29 de novembro de 2024

A Geração Z é super estranha

Do monarquismo ao ecofascismo, as subculturas da internet deram origem a uma nova geração de "e-deologias". Amber Frost mergulha no significado da política dos Zoomers.

Amber A'Lee Frost


Há uma enorme diferença entre a maneira como os Zoomers "se encontram" e a maneira como aqueles que chegaram à maioridade antes deles o fizeram: eles o fazem online, anonimamente e em segredo. (Matt Cardy / Getty Images)

Tradução / Desde fevereiro de 2023, o artista, professor universitário e escritor de cultura da internet Joshua Citarella tem conduzido entrevistas com uma ampla gama de sujeitos que formaram suas posições políticas a partir de subculturas da internet. Seria uma simplificação grosseira dizer que suas chamadas “e-deologias” abrangem amplamente “o espectro político”, já que a verdadeira marca registrada de uma e-deologia não é tanto o quão de direita ou de esquerda ela é, mas sua tendência a coletar respectivas idiossincrasias e qualificações barrocas. Esses não são meramente republicanos e democratas, ou conservadores e liberais, ou mesmo socialistas e libertários. Esses são autoidentificados “monarquistas pan-constitucionais”, “transumanistas antidemocráticos”, “eleitoralistas anarco-primitivistas”, “islamo-nacionalistas”, “voluntaristas agrários”, “eco-fascistas” e muitas outras permutações aparentemente infinitas de ideias de boutique.

Aqui estão alguns trechos de um desses entrevistados, anonimizado pelo seu nome de tela “PapaCoomer”, um “terceiro-posicionista”, também conhecido como “fascista”:

Como você descreveria sua política ou ideologia?
Terceira posição.
Como você descreveria sua política ou ideologia?
Terceira posição.
Quem são suas maiores influências?
Hans Hermann Hoppe, James Mason, William Luther Pierce e Mencius Moldbug.
Quando você conheceu ou começou a visitar comunidades políticas online?
2017.

Citarella entrevista Zoomers, o que explica por que outro de seus entrevistados, um jovem de dezesseis anos do Texas, pode dizer que os empregos de um futuro não muito distante serão “guerrilheiro, escravo neoliberal, mestre neoliberal” com uma cara séria. Essa pessoa disse a Citarella que visita comunidades online desde 2016. Se estiverem dizendo a verdade, isso significa que tinham nove anos de idade, no máximo. E se forem verdadeiros, têm sido “politicamente ativos” offline também, embora isso não seja tratado. Eles não dizem se suas mães tiveram que levá-los.

Dizer que o extremismo de direita e a radicalização reacionária e, sim, até mesmo o fascismo estão “em ascensão” entre os jovens estadunidenses precisar vir com algum contexto. É preocupante? Certamente. Estou com medo de camisas-pardas da Geração Z batendo na minha porta no meio da noite e me prendendo nos campos de servidores de Bitcoin? Na verdade, não, por algumas razões.

Alguns comentários do nosso querido texano de dezesseis anos:

Como você descreveria sua política ou ideologia?
A ideologia está morta. Eu só trabalho para colapsar o sistema atual para que um novo possa surgir das cinzas do antigo.
Como você descreveria sua política ou ideologia?
Terceira posição.
Quem são suas maiores influências?
Ted Kaczynski, Nick Land, James Mason.

E então temos as previsões, feitas com a máxima confiança.

Que mudanças você quer ver nos próximos dez anos?
O colapso dos Estados Unidos, a conscientização em massa sobre o atual estado global, a rejeição dos ideais neoliberais e iluministas.
Que mudanças você quer ver nos próximos quarenta anos?
Colapso do sistema global, retorno do estilo de vida agrário, uma solução viável para as mudanças climáticas.

Não importa se você acha essas respostas cômicas ou angustiantes, eu não confiaria muito na longevidade delas.

Nosso aceleracionista júnior nem sempre foi um adepto do que eles chamam de “pensamento antissistêmico”. Eles se identificaram como marxistas-leninistas em 2016 — quando tinham oito anos de idade. Eles pularam muito, dizendo: “Eu fui anarquista, fascista, comunista, etc.”

Simplesmente não é muito provável que o que você acredita aos dezesseis anos dure até a idade adulta. Os jovens são muito inconstantes, e não há como prever onde suas paixões impetuosas os levarão. Eles não apenas mudam de ideia muito, como as mudam drasticamente, o que não é nada notável para quem se lembra de ser adolescente, sendo o capricho uma marca registrada da juventude. Veja “J”, um autointitulado “reacionário” de 22 anos. Ele era um apoiador de Bernie Sanders em 2016. Ou “R”, que se identifica como anarcocomunista, mas era ecofascista em 2019 — quando tinha onze anos.

