Tyler Antonio Lynch
Jacobin
Em 5 de dezembro, Jair Bolsonaro anunciou que apoiaria seu filho mais velho, Flávio, nas eleições presidenciais brasileiras do ano seguinte. Poucas campanhas eleitorais foram lançadas em circunstâncias tão desfavoráveis.
No final de novembro, as chances políticas da dinastia Bolsonaro — as principais figuras da extrema-direita brasileira — pareciam ter se esgotado. O ex-presidente definhava em prisão domiciliar e, segundo relatos, estava gravemente doente. Flávio iniciou uma discussão pública com sua madrasta, Michelle, a terceira esposa de Bolsonaro. Outro filho, Eduardo, estava em autoexílio na Flórida, pontuando seus apelos por intervenção dos EUA com mensagens de WhatsApp nas quais criticava o pai, chamando-o de "bastardo ingrato".
E então veio a fuga. Na tarde de 22 de novembro, a polícia federal correu para a mansão de Bolsonaro em Brasília, alertada por uma falha em sua tornozeleira eletrônica. Descobriu-se que o ex-presidente havia usado um ferro de solda para adulterar a tornozeleira, evidentemente na esperança de fugir para a Argentina enquanto Flávio se escondia do lado de fora sob o pretexto de uma vigília de oração. Flagrado em delito, Bolsonaro atribuiu o episódio à paranoia induzida por medicamentos e à má qualidade do sono. Tendo violado os privilégios de sua prisão domiciliar, Jair foi prontamente levado para a cadeia. E o Supremo Tribunal Federal anunciou que estava considerando novas investigações contra Flávio.
A fuga frustrada foi amplamente considerada um presságio do fim da Casa Bolsonaro — um declínio selado pela condenação de Jair três meses antes por conspiração para um golpe de Estado. Desde setembro, a direita política brasileira tem se esforçado para nomear um sucessor capaz de derrotar Luiz Inácio Lula da Silva em 2026 e unir os blocos de extrema-direita e centro do país, que estão em conflito. Com Jair preso e sua família em crise, todos os sinais apontavam para o fim da dinastia Bolsonaro. As pesquisas indicavam que a desaprovação do ex-presidente chegava a 60%.
O ex-presidente usou um ferro de solda para adulterar sua tornozeleira eletrônica, aparentemente na esperança de fugir para a Argentina enquanto Flávio se escondia do lado de fora, sob o pretexto de participar de uma vigília de oração.
Em meio aos problemas legais de Bolsonaro, o poderoso bloco centrista — o chamado Centrão — consolidou seu candidato preferido à presidência, o governador paulista Tarcísio de Freitas. Neoliberal tecnocrata com fortes laços com o campo bolsonarista, Freitas era amplamente considerado receptivo tanto à extrema direita quanto ao centro. Sua candidatura prenunciava um bolsonarismo moderado, sem Bolsonaro. Após uma década de transformações — golpes de Estado, tanto reais quanto tentados, presidências populistas de direita e de esquerda — a elite do establishment brasileiro, representada pelo Centrão, parecia pronta para restaurar o controle do país.
O apoio de Jair, preso, a Flávio Bolsonaro como candidato de direita no ano que vem frustrou esses planos e, com isso, a possibilidade de a direita formar uma frente unificada em breve. O campo conservador brasileiro entrou em um período de fluxo e efervescência que promete se estender até 2026, desestabilizando o já tênue equilíbrio de forças e as alianças bizantinas que existiam entre os vinte partidos do Congresso.
Herdeiro aparente
É difícil exagerar o impacto que a candidatura de Flávio causou no centro político brasileiro. Era provável que Bolsonaro tentasse perpetuar sua dinastia política, mas fazê-lo logo após uma fuga humilhante da prisão e neutralizar, com Tarcísio, o adversário mais forte de Lula, desafiou os cálculos políticos habituais.
As pesquisas mostram Lula com uma vantagem de quinze pontos sobre Flávio — um senador sem experiência que não consegue aproveitar o apelo insurgente que seu pai ostentou em 2018. Até o momento da redação deste texto, Flávio ainda não obteve o apoio de nenhum partido conservador, exceto o próprio Partido Liberal, veículo eleitoral dos Bolsonaros, que continua sendo o maior no Congresso. A classe capitalista também demonstrou seu ceticismo quando 50 bilhões de reais em valor desapareceram rapidamente dos mercados após a entrada de Flávio — a suposição implícita era de que a manobra desesperada dos Bolsonaro havia essencialmente garantido a Lula seu quarto mandato.
