Não devemos desperdiçar 700 bilhões de dólares num resgate, mas usar o “governo forte” naquilo que ele pode fazer melhor – moldar uma sociedade que seja justa e pacífica.
Howard Zinn
The Guardian
A crise financeira atual é uma das estações principais no caminho para o colapso do império americano. O primeiro sinal importante foi o 11 de setembro, quando a nação mais fortemente armada do mundo se mostrou vulnerável a um punhado de sequestradores.
E agora, outro sinal: ambos os principais partidos na pressa de obter um acordo para gastar 700 bilhões de dólares dos contribuintes que escorrerão pelo ralo de imensas instituições financeiras que são conhecidas por duas características: incompetência e ganância.
Há uma solução muito melhor para a crise financeira atual. Mas ela requer que se descarte aquilo que tem sido considerado “sabedoria” convencional por muito tempo: que a intervenção governamental na economia (“governo forte”) deva ser evitado como uma praga, porque o “livre mercado” guiaria a economia na direção do crescimento e da justiça.
Devemos encarar a verdade histórica de frente: nunca tivemos um “livre mercado”, sempre tivemos intervenção do estado na economia e, de fato, essa intervenção sempre foi bem recebida pelos capitães das finanças e da indústria. Eles nunca tiveram problemas com o “governo forte”, quando esse serviu seus interesses.
Isso começou há muito tempo, quando os pais fundadores se reuniram na Filadélfia em 1787, para esboçar a constituição. O primeiro resgate significativo foi a decisão do novo governo de indenizar pelo valor integral as obrigações do governo praticamente destituídas de qualquer valor em posse dos especuladores. E esse papel de “governo forte”, dando suporte aos interesses das classes “de negócios” continuou através da história da nação.
A lógica de se tomar 700 bilhões de dólares dos contribuintes para subsidiar imensas instituições financeiras é que, de alguma forma, aquela riqueza vai escoar aos poucos, sendo repassada para as pessoas que dela necessitam. Isso nunca funcionou.
A alternativa é simples e poderosa. Pegar essa incrível soma de dinheiro e entregá-la diretamente às pessoas que dela precisam. Deixar que o governo declare uma moratória nas execuções das hipotecas e fornecer ajuda aos proprietários das casas para ajudá-los a pagar suas hipotecas. Criar um programa de empregos federal para garantir trabalho às pessoas que querem e precisam de emprego, e para as quais o “livre mercado” não valeu.
Temos um precedente histórico de sucesso: o New Deal de Roosevelt, que gerou empregos a milhões de pessoas, reconstruindo a infra-estrutura da nação e, contestando os ataque de “socialismo” estabeleceu a previdência social. Isso poderia ser levado mais longe, com “seguro de saúde” – previdência de saúde gratuita – para todos.
Isso tudo vai custar mais de 700 bilhões. Mas o dinheiro está aí. No orçamento militar de 600 bilhões de dólares, uma vez que decidirmos que não seremos uma nação promotora de guerra. E nas contas bancárias infladas dos super-ricos, tributando vigorosamente tanto suas rendas como seus patrimônios.
Quando o grito aumenta, tanto por parte dos republicanos quanto dos democratas, que isso não pode ser feito, por causa do “governo forte” que implica, os cidadãos deveriam gargalhar, apenas. E daí agitar e organizar-se em nome daquilo que a Declaração de Independência prometeu: de que é responsabilidade do governo garantir direitos iguais a todos “à vida, liberdade e busca da felicidade”.
Só uma abordagem ousada como essa poderá salvar a nação – não como um império, mas como uma democracia.
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