Nelson Barbosa
Mesmo com a força de trabalho crescendo 0,7% ao ano, é possível que o emprego cresça acima de 1% por vários anos devido à massa de pessoas desempregadas ou subutilizadas no Brasil.
A restrição de trabalho fica ainda menor se considerarmos que a produtividade do trabalho varia com o crescimento da economia. Em economês: a produtividade é uma variável pró-cíclica, sobretudo em uma economia com diferenças tão grandes entre setores, como acontece aqui.
A endogeneidade da produtividade vem basicamente de dois fatores: efeito composição (intersetorial) e investimento (intrassetorial).
Começando pelo efeito composição, quando a economia vai mal, as pessoas tendem a se mover de setores de alta produtividade para setores de baixa produtividade, e isso puxa a produtividade média para baixo.
Em termos mais simples, a produtividade média da economia cai quando um engenheiro da Petrobras perde o emprego e tem que se virar como trabalhador de aplicativo. A qualificação da pessoa continua a mesma, mas sua produção e remuneração por hora é diferente entre os dois empregos.
O oposto acontece quando a economia vai bem. Milhões de pessoas que se viram na economia informal de serviços urbanos conseguem melhorar de vida, movendo-se para empregos formais, compatíveis com sua qualificação e de melhor remuneração. Esse movimento eleva a produtividade média da economia.
O efeito composição descrito acima é conhecido há muito tempo. Na década de 1950, Celso Furtado e Arthur Lewis explicaram por que a "dualidade" de uma economia subdesenvolvida (onde um setor moderno convive com um setor atrasado) torna sua produtividade altamente endógena. Nesse contexto, é difícil falar em restrição de trabalho, mas continuemos.
A segunda fonte de aumento induzido da produtividade é a própria expansão da economia. Por exemplo, a elevação da produção traz economias de escala, reduzindo o custo médio de produção. Mais importante, o aumento do nível de atividade reduz capacidade ociosa e aumenta o investimento, que, por sua vez, inclui máquinas, equipamentos e técnicas mais modernas, puxando a produtividade média do trabalho para cima.
Em economês, grande parte do investimento é induzida pela atividade econômica. Quando o PIB sobe, ele puxa o investimento, em um efeito "acelerador" do crescimento. Do lado da oferta, o aumento do volume de capital por trabalhador aumenta a produtividade do trabalho, permitindo que o emprego cresça mais rapidamente sem gerar pressões inflacionárias excessivas.
O leitor deve estar se perguntando: se é tão simples, por que crescemos tão pouco? A resposta é que não é tão simples.
De um lado, o crescimento pode ser barrado por gargalos na oferta de um insumo básico, como energia e combustível, antes de chegarmos ao pleno emprego da força de trabalho.
Do outro lado, apesar de o investimento responder ao crescimento, leva tempo para que o projeto de investimento se complete e o estoque de capital suba. Mais investimento aumenta a demanda antes de aumentar a oferta.
Funcionárias em linha de produção de fábrica de São Paulo - Eduardo Knapp - 23.set.21/Folhapress |
Há duas semanas, argumentei que, com taxa de desemprego em 11% e taxa de participação no mercado de trabalho em 62%, o Brasil não tem uma restrição imediata de mão de obra.
Mesmo com a força de trabalho crescendo 0,7% ao ano, é possível que o emprego cresça acima de 1% por vários anos devido à massa de pessoas desempregadas ou subutilizadas no Brasil.
A restrição de trabalho fica ainda menor se considerarmos que a produtividade do trabalho varia com o crescimento da economia. Em economês: a produtividade é uma variável pró-cíclica, sobretudo em uma economia com diferenças tão grandes entre setores, como acontece aqui.
A endogeneidade da produtividade vem basicamente de dois fatores: efeito composição (intersetorial) e investimento (intrassetorial).
Começando pelo efeito composição, quando a economia vai mal, as pessoas tendem a se mover de setores de alta produtividade para setores de baixa produtividade, e isso puxa a produtividade média para baixo.
Em termos mais simples, a produtividade média da economia cai quando um engenheiro da Petrobras perde o emprego e tem que se virar como trabalhador de aplicativo. A qualificação da pessoa continua a mesma, mas sua produção e remuneração por hora é diferente entre os dois empregos.
O oposto acontece quando a economia vai bem. Milhões de pessoas que se viram na economia informal de serviços urbanos conseguem melhorar de vida, movendo-se para empregos formais, compatíveis com sua qualificação e de melhor remuneração. Esse movimento eleva a produtividade média da economia.
O efeito composição descrito acima é conhecido há muito tempo. Na década de 1950, Celso Furtado e Arthur Lewis explicaram por que a "dualidade" de uma economia subdesenvolvida (onde um setor moderno convive com um setor atrasado) torna sua produtividade altamente endógena. Nesse contexto, é difícil falar em restrição de trabalho, mas continuemos.
A segunda fonte de aumento induzido da produtividade é a própria expansão da economia. Por exemplo, a elevação da produção traz economias de escala, reduzindo o custo médio de produção. Mais importante, o aumento do nível de atividade reduz capacidade ociosa e aumenta o investimento, que, por sua vez, inclui máquinas, equipamentos e técnicas mais modernas, puxando a produtividade média do trabalho para cima.
Em economês, grande parte do investimento é induzida pela atividade econômica. Quando o PIB sobe, ele puxa o investimento, em um efeito "acelerador" do crescimento. Do lado da oferta, o aumento do volume de capital por trabalhador aumenta a produtividade do trabalho, permitindo que o emprego cresça mais rapidamente sem gerar pressões inflacionárias excessivas.
O leitor deve estar se perguntando: se é tão simples, por que crescemos tão pouco? A resposta é que não é tão simples.
De um lado, o crescimento pode ser barrado por gargalos na oferta de um insumo básico, como energia e combustível, antes de chegarmos ao pleno emprego da força de trabalho.
Do outro lado, apesar de o investimento responder ao crescimento, leva tempo para que o projeto de investimento se complete e o estoque de capital suba. Mais investimento aumenta a demanda antes de aumentar a oferta.
Como o efeito acelerador do PIB sobre o capital eleva temporariamente a demanda por bens e serviços, isso pode gerar inflação e aumento de juro a curto prazo, derrubando a expansão inicial do PIB antes que o investimento reaja (voo de galinha).
Como resolver o problema? Acabou o espaço. Volto ao tema em outra coluna.
Sobre o autor
Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.
Nenhum comentário:
Postar um comentário