Embora o apoio de Jair ao filho viole considerações pragmáticas, talvez não devesse ter sido tão surpreendente. "Quando um homem sabe que será enforcado em quinze dias", observou Samuel Johnson, "isso concentra a mente de forma extraordinária". Jair Bolsonaro não é o primeiro líder de extrema-direita a ser galvanizado pela ameaça de prisão a lançar uma frenética manobra eleitoral. Veja Donald Trump e Benjamin Netanyahu como precedentes. Um animal é mais perigoso quando encurralado e, como sugere sua tentativa frustrada de fuga, Bolsonaro está desesperado para não cumprir sua pena de prisão. Apoiar Flávio como sua chance mais segura de anistia conta tanto, ou até mais, do que quaisquer considerações ideológicas mais amplas.
Este período de pré-candidatura — um elaborado jogo de clientelismo e conluio nos bastidores — pode ser tão ferozmente disputado nos corredores do poder quanto as eleições diretas.
É difícil dizer o que acontecerá com a candidatura de Flávio. O senador inicialmente insinuou que cederia a disputa “pelo preço” da liberdade de seu pai, antes de insistir que sua candidatura era “irreversível”. Muito provavelmente, Bolsonaro Jr. acredita que seu sobrenome ainda tem influência eleitoral e que um eleitorado assolado pela inflação e pelo crescente custo de vida ainda pode responder a um ataque populista ao establishment governante. No entanto, ele se perderá sem aliados centristas e, consequentemente, se esforçou para se estabelecer como o “Bolsonaro mais moderado”, evitando os extremos retóricos de seu pai e de seu irmão Eduardo. Dado o crescente isolamento de sua família, concessões sérias em termos de políticas e pessoal ao Centrão terão que se seguir.
No final de novembro, as chances políticas da dinastia Bolsonaro — as principais figuras da extrema-direita brasileira — pareciam ter se esgotado. O ex-presidente definhava em prisão domiciliar e, segundo relatos, estava gravemente doente. Flávio iniciou uma discussão pública com sua madrasta, Michelle, a terceira esposa de Bolsonaro. Outro filho, Eduardo, estava em autoexílio na Flórida, pontuando seus apelos por intervenção dos EUA com mensagens de WhatsApp nas quais criticava o pai, chamando-o de "bastardo ingrato".
E então veio a fuga. Na tarde de 22 de novembro, a polícia federal correu para a mansão de Bolsonaro em Brasília, alertada por uma falha em sua tornozeleira eletrônica. Descobriu-se que o ex-presidente havia usado um ferro de solda para adulterar a tornozeleira, evidentemente na esperança de fugir para a Argentina enquanto Flávio se escondia do lado de fora sob o pretexto de uma vigília de oração. Flagrado em delito, Bolsonaro atribuiu o episódio à paranoia induzida por medicamentos e à má qualidade do sono. Tendo violado os privilégios de sua prisão domiciliar, Jair foi prontamente levado para a cadeia. E o Supremo Tribunal Federal anunciou que estava considerando novas investigações contra Flávio.
A fuga frustrada foi amplamente considerada um presságio do fim da Casa Bolsonaro — um declínio selado pela condenação de Jair três meses antes por conspiração para um golpe de Estado. Desde setembro, a direita política brasileira tem se esforçado para nomear um sucessor capaz de derrotar Luiz Inácio Lula da Silva em 2026 e unir os blocos de extrema-direita e centro do país, que estão em conflito. Com Jair preso e sua família em crise, todos os sinais apontavam para o fim da dinastia Bolsonaro. As pesquisas indicavam que a desaprovação do ex-presidente chegava a 60%.
O ex-presidente usou um ferro de solda para adulterar sua tornozeleira eletrônica, aparentemente na esperança de fugir para a Argentina enquanto Flávio se escondia do lado de fora, sob o pretexto de participar de uma vigília de oração.
