Karin Costa Vazquez
Pesquisadora sênior do think tank Center for China and Globalization (China) e professora na Jindal Global University (Índia)
A expansão dos Brics tem ganhado espaço no debate internacional em meio à guerra na Ucrânia e a disputa da China com os EUA e a Índia. No Brasil, o tema ensaia um retorno ao centro da política externa com a inclusão do bloco nas diretrizes do programa de governo do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Menos falado é como um engajamento mais efetivo dos Brics com outros países em desenvolvimento pode ampliar o papel do bloco na construção de uma nova governança global.
A motivação para a expansão dos Brics é a mesma que deu origem ao grupo: oferecer alternativas à governança global. E, para oferecer alternativas, os Brics devem ser representativos das mudanças que essa governança tem sofrido nas últimas décadas e das diferentes visões para a arquitetura política, econômica e financeira global. Foi por essa razão que a África do Sul ingressou no bloco de países em 2010, o que teria sido seu primeiro movimento de expansão.
A motivação para a expansão dos Brics é a mesma que deu origem ao grupo: oferecer alternativas à governança global. E, para oferecer alternativas, os Brics devem ser representativos das mudanças que essa governança tem sofrido nas últimas décadas e das diferentes visões para a arquitetura política, econômica e financeira global. Foi por essa razão que a África do Sul ingressou no bloco de países em 2010, o que teria sido seu primeiro movimento de expansão.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) posa para foto oficial com os líderes dos países dos Brics Cyril Ramaphosa (África do Sul), Narendra Modi (Índia), Vladimir Putin (Rússia) e Xi Jinping (China) durante reunião de cúpula do bloco, em Brasília - Pedro Ladeira - 14.nov.19/Folhapress
Hoje, a ampliação dos Brics ganha novo impulso com o apoio da China ao ingresso de nações como Argentina e Irã. No atual contexto geopolítico, tal expansão injeta novo fôlego no bloco, dá estofo e visibilidade à presidência chinesa e projeta o país como defensor do multilateralismo. A expansão também atrai a Rússia ao ampliar os canais de diálogo de Moscou com o mundo. Para os demais membros, contudo, esse movimento é visto com cautela.
O grande desafio está na forma e prioridade que se deve dar ao processo de expansão e, em última instância, na confiança que os cinco membros depositam uns nos outros. Para a Índia, os Brics ainda são um instrumento útil para reordenar o sistema internacional e dar voz aos países em desenvolvimento. Mas Nova Déli está descontente com o "expansionismo chinês" e o veto do gigante asiático à proposta indiana na ONU de listar organizações paquistanesas como grupos terroristas.
A permanência da Índia no bloco é justificada para verificar os interesses da China e vincular Pequim a processos multilaterais de forma equilibrada com os demais países. Isso explicaria a inclusão de termos como "com base no consenso" e "plena consulta e consenso" na declaração dos líderes dos Brics deste ano, sem menção a um processo ou prazo para a expansão acontecer.
Para o Brasil, o grupo cumpre um objetivo econômico-comercial que ganha ainda mais importância com a instabilidade das cadeias produtivas globais. Essa visão é um avanço em relação ao início do governo Jair Bolsonaro (PL), quando se questionava se o Brasil permaneceria no bloco. Mas não é suficiente. O mundo hoje precisa de cooperação em saúde, segurança, clima e transição energética —e a solução para alguns dos maiores desafios do nosso tempo depende dos Brics.
O receio de que essas questões e a expansão dos Brics levem à politização do bloco é real para um governo que almeja laços especiais com o Ocidente, em vez de buscar um não alinhamento ativo com o mundo. Essa visão é reducionista do potencial do bloco, do que ele pode oferecer para a promoção dos interesses nacionais e do que o Brasil pode contribuir para a construção de uma governança global comprometida com a paz, a inclusão social e a sustentabilidade ambiental.
