14 de outubro de 2024

A fracassada tentativa da França para salvar seu império

Na década de 1950, a França se envolveu em um esforço ambicioso para modernizar seu império ao adotar costumes locais e promover um governo regional em suas colônias. O livro Revolutionary Warfare, de Terrence Peterson, descreve essa tentativa fracassada de criar uma ideologia moderna para o colonialismo.

Charlie Taylor

Jacobin

A polícia enfrenta uma multidão em Argel em 1960, durante a Guerra da Argélia. (Dominique Berretty / Gamma-Rapho via Getty Images)

Resenha do livro Revolutionary Warfare: How the Algerian War Made Modern Counterinsurgency [Guerra Revolucionária: Como a Guerra da Argélia Criou a Contrainsurgência Moderna], de Terrence G. Peterson (Cornell University Press, 2024)

Tradução / Dois anos após a invasão estadunidense do Afeganistão e no início de sua campanha no Iraque, a equipe de operações especiais do Pentágono exibiu o filme de Gillo Pontecorvo de 1965, A Batalha de Argel, para seus funcionários. Um folheto que acompanhava a exibição explicava que ele fornecia uma visão de como os militares franceses puderam “vencer uma batalha contra o terrorismo e perder a guerra de ideias”. Aos olhos do Departamento de Defesa dos EUA, a incapacidade de conquistar os corações e mentes da população argelina havia desfeito o sucesso militar dos esforços de contrainsurgência franceses contra a Front de Libération Nationale [Frente de Libertação Nacional] (FLN). Consequentemente, a guerra parecia fadada ao fracasso desde o início.

Tal interpretação do conflito argelino tem prevalecido de modo frequente na historiografia anglófona da revolução. No entanto, como o historiador Terrence G. Peterson mostra em seu novo livro Revolutionary Warfare, a noção de uma vitória militar precedida por uma perda política foi perpetuada pelo próprio exército francês. Isso se deu em grande parte por conta da proatividade dos oficiais militares franceses em teorizar sobre e promover a Guerra da Argélia como um grande ponto de virada das regras do conflito global na década de 1960. A paranoia da Guerra Fria, o declínio imperial e uma avalanche de ameaças comunistas explícitas se combinaram em um coquetel tóxico. Sob sua influência, os partidários da direita se mostraram incapazes de obter qualquer vantagem racional na guerra. Os movimentos anticoloniais e de libertação do Vietnã ao Norte da África puseram questões novas e fundamentais aos remanescentes do Estado colonial francês. Como você trava uma guerra contra um inimigo que se esconde nas sombras, é apoiado por comunidades rurais e é constituído por insurgências geograficamente distintas?

Como não salvar um império

Uma doutrina completamente nova de contrainsurgência surgiu em grande parte como resposta a essas questões. Peterson argumenta que o Estado francês, ao contrário de sua própria propaganda, não era necessariamente um poder puramente reativo tentando desesperadamente recuperar sua posse imperial diante da mobilização de um movimento clandestino. Em vez disso, ele havia redesenhado a própria competência do papel militar sobre a sociedade argelina. Esta não era simplesmente uma guerra para subjugar os insurgentes argelinos, mas uma tentativa de transformar a sociedade argelina à imagem da metrópole. A visão da administração colonial francesa era que a única maneira de manter os interesses de seu país era usar a espada para mobilizar e transformar a sociedade argelina.

No bojo do livro de Peterson está um contra-argumento às narrativas tradicionais de reforma social do pós-guerra. A mesma retórica que justificou a construção de uma suposta modernidade progressista de cima para baixo após 1945 foi simultaneamente usada para justificar o entrincheiramento do domínio colonial no Norte da África. Como Peterson nos lembra, “o projeto modernizador no cerne da reconstrução do pós-guerra ofereceu uma estrutura convincente para entender e combater o colapso da ordem colonial”. Se a privação, a pobreza e a negligência administrativa pareciam impulsionar o apoio à política radical na metrópole, então certamente, aos olhos das autoridades francesas, as desigualdades dramáticas, as frustrações políticas e a falta de autonomia no contexto colonial poderiam ser remediadas por meio de uma grande reforma socioeconômica. No processo, as autoridades francesas a favor da reintegração da Argélia ao rebanho da França buscaram aplacar o nacionalismo por meio de uma aceitação incondicional da modernidade.

Na prática, a formulação de políticas e ações militares logo se desenvolveram em uma política coerente de “pacificação”, na qual a reforma social andava de mãos dadas com a ação armada contra os rebeldes da FLN. Durante esse processo, os militares franceses viriam a teorizar o papel da contrainsurgência como uma ferramenta de modernização para “pacificar” a sociedade argelina. Adotoram algumas das ideias defendidas por humanistas metropolitanos liberais, como Germaine Tillion, que argumentou em Les ennemis-complémentaires (1960) que uma ampla reforma social, educacional e de direitos civis poderia acabar com a guerra e manter a Argélia como parte da França. Tillion não só tinha a atenção de reformadores como o governador-geral Jacques Soustelle, mas também foi apoiado por uma corrente reformista na esteira do sucesso militar da FLN. Logo pareceu que apenas a derrota militar e a transformação social poderiam acabar com a guerra em favor dos interesses franceses.