Em meio aos problemas legais de Bolsonaro, o poderoso bloco centrista — o chamado Centrão — consolidou seu candidato preferido à presidência, o governador paulista Tarcísio de Freitas. Neoliberal tecnocrata com fortes laços com o campo bolsonarista, Freitas era amplamente considerado receptivo tanto à extrema direita quanto ao centro. Sua candidatura prenunciava um bolsonarismo moderado, sem Bolsonaro. Após uma década de transformações — golpes de Estado, tanto reais quanto tentados, presidências populistas de direita e de esquerda — a elite do establishment brasileiro, representada pelo Centrão, parecia pronta para restaurar o controle do país.
O apoio de Jair, preso, a Flávio Bolsonaro como candidato de direita no ano que vem frustrou esses planos e, com isso, a possibilidade de a direita formar uma frente unificada em breve. O campo conservador brasileiro entrou em um período de fluxo e efervescência que promete se estender até 2026, desestabilizando o já tênue equilíbrio de forças e as alianças bizantinas que existiam entre os vinte partidos do Congresso.
Herdeiro aparente
É difícil exagerar o impacto que a candidatura de Flávio causou no centro político brasileiro. Era provável que Bolsonaro tentasse perpetuar sua dinastia política, mas fazê-lo logo após uma fuga humilhante da prisão e neutralizar, com Tarcísio, o adversário mais forte de Lula, desafiou os cálculos políticos habituais.
As pesquisas mostram Lula com uma vantagem de quinze pontos sobre Flávio — um senador sem experiência que não consegue aproveitar o apelo insurgente que seu pai ostentou em 2018. Até o momento da redação deste texto, Flávio ainda não obteve o apoio de nenhum partido conservador, exceto o próprio Partido Liberal, veículo eleitoral dos Bolsonaros, que continua sendo o maior no Congresso. A classe capitalista também demonstrou seu ceticismo quando 50 bilhões de reais em valor desapareceram rapidamente dos mercados após a entrada de Flávio — a suposição implícita era de que a manobra desesperada dos Bolsonaro havia essencialmente garantido a Lula seu quarto mandato.
Embora o apoio de Jair ao filho viole considerações pragmáticas, talvez não devesse ter sido tão surpreendente. "Quando um homem sabe que será enforcado em quinze dias", observou Samuel Johnson, "isso concentra a mente de forma extraordinária". Jair Bolsonaro não é o primeiro líder de extrema-direita a ser galvanizado pela ameaça de prisão a lançar uma frenética manobra eleitoral. Veja Donald Trump e Benjamin Netanyahu como precedentes. Um animal é mais perigoso quando encurralado e, como sugere sua tentativa frustrada de fuga, Bolsonaro está desesperado para não cumprir sua pena de prisão. Apoiar Flávio como sua chance mais segura de anistia conta tanto, ou até mais, do que quaisquer considerações ideológicas mais amplas.
Este período de pré-candidatura — um elaborado jogo de clientelismo e conluio nos bastidores — pode ser tão ferozmente disputado nos corredores do poder quanto as eleições diretas.
É difícil dizer o que acontecerá com a candidatura de Flávio. O senador inicialmente insinuou que cederia a disputa “pelo preço” da liberdade de seu pai, antes de insistir que sua candidatura era “irreversível”. Muito provavelmente, Bolsonaro Jr. acredita que seu sobrenome ainda tem influência eleitoral e que um eleitorado assolado pela inflação e pelo crescente custo de vida ainda pode responder a um ataque populista ao establishment governante. No entanto, ele se perderá sem aliados centristas e, consequentemente, se esforçou para se estabelecer como o “Bolsonaro mais moderado”, evitando os extremos retóricos de seu pai e de seu irmão Eduardo. Dado o crescente isolamento de sua família, concessões sérias em termos de políticas e pessoal ao Centrão terão que se seguir.
Preso no centro
A incapacidade do centro-direita de garantir o sucessor preferido de Bolsonaro faz com que o Brasil se junte ao Chile, Argentina e Peru em uma lista de países latino-americanos, observa Tony Wood, “onde os partidos conservadores tradicionais foram superados por forças reacionárias mais intransigentes e insurgentes”. Em jogo no Brasil está se a nebulosa aliança centrista, o Centrão, conseguirá se recompor como o aparato governante natural do país — ou se continuará cedendo terreno às energias mais militantes dos bolsonaristas.
