Bruno Boghossian
Folha de S.Paulo
A disputa pelo Palácio do Planalto chega ao último dia com uma demonstração final de solidez de Lula (PT) e um quadro de incerteza que mantém Jair Bolsonaro (PL) no jogo.
A nova pesquisa do Datafolha recolocou o petista a uma distância de apenas quatro pontos de vantagem do rival, num patamar que não chega a configurar um empate técnico, mas amplia o potencial impacto de fatores imprevisíveis: a abstenção, o alinhamento final de eleitores indecisos e apelos de última hora ao voto pela rejeição.
Lula conseguiu um bônus sobre o rival ao cristalizar o apoio declarado nos levantamentos feitos até aqui. Segundo os últimos números, 48% dos eleitores dizem votar no petista com certeza, enquanto 43% afirmam o mesmo no caso de Bolsonaro. Cada um tem ainda 6% dos entrevistados declarando que talvez votem neles.
A situação é ligeiramente mais confortável para Lula. O fato de o ex-presidente ter uma frente justa, no entanto, ainda o deixa vulnerável aos últimos movimentos da campanha. Uma virada inédita não pode ser descartada, ainda que dependa de uma combinação de fatores.
Lula pode beliscar o apoio final de grupos que se opõem ao presidente com altos índices de rejeição. Algumas das principais interrogações do dia da votação, por outro lado, podem comer uma parte de sua vantagem –em especial a abstenção, que pesa mais sobre eleitores de baixa renda, e o tradicional apelo ao antipetismo.
Os recortes oferecem a Bolsonaro uma janela estreita, em que ele precisaria provocar uma avalanche completa de votos dentro desse segmento, descolar votos de Lula e ainda desviar do numeroso grupo de eleitores que se recusam a apoiar sua reeleição.
Lula se beneficia do fato de que Bolsonaro tem um teto de votos rebaixado pela oposição de quase metade do país a sua candidatura. O presidente dificilmente reverterá esse quadro de uma hora para outra, mas ainda pode apelar a eleitores que têm uma rejeição neutra ou combinada aos dois nomes da disputa.
Segundo a pesquisa, 48% dos eleitores rejeitam apenas Bolsonaro, e 43% rejeitam só Lula. Outros 7% afirmam não rejeitar nenhum dos dois candidatos, e mais 3% dizem rejeitar ambos. A soma dos percentuais é maior que 100% devido aos arredondamentos.
Entre os eleitores que rejeitam os dois candidatos, 95% declaram voto em branco ou nulo, e só 5% se dizem dispostos a mudar de ideia.
Já os entrevistados que não rejeitam ninguém podem ser a chave do resultado. Eles estão divididos: 39% apoiam Lula, 37% vão com Bolsonaro, 8% declaram voto nulo, e 17% estão indecisos. Além disso, 57% dizem que podem mudar de voto até domingo.
Estimular a rejeição desse eleitor nas horas finais pode ser o fator determinante da corrida. Os dois candidatos buscaram esse caminho no debate da TV Globo, na sexta-feira (28). Lula pintou o adversário como um político "descompensado", que não tem um projeto para o país. Bolsonaro encaixou ataques ao rival pelo viés da corrupção e da agenda conservadora.
O principal esforço do atual presidente passa pela reativação da oposição ao PT em setores do eleitorado que viram esse sentimento amortecido nos anos de seu governo. O antipetismo de 2018 voltou a dar as caras nesta corrida, mas Bolsonaro não conseguiu reproduzir de maneira completa o ambiente daquela disputa em segmentos-chave.
Há quatro anos, 59% dos eleitores do Sudeste diziam não votar em Haddad de jeito nenhum; agora, esse índice é de 50% no caso de Lula. Na última disputa, o então candidato petista tinha a rejeição de 40% dos mais pobres; em 2022, a oposição ao ex-presidente é de 36%.
Bolsonaro espera o impulso de um antipetismo despertado na hora da urna, com foco justamente naqueles eleitores que já votaram nele para evitar o retorno do PT.
A nova pesquisa do Datafolha recolocou o petista a uma distância de apenas quatro pontos de vantagem do rival, num patamar que não chega a configurar um empate técnico, mas amplia o potencial impacto de fatores imprevisíveis: a abstenção, o alinhamento final de eleitores indecisos e apelos de última hora ao voto pela rejeição.
Lula e Bolsonaro durante o último debate destas eleições, na TV Globo - Mauro Pimentel-29.out.22/AFP |
Lula conseguiu um bônus sobre o rival ao cristalizar o apoio declarado nos levantamentos feitos até aqui. Segundo os últimos números, 48% dos eleitores dizem votar no petista com certeza, enquanto 43% afirmam o mesmo no caso de Bolsonaro. Cada um tem ainda 6% dos entrevistados declarando que talvez votem neles.
A situação é ligeiramente mais confortável para Lula. O fato de o ex-presidente ter uma frente justa, no entanto, ainda o deixa vulnerável aos últimos movimentos da campanha. Uma virada inédita não pode ser descartada, ainda que dependa de uma combinação de fatores.
