Claudia Horn
Jacobim
O grande Rio Guamá e quarenta e duas ilhas metropolitanas emolduram a cidade de Belém, conhecida como a porta de entrada para a floresta amazônica. Belém é moldada pela diversidade de suas culturas indígenas e afro-brasileiras, bem como pelos desafios diários impostos pelas mudanças climáticas, incluindo inundações severas e calor extremo.
Dez anos após o Acordo de Paris sobre o Clima, no qual líderes de diversos países se comprometeram a limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) foi realizada aqui pela primeira vez neste mês. Em meio à turbulência geopolítica, a COP30 teve como objetivo destacar a conexão entre a riqueza natural e a vulnerabilidade climática.
A conferência buscou incentivar a comunidade internacional a evitar o alarmante aquecimento do planeta em até 3 graus Celsius até 2050, conforme calculado por cientistas, ao mesmo tempo em que apoiava os países em desenvolvimento na adaptação às consequências devastadoras e às perdas que já enfrentam. Com a administração Trump não enviando uma delegação à COP30, coube a outros assumir a responsabilidade pela crise climática.
"COP da verdade"
Com mais de 56.000 delegados presentes ao longo de duas semanas, a COP30 em Belém foi uma das maiores COPs da história. Como a “COP da verdade”, também tinha como objetivo combater as notícias falsas e a negação das mudanças climáticas promovidas pela direita global, liderada pelo presidente dos EUA, Donald Trump. Dada a ausência dos Estados Unidos, a diminuição dos compromissos e a participação limitada da sociedade civil nas negociações em Baku, Dubai e Sharm El Sheikh nos últimos anos, o país anfitrião, o Brasil, estava sob forte pressão.
Em meio à turbulência geopolítica, a COP30 visava destacar a conexão entre a riqueza natural e a vulnerabilidade climática.
Ao mesmo tempo, reportagens da mídia internacional e nacional reclamando da localização e dos preços das acomodações durante a preparação revelaram preconceito contra a região pobre. De fato, a COP30 começou notavelmente bem preparada, demonstrando a excepcional habilidade diplomática do Brasil: diferentemente de muitas conferências, a agenda foi acordada rapidamente. O evento estabeleceu uma série de mutirões (do tupi-guarani, palavra que significa esforço coletivo para o bem comum) sobre os principais temas desta COP: implementação, adaptação e integração da política climática e do desenvolvimento econômico com base em descobertas científicas.
Desde o início, a cúpula demonstrou a força dos movimentos indígenas e tradicionais da região pan-amazônica. Grupos chegaram em diversas flotilhas e organizaram a Cúpula dos Povos e uma grande marcha de protesto pela cidade. Eles protestaram contra o domínio e o patrocínio dos lobbies dos combustíveis fósseis, da agricultura e da mineração nas salas de negociação, enquanto a sociedade civil permanecia amplamente excluída.
Os grupos conseguiram interromper as negociações duas vezes — uma quando invadiram as instalações e entraram em confronto com as forças de segurança, e outra quando impediram a entrada dos delegados e forçaram o presidente da COP, André Corrêa do Lago, a ouvi-los. Mais importante, expuseram as contradições da política brasileira, como os planos de privatização de portos fluviais e da navegação, além da facilitação da perfuração de petróleo, da construção de hidrovias industriais e da construção de trens no coração da Amazônia, medidas que ampliariam a exploração de commodities para exportação.
Uma de suas demandas foi atendida quando o governo brasileiro decidiu demarcar mais dez territórios indígenas. No entanto, centenas de outros permanecem pendentes e estão sob ameaça de invasão, violência e assassinatos.
Sem avanços
Quanto ao documento final da COP30, baseado em consenso e adotado por 195 partes no sábado, após atrasos e crises, não houve avanços. Ele reflete um cenário caracterizado pela militarização e crises geopolíticas, uma ordem econômica injusta e ambientalmente destrutiva e desigualdade social sem precedentes.
Embora a presidência tenha apoiado a adoção de um roteiro para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis — uma medida defendida por dezenas de países, liderados pela Colômbia — a falta de preparo para essa questão crucial e a oposição dos países produtores de petróleo tornaram improvável sua inclusão no documento final. Enquanto a União Europeia culpava países como a Rússia por bloquearem a ação, observadores da sociedade civil criticavam os próprios Estados-membros da UE por obstruírem as negociações finais, traindo seus compromissos e acordos anteriores e impedindo decisões de maior alcance.
