31 de março de 2022

Uma eleição histórica para o socialismo costarriquenho

O Partido Frente Amplio conquistou seis cadeiras nas eleições legislativas na Costa Rica, um número encorajador para o nono país mais desigual do mundo.

Brandon Guadamuz Villalobos

Jacobin

Manifestantes del Frente Amplio. (Foto: Edgardo Araya)

Em 6 de fevereiro, o Partido Frente Amplio conquistou seis cadeiras para a próxima Assembleia Legislativa da Costa Rica. A nova fração começará a legislar em 1º de maio de 2022 e se tornará a mais jovem bancada legislativa da história da Costa Rica. O novo grupo tem paridade de gênero e chegou ao Congresso por meio de uma campanha com retórica feminista, ambientalista e socialista.

Depois de ter obtido apenas uma cadeira na eleição anterior, a Frente Amplio vai agora trazer ao Congresso a cientista política Priscilla Vindas, de 27 anos, a economista Sofía Guillén, de 29, o educador Ariel Robles, de 30, o sociólogo Antonio Ortega, 32, o economista Jonathan Acuña, 32, e o filósofo Rocío Alfaro, 49.

Entre suas propostas durante a campanha eleitoral, destacaram a necessidade de promover uma renda mínima, garantir moradia popular, o desenho de impostos progressivos, o reconhecimento legal do vínculo empregatício entre entregadores e motoristas de plataformas digitais, a criação de empregos verdes para lutar contra a crise climática, a implementação de um bônus digital educacional, o combate à corrupção e o freio urgente às políticas de austeridade neoliberais. Além disso, a coalizão promove a legalização da cannabis recreativa e o aborto legal, seguro e gratuito.

No dia da votação, o grupo de deputados e mulheres recém-eleitos comemorou suas vitórias com mensagens de suas redes sociais. "Esta vaga é para todas as mulheres jovens, meninas, adultos mais velhos, trans, migrantes, bissexuais, lésbicas, racializadas, deficientes...", disse Priscilla Vindas. "Seremos um muro contra a corrupção e contra o desmantelamento do estado social de direito", foram as palavras de Sofía Guillén. "Teremos um pé nas ruas e comunidades e outro no parlamento", disse Ariel Robles. "Enquanto houver quem queira um mundo mais justo e solidário, há esperança", disse Jonathan Acuña. "Os jovens vão derrotar a corrupção, o machismo, o neofascismo e a injustiça social mais cedo ou mais tarde", escreveu Antonio Ortega. "Vamos defender os direitos, a vida e a dignidade de todas as mulheres", disse Rocío Alfaro.

O resultado positivo para o partido de esquerda centro-americano deve-se em parte à figura de José María Villalta, que era o candidato presidencial. Villalta foi deputado duas vezes e já havia sido candidato à presidência em 2014. O advogado e ambientalista apresentou sua candidatura sob o lema “Há esperança”, mas apesar de sua campanha inspiradora, os resultados não foram suficientes para ser eleito presidente. No entanto, seu excelente trabalho legislativo e liderança foram essenciais para que a Frente Amplio aumentasse suas cadeiras de uma para seis.

Agora a Costa Rica caminha para uma votação controversa e amarga para os setores progressistas. O segundo turno presidencial, a ser realizado em 3 de abril, colocará em confronto José María Figueres, ex-presidente acusado de corrupção que fugiu do país para não ser responsabilizado perante a justiça, e Rodrigo Chaves, ex-ministro da Fazenda que foi sancionado por assédio no Banco Mundial durante seu tempo como funcionário dessa organização. Ambas as candidaturas representam a continuidade do mesmo modelo neoliberal, machista e excludente.

Atualmente, a Costa Rica é o nono país mais desigual do mundo e o de maior desigualdade de renda da OCDE. Seu nível de pobreza atinge 23% dos domicílios, e a extrema pobreza, 6,3%. É também o terceiro país com mais violência de gênero e a maior taxa de desemprego juvenil da OCDE.

O cenário socioeconômico não é animador para o país centro-americano, por isso os jovens costarriquenhos se aproximaram da ideia de que o socialismo não é o sistema ineficiente e autoritário que nos ensinaram na escola. Diante de um sistema econômico que não garante emprego, moradia ou pensões, e diante da ameaça existencial das mudanças climáticas, a juventude não encontra motivos para continuar defendendo o neoliberalismo capitalista, optando cada vez mais por representantes socialistas no parlamento.

A bancada da Frente Amplio terá a responsabilidade de legislar de acordo com as expectativas de seus eleitores, que depositaram suas esperanças em uma Costa Rica mais justa e solidária nas urnas. Enquanto isso, a militância do partido tem a responsabilidade de consolidar e ampliar suas bases. O apoio da Frente Amplio hoje está localizado principalmente na Grande Região Metropolitana, com pouco alcance na periferia do país. O partido perdeu sua base mais comunitária, relacionada à política dos territórios, e agora seu apoio vem de jovens, com formação universitária, residentes em centros urbanos.

Embora sua base de apoio atual não seja desprezível, é insuficiente para consolidar vitórias maiores no futuro. Se a militância da Frente Amplio pretende ampliar suas bases, será necessária a ajuda mútua e a criação de redes de solidariedade em bairros e comunidades de todo o país. Também precisará construir instituições da classe trabalhadora, como novos sindicatos e cooperativas autogestionárias que possam se tornar bases sólidas de apoio eleitoral.

O futuro da Costa Rica prevê tempos de luta e resistência contra o novo autoritarismo que se fortalece na região centro-americana. Nunca antes a democracia costarriquenha esteve correndo tanto perigo como agora. Mas a luta pela justiça social continua. A Frente Amplio semeou uma semente de esperança na sociedade e seu novo caucus representa os ideais revolucionários do socialismo ético, a tradição política que conquistou as grandes reformas do século XX e que, mais cedo ou mais tarde, conquistará as grandes reformas radicais de hoje.

Sobre o autor

Bacharel em Serviço Social pela Universidade da Costa Rica e membro do partido socialista Frente Amplio, na Costa Rica.

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