Nelson Barbosa
Fila se forma na entada do portão 7 do CEAGESP para doação de frutas e verduras para a população - Danilo Verpa - 21.dez.2021/Folhapress |
A economia brasileira começou o ano estagnada. Segundo o índice IBC-Br divulgado nesta quinta (17), a atividade econômica voltou ao nível pré-Covid, que, por sua vez, é praticamente o mesmo do início
de 2018 (como me lembrou o economista Ricardo Barboza).
Traduzindo do economês, a economia brasileira está "andando de lado" há quatro anos, e não é possível colocar toda essa estagnação na conta da Covid, tampouco do recente "choque Putin". Parte do problema vem de dois erros de política macroeconômica, cometidos em 2017, pelo time Temer.
Primeiro, quem acompanha esta coluna sabe que, desde 2017, vinha fazendo o alerta de que a aposta em uma rápida consolidação fiscal tinha mais chance de dar errado do que de dar certo. As evidências
empíricas demonstram que, na maioria dos casos, uma contração fiscal é contracionista. Por esse motivo, na saída de uma recessão, é prudente esperar a economia se recuperar antes de começar a reequilibrar o Orçamento.
No Brasil, fizemos exatamente o contrário. A partir de 2017, adotamos o teto Temer de gasto e começamos a tentar reduzir a despesa real per capita da União, apostando que, com isso, haveria recuperação da confiança e a economia voltaria a crescer rapidamente, puxada pelo gasto privado e
fazendo o gasto público cair em proporção do PIB.
A realidade não seguiu a ideologia do time Temer. Antes da Covid, o crescimento efetivo da economia já tinha decepcionado. Depois, passada a flutuação em "V" do PIB devido à pandemia, o gasto primário da União terminou 2021 praticamente no mesmo patamar de 2015, 18,7% do PIB, quando avaliamos coisas comparáveis. O cálculo está detalhado no Blog do Ibre e ele significa que, assim como o PIB, o gasto primário também andou de lado.
Segundo, em paralelo à consolidação fiscal prematura, a partir de 2017 o governo Temer começou uma redução gradual de nossa meta de inflação, de 4,25% para 3% ao ano. A redução tende a ser benéfica a longo prazo, puxando consigo as taxas de juro nominal, mas o problema está na transição.
Diminuir meta de inflação requer taxa de juro real temporariamente elevada e, portanto, não é recomendável fazer isso em uma economia que está saindo de uma grande recessão, como era o caso do Brasil de 2017.
Cinco anos depois, diante dos choques de preços causados pela Covid (gargalos em várias cadeias produtivas) e pela guerra na Ucrânia (aumento dos preços de commodities), nossa inflação anual
voltou a 10% e deve permanecer nesse patamar até o meio do ano. Nesse contexto, o Banco Central corretamente já desistiu de cumprir a meta de inflação estabelecida para 2022 (3,5%). O novo desafio é cumprir as metas estabelecidas para 2023 (3,25%) e 2024 (3%), o que vai requerer um juro real mais elevado a curto prazo.
Diante dos custos econômicos e sociais de uma desinflação rápida, alguns colegas já começaram a defender que o BC trabalhe com "metas ajustadas" de inflação para 2023-24. Traduzindo do economês,
o BC deveria subir o juro para reduzir a inflação como vem fazendo, mas calibrar a dose para não empurrar a economia muito mais para baixo. O Copom parece que entendeu isso ao sinalizar que pode parar o aumento de juro em 12,75% em sua próxima reunião, mas a situação nacional e internacional ainda é muito incerta para saber o que vai acontecer.
Se chegarmos a junho com inflação em 10% e Selic entre 12% e 13%, como espera o mercado, estaremos muito próximos da situação no final de 2015, ou seja, também teremos andado de lado na política monetária.
empíricas demonstram que, na maioria dos casos, uma contração fiscal é contracionista. Por esse motivo, na saída de uma recessão, é prudente esperar a economia se recuperar antes de começar a reequilibrar o Orçamento.
No Brasil, fizemos exatamente o contrário. A partir de 2017, adotamos o teto Temer de gasto e começamos a tentar reduzir a despesa real per capita da União, apostando que, com isso, haveria recuperação da confiança e a economia voltaria a crescer rapidamente, puxada pelo gasto privado e
fazendo o gasto público cair em proporção do PIB.
A realidade não seguiu a ideologia do time Temer. Antes da Covid, o crescimento efetivo da economia já tinha decepcionado. Depois, passada a flutuação em "V" do PIB devido à pandemia, o gasto primário da União terminou 2021 praticamente no mesmo patamar de 2015, 18,7% do PIB, quando avaliamos coisas comparáveis. O cálculo está detalhado no Blog do Ibre e ele significa que, assim como o PIB, o gasto primário também andou de lado.
Segundo, em paralelo à consolidação fiscal prematura, a partir de 2017 o governo Temer começou uma redução gradual de nossa meta de inflação, de 4,25% para 3% ao ano. A redução tende a ser benéfica a longo prazo, puxando consigo as taxas de juro nominal, mas o problema está na transição.
Diminuir meta de inflação requer taxa de juro real temporariamente elevada e, portanto, não é recomendável fazer isso em uma economia que está saindo de uma grande recessão, como era o caso do Brasil de 2017.
Cinco anos depois, diante dos choques de preços causados pela Covid (gargalos em várias cadeias produtivas) e pela guerra na Ucrânia (aumento dos preços de commodities), nossa inflação anual
voltou a 10% e deve permanecer nesse patamar até o meio do ano. Nesse contexto, o Banco Central corretamente já desistiu de cumprir a meta de inflação estabelecida para 2022 (3,5%). O novo desafio é cumprir as metas estabelecidas para 2023 (3,25%) e 2024 (3%), o que vai requerer um juro real mais elevado a curto prazo.
Diante dos custos econômicos e sociais de uma desinflação rápida, alguns colegas já começaram a defender que o BC trabalhe com "metas ajustadas" de inflação para 2023-24. Traduzindo do economês,
o BC deveria subir o juro para reduzir a inflação como vem fazendo, mas calibrar a dose para não empurrar a economia muito mais para baixo. O Copom parece que entendeu isso ao sinalizar que pode parar o aumento de juro em 12,75% em sua próxima reunião, mas a situação nacional e internacional ainda é muito incerta para saber o que vai acontecer.
Se chegarmos a junho com inflação em 10% e Selic entre 12% e 13%, como espera o mercado, estaremos muito próximos da situação no final de 2015, ou seja, também teremos andado de lado na política monetária.
Sobre o autor
Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.
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