David Renton
Jacobin
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| Os integrantes do Motorhead posam em uniformes militares para uma sessão de fotos para a capa do single "Killed By Death" em Pimlico, Londres, em julho de 1984. (Crédito: Fin Costello via Redferns.) |
Entre 1965 e 1980, dezenas dos mais famosos da músicos Grã-Bretanha colecionavam objetos nazistas. Muitos mantiveram esse hobby em segredo, incluindo John Lennon, que, quando estudante, acumulou medalhas e adagas da época do Terceiro Reich e, durante o período dos Beatles em Hamburgo, comprou braçadeiras, distintivos e Cruzes de Ferro nazistas. Um dos desenhos precoces de Lennon, no qual ele se retratava como Hitler, chegou a ser vendido online, após a morte de sua primeira esposa, Cynthia, por US$ 54.000.
Há muitas histórias desse tipo em This Ain’t Rock ‘n’ Roll: Pop Music, the Swastika and the Third Reich, o novo livro do historiador do rock Daniel Rachel. Ele descreve como alguns músicos expuseram sua adoração publicamente. Para o casamento de Mick Jagger em 1971, o também Rolling Stone Keith Richards vestiu um uniforme composto por botas pretas, túnica da SS e a Cruz de Ferro. Os Stones colaboraram com o artista belga Guy Peellaert em seu livro Rock Dreams e aprovaram a imagem resultante, que mostrava três dos quatro membros da banda em uniformes da SS, acariciando meninas pré-púberes nuas. Para o casamento de Jagger com sua esposa Bianca em 1974, o jornal The Sunday Times contratou uma fotógrafa famosa — a cineasta favorita de Hitler, Leni Riefenstahl.
Um grupo menor de artistas continuou elogiando o estilo nazista até o final da década de 1980 ou, em alguns casos, até os anos recentes. Em um documentário de 2005, o vocalista do Motörhead, Lemmy Kilmister, exibiu sua coleção de livros sobre os nazistas, tanques de brinquedo, pingentes e uma espada da Luftwaffe (“Uma obra de arte”, declarou ele). Filmado vestindo um uniforme da SS enquanto dirigia um tanque Panzer, Lemmy disse: “Eu me visto como gosto de me vestir”. Ele explicou: “O uniforme da SS é genial. Eles eram as estrelas do rock daquela época. O que se pode fazer? Eles simplesmente ficam bem”. Em sua autobiografia, Lemmy listou o que considerava as conquistas de Hitler: salvar a economia, dar propósito às pessoas. Então, em uma adição surpreendente à lista, o músico continuou: “Ele cumpriu todas as suas promessas. Ele disse que mataria os judeus. Ele matou os judeus”.
Os anos após 1976 e o verão do punk testemunharam alguns dos piores exemplos dessa fascinação musical pelo passado autoritário. Entre eles, o single incrivelmente sem graça dos Sex Pistols, Belsen Was a Gas. Há também o caso perturbador da banda Joy Division, de Manchester, cujo nome fazia referência a mulheres prisioneiras do fascismo forçadas à prostituição. O EP da banda, de 1978, An Ideal for Living, incluía um pôster de um membro da Juventude Hitlerista tocando um tambor (Rachel usa uma versão colorizada da mesma imagem na capa de seu livro). O autor descreve canções como Leaders of Men, Warsaw e Crime Against the Innocents como “discursos densos de frustração, culpa, vergonha e raiva com conotações militaristas e totalitárias”.
O uso da suástica tornou-se tão comum entre músicos punk que até mesmo os líderes ineptos e beligerantes da extrema-direita britânica começaram a notar. Depois que Siouxse and the Banshees lançaram um single (Love in a Void) com a letra “Judeus demais para o meu gosto”, membros da Frente Nacional passaram a marcar presença nos shows da banda. David Bowie concedeu diversas entrevistas nas quais declarou que a Grã-Bretanha precisava de um ditador. Joe Pearce, editor do jornal juvenil da Frente Nacional, Bulldog, elogiou Bowie, atribuindo-lhe o mérito de “ter iniciado a tradição musical anticomunista que agora vemos florescer em meio à nova onda de bandas futuristas”.
O trabalho de Rachel é imparcial. Ele não explora a origem do fascínio pela música, uma discussão que necessariamente o levaria para bem longe do rock. Tampouco faz sugestões sobre como lidar com a extrema-direita hoje em dia. Ele deixa os músicos falarem, sem pontuar cada declaração banal com comentários editoriais. Ele confia que seus leitores sabem o que estão fazendo e que não estão do lado do racismo e da crueldade.
Um dos livros anteriores de Rachel, Walls Come Tumbling Down, era uma história oral da campanha Rock Against Racism (RAR) de 1976-81, que tornou algo inaceitável para artistas falarem com admiração sobre Hitler. Partes dessa narrativa reaparecem nesta história. This Ain’t Rock ‘n’ Roll: Pop Music brilha ao descrever como os participantes da cena desafiaram as imagens nazistas que circulavam. Nos momentos que antecederam a infame entrevista repleta de palavrões entre Bill Grundy e os Sex Pistols, Sidney Bernstein, da Granada Television, se recusou a deixar a banda subir ao palco a menos que sua groupie, Jordan, concordasse em cobrir sua braçadeira com a suástica.
