28 de abril de 2022

Duque, um governante de papel

O governo de Iván Duque na Colômbia está chegando ao fim, mas o sistema corrupto que o levou à presidência pretende se reciclar mais uma vez. Nas eleições de maio, colombianos e colombianas têm a oportunidade de acabar com o uribismo e mudar o rumo de seu país.

Esteban Morales Estrada

Jacobin

A chegada de Iván Duque à Casa de Nariño não foi patrocinada por nenhum mérito próprio ou por sua carreira política, mas pela vontade exclusiva de Álvaro Uribe Vélez.

A cena é tragicômica: o inepto presidente colombiano olha de um lado para o outro, abre o sorriso, pega um pequeno martelo e, cheio de ansiedade e satisfação, bate nele alegremente para fechar o dia na Bolsa de Nova York. Todos riem e comemoram sua façanha épica. Sua figura projeta a imagem de um menino que goza dos privilégios do poder; ele se distrai com atuações inconsequentes na tentativa de provar a si mesmo e ao mundo que é um homem importante. Ele está ansioso para receber o reconhecimento que sabe que não tem em seu próprio país e brinca de ser um líder mundial de primeira ordem.

A essa altura, os colombianos já têm dificuldade em continuar sendo surpreendidos pelas idiotices das quais Iván Duque é o protagonista. No entanto, seu episódio mais recente em Nova York atingiu extremos de infantilidade e ridículo que, embora pareçam realmente implausíveis, infelizmente foram reais. A cena é uma amostra, ao mesmo tempo, das maneiras usuais como o infame presidente de nosso país se comporta: sua distância dos problemas urgentes da nação é tal que sua atitude calma e autoconfiante é ofensiva. Duque caminha placidamente por seus amados Estados Unidos como se não houvesse nada para atender na Colômbia...

Em seu país, no entanto, a violência rural e urbana é comum, a paz está apenas na metade do caminho e não passa uma semana sem que um novo caso de corrupção governamental exploda. Mas o que realmente mantém Duque acordado nos dias de hoje é garantir sua posição na burocracia internacional para quando seu mandato perverso terminar. Ele sabe que na Colômbia não tem lugar. É por isso que ele corre para qualquer show internacional para o qual seja convidado, a fim de ganhar popularidade e sair para continuar sua vida confortável como funcionário que vive em nome de organizações multilaterais e instituições financeiras quando terminar seu mandato presidencial.

E é que Duque chegou à presidência da Colômbia de pára-quedas. Sua chegada à Casa de Nariño não foi patrocinada por nenhum mérito próprio ou por sua carreira política, mas pela vontade exclusiva de Álvaro Uribe, que há duas décadas dirige a política colombiana a seu gosto e prazer e vê em Duque um personagem fraco e manipulável que lhe permitiu continuar controlando os fios do poder enquanto outro ocupava a cadeira presidencial. Ao contrário de um político que termina anos de carreira pública servindo como chefe do Executivo do país, Duque foi um presidente medíocre, sem experiência ou histórico, escolhido a dedo por seu padrinho político. Agora, quando seus dias como chefe da presidência da Colômbia estão contados, ele procura desesperadamente um lugar que lhe permita continuar vivendo às custas do trabalho de outras pessoas.

Duque parece habitar uma realidade paralela. Diante da menor questão que possa implicar em conflito com seus interesses, eles optam por fazer ouvidos moucos. Ele simplesmente omite qualquer coisa que não se encaixe em sua visão simples do mundo. No plano internacional, ele hipocritamente se mostra um defensor do meio ambiente e dos migrantes, buscando aplausos que o aproximem de sua almejada posição em Washington. Enquanto isso, em seu próprio país, líderes sociais são assassinados semanalmente, os protestos sociais são perseguidos e duramente reprimidos, e o poder se concentra em um pequeno círculo de pessoas que se movem com absoluta impunidade.

O presidente participa da política eleitoral favorecendo descaradamente seu candidato e se recusando a ouvir críticas de diversos setores afetados pelo desemprego, inflação, insegurança e precariedade. A Colômbia é o segundo país mais desigual da região, superado apenas pelo Brasil. Mas isso não é algo com que o presidente pareça se importar, optando por se debruçar sobre a guerra na Ucrânia em todas as oportunidades, em vez de dar a menor opinião sobre o caos social que reina em vários departamentos do país que - em teoria - governa.

A Colômbia precisa de mudanças urgentes, sérias e estruturais. E a resposta do Uribismo, por incrível que pareça, é a mesma que há quatro anos levou Duque à presidência: Federico "Fico" Gutiérrez, o candidato que concorrerá com Gustavo Petro nas eleições presidenciais de 29 de maio, é não mais que outro fantoche. Com um discurso vago e sem graça, e sem conhecimento suficiente das complexidades que o país enfrenta, a única coisa que se pode esperar de sua eventual presidência é o agravamento dos problemas que nos sufocam diariamente.

O país está pegando fogo e a solução de Uribe, Duque e "Fico" Gutiérrez é jogar gasolina nele. Mas o povo colombiano tem uma oportunidade: está em suas mãos acabar com essas políticas, romper com a continuidade e começar a construção de um país mais justo. Para isso, deve ignorar a campanha mentirosa que, por medo e preconceito, tenta instalar contra Gustavo Petro e Francia Márquez, os únicos candidatos com propostas reais, o que pode representar uma mudança de rumo diante da crise em que estamos submersos pela obra e graça do Uribismo e suas políticas neoliberais.

Espero que os últimos quatro anos que vivemos sob o governo desse vendedor de fumaça tenham sido suficientes para abrir nossos olhos e nos mostrar que para mudar as coisas não podemos continuar fazendo o mesmo. Que para nos livrarmos dos fantasmas de ontem temos que nos livrar dos monstros de hoje.

Sobre o autor

Mestre em História e professor de escola secundária estadual na Colômbia.

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