14 de agosto de 2022

Lula foca combate à fome, busca evangélicos e tenta conter avanço de Bolsonaro

Alvo inicial será Sudeste, além de manter discurso voltado à economia e disputar religiosos

Catia Seabra
Julia Chaib
Victoria Azevedo

Folha de S.Paulo

O ex-presidente Lula (PT) em encontro com empresários na Fiesp. - Marlene Bergamo/Folhapress

A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) traça estratégias para conter a recuperação bolsonarista no Rio de Janeiro e em São Paulo, além dos impactos do auxílio concedido pelo governo federal.

A ideia é que Lula repise o discurso adotado até então com foco em temas relacionados à economia, como a fome e a pobreza.

Pela lei, o período eleitoral começa oficialmente nesta terça-feira (16) —apesar de o clima eleitoral já estar instaurado desde o começo do ano. Neste mês, também terá início a propaganda de rádio e televisão obrigatória.

A orientação na campanha é manter a luz sobre a pauta relativa à "vida do povo", como pobreza, miséria, fome e desemprego, comparando o atual governo com as gestões de Lula, sem cair na agenda do presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados, na seara dos costumes.

A ideia é insistir na candidatura de Lula como fruto de um movimento amplo. A coligação reúne nove partidos: PT, PSB, PSOL, Rede, PC do B, PV, Solidariedade, Avante e Agir.

Lula deverá concentrar sua campanha no Sudeste, região que reúne cerca de 42% do eleitorado. Como a Folha mostrou, a campanha petista constatou uma ofensiva do bolsonarismo em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde o ex-presidente deverá intensificar a agenda.

Os primeiros comícios de Lula serão no Sudeste. Estão previstos atos em Belo Horizonte (Minas Gerais), na próxima quinta (18), no vale do Anhangabaú, em São Paulo, no dia 20, e no Rio de Janeiro (ainda sem data definida).

Para mitigar resistência do eleitorado paulista, a campanha conta com o vice de Lula, Geraldo Alckmin (PSB), que governou o estado por 16 anos. O ex-tucano deverá investir em segmentos como o agronegócio, o empresariado e setores religiosos mais conservadores.

A campanha também fará um esforço para atrair o voto evangélico, em que Bolsonaro avançou. A última pesquisa Datafolha, divulgada em julho, mostra que o presidente conseguiu uma dianteira de dez pontos em relação a Lula nesse segmento: 43% a 33%.

O pastor Paulo Marcelo Schallenberger, convocado pelo PT para dialogar com o setor evangélico, afirma que se reuniu com Alckmin nesta semana, a pedido da campanha, e sugeriu um contra-ataque.

Primeiro, que Lula organize uma conversa nas redes sociais para "desmontar as teses" propagadas contra ele e para que o petista mostre como foi o tratamento dele ao setor evangélico durante os seus governos.

"Há uma narrativa que está sendo espalhada dentro das igrejas de demonizar a figura do ex-presidente Lula. Considero isso o novo kit gay. É preciso que a campanha faça um contra-ataque e um aceno mais direto aos evangélicos", diz o pastor.

"A história do Lula é mais forte que qualquer fake news. Foi o Lula quem, em 2003, regulamentou a lei da liberdade da organização de igrejas. Mais do que qualquer mentira, é uma demonstração clara que o respeito que o Lula tem pela liberdade religiosa e em especial pela comunidade evangélica", afirma o prefeito de Araraquara, Edinho Silva, um dos coordenadores de comunicação da campanha.

O pastor Paulo Marcelo também sugeriu a realização de um grande culto pentecostal em São Paulo com lideranças evangélicas e que conte com a presença de Lula e Alckmin. Na avaliação dele, é preciso que a campanha também use as propagandas de televisão para fazer um aceno a esse segmento.

Representantes da coordenação da campanha de Lula têm afirmado que é preciso fazer a campanha nas ruas, e, para isso, é preciso ter alto engajamento da militância, mostrando a força da candidatura.

Em outra frente, também avaliam que é preciso fortalecer a campanha nas redes sociais.

O apoio da cantora Anitta à candidatura de Lula e a chegada do deputado federal André Janones (Avante-MG), que desistiu de concorrer à Presidência, são apontados como exemplos para fortalecimento da campanha nas redes sociais, onde bolsonaristas têm forte atuação.

As conversas com a cantora, que tem 63,1 milhões de seguidores no Instagram e 17,9 milhões no Twitter, têm sido intermediadas pela socióloga Rosângela da Silva, a Janja, que é casada com Lula.

Além de alto engajamento nas redes, Janones também tem sugerido elementos que podem ser incorporados à comunicação da campanha, como a adoção de uma linguagem mais direta e informal.

"O apoio do Janones é fundamental para nossa campanha. Ele é uma liderança política que tem uma audiência fortíssima nas redes sociais e ele dialoga principalmente com a população que recebe de 0 a 5 salários mínimos, que também é a base do presidente Lula", diz Edinho Silva.

Neste sábado (13), por exemplo, Lula fez um live com Janones em que falaram sobre o Auxílio Brasil e disseram que o presidente não dará continuidade ao benefício com esse valor, o que Bolsonaro nega.

Candidato à Presidência com maior tempo de televisão, Lula deve ter cerca de 3 minutos e 20 segundos a cada bloco de 12min30seg, além de uma média de 7,5 inserções diárias de 30 segundos veiculadas nos intervalos comerciais das emissoras.

A campanha já tem em mãos uma peça publicitária que irá atribuir a Lula a gênese dos programas sociais do Brasil. Ela diz que o auxílio de R$ 600 do governo Bolsonaro tem hora para acabar e é de caráter eleitoreiro. Em contraposição, numa eventual gestão petista, ele seria permanente.

Apesar do desejo de vitória no primeiro turno, membros da coordenação da campanha reconhecem que é grande a chance de haver segundo turno.

Na tentativa de ampliar sua vantagem, uma estratégia do partido é atrair votos de indecisos. Segundo o ex-governador do Piauí, Wellington Dias, pesquisas mostram que, dentre os 27% que não votam em Lula nem em Bolsonaro, um terço tem o petista como segunda opção.

A intenção é atrair já no primeiro turno uma fatia desse grupo, que representam votos nulos e em branco, além de eleitores de outros candidatos.

Segundo o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que integra a coordenação da campanha, os movimentos em defesa da democracia poderão contribuir para o voto útil em Lula.

Ele diz acreditar que eleitores de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) poderão migrar para Lula, caso Bolsonaro siga com discursos golpistas.

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