Leonardo Vieceli
Folha de S.Paulo
Consumidores em supermercado da capital paulista - Rivaldo Gomes - 7.mai.2020/Folhapress |
A inflação acelerou em fevereiro para ricos, pobres e classe média no Brasil. Ou seja, nenhum desses grupos conseguiu escapar da pressão maior sobre os preços, indica levantamento mensal divulgado nesta quarta-feira (16) pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
O estudo divide a população brasileira de acordo com seis faixas de renda domiciliar. Todas sentiram uma inflação maior em fevereiro.
O destaque mensal veio do segmento de renda alta. Nele, a inflação acelerou de 0,34% para 1,07% entre janeiro e fevereiro. Foi a maior taxa da pesquisa no mês passado.
O segmento de renda alta reúne famílias com rendimento mensal domiciliar superior a R$ 17.764,49. São brasileiros que têm mais condições financeiras para enfrentar a carestia.
Conforme o Ipea, a inflação dos mais ricos foi puxada pelos avanços dos preços da área de educação no começo do ano letivo. Houve reajustes de 6,7% nas mensalidades escolares e de 3,9% nos cursos extracurriculares.
Em fevereiro, a segunda maior inflação foi sentida na outra ponta da pesquisa: a dos mais pobres. Na passagem dos dois últimos meses, o índice de preços para as famílias de renda muito baixa acelerou de 0,63% para 1%.
O grupo reúne brasileiros com rendimento domiciliar inferior a R$ 1.808,79 por mês. É o segmento que tende a sofrer mais com o avanço dos preços.
Em fevereiro, a inflação da renda muito baixa foi puxada pela carestia de alimentação e bebidas. A despesa com comida tem maior impacto no orçamento dos mais pobres.
O Ipea lembra que houve aumentos em produtos como feijão (9,4%), farinha de trigo (2,8%), biscoito (2,3%), macarrão (1,1%) e pão (1%).
Alimentos in natura também ficaram mais caros, especialmente batata (23,5%), cenoura (55,4%) e repolho (25,7%). Café (2,5%) e leite (1%), que formam uma combinação tradicional na mesa dos brasileiros, tampouco escaparam dos avanços.
No começo de 2022, o clima adverso prejudicou plantações e pressionou os preços de alimentos no país. Enquanto municípios do Sudeste registraram excesso de chuva, o Sul amarga período de seca.
De acordo com o Ipea, a inflação também acelerou para a renda média (entre R$ 4.506,47 e R$ 8.956,26) de janeiro para fevereiro. O índice de preços desse grupo passou de 0,53% para 0,98%, o terceiro principal da pesquisa.
A inflação ainda ganhou força nos segmentos de renda média-alta (de 0,51% para 0,97%), média-baixa (de 0,58% para 0,93%) e baixa (de 0,62% para 0,94%).
Inflação acumulada é maior para os pobres
Apesar de o índice dos mais ricos ter sido maior em fevereiro, são os mais pobres que amargam uma inflação mais elevada no acumulado de 12 meses. Nesse recorte, o avanço dos preços para a renda muito baixa chegou a 10,9% até fevereiro.
A renda alta, por sua vez, teve inflação acumulada de 9,7% no mesmo período. É a menor marca do levantamento em 12 meses, sinaliza o Ipea.
De acordo com analistas, a inflação tende a receber novas pressões a partir de março, com os reflexos econômicos da guerra entre Rússia e Ucrânia.
O conflito já impactou commodities como o petróleo, gerando um mega-aumento de combustíveis no Brasil na semana passada.
Com a tensão no Leste Europeu, preços agrícolas também subiram no mercado internacional. Assim, analistas veem riscos para a inflação de parte dos alimentos no Brasil.
Para tentar frear os preços, o Copom (Comitê de Política Monetária), do BC (Banco Central), vem subindo a taxa básica de juros. Em fevereiro, o colegiado levou a Selic para 10,75% ao ano.
Parte do mercado já vê a taxa acima de 13% ao final de 2022. O Copom tem reunião nesta quarta para definir o novo patamar da Selic.
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