Renato Machado
Ricardo Della Coletta
Folha de S.Paulo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu nesta terça-feira (30), ao lado de 11 líderes sul-americanos, a integração da região e o legado da Unasul (União de Nações Sul-Americanas).
Lula disse ainda que os interesses que unem os países "estão acima de divergências ideológicas", uma reação às críticas de que a reativação do órgão responde a um contexto de viés à esquerda na região.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa na abertura de cúpula com líderes da América do Sul, no Palácio do Itamaraty, em Brasília - Evaristo Sá/AFP |
"Permitir que as divergências se imponham teria um custo elevado, além de desperdiçar o muito que já construímos conjuntamente", disse o petista. Na linha de discursos anteriores, também propôs a criação de uma "unidade de referência comum para o comércio", para tentar reduzir a dependência do dólar.
A declaração aconteceu na abertura do encontro com representantes de todos os países da América do Sul, em Brasília, uma iniciativa do próprio Lula na busca de um novo modelo de integração regional.
Lula também usou a fala de abertura para se referir aos ataques golpistas de 8 de janeiro, quando as sedes dos Três Poderes no Brasil foram depredadas por bolsonaristas, ao dizer que as ofensivas a instituições democráticas "ofereceram uma trágica síntese da violência de grupos extremistas, que se valem de plataformas digitais para promover campanhas de desinformação e discursos de ódio".
Participaram da reunião Alberto Fernández (Argentina), Luís Arce (Bolívia), Gabriel Boric (Chile), Gustavo Petro (Colômbia), Guillermo Lasso (Equador), Irfaan Ali (Guiana), Mário Abdo Benítez (Paraguai), Chan Santokhi (Suriname), Luís Lacalle Pou (Uruguai) e Nicolás Maduro (Venezuela).
Apenas a presidente do Peru, Dina Boluarte, não compareceu à reunião, por estar legalmente impedida de deixar o país. Ela foi representada pelo presidente do Conselho de Ministros, Alberto Otárola.
O governo brasileiro buscava inicialmente relançar a Unasul, mas hoje há resistência de alguns países que consideram o organismo guiado apenas por ideologia. O órgão foi lançado em 2008, em um período considerado a época de ouro da esquerda sul-americana. Além de Lula, eram presidentes na ocasião alguns dos expoentes dessa corrente na região, como Cristina Kirchner (Argentina) e Hugo Chávez (Venezuela). O objetivo era criar um mecanismo regional sem a influência dos Estados Unidos.
O petista fez diversas referências à Unasul em seu pronunciamento e defendeu o legado da entidade, classificado por ele de "patrimônio coletivo". "Lembremos que ela [a Unasul] está em vigor. Sete países ainda são membros plenos. É importante retomar seu processo de construção." Apesar do aceno, afirmou também que é necessário "avaliar criticamente o que não funcionou e levar em conta essas lições", num reconhecimento das dificuldades para chegar a um consenso em torno do relançamento da organização.
Lula afirmou ainda que não pretende dizer aos países qual será o formato de integração, mas defendeu "mecanismos de coordenação flexíveis, que confiram agilidade e eficácia na execução de iniciativas". Nesse sentido, sugeriu que o modelo de integração não seja regido pela regra de consenso em todas as suas decisões, mas que ela se aplique apenas a "temas substantivos". Para o presidente brasileiro, isso é importante para evitar que "impasses nas esferas administrativas paralisem nossas atividades".
Ao final de sua fala, Lula propôs ainda a mobilização de bancos de fomento como CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina), Fonplata (Fundo Financeiro para Desenvolvimento da Bacia do Prata) e BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social); convergência regulatória; ação coordenada para o combate à crise climática; reativação do Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde; constituição de um mercado sul-americano de energia e investimento na mobilidade regional de estudantes e pesquisadores, além da retomada da cooperação na área de Defesa.
Dada a resistência à Unasul, Lula já vem amenizando o discurso e trabalha com a possibilidade de criação de um novo órgão ou mesmo de um fórum de discussões permanente. O líder brasileiro inclusive já havia diminuído as expectativas de um anúncio mais concreto ao fim do encontro desta terça-feira.
Durante reunião com Maduro, na segunda (29), o petista afirmou que a cúpula "não decide nada" e é "uma prospecção de possibilidade". Afirmou ainda que a própria Unasul foi discutida por mais de quatro anos antes de se concretizar. "A ideia central é que precisamos formar um bloco para trabalharmos juntos, na questão econômica, de investimento, de meio ambiente. Isso não é difícil porque temos mais ou menos os mesmos problemas. Então eu penso que vamos ter sucesso amanhã na primeira reunião", disse Lula.
Logo após o petista, o presidente da Argentina, Alberto Fernández criticou durante a reunião o processo de desarticulação na América Latina, argumentando que ela segue uma lógica imposta pelos EUA. "Acabamos de vivenciar um processo impressionante de desarticulação na América Latina. Não posso deixar de mencionar como foram [para a região] os anos de Donald Trump na Presidência dos EUA."