Crianças e jovens adultos estão sempre experimentando chapéus, testando suas crenças e identidades enquanto cultivam o tipo de narcisismo com nuances que os jovens sempre estabeleceram para si mesmos, frequentemente sendo antissociais e, mais frequentemente, sendo seletivamente sociais. Afinal, essas sub-sub-subculturas online são uma maneira dessa garotada encontrar amigos tanto quanto uma maneira de se sentirem únicos.

Ainda assim, é improvável que eles se organizem, mesmo dentro de suas próprias fileiras. Há uma grande diferença entre a maneira como os Zoomers “se encontram” e a maneira como aqueles que chegaram à maioridade antes deles o fizeram: eles estão fazendo isso online, anonimamente e em segredo, sem espaço físico para os reunir e sem o perigo de encontrar alguém com quem não queiram falar. Extremamente online é a norma. É meio difícil fazer uma Kristallnacht se você não sai.

Mesmo que eles se envolvessem em ambientes sociais, indo tão longe a ponto de tentar evangelizar seus pares, esses fascistas teóricos juniores altamente alfabetizados encontrariam alguns obstáculos durante qualquer tentativa de recrutamento. Seja atleta, punk rocker, candidato a orador da turma, garoto do teatro, maconheiro ou qualquer outro clichê de John Hughes que nunca chegou perto de representar como nos víamos ou uns aos outros, os adolescentes ficariam perplexos, revirariam os olhos ou pelo menos sorririam um pouco ao encontrar tal pessoa. Não é que toda escola não tivesse intelectuais aspirantes a figuras sérias, mas eles eram apenas alguns; eles eram sempre marginais e quase sempre amadureciam e cresciam a partir disso.

Certamente, as coisas mudaram desde os dias do Myspace, mas ainda é difícil imaginar um dos e-deólogos de dezesseis anos de Citarella em uma pista de skate, uma festa, um evento esportivo ou alguma outra situação em que eles possam estar cercados por colegas, como pregadores de rua maníacos, evangelizando suas crenças políticas altamente específicas e incrivelmente nichadas, com citações de teóricos alemães mortos, reunindo seus pares adolescentes com discussões sérias.

Veja, essas crianças são nerds.

Isso não quer dizer que nerds não possam ser perigosos — Elon Musk e Jeff Bezos têm sido mais vorazmente eficazes em concentrar riqueza do que qualquer barão ladrão antes deles. Até mesmo nerds liberais como George Soros e Bill Gates avançaram algumas políticas neoliberais verdadeiramente hediondas em todo o mundo. Mas essa garotada nem pode votar ainda, então não é muito provável que deponham nossos senhores da tecnologia e assumam seus tronos tão cedo, se algum deles quisesse fazer isso, ou quisesse quando tivessem os meios para inventar algum aplicativo insidioso.

O problema de ser fascista nos EUA é que nunca tivemos um Estado muito orientado a projetos específicos. Essencialmente, eles enfrentam o mesmo obstáculo que os socialistas: o capital.

Nós realmente não construímos instituições políticas ou veículos para economias planejadas ambiciosas, muito menos algo tão ordenado quanto um Estado étnico. Os EUA modernos sempre preferiram a exploração ao genocídio e ao autoritarismo absoluto. E tendemos a ser atores passivos nos genocídios cometidos por outros países. Claro, terceirizamos isso para Estados proxy sabotando seus movimentos de esquerda — por exemplo, armando a América Latina e Israel na Guerra Fria, ou fazendo negócios com os nazistas, como Prescott Bush fez — mas a verdade que permanece é que qualquer um que alegue ser fascista na América é um estranho eurófilo, doente mental ou tem quinze anos.

A ideia do fascismo estadunidense vai contra o capitalismo. Não me entenda mal: no que diz respeito aos Estados contemporâneos, provavelmente somos os melhores quando se trata de permitir o fascismo no exterior, e no que diz respeito aos países desenvolvidos, nossa estrutura neoliberal é única e excepcionalmente cruel, opressiva e exploradora para com os próprios estadunidenses. Mas, me perdoem o pedantismo, o fascismo não será implementado nos bons e velhos EUA tão cedo pela mesma razão que o socialismo também não: nem existem aqui as instituições ou a base para desafiar o capitalismo. Nossa “elite do mal” é uma fera diferente, e qualquer um que tente derrubá-la não tem meios para fazê-lo. Não temos força de trabalho militante, e não temos tropas de assalto. Em vez disso, temos o Estado profundo e a Amazon, e os “partidos” Republicano e Democrata — nenhum dos quais é um partido real com membros cidadãos exercendo qualquer tipo de controle democrático.

