Thiago Amâncio
Depois de o Partido Democrata assegurar uma vitória significativa e garantir a manutenção do controle do Senado pelos próximos dois anos, seus rivais republicanos confirmaram nesta quarta-feira (16) a maioria na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, como previam as pesquisas.
A nova configuração altera a governabilidade do presidente Joe Biden entre os deputados na segunda metade de seu mandato. A composição geral do Legislativo, porém, ainda garante algum fôlego ao democrata, que estava sob risco de perder o controle das duas Casas em meio a um momento de baixa em sua popularidade.
O Partido Republicano alcançou a marca de 218 deputados eleitos nas midterms, eleições de meio de mandato, com as projeções das emissoras americanas para o 27º distrito da Califórnia. O pleito, realizado no último dia 8, renova toda a Câmara e um terço do Senado, entre outros cargos estaduais.
O deputado Kevin McCarthy discursa a correligionários em eleição interna para a liderança republicana na Câmara - Alex Wong - 15.nov.22/Getty Images/AFP |
Com a nova maioria na Câmara, a democrata Nancy Pelosi, aliada de Biden e notória opositora de Donald Trump, deixará a presidência da Casa. Há a expectativa de que Kevin McCarthy (também da Califórnia), líder da minoria reeleito nesta terça, seja indicado para o posto.
Logo após as projeções desta quarta, Biden divulgou comunicado em que afirma que as eleições demonstraram "a força e a resiliência" da democracia americana. "Houve forte rejeição aos negacionistas das eleições, à violência política e à intimidação. Houve uma afirmação enfática de que, nos EUA, prevalece a vontade do povo", diz a nota.
Biden parabenizou McCarthy e afirmou estar "pronto para trabalhar" com os deputados do partido adversário. "Eleitores expressaram claramente suas preocupações: a necessidade de reduzir custos, proteger o direito de escolha e preservar nossa democracia. O futuro é muito promissor para ficar preso a uma guerra política. Trabalharei com qualquer um disposto a trabalhar comigo para entregar resultados para a população."
Sem maioria, o presidente terá mais dificuldade em aprovar projetos caros a sua agenda, como pacotes de combate à crise do clima e controle do acesso a armas. Também deve ver republicanos abrirem comissões de investigação contra a gestão federal, à semelhança da que apura o ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio —que, aliás, corre o risco de ser suspensa; Trump havia sido intimado a depor ao colegiado até esta segunda (14).
Especula-se que as possíveis apurações mirem o processo caótico de retirada das tropas americanas do Afeganistão, negócios suspeitos de Hunter Biden, filho do presidente, e um suposto uso político do Departamento de Justiça em processos contra Trump.
A demora na definição do controle da Câmara se deveu sobretudo à contagem de votos na costa oeste do país, com muitas disputas extremamente concorridas na Califórnia, mas também no Arizona e em Colorado. No primeiro estado, há a possibilidade de que alguns distritos demorem semanas para definir o vencedor. No condado de Maricopa, onde fica a capital do Arizona, Phoenix, a verificação de cada uma das assinaturas dos votos feitos pelo correio também atrasou a contagem.
O quadro contrasta com o de midterms anteriores. Em 2018, por exemplo, a CNN conseguiu projetar que os democratas teriam o controle da Câmara às 23h do mesmo dia da eleição.
Perder o controle do Legislativo (ou de parte dele) no meio do mandato é comum. Desde Jimmy Carter (1977-1981), só George W. Bush (2001-2009) conseguiu manter maioria do Congresso nas midterms, em 2002, no pós-11 de Setembro —em 2006, em seu segundo mandato, porém, ele saiu derrotado. Mas o resultado no fim saiu melhor do que a encomenda para Biden.
Já era previsto há meses que os republicanos conquistariam a maioria na Câmara, mas a margem veio bem menor do que o esperado. Pesquisas de intenção de voto, analistas e os próprios políticos esperavam uma "onda vermelha" que traria uma maioria acachapante de oposição ao presidente ao Congresso, o que não se confirmou.
Democratas conseguiram manter cadeiras em estados em que levantamentos apontavam viradas republicanas, como as de Abigail Spanberger (Virgínia), Seth Magaziner (Rhode Island) e Chris Pappas (New Hampshire). Em três corridas apertadas do Texas, os democratas venceram duas.
Uma série de motivos ajuda a explicar o desempenho da legenda —e no topo da lista está o direito ao aborto. A Suprema Corte derrubou em junho decisão que garantia a interrupção voluntária da gravidez como direito constitucional, o que motivou uma série de eleitores a se registrar para votar em defesa do direito de escolha, mesmo em estados mais conservadores, impulsionando democratas.
Republicanos também culpam Trump por insistir em nomes radicais e sem experiência política, o que acabou afastando eleitores mais moderados. O desempenho fraco dos endossados pelo ex-presidente reorganizou a correlação de forças na legenda e ameaça até a nova candidatura dele, anunciada nesta terça.
