Nelson Barbosa
Folha de S.Paulo
Há quase dois meses escrevi neste espaço que o BC (Banco Central) diminuiria o ritmo de elevação da Selic devido ao risco de recessão em 2022 e ao fato de que leva tempo para o aperto da política monetária aparecer integralmente na economia. Minha expectativa se confirmou (às vezes a gente acerta).
Na quarta-feira (2), o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a Selic em 150 pontos-base (1,5 ponto percentual) e anunciou que o próximo aumento será menor do que os 150 pontos-base. Traduzindo do economês, o Copom aumentou a Selic de 9,25% para 10,75% e disse que, em meados de março, haverá novo aumento, mas não para 12,25%.
Agora o "mercado" discute se o próximo aumento será de 100 ou 75 pontos-base (acho que será de 100) e quando o BC interromperá o processo.
Segundo o Relatório Focus do BC, sobre a expectativa média do mercado, a Selic subirá para 11,75% em março e ficará em tal valor até dezembro.
Quais são os riscos de a Selic não subir como esperado pelo mercado? De um lado, as tensões internacionais e seus impactos nos preços do petróleo e do dólar podem manter a inflação elevada por mais tempo, requerendo uma Selic maior. No mesmo sentido, o excesso de chuva na região Sudeste e a insuficiência de chuva na região Sul podem atrasar a "desinflação" (desaceleração de preços) de alimentos.
Além dos dois riscos acima, há as tentativas de Bolsonaro de fazer uma última expansão fiscal antes da eleição, ligando o "Desonerômetro Tabajara", com corte linear de tributos sem nenhum planejamento de longo prazo. Esse tipo de medida tende a aumentar a inflação, em vez de reduzi-la, pois corte populista de impostos eleva a incerteza fiscal, que bate no câmbio, que bate no preço de combustível, energia, alimentos... você sabe e a equipe de Guedes também sabe onde isso termina.
Agora o "mercado" discute se o próximo aumento será de 100 ou 75 pontos-base (acho que será de 100) e quando o BC interromperá o processo.
Segundo o Relatório Focus do BC, sobre a expectativa média do mercado, a Selic subirá para 11,75% em março e ficará em tal valor até dezembro.
Quais são os riscos de a Selic não subir como esperado pelo mercado? De um lado, as tensões internacionais e seus impactos nos preços do petróleo e do dólar podem manter a inflação elevada por mais tempo, requerendo uma Selic maior. No mesmo sentido, o excesso de chuva na região Sudeste e a insuficiência de chuva na região Sul podem atrasar a "desinflação" (desaceleração de preços) de alimentos.
Além dos dois riscos acima, há as tentativas de Bolsonaro de fazer uma última expansão fiscal antes da eleição, ligando o "Desonerômetro Tabajara", com corte linear de tributos sem nenhum planejamento de longo prazo. Esse tipo de medida tende a aumentar a inflação, em vez de reduzi-la, pois corte populista de impostos eleva a incerteza fiscal, que bate no câmbio, que bate no preço de combustível, energia, alimentos... você sabe e a equipe de Guedes também sabe onde isso termina.
Do outro lado, a economia está patinando, e a estagnação ou recessão tende a puxar a inflação para baixo, sobretudo de serviços urbanos.
Também haverá aumento de juro nos EUA, o que usualmente modera o preço internacional das commodities, sobretudo do petróleo, caso o Pentágono não consiga forçar Biden a arrumar confusão coma Rússia. Em terceiro lugar, como já mencionei, os efeitos dos aumentos anteriores da Selic ainda não acabaram.
Diante dos riscos acima, torço para que a Selic pare mesmo entre 11% e 12%, como acha o mercado, mas temo que o combo Otan-Rússia-Bolsonaro elevará nosso juro básico para algo entre 12% e 13% até maio.
Para o leitor não desanimar, a boa notícia é que, dependendo de nosso resultado eleitoral e da evolução do cenário externo, a Selic pode cair no fim do ano.
Como? Por exemplo, suponha que Biden não caia na armadilha do "deep state" militarista dos EUA (aquele que sempre busca uma guerra para chamar de sua) e o impasse Otan-Rússia se resolva sem tiro nem elevação do preço do petróleo.
Assuma, também, que Guedes queira (há controvérsias) e consiga (há controvérsias maiores ainda) barrar o último baile de expansão fiscal populista do centrão bolsonarista.
Por fim, suponha que tenhamos eleições livres, elegendo um governo com responsabilidade social e fiscal (não adianta ter uma coisa sem a outra) e isso diminua incerteza econômica gerada pelo time Bolsonaro.
Eu sei que são muitas suposições, mas no cenário otimista o real se aprecia (já está acontecendo), a inflação cai rapidamente (ainda não aconteceu) e o BC pode cortar a Selic no fim do ano sem comprometer a estabilidade da inflação (tomara). Não é o mais provável, mas não custa torcer pelo melhor.
Sobre o autor
Também haverá aumento de juro nos EUA, o que usualmente modera o preço internacional das commodities, sobretudo do petróleo, caso o Pentágono não consiga forçar Biden a arrumar confusão coma Rússia. Em terceiro lugar, como já mencionei, os efeitos dos aumentos anteriores da Selic ainda não acabaram.
Diante dos riscos acima, torço para que a Selic pare mesmo entre 11% e 12%, como acha o mercado, mas temo que o combo Otan-Rússia-Bolsonaro elevará nosso juro básico para algo entre 12% e 13% até maio.
Para o leitor não desanimar, a boa notícia é que, dependendo de nosso resultado eleitoral e da evolução do cenário externo, a Selic pode cair no fim do ano.
Como? Por exemplo, suponha que Biden não caia na armadilha do "deep state" militarista dos EUA (aquele que sempre busca uma guerra para chamar de sua) e o impasse Otan-Rússia se resolva sem tiro nem elevação do preço do petróleo.
Assuma, também, que Guedes queira (há controvérsias) e consiga (há controvérsias maiores ainda) barrar o último baile de expansão fiscal populista do centrão bolsonarista.
Por fim, suponha que tenhamos eleições livres, elegendo um governo com responsabilidade social e fiscal (não adianta ter uma coisa sem a outra) e isso diminua incerteza econômica gerada pelo time Bolsonaro.
Eu sei que são muitas suposições, mas no cenário otimista o real se aprecia (já está acontecendo), a inflação cai rapidamente (ainda não aconteceu) e o BC pode cortar a Selic no fim do ano sem comprometer a estabilidade da inflação (tomara). Não é o mais provável, mas não custa torcer pelo melhor.
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