Seja para a Juventude Hitlerista ou para a Liga dos Jovens Comunistas, as coisas parecem bem sombrias, o que ajuda muito a explicar as inclinações niilistas, se não totalmente milenaristas, desses radicais infantis. Eles realmente não parecem ter muita esperança na política. Há aberturas para a revolução, mas ela tende a ser irreverente, e você realmente tem que duvidar de sua continuidade. O aceleracionismo parece estar bem popular nesta temporada, mas isso não é realmente política; são expectativas reduzidas e sonhos encolhidos, a esperança de que talvez algum tipo de deus ex machina inevitável nos tire dessa confusão. À medida que envelhecem, alguns deles também desistem disso.

Vamos voltar para J, o quase Bernie Bro de 22 anos que se autoidentificou como “reacionário”.

Ele posta anonimamente, é claro, porque tem um emprego e mantém várias contas no Instagram para compartilhar conteúdo reacionário, caso seja sinalizado por algo que o algoritmo aprende a identificar como discurso de ódio, como o Sol Negro, um símbolo nazista popular entre os supremacistas brancos.

J não é branco, é hindu. Então como conciliar o sol negro com sua própria religião e designação racial? Ele não concilia. Raramente parece achar que é importante. Assim como aquele antigo pessoal que formou motoclubes ou os Sex Pistols ou Siouxsie Sioux, ele parece ser atraído pela subversão envolvida.

Ele é rápido em dizer que tem outros conteúdos online que segue: fóruns de estilo de vida fitness e exercícios, vídeos fofos de animais no YouTube e assim por diante. Então, quando ele diz: “Se eu quisesse me descrever como alguém nas redes, diria que sou um reacionário”, ele está dizendo que formou uma identidade com base nas redes sociais que consome, não nas ações que realiza, assim como seus amigos brancos reacionários online que não têm interesse em expulsar seu compatriota não branco. Ele deixa claro que, embora seja possível para a internet reacionária (e a única aula de ciência política que teve na faculdade) transformar sua visão de mundo, não tem planos de fazer nada a respeito, especialmente quando sua relação com a ideologia é uma parte tão tênue e mercurial de sua identidade geral, o que levanta a questão: você é realmente um nazista se vídeos fofos de animais estão no mesmo nível de sua política? E você realmente faz parte de um movimento nazista se nem sai para marchar?

J é inteligente e atencioso o suficiente para saber que o “discurso” é um hobby. Ele não requer nenhum engajamento ou atividade no mundo real, ou mesmo crença sincera. Ele simplesmente não leva isso a sério; cresceu fora disso.

Mesmo que eles persistam, mesmo que o capital tropece bastante e as condições se tornem maduras, essa garotada não é realmente fascista. Eles estão entediados, solitários, assustados e sem esperança. Eles não têm para onde ir, ninguém com quem estar e nada para fazer politicamente e, cada vez mais, socialmente. Vale sempre a pena ter em mente que a maioria dos Zoomers não está pensando em ideologia. Por que estariam? Como se o caos universal e atemporal de crescer já não fosse o suficiente — reprovar em um teste, sofrer seu primeiro término, aprender a dirigir, tentar se encaixar enquanto também tenta se destacar — a internet fornece distrações constantes e bem-vindas da escassez de possibilidades que eles estão convencidos de que está gravada em pedra.

Esse é o verdadeiro perigo aqui, a verdadeira tragédia: uma descontentamento e atomização que impede o engajamento político necessário para um mundo melhor. Tudo o que eles podem fazer é experimentar chapéus bobos e feios.

Fascistas? Na verdade, não. Não mais do que seus equivalentes são maoístas-sindicalistas-aceleracionistas-anarco-católicos-tradicionalistas. Mas os jovens definitivamente não estão bem, e cabe a nós dar a eles não apenas algo em que acreditar, mas algo para fazer. Admito que é uma tarefa muito difícil hoje em dia, mas ainda tenho esperança. O que posso dizer? Sou um velho romântico.

Republicado do Tribune.

Colaborador

Amber A’Lee Frost é escritora e coapresentadora do podcast Chapo Trap House. Ela é autora do novo livro Dirtbag: Essays.

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