20 de outubro de 2022

Lula e Bolsonaro entram em zona de fronteira que deve acirrar disputa

Petista segura ponta com fidelidade do eleitor de baixa renda, enquanto presidente tenta ganhar tração no Sudeste

Bruno Boghossian


Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) chegam aos dias finais da disputa numa zona de fronteira que amplia a tensão da campanha. A diferença de quatro pontos entre os dois candidatos não chega a configurar um empate técnico, mas prenuncia uma disputa que deve permanecer apertada até a hora da votação.

O petista segura a ponta com a fidelidade de eleitores de baixa renda (57% a 37%) e do Nordeste (67% a 29%). Entre os mais pobres, Lula chegou a registrar uma oscilação positiva desde o início do segundo turno, o que foi suficiente para compensar uma variação negativa de seus números entre os mais ricos.

Já Bolsonaro tenta ganhar tração no Sudeste. Desde a pesquisa inicial do segundo turno, os dois candidatos saíram de um empate técnico na região (47% para o presidente e 44% para Lula) para uma vantagem de sete pontos a favor de Bolsonaro (50% a 43%) –fora da margem de erro pela primeira vez nesta etapa.

O presidente ainda consolidou seu domínio no eleitorado evangélico: a diferença dele para Lula passou de 31 para 38 pontos nas últimas duas semanas.

Lula e Bolsonaro - Danilo Verpa/Folhapress e Reprodução/@Flow Podcast no YouTube

Quase todos os movimentos registrados desde o recomeço da campanha estão dentro da margem de erro, o que significa que as variações representam apenas indícios sobre comportamento do eleitor e permitem identificar segmentos onde a disputa por votos pode se acirrar.

A partir de agora, a impressão de um cenário mais apertado tende a estimular campanhas negativas para frear ou desgastar o adversário, aumentar o engajamento de eleitores dos dois lados da disputa e até incentivar parte dos indecisos a escolher um lado.

As campanhas vão explorar essas ferramentas para reduzir a abstenção de seus apoiadores mais fiéis, mas também devem mirar grupos que estão fora desses círculos. O fôlego de Bolsonaro, por exemplo, tem uma influência considerável de eleitores que não são bolsonaristas convictos.

Os apoiadores mais fiéis do presidente são hoje 28% do eleitorado, segundo uma combinação de quatro fatores feita pelo Datafolha. São aqueles que votaram em Bolsonaro em 2018, fizeram o mesmo no primeiro turno de 2022, classificam o governo como ótimo ou bom e declaram apoio ao presidente neste segundo turno.

Outros 6% do eleitorado representam um segmento de bolsonaristas médios –aqueles que não votaram no capitão em 2018, mas declaram apoio nos dois turnos deste ano e consideram o governo regular.

A candidatura à reeleição só ganha competitividade de fato graças a uma faixa intermediária do eleitorado, que não demonstra um padrão de fidelidade em relação a Bolsonaro, mas contribui com 11 pontos de suas intenções de voto da nova pesquisa.

Esse grupo neutro representa quase um terço dos eleitores e inclui entrevistados que não aprovam o governo e podem já ter votado em Bolsonaro antes.

Lula é o favorito de 50% dos entrevistados dessa fatia, enquanto Bolsonaro tem a declaração de voto de 39%. O presidente teve um avanço nas preferências do grupo em comparação com o primeiro turno: 24% dos eleitores desse campo neutro dizem ter votado em Bolsonaro no dia 2 de outubro.

O antibolsonarismo convicto também se estabeleceu como uma força. Segundo o Datafolha, 34% dos eleitores não estiveram com Bolsonaro em 2018, não declaram voto em nenhum dos dois turnos deste ano e consideram o governo ruim ou péssimo.

A preferência majoritária dessa faixa é por Lula: 94% dos eleitores dizem apoiar o ex-presidente, 5% declaram voto em branco ou nulo, e 1% se diz indeciso.

Há outros 3% de eleitores que podem ser chamados de antibolsonaristas médios –não votam pela reeleição, mas votaram em Bolsonaro em 2018 e classificam o governo como regular. A maioria desses eleitores está com Lula (76%), enquanto 18% dizem votar em branco ou nulo, e 6% estão indecisos.

Os números refletem o peso que votos anteriores e a avaliação do governo têm no comportamento do eleitor.

Desde as semanas finais do primeiro turno, Bolsonaro faz uma investida para recuperar grupos que estiveram com ele em 2018, mas haviam se distanciado. O esforço rendeu frutos nas intenções de voto e puxou de carona os índices de aprovação ao governo.

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