O desempenho abaixo do esperado pode ser medido na comparação com as duas últimas vezes em que presidentes democratas viram derrotas nas midterms. Em 2010, nas primeiras de Barack Obama, os republicanos viraram 63 cadeiras. No começo do governo Bill Clinton, em 1994, 54. A mesma situação se deu quando os democratas retomaram o controle da Câmara em 2018, sob Trump, quando republicanos perderam 41 assentos.
Sem a Câmara, mas com o Senado, Biden fica na mesma situação do antecessor, o que é útil para evitar uma perda do cargo em uma eventual crise política grave —Trump teve dois impeachments aprovados na Câmara, mas barrados no Senado.
Logo após as projeções desta quarta, Biden divulgou comunicado em que afirma que as eleições demonstraram "a força e a resiliência" da democracia americana. "Houve forte rejeição aos negacionistas das eleições, à violência política e à intimidação. Houve uma afirmação enfática de que, nos EUA, prevalece a vontade do povo", diz a nota.
Biden parabenizou McCarthy e afirmou estar "pronto para trabalhar" com os deputados do partido adversário. "Eleitores expressaram claramente suas preocupações: a necessidade de reduzir custos, proteger o direito de escolha e preservar nossa democracia. O futuro é muito promissor para ficar preso a uma guerra política. Trabalharei com qualquer um disposto a trabalhar comigo para entregar resultados para a população."
Sem maioria, o presidente terá mais dificuldade em aprovar projetos caros a sua agenda, como pacotes de combate à crise do clima e controle do acesso a armas. Também deve ver republicanos abrirem comissões de investigação contra a gestão federal, à semelhança da que apura o ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio —que, aliás, corre o risco de ser suspensa; Trump havia sido intimado a depor ao colegiado até esta segunda (14).
Especula-se que as possíveis apurações mirem o processo caótico de retirada das tropas americanas do Afeganistão, negócios suspeitos de Hunter Biden, filho do presidente, e um suposto uso político do Departamento de Justiça em processos contra Trump.
A demora na definição do controle da Câmara se deveu sobretudo à contagem de votos na costa oeste do país, com muitas disputas extremamente concorridas na Califórnia, mas também no Arizona e em Colorado. No primeiro estado, há a possibilidade de que alguns distritos demorem semanas para definir o vencedor. No condado de Maricopa, onde fica a capital do Arizona, Phoenix, a verificação de cada uma das assinaturas dos votos feitos pelo correio também atrasou a contagem.
O quadro contrasta com o de midterms anteriores. Em 2018, por exemplo, a CNN conseguiu projetar que os democratas teriam o controle da Câmara às 23h do mesmo dia da eleição.
Perder o controle do Legislativo (ou de parte dele) no meio do mandato é comum. Desde Jimmy Carter (1977-1981), só George W. Bush (2001-2009) conseguiu manter maioria do Congresso nas midterms, em 2002, no pós-11 de Setembro —em 2006, em seu segundo mandato, porém, ele saiu derrotado. Mas o resultado no fim saiu melhor do que a encomenda para Biden.
Já era previsto há meses que os republicanos conquistariam a maioria na Câmara, mas a margem veio bem menor do que o esperado. Pesquisas de intenção de voto, analistas e os próprios políticos esperavam uma "onda vermelha" que traria uma maioria acachapante de oposição ao presidente ao Congresso, o que não se confirmou.
Democratas conseguiram manter cadeiras em estados em que levantamentos apontavam viradas republicanas, como as de Abigail Spanberger (Virgínia), Seth Magaziner (Rhode Island) e Chris Pappas (New Hampshire). Em três corridas apertadas do Texas, os democratas venceram duas.
Uma série de motivos ajuda a explicar o desempenho da legenda —e no topo da lista está o direito ao aborto. A Suprema Corte derrubou em junho decisão que garantia a interrupção voluntária da gravidez como direito constitucional, o que motivou uma série de eleitores a se registrar para votar em defesa do direito de escolha, mesmo em estados mais conservadores, impulsionando democratas.
Republicanos também culpam Trump por insistir em nomes radicais e sem experiência política, o que acabou afastando eleitores mais moderados. O desempenho fraco dos endossados pelo ex-presidente reorganizou a correlação de forças na legenda e ameaça até a nova candidatura dele, anunciada nesta terça.
O desempenho abaixo do esperado pode ser medido na comparação com as duas últimas vezes em que presidentes democratas viram derrotas nas midterms. Em 2010, nas primeiras de Barack Obama, os republicanos viraram 63 cadeiras. No começo do governo Bill Clinton, em 1994, 54. A mesma situação se deu quando os democratas retomaram o controle da Câmara em 2018, sob Trump, quando republicanos perderam 41 assentos.
Sem a Câmara, mas com o Senado, Biden fica na mesma situação do antecessor, o que é útil para evitar uma perda do cargo em uma eventual crise política grave —Trump teve dois impeachments aprovados na Câmara, mas barrados no Senado.
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