Lula pode beliscar o apoio final de grupos que se opõem ao presidente com altos índices de rejeição. Algumas das principais interrogações do dia da votação, por outro lado, podem comer uma parte de sua vantagem –em especial a abstenção, que pesa mais sobre eleitores de baixa renda, e o tradicional apelo ao antipetismo.
A disputa concentrou eleitores de dois lados desde cedo, mas a corrida chega ao fim com um cesto de votos voláteis que, embora limitado, mobiliza as campanhas até a última hora.
Um total de 6% dos entrevistados disse ao Datafolha que poderiam mudar de ideia até o momento de ir às urnas. Considerando o período de realização da pesquisa, é possível afirmar que cerca de 1 em cada 16 eleitores só pretendia bater o martelo sobre o voto nas 48 horas finais.
Esse patamar de entrevistados sem convicção total do voto não é uma particularidade da corrida atual. Há quatro anos, 8% dos eleitores disseram ao Datafolha que poderiam mudar de escolha até a véspera do segundo turno. Àquela altura, Bolsonaro tinha uma vantagem sólida de dez pontos sobre Fernando Haddad (PT), o que tornava uma virada matematicamente impossível.
Agora, o presidente ainda conseguiria desenhar esse quadro se praticamente todos os números se encaixassem a seu favor.
Entre os entrevistados que se dizem dispostos a mudar de opinião, há uma parcela que declara apoio ao próprio Bolsonaro. Isso significa que o presidente não pode perder nenhum desses eleitores e ainda capturar todos os demais, que representam cerca de 3% dos votos totais.
Um total de 6% dos entrevistados disse ao Datafolha que poderiam mudar de ideia até o momento de ir às urnas. Considerando o período de realização da pesquisa, é possível afirmar que cerca de 1 em cada 16 eleitores só pretendia bater o martelo sobre o voto nas 48 horas finais.
Esse patamar de entrevistados sem convicção total do voto não é uma particularidade da corrida atual. Há quatro anos, 8% dos eleitores disseram ao Datafolha que poderiam mudar de escolha até a véspera do segundo turno. Àquela altura, Bolsonaro tinha uma vantagem sólida de dez pontos sobre Fernando Haddad (PT), o que tornava uma virada matematicamente impossível.
Agora, o presidente ainda conseguiria desenhar esse quadro se praticamente todos os números se encaixassem a seu favor.
Entre os entrevistados que se dizem dispostos a mudar de opinião, há uma parcela que declara apoio ao próprio Bolsonaro. Isso significa que o presidente não pode perder nenhum desses eleitores e ainda capturar todos os demais, que representam cerca de 3% dos votos totais.
Os recortes oferecem a Bolsonaro uma janela estreita, em que ele precisaria provocar uma avalanche completa de votos dentro desse segmento, descolar votos de Lula e ainda desviar do numeroso grupo de eleitores que se recusam a apoiar sua reeleição.
Lula se beneficia do fato de que Bolsonaro tem um teto de votos rebaixado pela oposição de quase metade do país a sua candidatura. O presidente dificilmente reverterá esse quadro de uma hora para outra, mas ainda pode apelar a eleitores que têm uma rejeição neutra ou combinada aos dois nomes da disputa.
Segundo a pesquisa, 48% dos eleitores rejeitam apenas Bolsonaro, e 43% rejeitam só Lula. Outros 7% afirmam não rejeitar nenhum dos dois candidatos, e mais 3% dizem rejeitar ambos. A soma dos percentuais é maior que 100% devido aos arredondamentos.
Entre os eleitores que rejeitam os dois candidatos, 95% declaram voto em branco ou nulo, e só 5% se dizem dispostos a mudar de ideia.
Já os entrevistados que não rejeitam ninguém podem ser a chave do resultado. Eles estão divididos: 39% apoiam Lula, 37% vão com Bolsonaro, 8% declaram voto nulo, e 17% estão indecisos. Além disso, 57% dizem que podem mudar de voto até domingo.
Estimular a rejeição desse eleitor nas horas finais pode ser o fator determinante da corrida. Os dois candidatos buscaram esse caminho no debate da TV Globo, na sexta-feira (28). Lula pintou o adversário como um político "descompensado", que não tem um projeto para o país. Bolsonaro encaixou ataques ao rival pelo viés da corrupção e da agenda conservadora.
O principal esforço do atual presidente passa pela reativação da oposição ao PT em setores do eleitorado que viram esse sentimento amortecido nos anos de seu governo. O antipetismo de 2018 voltou a dar as caras nesta corrida, mas Bolsonaro não conseguiu reproduzir de maneira completa o ambiente daquela disputa em segmentos-chave.
Há quatro anos, 59% dos eleitores do Sudeste diziam não votar em Haddad de jeito nenhum; agora, esse índice é de 50% no caso de Lula. Na última disputa, o então candidato petista tinha a rejeição de 40% dos mais pobres; em 2022, a oposição ao ex-presidente é de 36%.
Bolsonaro espera o impulso de um antipetismo despertado na hora da urna, com foco justamente naqueles eleitores que já votaram nele para evitar o retorno do PT.
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