Ainda assim, um compromisso positivo é o desenvolvimento de tal roteiro, a partir da Primeira Conferência Internacional sobre a Transição Justa para Longe dos Combustíveis Fósseis, na Colômbia, em abril de 2026. Uma decisão semelhante se aplica ao desenvolvimento de um roteiro para deter o desmatamento fora das negociações formais. Outro resultado positivo é o Mecanismo de Ação de Belém, que surgiu diretamente de movimentos sociais, sindicatos e organizações ambientais. Ele defende o fortalecimento da participação social, dos direitos humanos e da justiça climática nas negociações, particularmente na implementação local dos planos climáticos.
As decisões adotadas no pacote de Belém incluem a mobilização de US$ 1,3 trilhão anualmente até 2035 para medidas de proteção climática e o compromisso dos países ricos de triplicar o financiamento para adaptação climática até 2035. No entanto, os países industrializados, liderados pela UE, opuseram-se a compromissos com valores específicos. Em vez de investir fundos públicos, tenderam a defender mecanismos privados, baseados no mercado e na compensação de carbono.
Como países como Serra Leoa destacaram, o setor privado não está investindo nas necessidades das populações do Sul Global, deixando especialmente para trás os países menos desenvolvidos. Um exemplo disso é o Mecanismo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), um mecanismo de financiamento florestal orientado para o mercado, lançado pelo Brasil.
Inicialmente, a UE e o Reino Unido acolheram o TFFF com entusiasmo. No entanto, não está claro quem controlará o TFFF e quem serão seus principais beneficiários — investidores privados ou comunidades afetadas. O projeto também não aborda as causas do desmatamento, como o agronegócio e a mineração. É por isso que está sendo contestado por movimentos sociais.
No fim, poucos parecem dispostos a financiá-lo. Embora o Brasil esperasse arrecadar US$ 25 bilhões em doações, os compromissos reais chegaram a apenas US$ 5,6 bilhões, incluindo US$ 2 bilhões dos próprios países florestais, Brasil e Indonésia.
Em resumo, a missão de Belém de reavivar as ambições e, sobretudo, a cooperação internacional para promover a meta de Paris de preservar o limite de 1,5 grau parecia promissora, mas irrealista, com a crise sendo mais uma vez adiada para negociações futuras. Na ausência dos Estados Unidos, nem a China nem qualquer outro Estado preencheram a lacuna.
A necessidade de eliminar gradualmente os combustíveis fósseis é maior do que nunca, e resta saber o que emergirá desse processo nos próximos meses. Os moradores de Belém sabem que, se o aquecimento global continuar sem controle, sua cidade se tornará inabitável em poucas décadas.
Colaborador
Claudia Horn é professora do Departamento de Estudos Europeus e Internacionais do King's College London. Ela é autora de Klimahilfe mit Nebenwirkungen e seu livro Rosa Luxemburg’s Herbarium será publicado em 2026.
Em meio à turbulência geopolítica, a COP30 visava destacar a conexão entre a riqueza natural e a vulnerabilidade climática.
Ao mesmo tempo, reportagens da mídia internacional e nacional reclamando da localização e dos preços das acomodações durante a preparação revelaram preconceito contra a região pobre. De fato, a COP30 começou notavelmente bem preparada, demonstrando a excepcional habilidade diplomática do Brasil: diferentemente de muitas conferências, a agenda foi acordada rapidamente. O evento estabeleceu uma série de mutirões (do tupi-guarani, palavra que significa esforço coletivo para o bem comum) sobre os principais temas desta COP: implementação, adaptação e integração da política climática e do desenvolvimento econômico com base em descobertas científicas.
Desde o início, a cúpula demonstrou a força dos movimentos indígenas e tradicionais da região pan-amazônica. Grupos chegaram em diversas flotilhas e organizaram a Cúpula dos Povos e uma grande marcha de protesto pela cidade. Eles protestaram contra o domínio e o patrocínio dos lobbies dos combustíveis fósseis, da agricultura e da mineração nas salas de negociação, enquanto a sociedade civil permanecia amplamente excluída.
