum comentário:
Postar um comentário