Nelson Barbosa
Dilma Rousseff em evento na Associação Brasileira de Imprensa, ABI, no centro do Rio de Janeiro. (Créditos: Mauro Pimentel/Folhapress) |
Continuando o tema da semana passada, retorno às causas da recessão de 2014-16, para analisar a política econômica de 2015.
No final de 2014 a inflação estava subindo, o PIB (Produto Interno Bruto) estagnado e o Orçamento, desequilibrado. Apesar desse quadro, a LOA (Lei Orçamentária Anual) de 2015, aprovada no ano eleitoral de 2014, continha um cenário róseo: recuperação do crescimento, elevação do resultado primário, Selic moderada e gasto discricionário elevado. A conta não fechava com a realidade e o ajuste veio de duas formas.
Do lado fiscal, após mudança de equipe econômica (quando retornei ao governo), o segundo governo Dilma Rousseff (2015-2016) começou reduzindo a projeção de crescimento e a meta de resultado primário. Ainda assim foi preciso contingenciar despesas em relação às metas irrealistas da LOA 2015.
O ajuste fiscal do início de 2015 desperta críticas na esquerda até hoje, mas ele foi correto no cenário da época. Aos críticos fica o desafio de mostrar como a LOA 2015 se sustentaria no quadro macroeconômico do início daquele ano.
Do lado monetário, o Banco Central (BC) começou a elevar o juro no final de 2014 e continuou o processo em 2015. Diante da aceleração da inflação puxada pelo câmbio, a medida foi correta. Mesmo quando o choque de inflação não é de demanda, pode ser necessário subir a Selic para evitar que a inflação se consolide em patamar elevado.
Vários colegas heterodoxos criticam a postura do BC em 2015, dizendo que era melhor deixar a inflação cair naturalmente. Nossa história monetária mostra que tal opção é altamente arriscada.
Se contingenciamento fiscal e elevação da Selic estavam certos no início de 2015, onde está o erro de política econômica daquele ano? No reajuste abrupto do preço de energia, que acabou rapidamente com os subsídios adotados em 2012-14 e transferiu os efeitos da seca imediatamente para as tarifas.
O tarifaço de energia de 2015 chegou a quase 60%. Como todo economista aprende no primeiro ano de curso, foi um clássico choque adverso de oferta, reduzindo o PIB e aumentando a inflação. O ideal seria uma transição mais gradual para preços realistas, como tem sido feito desde então.
Por exemplo, estamos vivendo outro choque adverso de energia, mas agora o governo faz empréstimo para as geradoras, diluindo o aumento de preço em vários anos. Em 2015 a maior parte do ajuste foi imediato e isso foi um erro (autocrítica).
Mesmo com contingenciamento fiscal e elevação da Selic, no início de 2015 as expectativas de mercado indicavam crescimento naquele ano. O reajuste abrupto de preços de energia em um contexto de crise hídrica mudou rapidamente o cenário.
Em paralelo à política econômica, outros fatores empurraram a economia para baixo no início de 2015: o colapso de preços de commodities, que mencionei na semana passada, e o impacto econômico da Operação Lava Jato e das pautas bomba no Congresso, que abordarei na próxima semana.
Para completar o texto de hoje, relembro que, diante da rápida queda do nível de atividade, o governo Dilma mudou sua estratégia em meados de 2015. O BC parou de subir juro e, do lado fiscal, a equipe econômica propôs nova redução do resultado primário, o "Orçamento com déficit", que permanece até hoje.
Devido ao clima político da época, a flexibilização da política fiscal, proposta em julho de 2015, só foi aprovada pelo Congresso em dezembro daquele ano. A oposição à Dilma resolveu apostar no "quanto pior, melhor" e atrasou a estabilização da economia. Volto a esse tema na próxima semana. Bom Natal a todos!
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