Os grupos conseguiram interromper as negociações duas vezes — uma quando invadiram as instalações e entraram em confronto com as forças de segurança, e outra quando impediram a entrada dos delegados e forçaram o presidente da COP, André Corrêa do Lago, a ouvi-los. Mais importante, expuseram as contradições da política brasileira, como os planos de privatização de portos fluviais e da navegação, além da facilitação da perfuração de petróleo, da construção de hidrovias industriais e da construção de trens no coração da Amazônia, medidas que ampliariam a exploração de commodities para exportação.
Uma de suas demandas foi atendida quando o governo brasileiro decidiu demarcar mais dez territórios indígenas. No entanto, centenas de outros permanecem pendentes e estão sob ameaça de invasão, violência e assassinatos.
Sem avanços
Quanto ao documento final da COP30, baseado em consenso e adotado por 195 partes no sábado, após atrasos e crises, não houve avanços. Ele reflete um cenário caracterizado pela militarização e crises geopolíticas, uma ordem econômica injusta e ambientalmente destrutiva e desigualdade social sem precedentes.
Embora a presidência tenha apoiado a adoção de um roteiro para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis — uma medida defendida por dezenas de países, liderados pela Colômbia — a falta de preparo para essa questão crucial e a oposição dos países produtores de petróleo tornaram improvável sua inclusão no documento final. Enquanto a União Europeia culpava países como a Rússia por bloquearem a ação, observadores da sociedade civil criticavam os próprios Estados-membros da UE por obstruírem as negociações finais, traindo seus compromissos e acordos anteriores e impedindo decisões de maior alcance.
Ainda assim, um compromisso positivo é o desenvolvimento de tal roteiro, a partir da Primeira Conferência Internacional sobre a Transição Justa para Longe dos Combustíveis Fósseis, na Colômbia, em abril de 2026. Uma decisão semelhante se aplica ao desenvolvimento de um roteiro para deter o desmatamento fora das negociações formais. Outro resultado positivo é o Mecanismo de Ação de Belém, que surgiu diretamente de movimentos sociais, sindicatos e organizações ambientais. Ele defende o fortalecimento da participação social, dos direitos humanos e da justiça climática nas negociações, particularmente na implementação local dos planos climáticos.
As decisões adotadas no pacote de Belém incluem a mobilização de US$ 1,3 trilhão anualmente até 2035 para medidas de proteção climática e o compromisso dos países ricos de triplicar o financiamento para adaptação climática até 2035. No entanto, os países industrializados, liderados pela UE, opuseram-se a compromissos com valores específicos. Em vez de investir fundos públicos, tenderam a defender mecanismos privados, baseados no mercado e na compensação de carbono.
Como países como Serra Leoa destacaram, o setor privado não está investindo nas necessidades das populações do Sul Global, deixando especialmente para trás os países menos desenvolvidos. Um exemplo disso é o Mecanismo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), um mecanismo de financiamento florestal orientado para o mercado, lançado pelo Brasil.
Inicialmente, a UE e o Reino Unido acolheram o TFFF com entusiasmo. No entanto, não está claro quem controlará o TFFF e quem serão seus principais beneficiários — investidores privados ou comunidades afetadas. O projeto também não aborda as causas do desmatamento, como o agronegócio e a mineração. É por isso que está sendo contestado por movimentos sociais.
No fim, poucos parecem dispostos a financiá-lo. Embora o Brasil esperasse arrecadar US$ 25 bilhões em doações, os compromissos reais chegaram a apenas US$ 5,6 bilhões, incluindo US$ 2 bilhões dos próprios países florestais, Brasil e Indonésia.
Em resumo, a missão de Belém de reavivar as ambições e, sobretudo, a cooperação internacional para promover a meta de Paris de preservar o limite de 1,5 grau parecia promissora, mas irrealista, com a crise sendo mais uma vez adiada para negociações futuras. Na ausência dos Estados Unidos, nem a China nem qualquer outro Estado preencheram a lacuna.
A necessidade de eliminar gradualmente os combustíveis fósseis é maior do que nunca, e resta saber o que emergirá desse processo nos próximos meses. Os moradores de Belém sabem que, se o aquecimento global continuar sem controle, sua cidade se tornará inabitável em poucas décadas.
Colaborador
Claudia Horn é professora do Departamento de Estudos Europeus e Internacionais do King's College London. Ela é autora de Klimahilfe mit Nebenwirkungen e seu livro Rosa Luxemburg’s Herbarium será publicado em 2026.

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