Apesar de sua suposta justificativa humanitária, Peterson encontra nesse liberalismo modernizador um tipo de regressão às normas do século XIX: uma visão utópica da regeneração do Estado colonial, ditada por um profundo mal-entendido da sociedade colonial fraturada e rompida que os oficiais militares franceses estavam tentando “pacificar” para trazer o progresso. Sem reverter completamente à “missão civilizadora” de meados do século XIX, o projeto colonial de última hora compartilhava um conjunto semelhante de preconceitos e uma crença subjacente na capacidade da França garantir, de forma benevolente, os interesses dos argelinos comuns.

Ao assumir o poder como governador-geral em 1955, Jacques Soustelle delineou uma série de reformas dramáticas e abrangentes para o Estado colonial. As autoridades francesas da metrópole, ele argumentou, “perderam contato” com os argelinos comuns. Em suas palavras, o Estado colonial precisava de um realinhamento rápido: treinamento em línguas e costumes locais para reconstruir relacionamentos negligenciados com comunidades rurais e distintas. A ideia de “elevar” a sociedade argelina para anular o descontentamento político não era uma ruptura com a crença essencialista na superioridade moral francesa. Ela forneceu uma maneira de justificar a negação das demandas políticas argelinas em favor do fortalecimento do governo francês.

À medida que a guerra continuava a se desenvolver, um aparato militar cada vez mais paranoico buscava estender sua autoridade sobre a administração civil na colônia, se tornando com o tempo um garantidor de reformas políticas e sociais, bem como impondo a ordem por meio de grande violência. Novas unidades militares como as Sections Administratives Spécialisées (SAS) permitiram que oficiais militares entrassem em regiões remotas para distribuir ajuda material, fornecer assistência médica, organizar escolas, reabrir mercados e construir infraestrutura, tudo isso enquanto entrincheiravam sua vigilância da população local para procurar agentes da FLN. O escritório de assuntos argelinos, que supervisionava as unidades SAS, até mesmo se modelou conscientemente em uma imagem mitificada dos Bureaux Arabes do final do século XIX. A imagem romântica de oficiais militares independentes e diretos que poderiam preencher a lacuna entre o Estado colonial sem brilho e os argelinos descontentes era um símbolo poderoso do propósito renovado dos militares.

Essa posição arraigada de reforma social por meio da guerra logo, como Peterson mostra, tornou-se uma política coesa de “pacificação” social. A Argélia estava se tornando, para as autoridades francesas, não apenas um campo de batalha para os interesses franceses, mas uma chave para combater a crescente ameaça comunista global à espreita. Para figuras mais extremas como Lionel-Max Chassin, cooptar a estratégia da FLN era primordial: “Para uma luta baseada na subversão, devemos opor as mesmas armas. Contra a fé, fé; à propaganda, propaganda; a uma ideologia insidiosa e poderosa, uma ideologia superior capaz de conquistar os corações dos homens.”

A partir de 1957, autoridades francesas começaram a definir agressivamente a adoção da modernidade francesa como uma condição essencial para a estabilidade social na colônia, projetando uma visão de uma Algérie nouvelle — um suposto afrouxamento do Estado colonial em favor de um futuro integracionista e progressista. Ao justapor caricaturas da FLN como destrutiva, retrógrada e cruel contra uma série de reformas que abririam caminho para um futuro igualitário com a França, a obediência ao Estado francês se tornou um sinônimo para o movimento de modernização que viria. Um folheto de propaganda distribuído às comunidades argelinas explicou que “a França gastará 300 bilhões na manutenção da ordem ou na construção de uma nova Argélia: ESCOLHA”. O caminho para a “modernidade” não foi definido apenas pela França, mas a promessa de uma rápida transformação foi baseada na subserviência política.

Junto com essa visão de uma Algérie nouvelle, os militares construíram um vasto aparato de infraestrutura política de base pró-francesa. Um exemplo que Peterson destaca foi o sistema de foyers sportifs para tentar conquistar jovens argelinos, que eram vistos como particularmente suscetíveis a se juntar à FLN. Em uma tentativa de tirar os homens das ruas e colocá-los nas pistas, as autoridades francesas construíram grupos esportivos liderados por jovens argelinos treinados como “monitores de jovens”. Quase espelhando os frenesis revanchistas do século XIX em torno da saúde pública e da criação de clubes esportivos e de ginástica após a derrota na Guerra Franco-Prussiana, o uso dos esportes foi reformulado para criar um senso de coesão política e lealdade à França. Embora os motivos para se juntar e participar de esportes sejam muito multifacetados para se saber realmente, o programa teve algum sucesso. A partir de 1957, sob o capitão de cavalaria René Henri Fombonne, os grupos esportivos foram expandidos para um sistema de clubes. No Dia da Bastilha de 1957, cerca de quinhentos participantes marcharam ao lado do exército em seus trajes esportivos pela via principal de Constantino.

O processo de criação de uma sociedade colonial paralela baseada em uma modernidade igualitária ligada à França foi um fracasso. No entanto, os interesses de Peterson residem na extensão em que o Estado francês se mobilizou para transformar rapidamente um aparato colonial que parecia estar oscilando à beira de um abismo. Programas sociais, ajuda e reforma foram adotados, não como meios progressistas para transformar a sociedade, mas para consolidar a coerção e o controle social. Uma área cinzenta entre as autoridades militares e civis só se expandiu conforme a guerra progredia. Embora esses projetos tenham falhado em seus próprios termos, o império em declínio provou ser um laboratório útil para autoridades estatais interessadas em contrainsurgência.

Colaborador

Charlie Taylor é um escritor que vive em Suffolk e Paris.

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