Há muitas histórias desse tipo em This Ain’t Rock ‘n’ Roll: Pop Music, the Swastika and the Third Reich, o novo livro do historiador do rock Daniel Rachel. Ele descreve como alguns músicos expuseram sua adoração publicamente. Para o casamento de Mick Jagger em 1971, o também Rolling Stone Keith Richards vestiu um uniforme composto por botas pretas, túnica da SS e a Cruz de Ferro. Os Stones colaboraram com o artista belga Guy Peellaert em seu livro Rock Dreams e aprovaram a imagem resultante, que mostrava três dos quatro membros da banda em uniformes da SS, acariciando meninas pré-púberes nuas. Para o casamento de Jagger com sua esposa Bianca em 1974, o jornal The Sunday Times contratou uma fotógrafa famosa — a cineasta favorita de Hitler, Leni Riefenstahl.
Um grupo menor de artistas continuou elogiando o estilo nazista até o final da década de 1980 ou, em alguns casos, até os anos recentes. Em um documentário de 2005, o vocalista do Motörhead, Lemmy Kilmister, exibiu sua coleção de livros sobre os nazistas, tanques de brinquedo, pingentes e uma espada da Luftwaffe (“Uma obra de arte”, declarou ele). Filmado vestindo um uniforme da SS enquanto dirigia um tanque Panzer, Lemmy disse: “Eu me visto como gosto de me vestir”. Ele explicou: “O uniforme da SS é genial. Eles eram as estrelas do rock daquela época. O que se pode fazer? Eles simplesmente ficam bem”. Em sua autobiografia, Lemmy listou o que considerava as conquistas de Hitler: salvar a economia, dar propósito às pessoas. Então, em uma adição surpreendente à lista, o músico continuou: “Ele cumpriu todas as suas promessas. Ele disse que mataria os judeus. Ele matou os judeus”.
Os anos após 1976 e o verão do punk testemunharam alguns dos piores exemplos dessa fascinação musical pelo passado autoritário. Entre eles, o single incrivelmente sem graça dos Sex Pistols, Belsen Was a Gas. Há também o caso perturbador da banda Joy Division, de Manchester, cujo nome fazia referência a mulheres prisioneiras do fascismo forçadas à prostituição. O EP da banda, de 1978, An Ideal for Living, incluía um pôster de um membro da Juventude Hitlerista tocando um tambor (Rachel usa uma versão colorizada da mesma imagem na capa de seu livro). O autor descreve canções como Leaders of Men, Warsaw e Crime Against the Innocents como “discursos densos de frustração, culpa, vergonha e raiva com conotações militaristas e totalitárias”.
O uso da suástica tornou-se tão comum entre músicos punk que até mesmo os líderes ineptos e beligerantes da extrema-direita britânica começaram a notar. Depois que Siouxse and the Banshees lançaram um single (Love in a Void) com a letra “Judeus demais para o meu gosto”, membros da Frente Nacional passaram a marcar presença nos shows da banda. David Bowie concedeu diversas entrevistas nas quais declarou que a Grã-Bretanha precisava de um ditador. Joe Pearce, editor do jornal juvenil da Frente Nacional, Bulldog, elogiou Bowie, atribuindo-lhe o mérito de “ter iniciado a tradição musical anticomunista que agora vemos florescer em meio à nova onda de bandas futuristas”.
O trabalho de Rachel é imparcial. Ele não explora a origem do fascínio pela música, uma discussão que necessariamente o levaria para bem longe do rock. Tampouco faz sugestões sobre como lidar com a extrema-direita hoje em dia. Ele deixa os músicos falarem, sem pontuar cada declaração banal com comentários editoriais. Ele confia que seus leitores sabem o que estão fazendo e que não estão do lado do racismo e da crueldade.
Um dos livros anteriores de Rachel, Walls Come Tumbling Down, era uma história oral da campanha Rock Against Racism (RAR) de 1976-81, que tornou algo inaceitável para artistas falarem com admiração sobre Hitler. Partes dessa narrativa reaparecem nesta história. This Ain’t Rock ‘n’ Roll: Pop Music brilha ao descrever como os participantes da cena desafiaram as imagens nazistas que circulavam. Nos momentos que antecederam a infame entrevista repleta de palavrões entre Bill Grundy e os Sex Pistols, Sidney Bernstein, da Granada Television, se recusou a deixar a banda subir ao palco a menos que sua groupie, Jordan, concordasse em cobrir sua braçadeira com a suástica.
Na preparação para o primeiro carnaval da RAR em abril de 1976, a revista Sounds publicou um artigo imaginando como a vida musical seria devastada se a Frente Nacional conseguisse deportar milhões de imigrantes, incluindo membros do The Clash, X-Ray Spex e Hot Chocolate. Abaixo de uma imagem da suástica, a revista escreveu: “E nunca usem isso”. Essa mensagem foi ouvida e aceita — eventualmente.
Colaborador
Colaborador
David Renton é advogado e autor de "Against the Law: Why Justice Requires Fewer Laws and a Smaller State" (Contra a Lei: Por que a Justiça Requer Menos Leis e um Estado Menor), publicado pela Repeater em 12 de julho.

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