Como em outros lugares, o centro e a extrema-direita no Brasil formaram alianças instáveis. Enquanto a política pró-capital e clientelista do Centrão manteve seus partidos profundamente entrincheirados na máquina estatal, recentemente se mostrou vulnerável ao apelo outsider dos populistas de extrema-direita. Se a primeira candidatura de Bolsonaro ao poder abalou o establishment elitista, sua campanha eleitoral fracassada em 2022 — que o viu romper com o Partido Liberal do Centrão, antes de recorrer a uma tentativa de golpe descarada — deixou o centro em completa desordem. Durante o terceiro mandato de Lula, as antigas elites se uniram novamente, usando sua força no Congresso para tomar ministérios-chave do Partido dos Trabalhadores (PT), então no poder. Com a questão da sucessão iminente, os articuladores do Centrão reuniram um grupo de governadores estaduais influentes, com Tarcísio de Freitas à frente, na esperança de empoderar um veterano do conservadorismo para liderar a direita nas eleições de 2026. Esse período de precandatário — um elaborado jogo de clientelismo e conluio nos bastidores — pode ser tão ferozmente disputado nos corredores do poder quanto as eleições diretas.
Tárcísio de Freitas representava uma espécie de candidato de consenso, uma fusão de elementos da extrema-direita e do centro. Apadrinhado por Bolsonaro, de Freitas governou seguindo a cartilha da extrema-direita em sua campanha para militarizar as escolas de São Paulo e desencadear uma onda de violência policial contra os cartéis do estado. Contudo, o governador representa o Bolsonarismo com suas garras aparadas. Profundamente enraizada na “burguesia cosmopolita”, a política de De Freitas é decididamente elitista, desprovida do vigor populista e do estilo comunicativo direto. Essa mistura de tendências autoritárias e gerenciais foi memoravelmente descrita por André Singer como “Shrek” Bolsonarismo. O ogro ameaçador, banalizado e “aparentemente inofensivo”.
Sem o apoio de Bolsonaro, Tarcísio sempre correu o risco de ficar politicamente isolado.
A falha fatal do governador — se a entrada de Flávio de fato o forçou a renunciar à sua candidatura — foi precisamente essa ambiguidade entre a extrema direita e o centro. Sem o apoio de Bolsonaro, De Freitas sempre correu o risco de ficar politicamente isolado. A primeira ação de Flávio após assumir o cargo de herdeiro foi telefonar para o governador de São Paulo, abraçando seu vassalo para melhor lhe desferir a facada. De Freitas declarou seu apoio à candidatura de Flávio, embora tenha ressaltado que este ainda precisa lidar com outros candidatos de direita na disputa.
Assim como De Freitas, o mesmo ocorre com o centro como um todo. A incapacidade do Centrão de apresentar um projeto político próprio, distinto e coerente, o torna vulnerável a populistas reacionários, mais bem posicionados para apelar ao ressentimento da classe trabalhadora e prometer uma ruptura com o status quo. Ao tentar mobilizar a base do Bolsonarismo e, ao mesmo tempo, moderar seus excessos populistas, o centro-direita se limitou a criar atritos entre moderados e militantes, correndo o risco de não agradar a nenhum dos dois. Para disputar a presidência, o Centrão terá que, mais uma vez, confrontar a imprevisibilidade das forças mais elementares da política.
Os barões da terra
Flávio Bolsonaro não carece de rivais no momento. Três governadores do cinturão agropecuário brasileiro — Ronaldo Caiado, de Goiás; Romeu Zema, de Minas Gerais; e Ratinho Júnior, do Paraná — permanecem na disputa. Embora não ostentem o famoso sobrenome de Flávio, cada um deles está livre de seus problemas. Esses herdeiros da oligarquia rural podem ser mais atraentes para os conservadores que temem alienar os eleitores moderados ao perpetuar a linhagem Bolsonaro. Ratinho Júnior, em particular, cultivou uma imagem sensata e pró-capital que poderia atrair partidos importantes do Centro — enquanto em Caiado e Zema vemos figuras da elite tentando se reinventar como populistas linha-dura. A distância entre a extrema direita e o centro é, de fato, muito pequena.
