O economista João Pedro Stedile, militante do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Rafael Stedile/Divulgação. |
Não conseguimos mudar o governo, apesar dos crimes cometidos e de mais de 130 pedidos de impeachment, mas recuperamos no ano passado as ruas com mobilizações expressivas em mais de 500 cidades do país. A partir desse processo, começamos 2022 com a unidade das forças populares em torno de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e recolocando-o como porta-voz das necessidades urgentes de mudanças na política e na economia nacional.
O ano que passou foi duro para o povo brasileiro, cujo maior símbolo foi a perda de milhares de vidas pelo negacionismo e incompetência do governo federal. Outros milhões foram jogados na sarjeta, sem trabalho e renda, com a volta da fome, da inflação dos alimentos, dos combustíveis e dos aluguéis. As necessidades da maioria são imensas e, certamente, teremos um período marcado por lutas em defesa de soluções urgentes para esses problemas, que não podem esperar as eleições.
Nunca se viu tantos crimes ambientais praticados pelo capital em todos os biomas. A mineração e o agronegócio, além do uso intensivo de agrotóxicos, afetam a vida das pessoas, com mudanças climáticas, contaminação do ar, água, solo e dos produtos agrícolas.
No campo, as políticas públicas para produção de alimentos, como a distribuição de terras, o programa de compra antecipada de alimentos e da merenda escolar —além de assistência técnica, habitação rural e programas de educação para assentados— foram paralisados. Na fronteira agrícola, multiplicaram-se ações de violência, de invasões a assassinatos contra povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas.
Não bastasse isso, o governo e sua trupe neofascista tentaram impor derrotas ao MST efetuando despejos em áreas simbólicas, como o Centro Paulo Freire, em Caruaru (PE), o assentamento de Campo do Meio, em Minas Gerais, e o uso ilegal da Força Nacional em assentamentos do sul da Bahia. Nas três ocasiões, recebemos solidariedade e impedimos os despejos. Conseguimos derrotar a insanidade da repressão.
Mesmo em uma situação adversa, entregamos milhares de toneladas de comida de forma solidária a famílias necessitadas pelo Brasil sob o lema "plantar alimentos para cultivar solidariedade". Enquanto o capitão insano passeava de jet ski no final do ano, levamos diversos caminhões de comida para o sul da Bahia, como fizemos nos últimos dois anos em que nos dedicamos a aumentar a produção de alimentos e fortalecer as cooperativas da reforma agrária.
Dessa forma, contribuímos para o processo de pedagogia de massas para conscientizar e preparar o povo para se mobilizar em torno de um novo governo. Somente a unidade em torno de um novo projeto nacional viabilizará a reorganização da sociedade para enfrentar a perversidade da maior crise capitalista que já vivemos.
Construir um projeto não é apenas um exercício de redação de ideias. É, sobretudo, debater com a população, a partir dos setores organizados, a gravidade da crise, as suas causas, as medidas emergenciais e as mudanças estruturais. Para resolver os problemas do povo brasileiro, não basta eleger Lula. É necessário que a população construa, participe e lute por um novo projeto de país.
Por isso, existe uma ampla unidade entre as forças populares para combinar uma campanha de massas com o debate em torno de propostas de um novo projeto popular para o Brasil, por meio da organização de comitês populares em todos os espaços possíveis.
Assim, espero que 2022 seja um ano de conscientização e participação popular, como sonhava Paulo Freire, para discutir um projeto de país como sempre defendeu Celso Furtado, e assim superarmos a pobreza e a fome, como lutou Josué de Castro e tantos outros que nos antecederam.
Sobre o autor
Economista, é militante do MST e da Frente Brasil Popular.
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