O líder argentino também afirmou que o Grupo de Lima, fórum criado e integrado por quase todos os países da região durante o período de governos liderados por nomes mais à direita, tinha o único propósito de realizar uma "intervenção militar em um país sul-americano", uma referência à Venezuela
A declaração aconteceu na abertura do encontro com representantes de todos os países da América do Sul, em Brasília, uma iniciativa do próprio Lula na busca de um novo modelo de integração regional.
Lula também usou a fala de abertura para se referir aos ataques golpistas de 8 de janeiro, quando as sedes dos Três Poderes no Brasil foram depredadas por bolsonaristas, ao dizer que as ofensivas a instituições democráticas "ofereceram uma trágica síntese da violência de grupos extremistas, que se valem de plataformas digitais para promover campanhas de desinformação e discursos de ódio".
Participaram da reunião Alberto Fernández (Argentina), Luís Arce (Bolívia), Gabriel Boric (Chile), Gustavo Petro (Colômbia), Guillermo Lasso (Equador), Irfaan Ali (Guiana), Mário Abdo Benítez (Paraguai), Chan Santokhi (Suriname), Luís Lacalle Pou (Uruguai) e Nicolás Maduro (Venezuela).
Apenas a presidente do Peru, Dina Boluarte, não compareceu à reunião, por estar legalmente impedida de deixar o país. Ela foi representada pelo presidente do Conselho de Ministros, Alberto Otárola.
O governo brasileiro buscava inicialmente relançar a Unasul, mas hoje há resistência de alguns países que consideram o organismo guiado apenas por ideologia. O órgão foi lançado em 2008, em um período considerado a época de ouro da esquerda sul-americana. Além de Lula, eram presidentes na ocasião alguns dos expoentes dessa corrente na região, como Cristina Kirchner (Argentina) e Hugo Chávez (Venezuela). O objetivo era criar um mecanismo regional sem a influência dos Estados Unidos.
O petista fez diversas referências à Unasul em seu pronunciamento e defendeu o legado da entidade, classificado por ele de "patrimônio coletivo". "Lembremos que ela [a Unasul] está em vigor. Sete países ainda são membros plenos. É importante retomar seu processo de construção." Apesar do aceno, afirmou também que é necessário "avaliar criticamente o que não funcionou e levar em conta essas lições", num reconhecimento das dificuldades para chegar a um consenso em torno do relançamento da organização.
Lula afirmou ainda que não pretende dizer aos países qual será o formato de integração, mas defendeu "mecanismos de coordenação flexíveis, que confiram agilidade e eficácia na execução de iniciativas". Nesse sentido, sugeriu que o modelo de integração não seja regido pela regra de consenso em todas as suas decisões, mas que ela se aplique apenas a "temas substantivos". Para o presidente brasileiro, isso é importante para evitar que "impasses nas esferas administrativas paralisem nossas atividades".
Ao final de sua fala, Lula propôs ainda a mobilização de bancos de fomento como CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina), Fonplata (Fundo Financeiro para Desenvolvimento da Bacia do Prata) e BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social); convergência regulatória; ação coordenada para o combate à crise climática; reativação do Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde; constituição de um mercado sul-americano de energia e investimento na mobilidade regional de estudantes e pesquisadores, além da retomada da cooperação na área de Defesa.
Dada a resistência à Unasul, Lula já vem amenizando o discurso e trabalha com a possibilidade de criação de um novo órgão ou mesmo de um fórum de discussões permanente. O líder brasileiro inclusive já havia diminuído as expectativas de um anúncio mais concreto ao fim do encontro desta terça-feira.
Durante reunião com Maduro, na segunda (29), o petista afirmou que a cúpula "não decide nada" e é "uma prospecção de possibilidade". Afirmou ainda que a própria Unasul foi discutida por mais de quatro anos antes de se concretizar. "A ideia central é que precisamos formar um bloco para trabalharmos juntos, na questão econômica, de investimento, de meio ambiente. Isso não é difícil porque temos mais ou menos os mesmos problemas. Então eu penso que vamos ter sucesso amanhã na primeira reunião", disse Lula.
Logo após o petista, o presidente da Argentina, Alberto Fernández criticou durante a reunião o processo de desarticulação na América Latina, argumentando que ela segue uma lógica imposta pelos EUA. "Acabamos de vivenciar um processo impressionante de desarticulação na América Latina. Não posso deixar de mencionar como foram [para a região] os anos de Donald Trump na Presidência dos EUA."
O líder argentino também afirmou que o Grupo de Lima, fórum criado e integrado por quase todos os países da região durante o período de governos liderados por nomes mais à direita, tinha o único propósito de realizar uma "intervenção militar em um país sul-americano", uma referência à Venezuela
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