A expansão dos Brics não é o único caminho para aumentar a força do bloco. Desde 2013, o "Brics Outreach" contribui para ampliar o diálogo com parceiros sub-regionais e, desde 2017, o "Brics Plus" se dedica a fortalecer a cooperação para o desenvolvimento do Sul global. Os dois processos, contudo, foram suspensos após a decisão do Brasil de não convidar a Venezuela e demais vizinhos para o encontro de líderes do bloco, em 2019.
É preciso retomar o diálogo sustentado dos Brics com o mundo. Também é necessário monitorar os compromissos assumidos e fortalecer a coordenação do bloco com Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático), União Africana, G20 e ONU. Com a Cúpula do Futuro da ONU e a presidência indiana do G20 em 2023, a presidência brasileira dos Brics e do G20 em 2024 e a presidência sul-africana do G20 em 2025, os próximos três anos serão chave para que o grupo de nações resgate o multilateralismo.
Hoje, a ampliação dos Brics ganha novo impulso com o apoio da China ao ingresso de nações como Argentina e Irã. No atual contexto geopolítico, tal expansão injeta novo fôlego no bloco, dá estofo e visibilidade à presidência chinesa e projeta o país como defensor do multilateralismo. A expansão também atrai a Rússia ao ampliar os canais de diálogo de Moscou com o mundo. Para os demais membros, contudo, esse movimento é visto com cautela.
O grande desafio está na forma e prioridade que se deve dar ao processo de expansão e, em última instância, na confiança que os cinco membros depositam uns nos outros. Para a Índia, os Brics ainda são um instrumento útil para reordenar o sistema internacional e dar voz aos países em desenvolvimento. Mas Nova Déli está descontente com o "expansionismo chinês" e o veto do gigante asiático à proposta indiana na ONU de listar organizações paquistanesas como grupos terroristas.
A permanência da Índia no bloco é justificada para verificar os interesses da China e vincular Pequim a processos multilaterais de forma equilibrada com os demais países. Isso explicaria a inclusão de termos como "com base no consenso" e "plena consulta e consenso" na declaração dos líderes dos Brics deste ano, sem menção a um processo ou prazo para a expansão acontecer.
Para o Brasil, o grupo cumpre um objetivo econômico-comercial que ganha ainda mais importância com a instabilidade das cadeias produtivas globais. Essa visão é um avanço em relação ao início do governo Jair Bolsonaro (PL), quando se questionava se o Brasil permaneceria no bloco. Mas não é suficiente. O mundo hoje precisa de cooperação em saúde, segurança, clima e transição energética —e a solução para alguns dos maiores desafios do nosso tempo depende dos Brics.
O receio de que essas questões e a expansão dos Brics levem à politização do bloco é real para um governo que almeja laços especiais com o Ocidente, em vez de buscar um não alinhamento ativo com o mundo. Essa visão é reducionista do potencial do bloco, do que ele pode oferecer para a promoção dos interesses nacionais e do que o Brasil pode contribuir para a construção de uma governança global comprometida com a paz, a inclusão social e a sustentabilidade ambiental.
A expansão dos Brics não é o único caminho para aumentar a força do bloco. Desde 2013, o "Brics Outreach" contribui para ampliar o diálogo com parceiros sub-regionais e, desde 2017, o "Brics Plus" se dedica a fortalecer a cooperação para o desenvolvimento do Sul global. Os dois processos, contudo, foram suspensos após a decisão do Brasil de não convidar a Venezuela e demais vizinhos para o encontro de líderes do bloco, em 2019.
É preciso retomar o diálogo sustentado dos Brics com o mundo. Também é necessário monitorar os compromissos assumidos e fortalecer a coordenação do bloco com Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático), União Africana, G20 e ONU. Com a Cúpula do Futuro da ONU e a presidência indiana do G20 em 2023, a presidência brasileira dos Brics e do G20 em 2024 e a presidência sul-africana do G20 em 2025, os próximos três anos serão chave para que o grupo de nações resgate o multilateralismo.
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