Ronaldo Caiado é um dos mais interessantes desse grupo de rivais. O poderoso lobby do agronegócio é, em certa medida, uma criação de Caiado. Em 1985, o ex-ortopedista fundou o precursor do atual grupo ruralista, a União Democrática Ruralista, uma organização de lobby dedicada a esmagar o crescente movimento pela reforma agrária. O governador de Goiás mostrou-se disposto a flanquear o centro, empregando um estilo impetuoso e popular que contradiz sua origem oligárquica. Embora de Freitas permanecesse o favorito, Caiado se apresentou vigorosamente como a opção mais militante e dinâmica, cortejando ativamente as bases bolsonaristas para preencher o que ele percebia como um vácuo deixado por Bolsonaro.
Agora, com Bolsonaro de fato na disputa, Caiado pode encontrar seu espaço de manobra limitado, já que sua tentativa de preencher uma lacuna na extrema direita pode acabar se aproximando demais de Flávio. Por ora, tanto Caiado quanto Zema permanecem candidatos com poucas chances de vitória, pouco conhecidos fora de seus respectivos feudos estaduais. Ambos estão encurralados pela intrincada rede de alianças do Centrão, com os líderes do partido de Caiado inclinados a apoiar um candidato mais estável.
O Partido dos Trabalhadores está agora prestes a levar um presidente de 81 anos, com três mandatos, à sua sétima eleição.
Um desses candidatos estáveis é o governador do Paraná, conhecido invariavelmente como Ratinho Júnior. Herdeiro do apelido de seu pai, Carlos "Ratinho" Massa — famoso apresentador de televisão e ex-deputado federal —, Ratinho Júnior governa um estado grande e rico e cultivou uma reputação sóbria e tecnocrática. Até o momento, nenhuma mobilização significativa foi feita em apoio à candidatura de Ratinho, embora, com a saída de Freitas, ele se apresente como uma alternativa aceitável para os principais líderes do Centrão, relutantes em apoiar mais uma presidência de Bolsonaro.
Rompendo o impasse
Olhando além da multidão de candidatos reacionários, fica evidente que o próprio Lula não tem um herdeiro óbvio. O Partido dos Trabalhadores (PT) falhou até agora em formar políticos mais jovens com o perfil nacional necessário para suceder seu líder idoso. Atolada em um Congresso onde não possui a força de coalizão para governar, a esquerda também está separada dos movimentos sociais que outrora a sustentavam em nível local. O PT agora se prepara para levar um presidente de 81 anos, com três mandatos, à sua sétima eleição.
A política brasileira, portanto, enfrenta uma estranha estagnação. A esquerda detém um poder tênue, mas é cercada por forças hostis. A direita pode efetivamente impedir a esquerda de governar, mas, fragmentada entre seus próprios campos rivais e grupos de interesse, não possui um projeto hegemônico próprio.
Com Bolsonaro tentando transformar o governo da extrema direita em uma dinastia familiar, o Centrão enfrentará uma longa luta para realizar as eleições do ano que vem em seus próprios termos. Caso Flávio não consiga inspirar consenso no Centrão, ele poderá disputar os votos da direita ao lado de um candidato mais alinhado ao centro. É bem possível que vejamos os votos da direita divididos entre extrema-direita e centro (uma clara vantagem para Lula). Nenhuma das correntes reacionárias desaparecerá tão cedo do cenário político; cada uma precisa se reconciliar com os imperativos da outra.
No entanto, em última análise, a direita não precisa de um projeto coerente ou de uma solução permanente para suas discrepâncias. Após os sucessivos golpes de Estado — em 1964 e 2016 — ela já conquistou suas principais vitórias e lhes conferiu solidez constitucional. É a esquerda que precisa forjar uma frágil coalizão a cada vez que busca o poder e, uma vez no poder, proteger seu mandato contra os esforços constantes da direita para destruí-lo. Se a esquerda política quiser ter alguma chance de uma reformulação substancial do Estado, precisa retornar ao trabalho de base: o trabalho popular que integrava a luta política com os campos, as fábricas, as igrejas, as universidades e as periferias urbanas. Somente um projeto articulado em múltiplos níveis da vida social pode fortalecer a esquerda com o poder necessário para governar.
Colaborador
Tyler Antonio Lynch é cientista político formado pela Universidade de Cambridge. Ele escreve no Crooked Places no Substack.

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