8 de fevereiro de 2024

O que vai puxar o PIB do Brasil em 2024?

"Há distância entre a taça e os lábios", mas existir sede de investimento já é boa notícia

André Roncaglia
Professor de economia da Unifesp e doutor em economia do desenvolvimento pela FEA-USP


A atividade econômica de 2023 foi puxada pelo aumento real de 12% dos gastos públicos, pela expansão da agropecuária (cerca de 16%) e pelo recorde na balança comercial (superávit de 3,7% do PIB). Em 2024 esse quadro não vai se repetir e a taxa de crescimento deve cair dos 3% de 2023 para perto de 2%.

O desafio do governo Lula é evitar que a desaceleração econômica pese sobre sua popularidade em ano eleitoral. Com a contração fiscal programada (déficit zero) e o risco de quebras de safra em setores importantes da agricultura, o impulso ao crescimento virá dos investimentos.

A taxa de investimento no Brasil é um indicador crucial para avaliar o crescimento econômico e a saúde financeira do país. Entre 2013 e 2023, esse indicador caiu de 20,9% para 16,6% do PIB. Reportagem da Folha repercutiu estudo do Ipea que mostra o definhamento do nosso estoque de capital: faz uma década que o investimento no Brasil mal cobre desgaste de máquinas e infraestrutura.

Essa necessária reconstrução deve ser moldada pela agenda de descarbonização, induzindo investimentos em novos maquinário e tecnologia. Estimado em R$ 400 bilhões por ano (McKinsey), o esforço em reduzir as emissões de gases do efeito estufa abre valiosa janela de oportunidade e estimula a musculatura empresarial.


As iniciativas do Novo PAC e o Plano Nova Indústria Brasil buscam coordenar os setores público e privado nessa direção, mas ambos têm orçamentos limitados pela regra fiscal e pela aversão do rentismo institucionalizado à política industrial. Nestas circunstâncias, estará o investimento privado apto a carregar o piano?

Vejamos: a taxa de investimento é influenciada por fatores como o ritmo da economia, o custo de capital, a confiança dos investidores e a direção da política econômica. O que dizem os dados?

Em 2024, a recuperação dos investimentos se apoiará na maior confiança empresarial na demanda futura (via queda acentuada dos estoques), ajudada pela pujança das nossas exportações. O consumo das famílias dará reforço via expansão do crédito —devida à queda da inadimplência—, elevação real do salário mínimo e dos rendimentos do trabalho, bem como pela antecipação do pagamento dos precatórios represados (R$ 92 bilhões).

Ademais, a saliência do esforço de reindustrialização resgatou a orientação industrial e inovativa do BNDES (com ampliação e direcionamento do valor dos desembolsos) e foi reforçada pela proposta de depreciação acelerada e pelo programa de Mobilidade Verde e Inovação (Mover) do MDIC.

De forma concreta, destacam-se os seguintes anúncios de investimentos: cerca de R$ 235 bilhões no setor de infraestrutura (80% via setor privado) e outros R$ 96 bilhões do Minha Casa Minha Vida (que aquecerá o setor da construção, segundo sondagem da FGV). Incentivada pelo programa Mover, a indústria automotiva já anunciou investimentos de R$ 41,4 bilhões até 2032.

Esse entusiasmo empresarial reflete a restauração de um ambiente favorável aos negócios produtivos no país, com as aprovações do novo marco fiscal e da reforma tributária, o marco das debêntures de infraestrutura, a queda da taxa Selic e a canalização de recursos para setores essenciais via medidas de correção de distorções tributárias (como os fundos exclusivos e letras de crédito imobiliário e do agronegócio, dentre outras).

Se a onda de confiança ganhar força, a expansão dos investimentos em modernização e inovação pode gerar empregos de qualidade, aumentar a produtividade do trabalho e dar suporte à atividade econômica.

Como diria o velho Keynes: há distância entre a taça e os lábios. Mas o fato de haver sede de investimento já é uma boa notícia.

Bom Carnaval!

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